quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Filolau de Crotona

Filolau de Crotona – (470 a 385) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pitagórico da Grécia antiga. Teria se dedicado aos estudos das áreas da Filosofia, Matemática, Medicina, Música e Astronomia. Nasceu na cidade de Crotona, mas teria exercido a profissão de professor em Tarento. Foi discípulo de outro grande pitagórico chamado de Lísis de Tarento. Teve como principais discípulos os filósofos Arquitas de Tarento e Demócrito de Abdera. Ficou muito conhecido por ter  escrito um livro sobre os pitagóricos chamado de "escritos pitagóricos". Ademais, alguns historiadores afirmam que ele também teria escrito outra obra intitulada de “Sobre a Natureza”. Nesses escritos, ele dissertava sobre a filosofia dos pitagóricos, sendo suas obras de fundamental importância para a sistematização, compreensão e esclarecimento dos conhecimentos da escola de Pitágoras. Relata-se que Filolau passou a viver da venda de seus  livros, pois teve grandes dificuldades financeiras durante um período de sua vida. Segundo historiadores, o filósofo Platão teria comprado pessoalmente um exemplar de sua obra. Nasceu por volta de 470 a.C na localidade de Crotona e morreu aproximadamente, em 385 a.C. Cogita-se a hipótese dele ter falecido na cidade de Tebas, pois teria se exilado nessa região após sofrer perseguição.

Filosofia do Conhecimento

Em seus estudos, Filolau descrevia que os números formavam tudo que existia no universo e que se existisse algo que não pudesse ser expresso em números era porque na verdade ele não existia. Explicava que através dos números era possível conhecer as coisas, pois o número seria o principio gerador do conhecimento, assim sendo, ele afirmava que: “é o número que, tornando todas as coisas adequadas à alma pela sensação, as tornam cognoscíveis e comensuráveis entre elas”. O número, então, seria o princípio das coisas porque ele era o indicador de uma unidade que disporia de harmonia, desse modo, todo ser cognoscível teria um número, e ter um número, na sua visão, era o mesmo que se deixar enumerar. Nesse sentido, cada coisa possuiria um princípio de unidade. Para Filolau, todos os objetos físicos, todos os seres vivos, todos os homens e toda a matéria existiam devido aos números. Para ele, só era possível conhecer aquilo que possuísse limitações, mas não aquilo que fosse ilimitado. Não seria possível conhecer o ilimitado porque o ilimitado não possuiria uma forma definida. Ele demonstrava que se todas as coisas fossem apenas ilimitadas, nada poderia ser objeto de conhecimento, desse modo, deveria existir uma harmonia que pudesse combinar as variações do que é limitado e do que é ilimitado.

Filosofia Pitagórica

Os pitagóricos acreditavam que Deus era uma espécie de geômetra, daí eles teorizavam que os números traduziam a realidade verdadeira de todas as coisas. Afirmava que Deus utilizava a matemática como instrumento de tradução para explicar a natureza da matéria. Filolau ensinava que a harmonia produzida pelos números era resultado da união entre os contrários. Segundo estudiosos, sua teoria sobre a harmonia e sobre os opostos era uma tentativa de explicar a natureza da alma. Ele explanava que a harmonia seria um processo mútuo de ajustamento entre coisas desiguais, ou seja, de diferentes espécies e de ordem opostas. Os pitagóricos teriam criado uma teoria chamada de “harmonia das esferas” em que decifravam os conhecimentos relacionados entre a matemática e a matéria. Ele dividia os números em três classes que seriam: o número ímpar, o número par e o número par-ímpar. O par representaria o que é ilimitado, o ímpar o que é limitado, já o par-ímpar era a combinação, harmonia ou mistura do par com o ímpar. Seria definido como o conjunto dos números inteiros, representando a unidade, ou seja, o número “um”. Assim, ele descrevia sua teoria sobre a propriedade dos números, isto é, um modo de pensar o ente e a essência do ser. Portanto, sua teoria descrevia uma associação entre as escalas musicais, os números, os elementos da natureza e a harmonia do universo.

Filosofia Cosmológica

Filolau tinha uma visão dualista sobre o cosmos, pois acreditava que o universo era dividido em dois grandes grupos de elementos chamados de limitadores e ilimitados. No entanto, ele pensava também na possibilidade de existir um terceiro elemento que seria formado pela junção entre limitadores-ilimitados. Essa visão era exemplificada com números e com a ideia de alma, pois ele acreditava que a alma teria um aspecto tripartido e que ela estaria localizada no coração. Filolau acreditava em três coisas que poderiam ser unidas nos cosmos por duas forças principais: uma limitadora e outra chamada de ilimitada. Essas coisas seriam: a natureza dos cosmos, o próprio cosmos e tudo mais que existe no cosmos. Explicava que tudo aquilo que “é” é aquilo que pode ser dito, isto é, o próprio “ser”. Assim, o “ser” seria tudo aquilo que é limitado, ilimitado ou ambos. Tudo no universo seria a junção do limitado com o ilimitado porque se algo derivasse do limitado então ele se limitaria, e se ele é derivado de ambos, ele limita e ao mesmo tempo não limita. Logo, se é derivado do ilimitado, então, a coisa mesma é ilimitada. Para ele, o “ser” seria a natureza das coisas, quer dizer, seria eterno e possuiria um conhecimento divino, ou seja, não humano. Assim sendo, para o ser humano teria sido dado conhecer apenas algumas partes. Dessa maneira, seria possível conhecer as “coisas", mas não o “ser-das-coisas”, ou seja, não seria possível conhecer a natureza própria das coisas. O “ser-das-coisas” teria como característica a eternidade, já a ideia de coisa como objeto seria o conceito de “via-a-ser” dessa coisa.

A forma como ele explicava os fenômenos astronômicos levou a entendê-lo como o primeiro filósofo a deslocar a Terra do centro do universo. Diógenes Laércio chegou a dizer que o Filolau teria sido o primeiro filósofo a ensinar que a Terra teria movimento de rotação sobre si mesma e que ela estaria viajando através do espaço. Escreveu uma obra intitulada de “Astronomia” em que descreve que a Terra girava ao redor de uma bola de fogo, mas que esse fogo não era o Sol, e sim uma massa de fogo que ficava do lado oposto ao mundo habitado na época. Para ele, nesse centro de fogo, era que se originavam as coisas no universo. Dizia que ninguém podia ver esse centro de fogo porque ele ficava nos confins do mediterrâneo onde o homem não poderia habitar. O sistema planetário na visão de Filolau era formado por dez astros e o número dez traduzia a ideia de perfeição numérica, daí ele acreditava que o fogo representava o elemento da natureza mais puro. Explicava que existia um planeta invisível chamado de “anti-terra” que ficava entre a massa de fogo e a Terra. Afirmava em seus estudos que o número e a harmonia é o que nos permite conhecer a natureza das coisas, ou seja, o “ser” das coisas. Sua visão cosmogônica era baseada em seis elementos fundamentais conhecidos como Terra, Fogo, Água, Ar, Espaço e Tempo. Chegou a exemplificar como se dava o surgimento do dia e da noite através do movimento dos astros.

Obras

- Escritos Pitagóricos

- Astronomia

- Da natureza

Filosofia Sapiencial

- “O corpo é a tumba da alma”.

- “A essência das coisas é eterna”.

 - “Números formam o Universo todo”

-  "A terra se move e viaja através do espaço".

- “As ‘coisas’ admitem conhecimento humano”.

- Um é o “Ser” das coisas e outro são as próprias coisas.

- “Há certos pensamentos que são mais fortes do que nós”.

- “Os povos, como os homens, têm os seus períodos de ignorância e erro”.

- A Natureza, ou “Ser”, das coisas é Eterno e não admite conhecimento humano.

- "E todas as coisas que podemos conhecer contêm número, pois sem ele nada pode ser concebido nem conhecido".

- “Sabemos que há um “Ser” das coisas pelo fato de que elas jamais existiriam (viriam-a-ser) se não fosse por ele”.

- “Os antigos teólogos e adivinhos também testemunham que é por punição de certas faltas que a alma está atrelada ao corpo e nele sepultada como num túmulo”.

- “A harmonia é geralmente o resultado de contrários; pois é a unidade da multiplicidade e a concordância das discordâncias. A harmonia é a unificação de muitos (elementos) misturados e a concordância dos discordantes”.

- “Há quatro princípios nos seres dotados de razão: cérebro, coração, umbigo e órgãos geradores. A cabeça (cérebro) é o principio do entendimento; o coração o da alma e da sensibilidade; o umbigo o do enraizamento e do crescimento do embrião; e os órgãos geradores o da seminação e criação. O cérebro, contudo, indica o princípio do homem, o coração o dos animais, o umbigo o das plantas, os órgãos geradores o de todos, pois tudo floresce e cresce das sementes”.

- “Com natureza e harmonia, dá-se o seguinte: a essência das coisas, que é eterna, e a própria natureza requerem conhecimento divino e "não-humano", e seria absolutamente impossível que alguma das coisas existentes se tornasse conhecida por nós, se não existisse a essência das coisas das quais se constituiu o cosmos, tanto das limitadas como das ilimitadas. Mas, visto que estes princípios não são iguais, nem de iguais famílias, já seria impossível criar-se um cosmos com eles, se não acrescentasse a harmonia, de qualquer maneira que ela tenha vindo a ser. As coisas iguais e de iguais famílias em nada precisam, pois, de harmonia; mas as desiguais, não de famílias iguais e não igualmente dispostas, são necessariamente fechadas em tal harmonia que se destinam a se conter numa ordem”.

 

Fontes

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MORENA, Leandro. O Sistema Planetário na visão do filósofo Filolau. Blog: pansophia, 2015.

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