segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Leucipo de Mileto

Leucipo de Mileto – (500 a 420) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga que era considerado um dos idealizadores do “atomismo”. Muitos pesquisadores acreditam que foi Leucipo o primeiro filósofo a afirmar que todo o universo era feito de átomos. A partir daí, ele lançou as primeiras bases sobre a teoria do atomismo. Foi mestre do filósofo Demócrito de Abdera que também o ajudou a desenvolver e concluir a teoria atomista. Escreveu uma obra intitulada de “a grande cosmologia”, esta obra parece ter sido também a mesma de nome “Grande ordem do mundo”. A sua escola de pensamento ficou afamada como escola atomista ou escola de Abdera. Historiadores afirmam que Leucipo seria reconhecido como sendo de Abdera devido o nome da escola de sua fundação, mas que provavelmente ele tenha nascido em Mileto. Os pesquisadores da filosofia acreditam na possibilidade de Leucipo ter sido aluno de Parmênides e do Zenão de Eléia, dessa forma, provavelmente ele teria sofrido grande influência da escola eleática, bem como também da escola pluralista. Não se sabe ao certo o ano exato de seu florescimento, mas se cogita que tenha sido entre os anos de (500 a 420) a.C.

Filosofia Atomista

Na sua teoria filosófica, Leucipo abriu mão dos conceitos tradicionais da época que explicavam os fenômenos pela dicotomia entre “ser” e “não-ser”, desse modo, ele atribuiu um valor material para essas compreensões, passando a desenvolver a noção de “cheio” e “vazio”, pois, isso definiria melhor a explicação do surgimento e existência das coisas. Para ele, existiam infinitas partículas mínimas da matéria que eram o princípio de todas as coisas, ou seja, essas partículas seriam a menor quantidade da matéria existente na natureza. Sua visão do átomo era descrita como sendo uma partícula mínima da matéria que não poderia mais ser dividida. Eram partículas invisíveis, indivisíveis, compactas e imutáveis que representavam a “arché” do universo. Esses átomos se diferenciavam pela noção de tamanho, forma e disposição.

Ele afirmava que o mundo seria formado por átomos e pelo vazio existente entre eles. Assim sendo, os átomos formavam a matéria e a matéria se tornava essencialmente infinita, em número e forma, dessa maneira, o átomo seria, então, o princípio de todas as coisas. Seu conceito de “arché” seria um princípio absoluto entre o átomo e o vazio, pois ele explicava que o átomo precisaria de espaços vazios ao seu redor para se movimentar, caso contrário, se não houvesse o vácuo, não seria possível haver movimento. Nesse sentido, ele definia o “ser” como sendo o “átomo” e o “não-ser” como sendo o “vácuo”. O átomo e o vazio formavam uma unidade, ou seja, o átomo isoladamente não representava nada, ele precisaria do espaço vazio para compor a ideia de unidade principiológica da matéria.  

Filosofia Cosmológica

De acordo com alguns pesquisadores, a teoria de Leucipo pregava a ideia do mundo como sendo um grande sistema cósmico. Para Leucipo, o “todo” seria composto de dois elementos básicos: o “cheio” e o “vazio”, daí os mundos seriam formados quando os átomos se aglomeravam e do movimento desses átomos iriam surgindo as estrelas e os demais astros. Leucipo dizia que em uma região hipotética do universo, alguns átomos de diversos formatos saiam do ilimitado para um imenso espaço vazio, esse movimento aleatório fazia com que os átomos se colidissem e se afastassem, gerando ainda mais movimento entre eles. Então, como uma espécie de redemoinho no espaço, esses átomos giravam e se desequilibravam formando coisas, como um sistema esférico primário. Essa aglomeração de átomos seguia seu fluxo em direção ao centro, formando assim os mundos. Todavia, se ao girar, alguns desses átomos se desprendessem do centro, eles entrariam em combustão e se transformariam em estrelas. Ele explicava que o átomo era imutável, porém vários átomos se combinados de maneira diferente poderiam formar outras partículas da matéria. Dessa forma, os átomos se aglutinavam por afinidade, ou seja, quanto mais parecidos e idênticos, mais eles se juntavam. Na gênese do atomismo, ele descrevia como a matéria poderia ser dividida até chegar a uma parte mínima e indivisível. Não acreditava na morte e nem no nascimento dos átomos, pois sua essência estaria na ideia de aglomeração e separação dessas partículas.

Filosofia da Mente

Além da teoria atomista, Leucipo também formulou uma teoria de explicação da percepção humana em que teorizava que o pensamento era criado na mente humana a partir de estímulos experimentados pelo corpo, essas assimilações seriam proporcionadas por partes de átomos que eram absorvidos pelo corpo através de imagens. Nesse sentido, ele entendia que os objetos emitiam pequenos fragmentos que atingiam os órgãos sensoriais do corpo humano, como, por exemplo, a visão. Os sentidos não seriam capazes de perceber nitidamente a existência dos átomos, ou seja, por isso não poderiam ser vistos claramente, mas eles poderiam ser pensados e percebidos, isto é, o pensamento e a intuição eram capazes de percebê-los. Nesse contexto, os sentidos eram capazes de perceberem uma realidade transitória, que se modificava constantemente, por essa razão, criava-se a ideia de ilusão perceptiva, ou seja, as transformações seriam percebidas, mas os átomos que constituem a realidade das coisas eram inalteráveis. Leucipo tinha uma visão muito materialista da realidade e dizia que o ser humano só poderia conhecer aquilo que estaria ligado ao mundo material, dessa forma, ele dizia não acreditar em divindades. Compreendia que alma seria formada por átomos com formatos mais arredondados que os demais. Alguns pensadores atribuem às ideias dos primeiros atomistas como sendo o início da Química.

Obras:

- A grande Cosmologia

- Sobre o Espírito

Filosofia Sapiencial

- “Os átomos estão sempre em movimento no espaço”.

- “A alma é idêntica ao que produz movimento nos animais”

- “Não se pode verdadeiramente saber o que cada coisa realmente é”.

- “Eu me recuso a acreditar que o Sol, a Lua e as estrelas são seres vivos”.

- “Nada acontece ao acaso, mas tudo a partir da razão, e por necessidade”.

Fontes:

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