sábado, 31 de agosto de 2019

Alcmeão de Crotona

Alcmeão de Crotona – (510 a 450) a.C                                                           

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pitagórico que viveu na Grécia antiga na região de Crotona. Historiadores o apontam como tendo sido um dos discípulos de Pitágoras. Destacou-se na área da Medicina e estudou os campos da Astrologia, Astronomia, Filosofia e Meteorologia. Também era tido como o primeiro grego da antiguidade a dissecar um cadáver humano. Desenvolveu teorias no campo da Medicina e das ciências naturais, além disso, descreveu conceitos que relacionavam o cérebro humano com as funções psíquicas. Por ter estudado as vias sensoriais e suas relações com o cérebro, ele foi consagrado como sendo “o pai da psicologia antiga” e chamado também de “o avô da medicina”. Nesse sentido, sua filosofia lançou as bases primitivas da medicina científica. Seu nome também é escrito por alguns estudiosos como sendo “Alcméon”. Especula-se que ele nasceu aproximadamente em 510 a.C na localidade da província de Crotona na Itália e veio a falecer por volta de 450 a.C. Essas datas não são precisas e servem apenas para contextualizar a época aproximada em que ele viveu.

Filosofia da Medicina

Sua obra influenciou vários filósofos antigos como Anaxágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles e principalmente o filósofo-médico “Hipócrates de Cós” conhecido como o pai da medicina. Alcmeão compreendeu a importância central que o cérebro tinha no corpo humano, investigando como os órgãos que se relacionavam com os sentidos do corpo manteriam relação com as funções psíquicas do cérebro. Alegava que os órgãos dos sentidos estavam ligados ao cérebro, e que por isso, a vida psíquica seria uma mera função cerebral. Aprofundou-se na análise fisiológica, embriológica e anatômica do corpo humano, passando a ser visto como um dos pioneiros nos estudos dessas áreas. O avô da medicina defendia que o intelecto diferenciava o homem dos animais e que o núcleo da inteligência estaria depositado no cérebro. Utilizou-se de animais dissecados para embasar seus estudos, tendo descoberto, por exemplo: a trompa de Eustáquio e os nervos ópticos. Além disso, realizou distinções entre as veias e as artérias do corpo.

Escreveu um livro que recebeu o título de “sobre a natureza” em que descreve sobre teorias a respeito da morte, sono, despertar, imaginação, memória e pensamento. Nesse sentido, desenvolveu uma teoria sobre o sonho, chamada de “hipótese vascular” em que proferia que o sonho era causado pelo resultado do aumento da quantidade de sangue na cabeça. Descreveu em suas pesquisas que a cabeça do feto era a primeira parte do corpo a ser desenvolvida e que as vias sensoriais terminavam no encéfalo. Deduziu a diferença entre a compreensão racional e a sensação da percepção realizada pelos sentidos. Dessa maneira, seus conhecimentos foram importantes para a compreensão do processo de sensibilidade da dor no corpo e da saúde mental.

Filosofia da natureza

Ficou conhecido como um filósofo dualista, pois acreditava em uma combinação dupla de princípios geradores que permaneciam em constante harmonia. Para ele, a “arché” do universo seria uma substância formada por um conjunto de “pares de opostos”. Acreditava que as enfermidades eram causadas por uma desarmonia física do corpo. Nesse sentido, o equilíbrio seria o motor de conservação da saúde que era gerado pela “isonomia das qualidades”. Na sua “teoria da desarmonia”, ele estabeleceu que à "arché" da natureza estava relacionada com substâncias que formavam “pares de opostos”. Daí, ele elaborou uma tabela com esses “pares de opostos” descritas da seguinte forma:

Limitado-ilimitado, ímpar-par, unidade-pluralidade, direito-esquerdo, masculino-feminino, repouso-movimento, reto-torto, luz-sombra, bom-mau, quadrado-redondo, úmido-seco, frio-calor, amargo-doce, preto-branco, grande-pequeno, igual-desigual. (Alcmeão).

Dessa maneira, cada par possuía uma qualidade que deveria ser padronizada, caso houvesse algum desequilíbrio entre eles, isso provocaria doenças no corpo ou desarmonias na natureza. A partir disso, ele estabeleceu uma doutrina conhecida como o binômio “saúde-doença”, em que afirmava que o corpo possuía vários líquidos diferentes como a bílis negra, a bílis amarela, a bílis vermelha (sangue) e a fleuma. Através dessa tabela elaborada, ele tentava investigar no corpo qual desses pares estaria em desequilíbrio, com isso, traçava um possível diagnóstico explicando a causa da doença. A descrita teoria foi influenciada de maneira analógica pelas ideias pitagóricas sobre a complementariedade dos opostos. Essa teoria também ficou conhecida como “teoria humoral das doenças” que foi iniciada por Alcmeão, mas teria sido sistematizada por Hipócrates de Cós. Nesse sentido, Alcmeão pontuava que:

A saúde é a igualdade dos direitos das funções entre os pares, e a causa das doenças é o predomínio de um entre os pares sobre o outro, pois isso provoca desequilíbrio, a saúde é a mescla harmoniosa das qualidades, é preciso que nenhum se sobreponha ao outro, ou seja, que exista isonomia. (Alcmeão).

Para Alcmeão, as enfermidades apareciam devido às disfunções de alguns desses “pares de opostos”. A harmonia entre essa bipartição era o que levaria a uma vida saudável. As formas de como as enfermidades poderiam ocorrer, eram descritas por ele como sendo causadas por problemas internos e externos ao corpo, como por exemplo: fatores climáticos, má alimentação, problemas com a poluição do ar, águas contaminadas, respiração fraca, e excesso de peso ou de força. Nesse sentido, ele utilizava esses exemplos ou fatos semelhantes, para compreender as patologias e traçar seus diagnósticos.

Filosofia Cosmológica

Alcmeão acreditava que assim como os astros do universo estavam em constante movimento a alma também estaria em eterna mutação, e por isso, ela seria imortal. Dizia que tanto os homens como os astros possuíam alma, por esse motivo, a alma estaria em um eterno movimento circular imitando o movimento dos astros. Dissertava que alma se movia por si mesma, de forma semelhante aos corpos celestes, sem ajuda de forças externas. Pensava que os astros eram semelhantes a seres divinos, nesse sentido, existiria uma forte relação em comum, entre: a alma, os astros, as divindades e a eternidade. Nesse contexto, essa teoria ficou conhecida como “misticismo astral”, por descrever que os astros possuíam vida. Explicava que os planetas se moveriam do oeste para o leste e que as estrelas se direcionavam no sentido contrário aos planetas. Para ele, tanto o Sol como a Lua, teriam um formato aplanado. Chegou a fazer alguns estudos relacionados aos eclipses da Lua. Sua obra influenciou significativamente o filósofo Claudio Galeno que viveu no período romano.  

Obras:

"Sobre a Natureza"


Filosofia Sapiencial

- “O cérebro é a sede da mente”.

“A vida mental é uma função do cérebro”.

- “A saúde é a mescla harmoniosa das qualidades”.

- “A maior parte das coisas humanas ocorre aos pares”.

- “É mais fácil se defender de um inimigo que de um mau amigo”.

- “Os homens morrem porque não conseguem unir o princípio ao fim”. 

- “Das coisas invisíveis têm clara consciência os deuses, a nós enquanto humanos, nos é permitido apenas conjecturar”. 

- “O homem distingue-se dos demais seres animais por ser o único que compreende, pois todos os demais percebem, mas não compreendem”. 

 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson BINI. São Paulo: Edipro, 2012.

BARNES, Jonathan. Filósofos Pré-Socráticos. Trad. Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Editora Cultrix, 2000.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Vol. 2. São Paulo: Companhia das letras, 2010.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo. Nova Cultura LTDA. 1996.

DIELS, Hermann & KRANZ, Walther. Alcmeon de Crotona: Fragmente der Vorsohratiker, textos inéditos, 1954.

FARIAS, Romildo. Fundamentos da Astronomia. Campinas: Papirus, 1987.

FILHO, José. História da Medicina: Alcméon de Crotona, o avô da medicina. Revista ser médico. São Paulo: CREMESP. ed. 39, 2007.

HAMLYN. David. Uma história da filosofia ocidental. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1990

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas. Dissertatio Filosofia, 2014.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento Antigo. Trad. Lívio Teixeira São Paulo: Mestre Jou, 1964.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª. ed. Vol.1. São Paulo: Paulus, 1990.

VERNANT. Jean, Pierre. As origens do pensamento antigo. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Temistocleia de Delfos

Temistocleia de Delfos – (600 a.C)

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma filósofa, matemática e profetisa da Grécia antiga. Alguns pesquisadores afirmam que Temistocleia seria a primeira filósofa da história da filosofia ocidental. Fontes dizem também que ela seria mestra e irmã do filósofo Pitágoras, porém ainda existe muita especulação sobre essas informações. O vínculo de irmandade atribuído a eles pode ser apenas simbólico, representando uma ligação espiritual. Os pesquisadores também atribuem a ela o papel de formadora moral e ética dos valores de Pitágoras, tendo inclusive influenciado ele na criação etimológica da palavra filosofia. O filósofo Aristóxeno confirma essa informação de que ela teria ensinado alguns valores morais ao grande Pitágoras. Temistocleia era conhecida por ser uma sacerdotisa do templo de Apolo em Delfos. Acredita-se que ela tinha mais prestígio entre os sábios do que o próprio Pitágoras. Certos pesquisadores da História da Filosofia se referem a ela como sendo Aristokleia ou Theokleia, porém todos esses nomes são considerados a mesma pessoa. Seu nome tem o significado próximo ao conceito de “ordem ou conselho de deusa”. O título que ela teria de sacerdotisa do grande oráculo de Delfos, era um título de muita importância para época. Ainda não existe um consenso ao certo sobre a data exata de seu nascimento e de sua morte, sabe-se apenas o ano aproximado de seu florescimento.

A mãe da filosofia grega

Temistocleia também estudou matemática, porém devido ao cargo de sacerdotisa e de sua elevada fama, ela era muito procurada para ser consultada sobre questões relevantes e assuntos pertinentes que intrigavam os pensadores de sua época. O cargo que ela ocupava de oráculo era um título equivalente a de uma autoridade religiosa, e dessa forma, muitas vezes as pessoas buscavam respostas e a indagavam sobre profecias. Muito embora alguns pensadores afirmem que ela seria a primeira filósofa mulher, essa afirmação é muito subjetiva do ponto de vista histórico, pois existe certa relatividade ao atribuir o termo “primeiro” aos pensadores da antiguidade. O fato é que a filosofia grega sofreu muita influência de outras culturas, daí o que pode ser dito com mais segurança, é que ela talvez possa ser a primeira filósofa da Grécia Antiga. A escola pitagórica aceitava ensinar filosofia para as mulheres, porém assim como muitas outras mulheres sábias da época, Temistocleia teve rastros de seu conhecimento esquecido e apagado pela História. Não foram preservados os fragmentos de suas obras, porém especula-se que algumas máximas pitagóricas sejam de sua autoria, esse fato se deve a forte influência que ela exerceu de introduzir Pitágoras no campo da ética e no universo filosófico.

Seus ensinamentos foram considerados um importante fundamento para consolidação dos saberes na antiguidade, embora não existam fragmentos preservados de suas obras, acredita-se que ela tenha conectado conhecimentos morais, racionais, experienciais e sobrenaturais em sua doutrina. Seus saberes incluíam noções de Astronomia, Ciências Naturais, Medicina, Música, Biologia e Filosofia. Seus conselhos advertiam sobre questões relacionadas à agricultura, guerras, decisões políticas e matrimônios. Ao ser questionada, suas respostas não eram diretas, pois era comum aos oráculos falarem somente através de enigmas. Nenhuma decisão importante poderia ser tomada sem antes consultá-la.

Anedota

Quanto ao termo “filosofia”, cogita-se a possibilidade de Temistocleia ter influenciado Pitágoras na elaboração do termo. Segundo relatos antigos, Temistocleia teria ensinado ao jovem Pitágoras que ele não era alguém que possuía o conhecimento em si ou que ele pudesse se apropriar da verdade absoluta, mas que ele poderia ser apenas um amante do saber. Tempos depois ao ser questionado pelos seus discípulos sobre verdades e saberes, Pitágoras teria ensinado a eles que a sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas das divindades, e que aos homens teria sido concedido à possibilidade de apenas amar a sabedoria ou contemplá-la na posição de “filósofos”, por isso ele seria apenas um amante ou amigo do saber, pois o termo “philos” teria o sentido de “amor-amizade”.

 

Comentários de Filósofos:

- “Pitágoras derivou a maior parte de suas doutrinas éticas a partir dos ensinamentos de Temistocleia”. (Aristóxeno).

- “Ela ensinou a Pitágoras as suas doutrinas morais”. (Diógenes Laércio – Vida de Pitágoras).

- “Essas coisas que ele ensinou, apesar de aconselhamento sobre todas as coisas para falar a verdade, para está sozinho entre os homens. Por que ele havia obtido dos magos, que exigem Deus, Deus o corpo é luz, e sua alma é a verdade. Ele ensinou muito mais, que ele alegou ter aprendido de Temistocleia de Delfos.” (Pórfiro de Tiro).

 

Fontes:

FERREIRA, Maria Luísa Ribeiro. As Mulheres na Filosofia. Lisboa. Colibri, 2009.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2 ed. Brasília. UnB. 2008.

MÉNAGE, Gilles. História das mulheres filósofas. Herder Editorial. 2012.

OLSEN, Kirstin. Cronologia da História da Mulher . Greenwood Press 1994

PACHECO, Juliana. Filósofas: A presença das mulheres na filosofia. BRASIL. Editora FI. 2016.

POMEROY, Sarah. Mulheres pitagóricas: Sua história e escritos. Baltimore: Universidade Johns Hopkins, 2013.

PIOVEZANE, Helenice Vieira. As mulheres na filosofia: A antiguidade. Vol. 1. São Paulo. Nova Acrópole. 2016.

PORFÍRIO. A vida de Pitágoras. Barcelona: Planeta de Agostini, 1996.

SUDA, Enciclopédia online. Pitágoras. Internet: Acesso, 2019.

WAITHE, Mary Ellen. The history of women philosophers. Vol. 1. Boston: Martinus Nijhoff, 1987.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Pitágoras de Samos

Pitágoras de Samos - (570 a 495) a.C   

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade grega pertencente ao período pré-socrático. Ele foi o criador de uma escola de pensamento filosófico denominada de “pitagorismo”. Pitágoras chegou a viajar por várias regiões em sua época, como o antigo Egito, a Babilônia, a Índia e a Pérsia, devido ao fato dele realizar essas viagens, acabou absorvendo muito conhecimento de outras culturas. Embora o Tales de Mileto seja considerado o primeiro filósofo da Grécia antiga, foi Pitágoras o criador da palavra “filósofo”, tendo também possivelmente concebido o termo “matemática”. Estudou as áreas da Medicina, Astronomia, Política, Música, Literatura, Matemática e Filosofia. Existem relatos sobre a possibilidade de Pitágoras ter estudado filosofia e matemática com os filósofos da escola de Mileto. Outras fontes apontam para a perspectiva de que ele também tenha estudado com o profeta Zoroastro. Escreveu uma obra famosa chamada de “Versos de Ouro” que seria uma coleção de versos de cunho moral. O chamado pitagorismo teve muitos discípulos notáveis dentre os quais se destacam: Hipaso de Metaponto, Filolau de Crotona, Arquitas de Tarento, Alcmeão, Melissa e Theano.

Relatos dão conta de que ainda muito jovem Pitágoras já dominava importantes conhecimentos matemáticos e filosóficos. Ele ficou famoso pelo teorema que leva seu nome “Teorema de Pitágoras”. Porém, existem discordâncias entre os pesquisadores se foi ele mesmo que criou o teorema ou se obteve esse conhecimento em suas longas viagens pelo mundo antigo da época. O filósofo dos números é considerado um dos grandes matemáticos da antiguidade, contudo, acredita-se que muitas das descobertas atribuídas a ele, seriam na verdade fruto do trabalho de seus discípulos. Pitágoras nasceu no ano aproximado de 570 a.C na ilha de Samos, região que fica na Ásia menor (Magna Grécia) e faleceu por volta de 495 a.C na localidade de Metaponto.

Filosofia da Religião

Existem muitas divergências sobre quem de fato foram os pitagóricos. Alguns pesquisadores dizem que eles pertenciam a uma sociedade secreta, outros afirmam que seria uma espécie de seita religiosa. Seus discípulos o tinham como um profeta ou sacerdote religioso. Esses pensadores utilizavam o pentagrama como símbolo para representar sua escola filosófica. Na escola de Pitágoras existia uma regra de ouro que era o silêncio, nada poderia ser revelado aos de fora sem autorização. Havia outras proibições como, por exemplo, a de comer carne e a de beber vinho. Existiam rituais de purificação da alma através da matemática e dos números, daí os pitagóricos diziam que esses rituais santificavam a vida. Também existia muito misticismo com os números, sendo inclusive usados em várias questões sociais da vida, pois eles acreditavam que a alma poderia se libertar do corpo através do intelecto. Eles buscavam a purificação da alma por meio do conhecimento e do pensamento. A escola pitagórica se associava aos conceitos esotéricos tendo sua base moral definida em ideias ligadas a harmonia das coisas.

Outra característica do “pitagorismo” era a doutrina da metempsicose que seria o conceito de transmigração da alma entre os homens, os animais e as plantas, isto é, a passagem da alma de um corpo para outro ou de um ser vivo para outro. Para Pitágoras, a alma seria uma unidade harmônica que poderia encontrar perfeição através dos números. Com isso, ele acreditava na imortalidade da alma.  Essas teorias pitagóricas estavam relacionadas na filosofia aos conceitos metafísicos. De acordo com eles, o pensamento racional era superior ao sensitivo. Segundo Pitágoras, a realidade do pensamento estaria ligada a matemática e os sentidos seriam os tradutores que o corpo teria para compreender essa realidade. Assim sendo, os pitagóricos buscavam traduzir essa realidade através da matemática. Nessa época, as abstrações matemáticas eram vistas pelos pitagóricos como coisas reais.

Filosofia Musical

No campo da música, Pitágoras se destacou na descoberta dos intervalos musicais, também estudou os efeitos da música na alma. Ademais, fez relações da música com a matemática ao definir a série harmônica de notas musicais com cordas, essa teoria ficou conhecida como “teoria da harmonia dos acordes musicas”. A descrita teoria da série harmônica fez com que Pitágoras acreditasse que essa harmonia que existe na matemática também estaria no mundo natural. Começou então a estudar a acústica como sendo uma ciência exata. Segundo alguns historiadores, ele teria criado um instrumento musical conhecido como “monocórdio”. Esse instrumento teria sido muito importante para a criação e aperfeiçoamento de outros instrumentos de cordas mais modernos, como o piano e o violão. Acreditava que a música servia como um elo de purificação da alma. O filósofo dos números é conceituado como um dos primeiros teóricos da musica ocidental, pois ele elaborou sólidos estudos nessa área.

Filosofia da Matemática

Na matemática, Pitágoras ficou conhecido por conta de uma fórmula que tem o seu nome, o famoso “Teorema de Pitágoras” descrito da seguinte forma: “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos”. Sua escola também se destacou na descoberta dos números perfeitos e dos números irracionais. Também estudou o desenvolvimento da tábua de multiplicação, o sistema decimal e as proporções aritméticas. Muitos pensadores atribuem a ele o conceito geométrico do espaço, em que ele descreve as ideias de ente contínuo e ilimitado. Ele desenvolveu estudos sobre os polígonos e os poliedros. Em relação à teoria dos números perfeitos, ele pontuava que: “a soma dos divisores de determinado número, com exceção dele mesmo, é o próprio número”. Desse modo, ele discorria que todo número perfeito seria triangular, assim como também poderia ser hexagonal. Ele elaborou noções a respeito dos números figurados em que descreve como as figuras poderiam ser representadas pelo conjunto de pontos equidistantes.

Filosofia Cosmológica

Pitágoras também se destacou na astronomia ao estudar a esfericidade da Terra e ao elaborar a teoria da harmonia das esferas. Chegou a dizer que a Terra girava ao redor de uma bola de fogo e que isso gerava o dia e a noite. Através de seus estudos astronômicos, ele chegou à conclusão de que o planeta Terra era esférico e que ele estaria suspenso no espaço, essas descobertas foram muito fascinantes para época. Observou que o universo possuía certa ordem, e que as estrelas, bem como a Terra, giravam ao redor de um foco central. Para os pitagóricos, o cosmos era regido por relações matemáticas, desses conceitos eles afirmavam, por exemplo, o movimento perfeito das estrelas e calculavam os deslocamentos realizados pelos astros.  Segundo Pitágoras, os números seriam a base da vida na Terra.

Os pitagóricos definiam os números como sendo a essência de todas as coisas no universo. Para eles, os números pares e ímpares promoviam mutações na natureza e explicavam a harmonia do universo. Segundo essa escola de pensamento, o cosmos seria regido pela matemática, e os elementos: terra, água, fogo e ar dependiam dos números para terem suas formulações concretizadas. Essa regência matemática harmônica trabalhava com a ideia de que existiria uma variedade de opostos que governavam o mundo. Daí os números pares não teriam limites e seriam, portanto, imperfeitos, já os impares seriam limitados e por consequência perfeitos. Pitágoras definiu os números como sendo a "arché" do universo, ou seja, o princípio que gerava tudo na natureza. Os números seriam a base de tudo, pois estariam presentes em todas as coisas.

Curiosidades:

Segundo relatos antigos, um pouco antes de Pitágoras nascer, a sacerdotisa do Deus Apolo teria dito a sua mãe a seguinte frase: “Tereis um filho de grande beleza e extraordinária inteligência, ele será um dos homens mais sábios de todos os tempos”.

Fontes antigas mencionam alguns acontecimentos místicos envolvendo Pitágoras, como, por exemplo, o relato de que ele teria sido visto por várias pessoas, no mesmo dia e horário em duas cidades diferentes.

Filosofia Sapiencial

- "O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos".

- “O universo é uma harmonia de contrários”.

- "Educai as crianças e não será preciso punir os homens".

- “A Evolução é a Lei da Vida, o Número é a Lei do Universo, a Unidade é a Lei de Deus”.

- "A verdadeira amizade significa unir muitos corações e corpos num só coração e num só espírito".

- “A matemática é o alfabeto com o qual Deus escreveu o universo”.

- “Observa o teu culto à família e cumpre teus deveres para com teu pai, tua mãe e todos os teus parentes”.

- “O filósofo não é dono da verdade, nem detém todo conhecimento do mundo, ele é apenas uma pessoa que é amiga do saber”.

- “Os animais dividem conosco o privilégio de ter uma alma”.

- “Todas as coisas se assemelham aos números”.

- “Quem não domina a si mesmo não encontra a liberdade”.

- “Faz aquilo que achares justo mesmo que o outro pense diferente”.

- “A vida é como um espetáculo, entramos nele, vemos o que ele nos mostra e dele saímos no final”.

- “Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer tudo e tudo fazer bem”.

- "Não é livre quem não consegue ter domínio sobre si".

-"Aquele que fala semeia; aquele que escuta recolhe".

- "A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus".

- "Homem doente é sinal de harmonia rompida".

- "Os amigos têm tudo em comum, e a amizade é a igualdade".

- “O Número é regente das ideias e das formas”.

- “A finalidade da vida é libertar a alma do corpo”.

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson BINI. São Paulo: Edipro, 2012.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

BOYER, Carl. História da Matemática. trad. Elza Gomide São Paulo: USP, 1974.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Vol. 2. São Paulo: Companhia das letras. 2010.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA. 1996.

FRANCA, Leonel. Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro: Livraria AGIR editora, 1954.

FELIPE, Luís Bellintani Ribeiro. História da filosofia I. Florianópolis: Filosofia/Ead/UFSC, 2008.

HAMLYN. David. Uma história da filosofia ocidental. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

HUFMANN, Carl. A história do pitagorismo. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: Dissertatio Filosofia, 2014.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª.ed. Vol.1. São Paulo: Paulus,1990.

SELL, Sérgio. História da Filosofia I. Palhoça: UnisulVirtual, 2008.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª.ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. 2003.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Anaxímenes de Mileto

Anaxímenes de Mileto – (588 a 524) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da Grécia antiga que pertenceu à escola filosófica de Mileto. Situa-se no período antigo da filosofia denominado de pré-socrático. É considerado um dos filósofos do materialismo monista, pois assim como seu mestre Anaximandro, ele acreditava em uma única substância que dava origem a tudo no universo, essa substância para o Anaxímenes seria o “ar”. Ele escreveu uma obra intitulada “Sobre a Natureza” que possivelmente se perdeu no tempo, tendo restado alguns poucos fragmentos, ela teria sido escrita em formato de prosa. Essa obra retratava questões relacionadas à organização e origem do universo. Os filósofos da “physis” (natureza) geralmente escreviam obras com os títulos: “Acerca da natureza ou Sobre a natureza”. Anaxímenes assim como seu mestre também desenvolveu um tipo de relógio solar ao qual denominou de “sciothericon”. Estudou as áreas da Filosofia e Meteorologia. Existem evidências históricas de que Anaxímenes teria se comunicado através de cartas com os pitagóricos. Anaxímenes nasceu por volta do ano 588 a.C na cidade de Mileto, e possivelmente veio a falecer em torno de 524 a.C.

Filosofia da Natureza

O terceiro filósofo da escola de Mileto, ao observar a natureza, concluiu que os processos físicos da matéria iam aos poucos formando e transformando as substâncias da natureza. Na sua visão, a substância primordial não poderia ser algo fora da observação e da realidade sensível. Ele acreditava que o “ar” ao se condensar, transformava-se em pedra e posteriormente em terra.  Para ele, a transição do estado da matéria iria aos poucos formando tudo que existe no universo e todo esse processo se iniciava através do “ar”. Ele afirmava que o movimento contínuo dessa transformação gerava todas as outras coisas no universo, ou seja, o que era úmido e seco gerava fogo e o que era frio e molhado geravam sólidos, as nuvens geravam a água e depois a terra e assim tudo iria aos poucos sendo criado.

Nesse contexto, ele explicava que a condensação e a rarefação do “ar” era o que originava tudo no universo. Segundo Anaxímenes, o “ar” primordial estaria sujeito a dois processos de transformação das coisas: a rarefação e a condensação. Esse processo de condensação e rarefação era impelido pelo movimento contínuo do “ar” que de acordo com Anaxímenes, seria um pré-requisito para qualquer tipo de mudança. O “ar” proposto por ele se assemelhava a uma espécie de vapor que também poderia ser compreendido como uma forma de névoa, ou ainda, o que alguns pesquisadores denominaram de “pneuma”. Na sua visão, todas as coisas seriam aspectos diferentes do “ar”, sendo o próprio espírito então como o “ar”. Dizia que a alma provinha do “ar” e que essa substância era infinita e invisível. Afirmava que o movimento do “ar” produzia vida constante. Por consequência, seria através da respiração, que o “ar” ao ser lançado pelas narinas, formaria o coração, os pulmões, os músculos, o sangue e todas as outras partes do corpo.

Anaxímenes acreditava que a água era o próprio “ar” condensado e que o fogo seria o “ar” rarefeito. Para ele, a pressão e a quantidade exercida no “ar” era o que aos poucos dava surgimento às coisas. Explicava que o conceito de "ápeiron" proposto por Anaximandro derivava do próprio “ar”. Pensava que não apenas tudo derivava do "ar", mas que também para o "ar" tudo retornava. O "ar" animava não somente o corpo do homem, mas o mundo todo. A partir desse ciclo de origem das coisas, o “ar” passaria a tornar eterno o processo que dava origem à transformação de todas as coisas, assim ele explicava que o “ar” sobre a influência do calor tenderia a se expandir, aumentando assim o seu volume, e já sobre a influência do frio, ele se contraía, diminuindo a sua capacidade. Desse modo, o que sofreria mudança na verdade seria a quantidade, a pressão e a temperatura que se imprimia sobre o “ar”. 

Filosofia Cosmológica

Elaborou uma teoria cosmológica que descrevia o “ar” como sendo o elemento que dava origem a tudo no universo. Na astronomia Anaxímenes dizia que a Lua só podia ser vista porque ela refletia a luz do Sol. Também chegou a afirmar que a Terra era plana e que a “pneuma” era o “ar” que a Terra expelia para o espaço, e assim, formavam-se as estrelas. Para Anaxímenes, a Lua e outros astros flutuavam no ar, através dessa tese ele fez várias explicações dos fenômenos naturais da época, tendo como ponto de partida o "ar" e suas relações com a natureza. Explicou conceitos sobre os relâmpagos, terremotos e o arco-íris. Dizia que pela condensação o "ar" se transformaria em líquidos e sólidos. Esses líquidos e sólidos seriam a água, a terra, as pedras e os metais. Já pela rarefação o “ar” se transformava em gases, ventos, oxigênio e fogo. Para ele, todos os corpos celestes teriam se originado da Terra e se moviam ao redor dela, essa teoria ficou conhecido como o modelo geocêntrico. Acreditava que a Terra e alguns astros tinham um formato plano e achatado. Utilizou-se de cálculos geométrico das sombras do Sol para medição das partes e divisões do dia.

Anaxímenes dizia que tanto Tales como Anaximandro estariam equivocados em relação ao princípio gerador de tudo, pois a água de Tales era uma substância muito simples para ser considerada uma substância primordial, já o "ápeiron" de Anaximandro seria um conceito muito abstrato para isso. Ele e seus antecessores acreditavam em uma única substância criadora de tudo no universo, logo, a alternância do estado da matéria era responsável pela formação de todas as coisas no universo, formando também os elementos naturais. A filosofia de Anaxímenes seguiu um modelo sistemático, racional e ordenado de explicação dos fenômenos da natureza, esse tipo de conhecimento era considerado diferente para o pensamento da época.

 

Filosofia Sapiencial

- “A razão precisa da experiência; mas esta nada vale sem a razão”.

- “A variação quantitativa de tensão da realidade originária dá origem a todas as coisas”.

- “Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, assim também o sopro e o ar abraçam todo o corpo”.

- “A verdade é de quem fala a verdade”.

- “Os homens são como os astros, alguns geram sua própria luz, enquanto outros apenas refletem o brilho que recebem”.

- “O “ar” é Deus”.

- “O ar é o princípio de todas as coisas”.

- “Espírito e ar significam a mesma coisa”.

- “A Terra é plana e flutua no ar assim como o Sol que é largo como uma folha e se desloca também através do ar”.

“O contraído e o condensado da matéria é frio, Já o vaporoso e o fluido são quentes”.

“Os astros se movem ao redor da Terra igual como gira um chapéu ao redor da nossa cabeça”.

“Quando o ar se rarefaz, torna-se fogo; e quando se condensa, vento; com maior condensação, nuvem; se for mais forte, água; se mais forte ainda, terra; e com sua extrema condensação, transforma-se o ar em pedra”.

 

Fontes:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5º edição. São Paulo: Martins, 2007.

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix , 1967.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA, 1996.

FELIPE, Luís Bellintani Ribeiro. História da filosofia I. Florianópolis: Filosofia/Ead/UFSC, 2008.

GOMES, Pinharanda. Filosofia Grega Pré-Socrática. 4ª ed. Lisboa: Guimarães Editora, 1994.

HAMLYN, David. Uma história da filosofia ocidental. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: Dissertatio Filosofia, 2014.

KIRK, Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos. Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

Nietzsche, Friedrich. Filosofia na Idade Trágica dos Gregos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

PLÍNIO, O velho. História Natural.  trad. Harris Rackam. Cambridge: Harvard University Press, 1991.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª.ed. Vol.1. São Paulo: Paulus,1990.

SIMPLICÍO. Física.  Trad. Alexandre Costa. Anais de filosofia clássica. Vol. 3. N; 06. UFRJ. 2009.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª ed. Porto Alegre. EDIPUCRS, 2003.

domingo, 4 de agosto de 2019

Anaximandro de Mileto

Anaximandro de Mileto (610 a 547) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Anaximandro foi um filósofo da Grécia antiga pertencente à escola Jônica, além disso, foi também discípulo de Tales de Mileto e juntamente com ele é considerado um filósofo pré-socrático. Destacou-se em sua época nas áreas de Geografia, Política, Matemática, Astronomia e Filosofia. Definiu a “arché” do universo como sendo uma substância chamada de “ápeiron”. Anaximandro foi além de seu mestre Tales e definiu não apenas o princípio de tudo, mas também questionou qual a finalidade do surgimento das coisas. Ele buscava decifrar a origem e formação das substâncias no universo. Chegou a ocupar cargos políticos e administrativos em Mileto. Ele é tido como o criador de um relógio solar conhecido como “gnômon”. É apontado como um dos primeiros pensadores gregos a desenvolver uma visão sistemática da cosmologia. Além de ter construído muitos mapas terrestres e celestes, também lhe é atribuído à descoberta da obliquidade da eclíptica, estudos de introdução do quadrante solar, e a invenção de um modelo específico de mapa geográfico. O filósofo do infinito nasceu aproximadamente no ano de 610 a.C na cidade de Mileto e faleceu em sua cidade natal por volta de 547 a.C.

Filosofia da Natureza

O principal elemento que dava origem a todas as coisas na sua visão era o “ápeiron”, que seria uma definição para época de infinito e indeterminado, era um conceito abstrato e próximo à ideia de divindade. Essa definição contemplava a noção de infinito em quantidade, qualidade e profundidade, dizia que era ilimitado, indestrutível, indefinido e eterno. Teria uma definição de algo que existe, mas que nunca surgiu. Seria insurgido, ou seja, nunca surgiu, mas sempre existiu. Ele acreditava que quando os seres deixavam de existir, eles se tornavam novamente essa substância chamada de “ápeiron”.

Enquanto seu mestre Tales definia a “água” como sendo o princípio gerador de todas as coisas, Anaximandro dizia que essa “arché” era o “ápeiron”, para ele, essa substância teria as seguintes características: era infinita, indefinida, indeterminada, ilimitada, invisível e indestrutível. Daí afirmava que: “O que vem antes e depois do finito, tende a ser infinito”. Essa ideia de que o “ápeiron” não possuía limites era um conceito muito complexo para época, pois englobava todas as qualidades que existia no mundo. Daí ele definia que enquanto a característica de infinito tinha relação direta com a ideia de quantidade, a característica de indeterminado fazia relação direta com o conceito de qualidade, e dessa forma, a caraterística do movimento do “ápeiron” teria relação com o conceito de eternidade.

"ápeiron" estaria fora de qualquer limite compreendido pelo homem. Ele acreditava que essa abstração ao qual denominou de "ápeiron" não poderia ser observada pelos humanos, mas apenas deduzida. A substância básica da qual se originava todas as coisas seria eterna, e por isso jamais poderia deixar de existir. Seria o início, o meio e o fim de tudo. Estaria presente em todas as partes e ocuparia todos os espaços. Alguns pensadores afirmaram que essa ideia era muito próxima do conceito de divindade, pois o “ápeiron” seria indestrutível e imortal.

Ele explicava que o tempo seria um juiz que regulava os contrários, segundo ele, existiria uma luta constante entre esses contrários, isto é, entre os pares de opostos. Para Anaximandro, quando dois elementos contrários entravam em choque, eles geravam o “ápeiron”, então a luta entre o frio e o calor, o úmido e o seco dariam origem a essa substância, por isso, não poderia existir o calor e o frio ao mesmo tempo, ou seja, os opostos não poderiam coexistir em um mesmo corpo ou objeto ao mesmo tempo, daí o tempo regulava o momento de existência do calor e depois do frio, existindo sempre um de cada vez, logo, os contrários estariam constantemente e eternamente em luta. Nesse sentido, ele argumentava que tudo o que nasce um dia vai morrer, tudo o que é quente, um dia irá esfriar, tudo o que é grande, uma hora será quebrado em partes menores, o fogo poderia ser combatido com água, e como resultado disso, fogo e água deixariam de existir. Dessa forma, todas as coisas no universo se extinguem ao longo do tempo, mas o “ápeiron”, que seria a essência de tudo, permanece para sempre.  

Filosofia Cosmológica

Anaximandro também estudou Astronomia, tendo possivelmente calculado a distância de algumas estrelas e calculado o tamanho delas. Desenvolveu teorias a respeito da mecânica dos corpos celestes, ele chegou a dizer em sua cosmologia que a Terra tinha um formato cilíndrico e que ela seria o centro do universo, estando imóvel e suspensa no espaço por uma espécie de eixo de fogo equilibrada por forças. Acreditava que o processo de nascimento e fim dos astros seguia um ritmo eterno e sem fim. Pensava que o mundo conhecido era somente um entre diversos outros mundos que iriam se desenvolver, evoluir e se desintegrar em um processo infinito. Toda a sua teoria complexa tem relação com o paradoxo de onde pode se observar múltiplas realidades determinadas que se opõem, se conectam e se destroem de forma constante. Desse processo é que se formariam todos os elementos do universo.

O conceito de "ápeiron" descrito por Anaximandro inspirou muitas teorias da Física moderna, dentre elas, pode ser citada a famosa teoria do big-bang. Esse conceito de infinitude em quantidade e qualidade também influenciou pensadores e teólogos. Desde a antiguidade que Anaximandro já teria antecipado muitos dos conhecimentos que posteriormente foram aperfeiçoados pela ciência, afirmava, por exemplo, que haveria um equilíbrio para as várias forças que atuam sobre a Terra, o que hoje pode ser descrito como as forças centrípetas e a força da gravidade. A sua ideia de que os opostos se excluíam era muito parecida, com as que hoje explicam as teorias da matéria e da antimatéria. Pensava que o Sol era apenas uma roda cósmica que girava ao redor da Terra. Explicou naquele tempo de forma ainda simplista que o Sol ao tocar na água gerava seres e que esses seres posteriormente migraram para a terra, o que é algo muito parecido com a teoria moderna da evolução das espécies de Charles Darwin.

Anaximandro chegou a afirmar que assim como a sociedade era organizada por leis, a natureza também seria governada por uma lei, daí explicava que os elementos básicos: terra, água, fogo e ar, seriam forças da natureza e que o choque entre essas forças produzia uma harmonia cósmica ou uma espécie de equilíbrio da natureza. As ideias de Anaximandro influenciaram diversos físicos e cientistas ao logo da história das ciências, dentre eles o físico Max Born em sua teoria sobre as partículas elementares.

 Obras:

- Sobre a natureza

- Perímetro da terra

- Esfera celeste

- Sobre as estrelas filhas

Filosofia Sapiencial

- “O que vem antes e depois do finito, tende a ser infinito”.

- “O ilimitado é eterno, imortal e indissolúvel”.

- “Nosso mundo é um dos muitos mundos que surgem de alguma coisa e se dissolvem no infinito”.

- “Todos os seres derivam de outros seres mais antigos por transformações sucessivas”.

- “O ilimitado é eterno, não envelhece e envolve todos os cosmos”.

- “O “ápeiron” é o princípio de todas as coisas”.

- “O ilimitado é totalmente responsável pela gênese e pela dissolução do universo”.

- “As estrelas são porções comprimidas de ar, com a forma de rodas cheias de fogo, e emitem chamas a partir de pequenas fendas”.

- “Pois tudo ou é princípio ou procede de um princípio, mas do ilimitado não há princípio: se houvesse, seria seu limite”. O ilimitado não tem princípio, pois, nesse caso, seria limitado.

- "O Sol é um círculo vinte e oito vezes maior que a Terra; é como uma roda de carruagem, cujo aro é côncavo e cheio de fogo, que brilha em certos pontos de abertura como os bicos dos foles".

- “Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade; pois pagam umas as outras castigo e expiação pela injustiça, conforme a determinação do tempo”.

 - “Os primeiros seres vivos nasceram do úmido, circunvoltos por uma casca espinhosa; com o passar do tempo, subiram a terra seca, e rompendo-se a casca, mudaram de forma de vida”.

Fontes:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5º ed. São Paulo: Martins, 2007.

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA, 1996.

FELIPE, Luís Bellintani Ribeiro. História da filosofia I. Florianópolis: Filosofia/Ead/UFSC, 2008.

HAMLYN, David. Uma história da filosofia ocidental. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

HEIDEL, William. O livro de Anaximandro. trad. Katsuzo Koike. São Paulo: Ixtlan, 2011.

HERÓDOTO. Histórias. trad. Pierre Henri Larcher. Brasília: Ebooks Brasil, 2006.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: Dissertatio Filosofia, 2014.

KIRK, Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos. Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª ed. Vol.1. São Paulo: Paulus,1990.

SIMPLICÍO. Física.  Trad. Alexandre Costa. Anais de filosofia clássica. Vol. 3. N; 06. UFRJ. 2009.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª ed. Porto Alegre. EDIPUCRS, 2003.