sábado, 31 de agosto de 2019

Alcmeão de Crotona

Alcmeão de Crotona – (510 a 450) a.C                                                           

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pitagórico que viveu na Grécia antiga na região de Crotona. Historiadores o apontam como tendo sido um dos discípulos de Pitágoras. Destacou-se na área da Medicina e estudou os campos da Astrologia, Astronomia, Filosofia e Meteorologia. Também era tido como o primeiro grego da antiguidade a dissecar um cadáver humano. Desenvolveu teorias no campo da Medicina e das ciências naturais, além disso, descreveu conceitos que relacionavam o cérebro humano com as funções psíquicas. Por ter estudado as vias sensoriais e suas relações com o cérebro, ele foi consagrado como sendo “o pai da psicologia antiga” e chamado também de “o avô da medicina”. Nesse sentido, sua filosofia lançou as bases primitivas da medicina científica. Seu nome também é escrito por alguns estudiosos como sendo “Alcméon”. Especula-se que ele nasceu aproximadamente em 510 a.C na localidade da província de Crotona na Itália e veio a falecer por volta de 450 a.C. Essas datas não são precisas e servem apenas para contextualizar a época aproximada em que ele viveu.

Filosofia da Medicina

Sua obra influenciou vários filósofos antigos como Anaxágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles e principalmente o filósofo-médico “Hipócrates de Cós” conhecido como o pai da medicina. Alcmeão compreendeu a importância central que o cérebro tinha no corpo humano, investigando como os órgãos que se relacionavam com os sentidos do corpo manteriam relação com as funções psíquicas do cérebro. Alegava que os órgãos dos sentidos estavam ligados ao cérebro, e que por isso, a vida psíquica seria uma mera função cerebral. Aprofundou-se na análise fisiológica, embriológica e anatômica do corpo humano, passando a ser visto como um dos pioneiros nos estudos dessas áreas. O avô da medicina defendia que o intelecto diferenciava o homem dos animais e que o núcleo da inteligência estaria depositado no cérebro. Utilizou-se de animais dissecados para embasar seus estudos, tendo descoberto, por exemplo: a trompa de Eustáquio e os nervos ópticos. Além disso, realizou distinções entre as veias e as artérias do corpo.

Escreveu um livro que recebeu o título de “sobre a natureza” em que descreve sobre teorias a respeito da morte, sono, despertar, imaginação, memória e pensamento. Nesse sentido, desenvolveu uma teoria sobre o sonho, chamada de “hipótese vascular” em que proferia que o sonho era causado pelo resultado do aumento da quantidade de sangue na cabeça. Descreveu em suas pesquisas que a cabeça do feto era a primeira parte do corpo a ser desenvolvida e que as vias sensoriais terminavam no encéfalo. Deduziu a diferença entre a compreensão racional e a sensação da percepção realizada pelos sentidos. Dessa maneira, seus conhecimentos foram importantes para a compreensão do processo de sensibilidade da dor no corpo e da saúde mental.

Filosofia da natureza

Ficou conhecido como um filósofo dualista, pois acreditava em uma combinação dupla de princípios geradores que permaneciam em constante harmonia. Para ele, a “arché” do universo seria uma substância formada por um conjunto de “pares de opostos”. Acreditava que as enfermidades eram causadas por uma desarmonia física do corpo. Nesse sentido, o equilíbrio seria o motor de conservação da saúde que era gerado pela “isonomia das qualidades”. Na sua “teoria da desarmonia”, ele estabeleceu que à "arché" da natureza estava relacionada com substâncias que formavam “pares de opostos”. Daí, ele elaborou uma tabela com esses “pares de opostos” descritas da seguinte forma:

Limitado-ilimitado, ímpar-par, unidade-pluralidade, direito-esquerdo, masculino-feminino, repouso-movimento, reto-torto, luz-sombra, bom-mau, quadrado-redondo, úmido-seco, frio-calor, amargo-doce, preto-branco, grande-pequeno, igual-desigual. (Alcmeão).

Dessa maneira, cada par possuía uma qualidade que deveria ser padronizada, caso houvesse algum desequilíbrio entre eles, isso provocaria doenças no corpo ou desarmonias na natureza. A partir disso, ele estabeleceu uma doutrina conhecida como o binômio “saúde-doença”, em que afirmava que o corpo possuía vários líquidos diferentes como a bílis negra, a bílis amarela, a bílis vermelha (sangue) e a fleuma. Através dessa tabela elaborada, ele tentava investigar no corpo qual desses pares estaria em desequilíbrio, com isso, traçava um possível diagnóstico explicando a causa da doença. A descrita teoria foi influenciada de maneira analógica pelas ideias pitagóricas sobre a complementariedade dos opostos. Essa teoria também ficou conhecida como “teoria humoral das doenças” que foi iniciada por Alcmeão, mas teria sido sistematizada por Hipócrates de Cós. Nesse sentido, Alcmeão pontuava que:

A saúde é a igualdade dos direitos das funções entre os pares, e a causa das doenças é o predomínio de um entre os pares sobre o outro, pois isso provoca desequilíbrio, a saúde é a mescla harmoniosa das qualidades, é preciso que nenhum se sobreponha ao outro, ou seja, que exista isonomia. (Alcmeão).

Para Alcmeão, as enfermidades apareciam devido às disfunções de alguns desses “pares de opostos”. A harmonia entre essa bipartição era o que levaria a uma vida saudável. As formas de como as enfermidades poderiam ocorrer, eram descritas por ele como sendo causadas por problemas internos e externos ao corpo, como por exemplo: fatores climáticos, má alimentação, problemas com a poluição do ar, águas contaminadas, respiração fraca, e excesso de peso ou de força. Nesse sentido, ele utilizava esses exemplos ou fatos semelhantes, para compreender as patologias e traçar seus diagnósticos.

Filosofia Cosmológica

Alcmeão acreditava que assim como os astros do universo estavam em constante movimento a alma também estaria em eterna mutação, e por isso, ela seria imortal. Dizia que tanto os homens como os astros possuíam alma, por esse motivo, a alma estaria em um eterno movimento circular imitando o movimento dos astros. Dissertava que alma se movia por si mesma, de forma semelhante aos corpos celestes, sem ajuda de forças externas. Pensava que os astros eram semelhantes a seres divinos, nesse sentido, existiria uma forte relação em comum, entre: a alma, os astros, as divindades e a eternidade. Nesse contexto, essa teoria ficou conhecida como “misticismo astral”, por descrever que os astros possuíam vida. Explicava que os planetas se moveriam do oeste para o leste e que as estrelas se direcionavam no sentido contrário aos planetas. Para ele, tanto o Sol como a Lua, teriam um formato aplanado. Chegou a fazer alguns estudos relacionados aos eclipses da Lua. Sua obra influenciou significativamente o filósofo Claudio Galeno que viveu no período romano.  

Obras:

"Sobre a Natureza"


Filosofia Sapiencial

- “O cérebro é a sede da mente”.

“A vida mental é uma função do cérebro”.

- “A saúde é a mescla harmoniosa das qualidades”.

- “A maior parte das coisas humanas ocorre aos pares”.

- “É mais fácil se defender de um inimigo que de um mau amigo”.

- “Os homens morrem porque não conseguem unir o princípio ao fim”. 

- “Das coisas invisíveis têm clara consciência os deuses, a nós enquanto humanos, nos é permitido apenas conjecturar”. 

- “O homem distingue-se dos demais seres animais por ser o único que compreende, pois todos os demais percebem, mas não compreendem”. 

 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson BINI. São Paulo: Edipro, 2012.

BARNES, Jonathan. Filósofos Pré-Socráticos. Trad. Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Editora Cultrix, 2000.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Vol. 2. São Paulo: Companhia das letras, 2010.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo. Nova Cultura LTDA. 1996.

DIELS, Hermann & KRANZ, Walther. Alcmeon de Crotona: Fragmente der Vorsohratiker, textos inéditos, 1954.

FARIAS, Romildo. Fundamentos da Astronomia. Campinas: Papirus, 1987.

FILHO, José. História da Medicina: Alcméon de Crotona, o avô da medicina. Revista ser médico. São Paulo: CREMESP. ed. 39, 2007.

HAMLYN. David. Uma história da filosofia ocidental. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1990

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas. Dissertatio Filosofia, 2014.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento Antigo. Trad. Lívio Teixeira São Paulo: Mestre Jou, 1964.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª. ed. Vol.1. São Paulo: Paulus, 1990.

VERNANT. Jean, Pierre. As origens do pensamento antigo. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998.

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