terça-feira, 19 de março de 2024

Filosofia do Amor

Filosofia do Amor

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Filosofia do Amor é um campo da filosofia que tenta explicar a natureza do amor. Segundo alguns pesquisadores, o amor pode ser compreendido como um princípio que estabelece uma relação entre os seres humanos. A reflexão sobre esse tema abarca diversos campos, como a religião, a família, a sociedade, a pátria e a liberdade, sendo de grande importância seu estudo para compreensão do desenvolvimento humano. O entendimento a esse respeito leva os indivíduos a se compreenderem melhor, gerando equilíbrio mental necessário ao convívio social. Esse fato pode auxiliar na prevenção de distúrbios psíquicos e disfunções sociais, evitando dores ocasionadas pela desarmonia gerada pela falta de autoconhecimento. Ademais, o amor com suas múltiplas definições ou faces, pode ser definido como um sentimento belo, justo, digno ou esplendoroso. As definições do amor assumem uma importância para várias áreas do conhecimento, não se limitando apenas ao campo teológico, filosófico ou científico. Acredita-se que existem várias formas de amar, por isso o verbo amar é utilizado em várias ocasiões e de diferentes formas. Ele possui um mar de definições e um vasto campo de possibilidades. O amor é vida e é visto como a forma pura do bem.

Amor Ágape

Seria o amor sublime que era visto, dentre outros termos, como sendo definido por amor ágape. Esse amor era descrito pelos gregos como uma espécie de amor universal e incondicional que se relacionava com os aspectos da pureza. Poderia ser descrito como um amor divinal ou que contém algo de puro. Era tido como uma forma elevada de amor, ele é muitas vezes atribuído como sendo o amor de Deus. Esse é o amor por todos os seres, por toda a humanidade. O verdadeiro amor ágape era caracterizado por uma conexão com a natureza, a humanidade e o universo. Também era descrito biblicamente como um amor ligado ao autossacrifício, isto é, relacionado à doação ao próximo. Além disso, pode ser descrito como um amor totalizante que preenche todos os espaços, o amor, ágape, era geralmente definido como o "amor abnegado”. Transita entre o isolamento da contemplação, no sentido de solitude e o entusiasmo puro da centelha divina, na direção do sagrado.

Pode ser entendido como à forma pura e perfeita da ideia de bem. Lewis (2017) reconhece este, como sendo o maior dos amores. Ele não encontra uma definição exata que possa ser expressa na linguagem humana, sendo apenas idealizada, para ser sentida. Entre suas principais características está a ideia de compaixão. Por ser perfeito, esse amor nunca acaba, tem um viés altruísta de servidão ligada à justiça e a verdade. É alimentado pela empatia e condiciona a liberdade, pois dá sem esperar nada em troca, ou seja, não cria expectativas e contém um quê de atitude. A Bíblia compreende a ideia de amor como sendo a principal virtude entre as relações, isto é, o valor mais importante entre os humanos e entre Deus e suas criaturas.

Amor Filos

Esse seria o amor sobre a forma de amizade, ligado ao amor entre amigos e irmãos. Direcionava-se para ideia de parceria e companheirismo, tendo a amizade, a sinceridade e a gentileza como pontos basilares. O termo também se refere à ideia de partilhar algo entre amigos, isto é, algo em comum que exista entre as partes. A intimidade entre colegas pode aos poucos construir grandes laços de amizade que despertam o amor filos entre eles. A interação entre dois amigos gera uma escolha que interfere no destino deles, por isso, nesse formato, o amor cria certa afinidade e admiração que se traduz em um polo mental e cultural, entre os atores envolvidos, desperta também espírito de lealdade e igualdade neles. Tem forte ligação com a alma humana e pouca aproximação com o aspecto material do indivíduo. É descrito também como o amor do “bom senso”, pois exige certa reciprocidade entre as parte. Por estar inserido entre o foco espiritual e o lado emocional, esse tipo de amor estaria em um nível intelectual, por isso foi que dele se originou termo filosofia, que se traduz na ideia de um amigo do saber ou alguém que ama o saber, isto é, uma espécie de “amor-amigo” do conhecimento. O filósofo Aristóteles chegou a afirmar que a ideia de amor filos tem grande relação com a noção de alegria e felicidade, criando laços de apego entre dois amigos.   

Amor Eros

Esse tipo de amor se direciona para as esferas sensuais e românticas. Eros está associado com a libido e a sexualidade. Ele é caracterizado pelo romance, pela paixão e pelo desejo, além disso, estaria conectado ao prazer, à atração física e ao sexo. O termo se refere aos conceitos eróticos que fazem relação com a atração entre casais. Ele se liga aos sentimentos existentes entre um homem e uma mulher. Está estruturado na beleza e na atração gerada por um estímulo que outro ser desperta em uma pessoa, podendo ocasionar paixão e obsessão pelo outro. A intimidade entre duas pessoas também alude à compreensão desse conceito de amor, por isso, possui forte ligação com a ideia de conquista. A ideia de amor platônico também se referia a esse tipo de amor, direcionada para a concepção de idealização e fantasia.  O livro cânticos de Salomão, na bíblia, retrata um pouco essa visão do amor ardente ligado à sexualidade e ao romantismo, com uma conotação também se referindo à ideia de existência, reprodução e sobrevivência humana.  O filósofo Jung utilizava o termo “eros” de forma um pouco diferente do usual, colocando o termo como atributo da psique feminina que contrastava com o logos masculino, ligado a razão.

Amor Storge

Esse seria o amor dos pais pelos filhos, que também estaria direcionada para o conceito de confraternização entre familiares. Tem como principais características a proteção, o apoio e cumplicidade dos pais para as questões ligadas a família. Existe uma afetividade formada através dos laços de parentesco. Esse amor surge de forma natural e gradual no seio da família, indo aos poucos se formando e se estendendo entre os membros. Ele se forma através da intimidade compartilhada no seio familiar. Por isso, pode ser sentido também por pessoas próximas que vivem como se fosse membros de uma família. Pode ser visto também como um tipo de amor que não se adquire, ou seja, ele é pré-existente. Como exemplo, os pais que amam seus filhos antes mesmo deles nascerem. Traz a ideia de aconchego e acolhimento, tendo relação com a ideia de afeição, carinho, ternura e cuidado. É um tipo de amor genuinamente gratuito e que assume a ideia de confiança. A família é um centro de apoio em várias situações da vida, por isso esse amor tem um viés de dedicação, maturidade e flexibilidade. Carrega um sentimento de nostalgia, interesse por lembranças e recordações sobre o que já foi vivido.

Amor Pragma

O Pragma é o tipo de amor menos duradouro, que pode ser traduzido como “amor prático”, referindo-se ao tipo de amor baseado no “dever, no compromisso e na praticidade”. Sua tradução etimológica é definida como “Pragma” do grego, "prática", "negócio" ou “coisa feita”. Desse modo, exige certa ponderação em seus atos, sendo mais racional. Tem como características o que é transitório e temporário, se ancorando no agora. É um amor baseado na dedicação ao bem maior, em um amor pragmático. Relacionado ao altruísmo, a responsabilidade e ao interesse momentâneo das coisas. Pressupõe um compromisso entre as partes que legitima um vínculo promovido pela experiência e maturidade, gerando um caráter de reciprocidade. Visto como um amor momentâneo que se prende ao que é necessário e urgente. Procura se firmar na serenidade e na lealdade, buscando a compatibilidade e o realismo. Na busca por uma relação sólida, esse tipo de amor procura superar os desafios e obstáculos, para vencer os conflitos que surgem, durante a jornada da vida.

Amor Ludus

O amor “ludus” é um amor lúdico está ligado à ideia de alegria, diversão e felicidade. Flerta também com o feitiço gerado pelo clima de dança, música e festa. É um amor verdadeiro, mas que não possui total comprometimento, pois é desprendido do individual, estando mais ligado ao coletivo, ao todo. Tem um caráter de amplitude globalizante que se estende, não se limitando as fronteiras, visto como algo mais intenso e misterioso, contendo um viés ecumênico. Aproxima-se da ideia de paixão, pois está inserido no contexto inicial das relações, quando as pessoas se conhecem, por isso estão felizes e rindo o tempo todo, em estado de êxtase ou encantamento. A palavra “ludus” remete a ideia de jogo, por isso promove um jogo de sedução que provoca os atores, em um envolvimento emocional, despertando euforia. Seria, portanto, um estado de animação, em que se busca conquistar ou hipnotizar, utilizando certo magnetismo ou charme.  

Outros tipos de amor:

Philautia; Fátria; Mania; Caritas; Fati; Xênia.

Fontes:

BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004.

BRANDEN, Nathaniel. A psicologia do amor . Rio de Janeiro: Editora Record,1998

CAPELÃO. André. Tratado do amor cortês. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000.

FERREIRA, Nadiá Paulo. A teoria do amor. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004

FROMM, Erich. A Arte de Amar. Belo Horizonte: Editora Itatiaia,1964.

GIKOVATE, Flávio. Ensaios sobre o amor e a solidão. São Paulo: Editores Associados, 1998.

KONDER, Leandro. Sobre o amor. São Paulo: Bom tempo, 2007.

LEE, John. As cores do amor. Toronto: New Press, 1973.

LEWIS, Clive. Os Quatro Amores. Brasil: Thomas Nelson, 2017.

NOGUEIRA, Renato. Por que amamos: o que os mitos e a filosofia têm a dizer sobre o amor. Nova York: Harper Collins, 2020.

SIMMEL, Georg. Filosofia do Amor. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Amenemope de Akhmim

Amenemope de Akhmim - (1300 a 1075) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo do antigo Egito que escreveu uma obra literária enquadrada na chamada filosofia sapiencial. A obra ficou conhecida como “as sabedorias de Amenemope”, foi encontrada em formato hierático. Sua filosofia influenciou outras gerações, servindo como guia prático para as condutas éticas e morais, daqueles tempos. Esse livro é considerado um clássico da sabedoria antiga, tendo sido localizado pela primeira vez em um rolo de papiro egípcio. Segundo alguns pesquisadores, essa obra é um dos primeiros livros de autoajuda da antiguidade. Seu sistema de pensamento misturava elementos míticos com filosofia simbólica. Laborou como escriba-chefe pro três gerações seguidas, nos reinados de Horemebe, Ramsés I e Seti I. Seu nome tinha um significado etimológico descrito como “amen-em-ope”, o mesmo que, “O Deus está em paz” e também pode ser transcrito como “Amenophis”. Seu pai era conhecido como “Kanakht” e sua mãe pelo nome de “Tausert”. Floresceu no período compreendido como novo reino, por volta do século XIII a.C. O túmulo de Amenompe está localizado em uma colina da necrópole de Tebas. Um pesquisador chamado Douglas Derry teria analisado os ossos e o crânio de Amenemope, tendo concluído que ele faleceu de meningite e que provavelmente era manco.  

Filosofia Moral

Foi um grande estudioso das cosmogonias do antigo Egito, tendo relacionado esses saberes com os conhecimentos da natureza humana. Sua filosofia retravava temas éticos e conselhos práticos para uma vida virtuosa. Direcionando os discípulos para alcançarem o equilíbrio e a justiça. As instruções ensinavam como agir corretamente, em várias situações do cotidiano e como manter uma boa relação humana com o outro. Ministrava também orientações sobre como alcançar o sucesso e a felicidade na vida, buscando evitar comportamentos negativos como o egoísmo, a inveja e a ganância. A bússola orientadora de sua filosofia estava ancorada na ideia de discernimento como fonte para se compreender a ética da serenidade e a virtude do silêncio. Condenava o autoritarismo e o abuso de poder, aconselhando sobre a importância de proteger e respeitar as classes mais frágeis da sociedade, como os idosos, crianças, pobres e as viúvas.

Apontava a importância de cultivar a honestidade, a paciência, a piedade e a humildade, como meios para alcançar o “maat”, que era a ideia de justiça harmônica e ordem cósmica, descrita pelos egípcios. Também tratava de temas como a gentileza e a integridade.  Advertia sobre a importância de não buscar o poder para si, procurando sempre promover a tolerância. Acreditava que a riqueza e a fortuna eram dádivas de Deus. Ensinava que o fruto do pecado era a punição. Explicava sobre o “caminho da barca” que era uma metáfora a respeito da experimentação como meio de obtenção da experiência de vida. Para Amenemope, a ideia de barca representava simbolicamente a noção de travessia, possibilitando ao homem, percorrer novos caminhos, tendo como finalidade experienciar seu destino, atravessar o mundo em busca de si, como meio de compreensão da realidade, objetivando aprender e ensinar.

Filosofia Teológica

Boa parte da obra possui muita semelhança com os escritos contidos no livro de provérbios, na Bíblia Sagrada. Muitos pensadores e historiadores comprovam que a filosofia hebraica influenciou os escribas do antigo Egito. Um grande estudioso da literatura sapiencial, conhecido por “Whybray”, publicou vários estudos comprovando que a literatura egípcia sofreu influência da filosofia hebraica. Os textos de Amenemope também possuem certa correspondência com textos egípcios mais antigos como as Máximas de Ptahotep. Escrita em formato de “sebayt”, o livro é visto como um “ético da serenidade”, transmitindo conselhos sobre como se importar menos com o sucesso material e procurar mais a chamada paz interior. De acordo com Amenemope, o homem deve se concentrar nos propósitos divinos e aceitar o destino que lhe for projetado por Deus. Os historiadores presumem que a obra “os analectos de Confúcio” tenham sido inspirados nesses compilados de Amenemope. Ensinava a respeito da confiança em Deus e como combater a ansiedade cultivando a tranquilidade. Utilizava a metáfora da balança para representar a medida exata da justiça, descrita também como o peso da verdade, desse modo, ele dizia: “Não altere as escalas nem falsifiques os pesos ou diminua as frações de medida, pois Deus posta-se junto á balança".

Filosofia Sapiencial

+ “Deus é o seu construtor”.

+ “As riquezas criam asas e voam”

+ “O homem propõe, mas Deus dispõe”.

+ “Evite amizade com pessoas violentas”

+ “Tenha cuidado com seus modos à mesa”

+ “Não roube terras e coma do seu próprio campo”

+ "Preserve sua língua de responder a um superior”.

+ “Não provoque nenhum inimigo, quando você não vir suas ações”.

+ “Melhor é pão quando o coração está feliz que riqueza na tristeza”

+ “A rapidez é a fala quando o coração está ferido, mais que o vento”.

+ “Não fique ansioso demais, o Deus está sempre em sua perfeição”.

+ “Melhor é pobreza na mão de deus, que riqueza em um armazém”

+ “Não brigue com o homem argumentativo, nem o incite com palavras”

+ “O escriba que é hábil em seu ofício, é considerado digno de ser cortesão”.

+ “Não se deixem seduzir pelos lábios doces, mas sim pela linguagem amarga”.

+ “Não estenda a mão para tocar um homem velho, nem corte as palavras de um ancião”.

+ “Não fixe seus pensamentos em assuntos externos: para cada homem há seu tempo determinado”.

+ "Não apague o sulco alheio, é proveitoso mantê-lo são. São seus campos e você encontrará o que precisa. Você receberá pão de sua própria eira."

+ “Dê ouvidos, ouça o que é dito, Permita seu coração entendê-las, Deixar estas palavras chegarem ao seu coração é valioso, Mas ignorá-las é danoso”.

+ “As tentativas de obter vantagem em detrimento de outros incorrem em condenação, confunde os planos de Deus, e leva, inexoravelmente, à desgraça e punição”.

+ “Não se esforce para buscar riquezas excessivas quando suas necessidades estão seguras e satisfeitas. Se as riquezas forem trazidas a você por roubo, elas não passarão a noite com você”.

+ “Deixe as palavras boas descansarem no meio do seu ventre, De modo que elas possam ser uma chave para o seu coração, quando há um tornado de palavras, elas devem ser um local de ancoragem para a sua língua”.

Fontes:

ARAÚJO, Emanuel. A literatura no Egito faraônico. Brasília: UnB, 2000.

ASANTE, Molefi Kete. Amenemope. Os filósofos egípcios: antigas vozes africanas de Imhotep a Akhenaton. Chicago: African American, 2000.

BILDA, Jonas Otávio. A Instrução de Amenemope. São Paulo: Clube dos Autores, 2021.

BROWN, Brian. A Sabedoria dos Egípcios. Nova Iorque: Brentano's, 1923.

CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos. Lisboa: Europa-América, 1994.

EMERTON, John Adney. O Ensino de Amenemope e Provérbios: Reflexões adicionais sobre um problema antigo. Artigo de Jornal. Vol. 51. Cambridge: JSTOR, 2021.

IPB, Instituto de Pesquisa Bíblica. Os Provérbios da Septuaginta e a Sabedoria de Amenemope. Internet: Publicação Digital, 2021.

KASTER, Joseph. A Sabedoria do Antigo Egito. Reino Unido: Editora Michael O'Mara, 1995.

MARZAL, Angel. O Ensino de Amenemope. Madri: Marova, 1965.

SHAW, Ian; NICHOLSON, Paulo. O Dicionário do Egito Antigo. Nova Iorque: Princeton University Press, 1995. 

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Filosofia Antiga

Filosofia Antiga – (600 a.C a 529 d.C.) Aprox.

Autor: Alysomax Soares

Introdução

A filosofia antiga é considerada um período da História da Filosofia que se iniciou por volta do século VII a.C, tendo passado pela era clássica e se estendido entre o chamado período helênico e o fim do Império Romano. Seu surgimento se deu através de uma visão eurocêntrica que atribuiu aos gregos a descoberta da filosofia, conceituando sua definição e sistematizando uma forma reflexiva e crítica de abordar a origem do cosmos. Embora a filosofia seja algo bem mais complexo do que apenas um pensamento crítico e reflexivo, os gregos desenvolveram uma forma de pensar mais elaborada, com novos critérios para se buscar a verdade, sobre os fenômenos. Os filósofos desse período buscavam encontrar respostas para a origem das coisas de forma mais racional. Desse modo, eles desenvolveram uma característica própria para descrever essa origem, ao qual eles definiam como “arché” do universo.

Os gregos passaram a explicar os fenômenos da natureza de maneira mais lógica, por isso, essa fase da filosofia ficou conhecida como a passagem do “mitos” para o “logos”. O pensamento mítico ligado às crenças foi dando lugar à argumentação racional, à capacidade de persuadir e dar explicações baseadas na razão, chamada pelos gregos de “logos”. Esse período se divide em três fases, chamadas de: Pré-socrático, Socrático e pós-socrático, porém outras fontes definem essas fases como sendo os períodos: cosmológico, clássico e helenístico. Por muito tempo, ou de forma didática, muitos pesquisadores atribuíram aos gregos à descoberta da filosofia, contudo, existem novas correntes de pensadores que delimitam os horizontes da filosofia para outras civilizações e culturas, pontuando características próprias de pensar a outros povos mais antigos.  

Desenvolvimento da Filosofia Antiga

O pensamento crítico dos gregos passou a questionar a visão mística da época, contrapondo as ideias supersticiosas que pairavam no imaginário popular, com isso a filosofia iniciou os primeiros passos para a sistematização da ciência. A filosofia se desenvolveu na mesma época em que se iniciou a formação das chamadas cidades-estados, também denominadas de “polis” gregas. A filosofia dessa época influenciou muitas áreas do conhecimento. Nesse período se iniciou os primeiros conceitos relacionados à ciência primitiva. Alguns fatores como o desenvolvimento cultural, político, urbano e social foram fundamentais para que os gregos desenvolvessem sua filosofia e como consequência, os primeiros passos do saber científico. Ainda sim, a filosofia e a ciência nesse tempo não estavam didaticamente separadas. Os gregos estabeleceram uma relação de causa e efeito, em que estipulavam uma causalidade e uma ordenação das coisas.

O chamado método grego de investigação dos fenômenos inaugurou um novo modo de pensar que caracterizou um estilo de filosofia denominado de “filosofia a la grega”, descrita também por alguns pesquisadores como o “milagre grego”. Além de explicar as questões relacionadas à natureza, eles também se preocuparam principalmente com os fatos ligados ao estudo do universo, fundamentos do conhecimento e leis lógicas sobre a ciência. Os gregos absorveram conhecimentos de várias outras civilizações, tendo desenvolvido não apenas a filosofia e a ciência natural, mas também muitas outras áreas, como a filosofia da linguagem e a matemática. Algumas inovações tecnológicas foram fundamentais para o aperfeiçoamento do saber grego, entre eles estão, a medição do tempo, com novos tipos de relógios solares e calendários, o comércio e a navegação, a troca simbólica com moedas e o aprimoramento do alfabeto.

Considerações Finais

O questionamento sobre as coisas ou sobre a verdade foi essencial para a produção de conhecimento na Grécia antiga, com isso, eles sistematizaram o saber humano dessa época. Muitos filósofos não se consideravam donos da verdade, mas apenas amigos do saber, por isso surgiu esse termo “filósofo”, ou seja, aquele que ama buscar o conhecimento. O filósofo Platão, por exemplo, dizia que: “é preciso amar buscar a verdade, mas jamais defendê-la, porque quem defende a verdade absoluta, muitas vezes julga possuí-la, e ninguém possuí a verdade do universo”. Nesse sentido, a função do filósofo seria a de compreender o mundo a sua volta através da observação e investigação da natureza. Buscando de forma autônoma analisar as questões, procurar as causas dos problemas e encontrar soluções. 

O saber filosófico fundamentava suas investigações e relacionava as diversas fontes de conhecimento. Alguns dos principais temas estudados pela filosofia são considerados temas universais, isto é, questões que afetam toda a humanidade. Acredita-se que houve uma espécie de relativização do saber que culminou com novas possibilidades de explicação dos fenômenos, aguçando a curiosidade e promovendo a necessidade de encontrar respostas mais elaboradas, sobre as coisas. Os gregos passaram a explicar melhor os fenômenos, buscando desmitificar antigos saberes e elaborar um conhecimento que estivesse em conformidade com seu grau de abstração. A forma de pensar dos gregos foi aos poucos se tornando mais concreta, deixando de lado as fantasias e os mundos encantados. A dúvida e a crítica reflexiva que já existiam, antes dos gregos, passaram a ser utilizadas por eles de forma mais constante, contribuindo com a sistematização das áreas do saber investigadas por eles.

Principais escolas dessa época:

Escola Jônica ou de Mileto; Pitagóricos; Mobilistas; Eleatas; Pluralistas; Atomistas; Sofistas; Escola de Megára; Platonismo; Aristotelismo ou Escola Peripatética; Estoicismo; Epicurismo; Ceticismo; Cinismo; Cirenaicos; Hedonismo; Eudemonismo; Pirronismo; Cosmopolitismo; Escola Esotérica.   

Fontes:

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

BURNET, John. A aurora da filosofia grega. 1ª ed. Rio de Janeiro: PUC RIO, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Vol. 2. São Paulo: Companhia das letras. 2010.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA, 1996.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: Dissertatio Filosofia, 2014.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2 ed. Brasília. UnB. 2008.

FINLEY, Moses Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1970.e-commerce

RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2015.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª.ed. Porto Alegre. EDIPUCRS. 2003.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: PUC, 1965.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Tobias Barreto

Tobias Barreto – (1839 a 1889) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Tobias Barreto de Meneses – Foi um filósofo brasileiro que liderou um movimento filosófico conhecido como “culturalismo” da Escola de Recife. Era visto também como sendo o fundador de uma escola literária chamada de condoreirismo brasileiro. Suas ideias influenciaram diversos pensadores brasileiros, bem como também, várias áreas do conhecimento. Começou a trabalhar logo cedo, aos 15 anos, como professor de latim. Iniciou seus estudos na Vila de Campos, localizada em Sergipe, posteriormente se deslocou para estudar no seminário de Salvador, na Bahia, nesse ínterim, não conseguiu se adaptar, decidiu então se dirigir para Recife, onde cursou Direito, bacharelando-se em ciências jurídicas. Também possuía o domínio de várias línguas, sendo considerado um pensador poliglota.    

Atuou principalmente como filósofo, jurista e escritor, tendo assumido um cargo de magistério na Faculdade de Direito do Recife. Bebeu de várias fontes do conhecimento, por isso foi considerado, por alguns, como sendo um filósofo materialista, por outros, um pensador espiritualista, chegou a ser definido como eclético, mas se dizia ser um relativista.  Entre suas principais influências estão os filósofos: Haeckel, Buckle, Comte, Darwin, Spencer, Hartmann, Shopenhauer e Kant. Estudou com grandes intelectuais de seu tempo, entre eles estavam Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Sílvio Romero e Castro Alves. Sofreu preconceitos e perseguições por conta de sua origem humilde e pela cor da sua pele que era mestiça. É patrono da cadeira de número 38 da Academia Brasileira de Letras, seu nome está inserido no livro dos Heróis da Pátria. Era filho do escrivão Pedro Barreto de Menezes com a senhora Emerenciana Barreto de Menezes. Nasceu no dia 7 de junho de 1839, em uma localidade conhecida como Vila de Campos, em Sergipe. Faleceu aos 50 anos de idade, em 27 de junho de 1889, na cidade de Recife. Tempos depois de sua morte, seus ossos foram levados para a cidade de Sergipe e colocados em uma urna de bronze, abaixo de uma estátua que foi construída em sua homenagem.

Filosofia do Culturalismo

Estabeleceu um sistema de pensamento que relacionava a antropologia e a filosofia moral com as ciências jurídicas. Posicionando-se como um pensador relativista que transitava entre teorias materialistas, evolucionistas, monistas, positivistas, deterministas e concepções espiritualistas. Nesse sentido, suas ideias investigavam os fenômenos sociais, a partir dos fatores culturais, históricos, políticos e jurídicos, desvinculando-se daquilo que fosse incompatível com a realidade cultural do país. Opondo-se ao sistema de pensamento jurídico que dominava e influenciava a classe dirigente da época. Compreendeu os aspectos de formação das instituições políticas brasileiras, pontuando e esclarecendo questões relacionadas à Filosofia do Direito e a Ciência Política.

Estudou com afinco o sistema de escravidão brasileira, sendo considerado um dos principais expoentes do abolicionismo. Nessa época, reinava entre a elite brasileira um conservadorismo eivado de pensamento escravocrata, legitimado pelo sistema político da monarquia. Nesse contexto, a finalidade da filosofia “culturalista” de Tobias era sistematizar uma identidade nacional e modernizar o país. Com isso, ele difundiu o positivismo científico na esfera jurídica e firmou o evolucionismo no campo social. Para Tobias, a área do Direito era produto de um meio social, sendo o Estado o regulador dessa esfera jurídica. Seu sistema de ideias, ao mesmo tempo, que articulava no campo da educação uma relação entre a cultura, à ciência e a técnica, também procurava constituir uma autonomia universalista, que se desprendesse dos antigos valores escravocratas e se emancipasse para uma visão mais moderna, abrindo espaço para a participação da mulher e das classes rurais.

Filosofia Política

Fez parte do partido liberal, atuando politicamente como deputado provincial. Visto por muitos como sendo um crítico polemista, ele defendia as causas abolicionistas. Embora tivesse uma excelente oratória, Tobias sofreu duras críticas, por conta de alguns posicionamentos políticos contrários a de seus adversários, chegou a declarar certa vez que: “não sou ovelha de rebanho”, em resposta as duras críticas que sofria. Nesse sentido, ele se dizia ser um antimonarquista que lutava em prol de um pensamento laico.  Segundo Tobias, o Brasil necessitava solucionar a problemática que existia em torno dos conflitos sociais e ideológicos suplantados no período imperial, direcionando a classe intelectual brasileira para um país mais atualizado, conduzidos por princípios iluministas como liberdade, igualdade e fraternidade. Barreto objetivou a construção de uma ciência política positiva com a finalidade de instruir a sociedade por meio da razão. Porém, tempos depois, migrou seu pensamento para uma visão mais original, utilizando seu “culturalismo” como ponto basilar de uma análise política, refutando o positivismo, e estabelecendo novos paradigmas para a filosofia social brasileira.  

Filosofia Sapiencial

+ “A gratidão é a virtude da posteridade”

+ "Nós, as estrelas, que no céu pensamos.”

+ “O socialismo é a luta contra a luta pela existência”

+ “A teoria é sempre franca e generosa, a prática sovina e mesquinha.”.

+ “Mais do que os nossos maiores, interessam-me os nossos melhores”.

+ "Cada guerreiro que por nós combate é a ira de Deus que se faz homem.”.

+ "Oh, minha estrela que de longe brilhas, nada te importa que eu soluce ou cante! "

+ “Só é grande a liberdade que sacode a majestade e arranca a juba dos reis!…”

+ "O direito é a disciplina das forças sociais ou o princípio da seleção legal na luta pela vida."

+ “O axioma democrático da igualdade perante a lei só tem sentido no pórtico dos cemitérios.”

+ “Não sei! Quem é que não sabe, numa lagrima sentida, aliviar-se da vida, que pesa no coração”!

+ “Um homem que tem a boca cheia de língua parece-me inadmissível que tenha uma cabeça cheia de ideias.”

+ "Passar como uma aura leve, ou como um sonho de amor; ter a morte de uma santa, tendo a vida de uma flor. "

+ “Amar é fazer o ninho, que a duas almas contém, ter medo de estar sozinho, dizer com lágrimas: vem, Flor, querida, noiva, esposa…vem”

+ " Não sei por que a língua humana os brutos não falam mais, quando hoje têm melhor vida, e há muita besta instruída nas ciências sociais. "

+ "No meu sepulcro não tereis as rosas, as doces preces que os felizes têm; pobres ervinhas brotarão viçosas e o esquecimento brotará também. "

+ "O poeta é, pois, aquele em quem se exprime e se encarna a natureza completa do povo a que ele pertence, e como o génio no qual a posteridade o encarna. "

+ "Faz medo vir ainda em horas doces sentar-se a sós à borda do oceano, e, ante o golfão azul ca imensidade, pensar no abismo do destino humano. Nos oceanos da noite, grandes naus de asas selvagens"

+ “É preciso pensar por nossa conta. Ninguém, mais do que eu, está sempre disposto a reformar, a abandonar mesmo, como imprestáveis, as opiniões mais queridas, quando recai sobre elas qualquer suspeita de erro. Mas, quero ver razões que me convençam.”

+ "Verdade é que a sociedade, na qualidade de um organismo de ordem superior, na qualidade, não de uma antítese, mas de uma continuação da natureza, deve ter a sua mecânica; mas essa mecânica, para dizer tudo em uma só palavra, ainda não encontrou o seu Kepler."

+ "A morte que se conquista pela Pátria não é uma dessas mortes lúgubres, choradas, misteriosas, comuns. Não. Morrer assim, ao fumegar das batalhas, é desembaraçar-se de um dos enigmas do nosso destino, é resolver o problema da grandeza humana. Morrer assim é engrandecer-se. "

+ “O único meio de salvar e engrandecer o Brasil é tratar de colocá-lo em condições de poder ele tirar de si mesmo, quero dizer, do seio da sua história, a direção que lhe convém. O destino de um povo, como o destino de um indivíduo, não se muda,  nem  se  deixa  acomodar  ao  capricho  e  ignorância  daqueles  que pretendem dirigi-lo”.

+ “A candidatura do Brasil aos foros de nação culta é um fenômeno mórbido: alguma coisa de semelhante ao disparate dos loucos, que se julgam reis. Que cultura se concebe para um povo cuja religião, cujas políticas são puramente mecânicas? E que religião, e que política pode haver em um país, onde a filosofia é nula, onde a arte é nula, onde a ciência é nula? –Eis aí tudo”.

+ "Vibrando as cordas de sua harpa douro, que meiga ecoa pelo céu sem fim, com voz que infiltra a eternidade nalma, o anjo fala suspirando assim: A morte é bela na manhã da vida, quando sentido já se tem a dor; é doce sonho que nos arrebata a uma morada só de paz e amor. A alma, virgem das paixões mundanas, ao céu se eleva sem sentir pavor; a terra chora, murmurando preces, e os anjos cantam com maior fervor. "

Obras:

Dias e Noites; O Gênio da Humanidade; A Escravidão; Polêmicas; Ensaios de Filosofia e Crítica; Ensaio de Pré-História da Literatura Alemã; Menores e Loucos em Direito Criminal; Discursos; Questões Vigentes de Filosofia e Direito; Estudos Alemães;      Glosa; Brasilien, wie es ist.

Fontes:

BARRETO, Luiz Antônio. Tobias Barreto. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1994.

BUARQUE, Sergio. História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2012.

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins, 1969.

CERQUEIRA, Luiz Alberto. Filosofia brasileira: ontogênese da consciência de si. Petrópoles: Editora Vozes, 2002.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001..

ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Tobias Barreto. São Paulo: Itaú Cultural, acesso em 2024.

GODOY, Arnaldo. Tobias Barreto: uma biografia intelectual do insurreto sergipano e sua biblioteca com livros alemães no Brasil do século XIX. Curitiba: Juruá Editora, 2018.

LIMA, Hermes. Pensamento vivo de Tobias Barreto. São Paulo:  Editora Martins, 1942.

MONT'ALEGRE, Omer. Vida admirável de Tobias Barreto. Rio de Janeiro: Editora Vecchi, 1939.

SEBRÃO de Carvalho. José Tobias Barreto: o desconhecido. Aracaju: Imprensa oficial, 1941.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Escola Pitagórica

Escola Pitagórica

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma escola filosófica da Grécia antiga pertencente ao período pré-socrático. Teve como principal fundador o mestre Pitágoras de Samos que era também visto por seus discípulos como sendo uma espécie de profeta. A seguinte escola possuía um conjunto de ideias ascéticas que influenciaram sua formação. Utilizava um método de educação baseado nos estudos da Geometria, Aritmética, Música e Astronomia, esse método era chamado de “quadrivium”. Esses pensadores tinham uma concepção racional sobre a criação do universo. Cogita-se a ideia, entre os historiadores, de que Pitágoras não teria deixado nada escrito, tendo sido seus pensamentos compilados por discípulos. A escola admitia que as mulheres participassem das instruções, o próprio Pitágoras afirmava que as mulheres eram iguais aos homens em inteligência e tinham o direito de estudar filosofia. A escola se iniciou por volta de 530 a.C, na região de Crotona, local que atualmente fica na região sul da Itália, por isso também era conhecida como escola Itálica.

Filosofia Pitagórica

Especula-se que a doutrina pitagórica era ensinada na escola através de votos de silêncio. Dessa forma, apenas alguns membros, que passavam por uma etapa inicial, é que poderiam seguir em frente com o aprendizado e o ensino de outros conhecimentos. Eles levavam uma vida de obediência e lealdade às regras da escola, mantendo sempre o respeito e a disciplina. Nessa escola, eram ensinados conceitos de como levar uma vida ascética, realizando práticas de purificação da alma. Trabalhavam o domínio das paixões do corpo e a elevação moral, combatendo alguns vícios como a preguiça e a ira. Essa prática tinha a finalidade de buscar uma vida iluminada através do controle material dos prazeres. Segundo essa escola, para se chegar a uma vida virtuosa, era necessário o domínio total dos instintos humanos. Defendiam a concepção de que a alma mantinha uma relação com os números. Os bens materiais eram distribuídos de forma coletiva entre os membros. Os discípulos dessa escola passavam por algumas provações com a finalidade de demostrarem ter aprendido a controlar seus impulsos. Entre essas provações, estava a de ficar com fome, em frente a um grande banquete, cheio de deliciosas comidas e resistirem à tentação, sem poderem comer nada.

A escola pitagórica, trabalhou em sua filosofia, algumas ideias científicas que se relacionavam com elementos teológicos e lendários. Além disso, também praticavam um sincretismo religioso entre os saberes matemáticos e filosóficos, com as doutrinas órficas e místicas. Pitágoras viajou por muitos lugares, e por isso absorveu muitos conhecimentos de outras culturas, por esta razão, o pitagorismo teve influência dos saberes adquiridos na cultura oriental e na cultura do norte da África. Ele teve vários mestres que o iniciaram na filosofia, a principal seria Temistocleia que era uma mulher e filósofa da antiguidade. Também teve como mestre o filósofo Ferécides de Siro. Provavelmente os filósofos da escola de Mileto também exerceram grande importância na formação de Pitágoras.

Filosofia da Matemática

A frase que definia bem as ideias pitagóricas era a de que: “todas as coisas são números”. Para esses pensadores a “arché” do universo era representada por uma estrutura numérica. Os pitagóricos pensavam a matemática como sendo um sistema seguro para se chegar à verdade. Eles se diferenciaram dos pensadores de Mileto, devido ao fato de utilizarem a Matemática para explicar os fenômenos físicos da época. Esses pensadores acreditavam que a Matemática era o alfabeto em que Deus se utilizou para escrever o universo. Os matemáticos dessa escola usavam muito o conceito de harmonia e diziam que os números eram o princípio de todas as coisas. Foram responsáveis por sistematizar a noção de números figurados, que era o número de pontos existentes em uma configuração geométrica, representando uma conexão estabelecida entre a geometria e a aritmética. A divisão numérica era o conceito utilizado para descrever o surgimento dos números, nesse sentido, os pitagórico explicavam que o número dois, por exemplo, não surgia de forma sequencial, logo após o número um, mas sim da divisão do número um por dois, pois ao dividir algo unitário, era possível parti-lo em dois, assim se obtinha a ideia do número dois, posteriormente o três e assim sucessivamente.

Teoria da harmonia

Segundo essa teoria, o número seria o elemento básico da realidade, pois existia uma proporção numérica em todo o cosmos. O mundo teria surgido a partir da imposição de formas numéricas sobre o espaço que conferiram limites ao princípio fundamental, isto é, a “arché”. O universo era um conjunto de dez corpos celestes que orbitavam ao redor de um fogo no centro. E o número de corpos celestes era “dez” por conta da “tetractys” que era caracterizada como sendo os quatro primeiros algarismos que totalizavam “dez” quando dispostos em forma triangular.

A harmonia musical, por corresponder aos acordes desenvolvidos com base em proporções aritméticas, fez com que Pitágoras supusesse que essa mesma harmonia era encontrada na natureza. Associada à astronomia, essa teoria fez com que Pitágoras pensasse que o universo também era organizado por relações matemáticas. Essa sua teoria ficou conhecida como “teoria da harmonia das esferas”. Cada número correspondia a uma noção da realidade: o número 1 correspondia à inteligência; o dois, à opinião; o três, ao todo; o quatro, à justiça; o cinco, ao casamento e o sete, à pontualidade. As principais contribuições da escola pitagórica são encontradas nos campos da matemática, da música e da astronomia.

Considerações Finais

Devido à soma de ciências que eram estudadas nessa escola de pensamento, ela teria ficado afamada por muitos como sendo a primeira universidade do Ocidente. Gerando influência até hoje em variadas áreas do conhecimento e relacionando os campos da matemática, filosofia e religião. Segundo Pitágoras, o universo poderia ser decifrado quando o homem percebe, de maneira analógica, que o cosmos se assemelha a um poema, sendo a matemática a sua linguagem. Os números seriam uma espécie de ente que configura a realidade do universo. Essa escola apontou definições a respeito do que seriam as chamadas unidades-plurais, buscando, desse modo, compreender a realidade e a origem das coisas, por meio de uma linguagem matemática. O racionalismo de Descartes teve grande influência do pitagorismo. 

Membros da Escola Pitagórica

Temistocleia de Delfos; Filolau de Crotona; Arquitas de Tarento; Alcmeão de Crotona; Ameinias Ou amínias; Brotino; Hermodamas; Arignote de Samos Alexícrates; Andrócides (pitagórico); Arígnote; Cebes; Damão e Pítias; Damo; Diodoro de Aspendo; Ecfanto o Pitagórico; Equécrates; Esara de Lucânia; Eudoro de Alexandria; Fíntis de Esparta; Hicetas; Lísis de Tarento; Melissa (filósofa); Myia de Crotona; Símias de Tebas; Teano de Crotona; Telauge; Timica; Zópiro de Tarento; Hipaso de Metaponto; Apolônio de Tiana; Babelyka de Argos; Bitale; Boio de Argos; Cheilonis; Echekrateia de Phlius; Habrotelia de Tarento; Kleaichma; Kratesikleia; Numenios de Apamea; Okkelo de Lucânia; Peisirrhode de Taranto; Tyrsenis de Sybaris; Zalmoxis; Timáridas; Lasthenia de Mantinea; Rodopis Dórica; Theadusa de Esparta; Fliasia; Eurito de Crotona; Pitonax de Creta. 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

BOYER, Carl. História da Matemática. trad. Elza Gomide São Paulo: USP, 1974.

BURNET, John. A aurora da filosofia grega. 1ª ed. Rio de Janeiro: PUC RIO, 2007.

CAPELLE, Wilhelm. História da filosofia grega. Madrid: Biblioteca Hispanica de Filosofia, 1991.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA. 1996.

EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. Campinas: Unicamp, 1997.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MATTÉI, Jean François. Pitágoras e os pitagóricos. São Paulo: Editora Paulus, 2000.

PORFÍRIO. A Vida de Pitágoras. 4 ed; Barcelona: Planeta de Agostini, 1996.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. Filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus, 2004.

SANTOS, Mário Ferreira. Pitágoras e o tema do número. São Paulo: ed. Ibrasa, 2000.

VERNANT, Jean. Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Editora Difel, 2002.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Paula Ney

Paula Ney – (1858 a 1897) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Francisco de Paula Ney - Foi um filósofo cearense ligado a corrente de pensamento do asteísmo. Utilizava-se da ironia como ponto chave para desvelar sua obra. Era visto como um ilustre humorista e excelente repentista. Ficou conhecido como o “rei da pilhéria”, tendo recebido de Chico Anysio o título de primeiro humorista brasileiro. Atuou como escritor, redator e poeta. Tinha um espírito livre, por isso vivia de maneira desprendida, com um estilo boêmio, quando não estava no trabalho, perambulava pelos cafés, confeitarias e bares da cidade. Possuía uma admirável oratória caracterizada pela reverência típica do cearense nato. Escreveu para várias revistas e periódicos da época, tendo inclusive fundado uma revista juntamente com o filósofo Clóvis Beviláqua. Realizou seus primeiros estudos no Ateneu e no Liceu cearense, depois frequentou o seminário de Fortaleza. Viajou para o Rio de Janeiro, onde iniciou o curso de Engenharia e depois passou a estudar Medicina, após problemas pessoais, tentou concluir o curso na faculdade de medicina da Bahia, porém desistiu mais uma vez do curso e migrou novamente para o Rio, onde retomou sua carreira de redator, tida por ele, como sendo sua verdadeira vocação e paixão. Foi um dos fundadores do Grêmio de Letras e Artes, da cidade do Rio de Janeiro. Era filho de um alfaiate conhecido por Mariano de Melo Ney, com a dona Carlota Cavalcanti de Sousa Pinheiro. Nasceu em 02 de fevereiro de 1858, na cidade de Aracati. Faleceu na cidade do Rio de janeiro, em 13 de novembro de 1897, vitimado por uma tuberculose pulmonar.  

Filosofia Humanista

Participou solidariamente de vários episódios humanitários de ajuda aos humildes e necessitados. Era visto como um homem que possuía um grande coração e enaltecia o valor da camaradagem. Cultuava também a defesa dos animais, da natureza e os valores da pátria. Admirado pela sua grande eloquência, era dotado de uma vasta cultura popular. Lutou em prol da abolição dos escravos, tendo inclusive auxiliado a vinda de José do Patrocínio para o Ceará, com a finalidade de intensificar o movimento abolicionista de libertação dos cativos. Após o êxito da emancipação libertária, José do Patrocínio aclarou a famosa sentença: "O Ceará é a terra da luz!". Paula Ney utilizou os meios de comunicação de seu tempo para lutar em defesa dos ideais dos quais acreditava, as guerras internas travadas no Brasil não estavam somente no campo político e militar, mas também entre os intelectuais, por isso Ney fazia parte de outro grande campo de batalha, onde se travava duelos entre os pensadores, tendo lutado bravamente nesse front. Discursava em nome dos valores da liberdade, da justiça e da solidariedade. Chegou a laborar como diretor da hospedaria dos Imigrantes, na cidade do Rio de Janeiro.

Filosofia Literária

No campo literário, trabalhou em sua obra, um sincretismo entre o parnasianismo e o romantismo. Fez parte da geração de literatos brasileiros que figuraram na chamada “Era Dourada” do cenário cultural nacional, juntamente com grandes figuras de peso, em sua época, como Olavo Bilac, Aluízio Azevedo e Luíz Mutat. Seus versos satíricos continham emotividade, exagero e figuras de linguagem. Também encenava nos teatros boêmicos, os seguintes estilos: paródias, repentes, epigramas, anedotas, piadas, paradoxos, e trocadilhos. Seu humor ácido continha certa ironia, em que explanava respostas prontas para tudo, demostrando clara inteligência e grande poder de persuasão. Alguns sonetos possuía um tom de comédia, detendo forte capacidade de improvisação. Visto como um escritor modesto, Ney não costumava assinar seus textos. Ainda sim, sua obra possui atualmente um valor histórico e cultural. Ciro Vieira registrou uma obra com o título: “cem piadas de Paula Ney”, em que descreve o lado cômico e irreverente desse pensador. Imortalizou-se com o famoso verso, em homenagem a cidade de Fortaleza: “a loira desposada do sol”!

Filosofia Sapiencial

+ "Pelo Brasil eu morro e pelo Ceará eu mato!".

+ “Não mais escravos pelas esplanadas, são todos livres, não há mais senhores, foi-se a noite: só temos alvoradas!”

+ “E eu chorava também...tinha em meu peito, a dor da ausência, o perenal martírio, dum grande amor passado e já desfeito!”

+ Na solidão dos verdes matagais...É minha terra! A terra de Iracema, O decantado e esplêndido poema, De alegria e beleza universais!

+ “A justiça de um povo generoso, pesando sobre a negra escravidão, esmagou-a de um modo glorioso, sufocando-a com a lei da Abolição”.

+ “Voa minha alma, voa pelos ares, como o trapo de nuvem flutuante, vai perdida, sozinha e soluçante, distende as asas tuas sobre os mares!”

+ “Ao longe, em brancas praias embaladas, pelas ondas azuis dos verdes mares, a Fortaleza, a loira desposada do sol, dormita a sombra dos palmares”.

Fatos e Curiosidades:

Conta-se que, em certa ocasião, numa sala de aula, da faculdade de Medicina, o professor da disciplina de anatomia teria perguntado ao Ney quantos ossos possuía o crânio humano, este, em tom irônico, teria respondido: - “Não me recordo professor, mas tenho-os todos aqui na cabeça”.

Relata-se que, em outra sabatina de anatomia, seu mestre teria dito que faria inicialmente, apenas uma única pergunta, porém se ele respondesse corretamente, não faria mais nenhuma outra, então o professor inquiriu ao senhor Paula Ney a seguinte pergunta: - “Quantos fios de cabelos o senhor possuí?”, De pronto Ney respondeu: - “Duzentos e sessenta e cinco mil oitocentos e noventa e quatro” senhor querido professor! Surpreso o professor questiona: - “Mas como o Sr. chegou a esta conclusão?”, Paula de forma irreverente fala: - “Caro professor, não se esqueça de que o Sr. garantiu  que, caso eu acertasse, só faria uma pergunta. Trato é trato!”.

Obras:

Carta Anônima; E pur si muov; O Álbum; Sonetos Brasileiros. Periódico a República; O Meio; Labarum Literário; Discursos. 

Fontes:

ACL. Pesquisa Histórica. Francisco de Paula Ney. Site: Academia Cearense de Letras. Fortaleza: Copyright, acesso em 2023.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001.

CUNHA, Círo Vieira. No Tempo de Paula Nei. São Paulo: Editora Saraiva, 1950.

LEAO, Andrea Borges; SECUNDO, Francisco. Ceará, Lado Moleque (As Letras e a Sociogênese do Humor). Fortaleza: Dossiê Literatura e Memória, UFC, 2015.

LINHARES, Mário. História Literária do Ceará. Fortaleza: Federação das Academias de Letras, 1948.

MENEZES, Raimundo. A vida boêmia de Paulo Ney. São Paulo: Editora Martins, 1957.

MIRANDA, Antônio. Francisco De Paula Nei: Poesia dos Brasis. Site: Antônio Miranda. Brasília: Portal de poesia Ibero-americano, Acesso em 2024.

NETTO, Coelho. Fogo Fátuo. Editora Cherdron, 1929.

SEVERO, Marconi. Duelos e intelectuais no Brasil (1886-1892). Revista Eletrônica Scielo. São Paulo: Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2022.

SOLDON, Renato. Verve Cearense.  Fortaleza: Instituto do Ceará, 1969.