domingo, 14 de janeiro de 2024

Paula Ney

Paula Ney – (1858 a 1897) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Francisco de Paula Ney - Foi um filósofo cearense ligado a corrente de pensamento do asteísmo. Utilizava-se da ironia como ponto chave para desvelar sua obra. Era visto como um ilustre humorista e excelente repentista. Ficou conhecido como o “rei da pilhéria”, tendo recebido de Chico Anysio o título de primeiro humorista brasileiro. Atuou como escritor, redator e poeta. Tinha um espírito livre, por isso vivia de maneira desprendida, com um estilo boêmio, quando não estava no trabalho, perambulava pelos cafés, confeitarias e bares da cidade. Possuía uma admirável oratória caracterizada pela reverência típica do cearense nato. Escreveu para várias revistas e periódicos da época, tendo inclusive fundado uma revista juntamente com o filósofo Clóvis Beviláqua. Realizou seus primeiros estudos no Ateneu e no Liceu cearense, depois frequentou o seminário de Fortaleza. Viajou para o Rio de Janeiro, onde iniciou o curso de Engenharia e depois passou a estudar Medicina, após problemas pessoais, tentou concluir o curso na faculdade de medicina da Bahia, porém desistiu mais uma vez do curso e migrou novamente para o Rio, onde retomou sua carreira de redator, tida por ele, como sendo sua verdadeira vocação e paixão. Foi um dos fundadores do Grêmio de Letras e Artes, da cidade do Rio de Janeiro. Era filho de um alfaiate conhecido por Mariano de Melo Ney, com a dona Carlota Cavalcanti de Sousa Pinheiro. Nasceu em 02 de fevereiro de 1858, na cidade de Aracati. Faleceu na cidade do Rio de janeiro, em 13 de novembro de 1897, vitimado por uma tuberculose pulmonar.  

Filosofia Humanista

Participou solidariamente de vários episódios humanitários de ajuda aos humildes e necessitados. Era visto como um homem que possuía um grande coração e enaltecia o valor da camaradagem. Cultuava também a defesa dos animais, da natureza e os valores da pátria. Admirado pela sua grande eloquência, era dotado de uma vasta cultura popular. Lutou em prol da abolição dos escravos, tendo inclusive auxiliado a vinda de José do Patrocínio para o Ceará, com a finalidade de intensificar o movimento abolicionista de libertação dos cativos. Após o êxito da emancipação libertária, José do Patrocínio aclarou a famosa sentença: "O Ceará é a terra da luz!". Paula Ney utilizou os meios de comunicação de seu tempo para lutar em defesa dos ideais dos quais acreditava, as guerras internas travadas no Brasil não estavam somente no campo político e militar, mas também entre os intelectuais, por isso Ney fazia parte de outro grande campo de batalha, onde se travava duelos entre os pensadores, tendo lutado bravamente nesse front. Discursava em nome dos valores da liberdade, da justiça e da solidariedade. Chegou a laborar como diretor da hospedaria dos Imigrantes, na cidade do Rio de Janeiro.

Filosofia Literária

No campo literário, trabalhou em sua obra, um sincretismo entre o parnasianismo e o romantismo. Fez parte da geração de literatos brasileiros que figuraram na chamada “Era Dourada” do cenário cultural nacional, juntamente com grandes figuras de peso, em sua época, como Olavo Bilac, Aluízio Azevedo e Luíz Mutat. Seus versos satíricos continham emotividade, exagero e figuras de linguagem. Também encenava nos teatros boêmicos, os seguintes estilos: paródias, repentes, epigramas, anedotas, piadas, paradoxos, e trocadilhos. Seu humor ácido continha certa ironia, em que explanava respostas prontas para tudo, demostrando clara inteligência e grande poder de persuasão. Alguns sonetos possuía um tom de comédia, detendo forte capacidade de improvisação. Visto como um escritor modesto, Ney não costumava assinar seus textos. Ainda sim, sua obra possui atualmente um valor histórico e cultural. Ciro Vieira registrou uma obra com o título: “cem piadas de Paula Ney”, em que descreve o lado cômico e irreverente desse pensador. Imortalizou-se com o famoso verso, em homenagem a cidade de Fortaleza: “a loira desposada do sol”!

Filosofia Sapiencial

+ "Pelo Brasil eu morro e pelo Ceará eu mato!".

+ “Não mais escravos pelas esplanadas, são todos livres, não há mais senhores, foi-se a noite: só temos alvoradas!”

+ “E eu chorava também...tinha em meu peito, a dor da ausência, o perenal martírio, dum grande amor passado e já desfeito!”

+ Na solidão dos verdes matagais...É minha terra! A terra de Iracema, O decantado e esplêndido poema, De alegria e beleza universais!

+ “A justiça de um povo generoso, pesando sobre a negra escravidão, esmagou-a de um modo glorioso, sufocando-a com a lei da Abolição”.

+ “Voa minha alma, voa pelos ares, como o trapo de nuvem flutuante, vai perdida, sozinha e soluçante, distende as asas tuas sobre os mares!”

+ “Ao longe, em brancas praias embaladas, pelas ondas azuis dos verdes mares, a Fortaleza, a loira desposada do sol, dormita a sombra dos palmares”.

Fatos e Curiosidades:

Conta-se que, em certa ocasião, numa sala de aula, da faculdade de Medicina, o professor da disciplina de anatomia teria perguntado ao Ney quantos ossos possuía o crânio humano, este, em tom irônico, teria respondido: - “Não me recordo professor, mas tenho-os todos aqui na cabeça”.

Relata-se que, em outra sabatina de anatomia, seu mestre teria dito que faria inicialmente, apenas uma única pergunta, porém se ele respondesse corretamente, não faria mais nenhuma outra, então o professor inquiriu ao senhor Paula Ney a seguinte pergunta: - “Quantos fios de cabelos o senhor possuí?”, De pronto Ney respondeu: - “Duzentos e sessenta e cinco mil oitocentos e noventa e quatro” senhor querido professor! Surpreso o professor questiona: - “Mas como o Sr. chegou a esta conclusão?”, Paula de forma irreverente fala: - “Caro professor, não se esqueça de que o Sr. garantiu  que, caso eu acertasse, só faria uma pergunta. Trato é trato!”.

Obras:

Carta Anônima; E pur si muov; O Álbum; Sonetos Brasileiros. Periódico a República; O Meio; Labarum Literário; Discursos. 

Fontes:

ACL. Pesquisa Histórica. Francisco de Paula Ney. Site: Academia Cearense de Letras. Fortaleza: Copyright, acesso em 2023.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001.

CUNHA, Círo Vieira. No Tempo de Paula Nei. São Paulo: Editora Saraiva, 1950.

LEAO, Andrea Borges; SECUNDO, Francisco. Ceará, Lado Moleque (As Letras e a Sociogênese do Humor). Fortaleza: Dossiê Literatura e Memória, UFC, 2015.

LINHARES, Mário. História Literária do Ceará. Fortaleza: Federação das Academias de Letras, 1948.

MENEZES, Raimundo. A vida boêmia de Paulo Ney. São Paulo: Editora Martins, 1957.

MIRANDA, Antônio. Francisco De Paula Nei: Poesia dos Brasis. Site: Antônio Miranda. Brasília: Portal de poesia Ibero-americano, Acesso em 2024.

NETTO, Coelho. Fogo Fátuo. Editora Cherdron, 1929.

SEVERO, Marconi. Duelos e intelectuais no Brasil (1886-1892). Revista Eletrônica Scielo. São Paulo: Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2022.

SOLDON, Renato. Verve Cearense.  Fortaleza: Instituto do Ceará, 1969.

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