Paula Ney – (1858 a 1897) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Francisco de Paula Ney - Foi um filósofo cearense ligado a corrente de pensamento do asteísmo.
Utilizava-se da ironia como ponto chave para desvelar sua obra. Era visto como
um ilustre humorista e excelente repentista. Ficou conhecido como o “rei da
pilhéria”, tendo recebido de Chico Anysio o título de primeiro humorista
brasileiro. Atuou como escritor, redator e poeta. Tinha um espírito livre, por
isso vivia de maneira desprendida, com um estilo boêmio, quando não estava no
trabalho, perambulava pelos cafés, confeitarias e bares da cidade. Possuía uma
admirável oratória caracterizada pela reverência típica do cearense nato. Escreveu
para várias revistas e periódicos da época, tendo inclusive fundado uma revista
juntamente com o filósofo Clóvis Beviláqua. Realizou seus primeiros estudos no
Ateneu e no Liceu cearense, depois frequentou o seminário de Fortaleza. Viajou
para o Rio de Janeiro, onde iniciou o curso de Engenharia e depois passou a
estudar Medicina, após problemas pessoais, tentou concluir o curso na faculdade
de medicina da Bahia, porém desistiu mais uma vez do curso e migrou novamente
para o Rio, onde retomou sua carreira de redator, tida por ele, como sendo sua
verdadeira vocação e paixão. Foi um dos
fundadores do Grêmio de Letras e Artes, da cidade do Rio de Janeiro. Era filho
de um alfaiate conhecido por Mariano de Melo Ney, com a dona Carlota Cavalcanti
de Sousa Pinheiro. Nasceu em 02 de fevereiro de 1858, na cidade de Aracati.
Faleceu na cidade do Rio de janeiro, em 13 de novembro de 1897, vitimado por
uma tuberculose pulmonar.
Filosofia Humanista
Participou solidariamente de vários episódios humanitários de ajuda aos
humildes e necessitados. Era visto como um homem que possuía um grande coração
e enaltecia o valor da camaradagem. Cultuava também a defesa dos animais, da natureza
e os valores da pátria. Admirado pela sua grande eloquência, era dotado de uma vasta
cultura popular. Lutou em prol da abolição dos escravos, tendo inclusive
auxiliado a vinda de José do Patrocínio para o Ceará, com a finalidade de intensificar
o movimento abolicionista de libertação dos cativos. Após o êxito da
emancipação libertária, José do Patrocínio aclarou a famosa sentença: "O
Ceará é a terra da luz!". Paula Ney utilizou os meios de comunicação de
seu tempo para lutar em defesa dos ideais dos quais acreditava, as guerras
internas travadas no Brasil não estavam somente no campo político e militar,
mas também entre os intelectuais, por isso Ney fazia parte de outro grande
campo de batalha, onde se travava duelos entre os pensadores, tendo lutado
bravamente nesse front. Discursava em nome dos valores da liberdade, da justiça
e da solidariedade. Chegou a laborar como diretor da hospedaria dos Imigrantes,
na cidade do Rio de Janeiro.
Filosofia Literária
No campo literário, trabalhou em sua obra, um sincretismo entre o
parnasianismo e o romantismo. Fez parte da geração de literatos brasileiros que
figuraram na chamada “Era Dourada” do cenário cultural nacional, juntamente com
grandes figuras de peso, em sua época, como Olavo Bilac, Aluízio Azevedo e Luíz
Mutat. Seus versos satíricos continham emotividade, exagero e figuras de
linguagem. Também encenava nos teatros boêmicos, os seguintes estilos:
paródias, repentes, epigramas, anedotas, piadas, paradoxos, e trocadilhos. Seu
humor ácido continha certa ironia, em que explanava respostas prontas para
tudo, demostrando clara inteligência e grande poder de persuasão. Alguns
sonetos possuía um tom de comédia, detendo forte capacidade de improvisação. Visto
como um escritor modesto, Ney não costumava assinar seus textos. Ainda sim, sua
obra possui atualmente um valor histórico e cultural. Ciro Vieira registrou uma
obra com o título: “cem piadas de Paula Ney”, em que descreve o lado cômico e irreverente
desse pensador. Imortalizou-se com o famoso verso, em homenagem a cidade de
Fortaleza: “a loira desposada do sol”!
Filosofia Sapiencial
+ "Pelo Brasil eu morro e pelo Ceará eu mato!".
+ “Não mais escravos pelas esplanadas, são todos
livres, não há mais senhores, foi-se a noite: só temos alvoradas!”
+ “E eu chorava também...tinha em meu peito, a dor da ausência, o
perenal martírio, dum grande amor passado e já desfeito!”
+ Na solidão dos verdes matagais...É minha terra! A
terra de Iracema, O decantado e esplêndido poema, De alegria e beleza universais!
+ “A justiça de um povo generoso, pesando sobre a negra escravidão,
esmagou-a de um modo glorioso, sufocando-a com a lei da Abolição”.
+ “Voa minha alma, voa pelos ares, como o trapo de nuvem flutuante, vai
perdida, sozinha e soluçante, distende as asas tuas sobre os mares!”
+ “Ao longe, em brancas praias embaladas, pelas ondas azuis dos verdes mares, a Fortaleza, a loira desposada do sol, dormita a sombra dos palmares”.
Fatos e Curiosidades:
Conta-se que, em certa ocasião, numa sala de aula, da
faculdade de Medicina, o professor da disciplina de anatomia teria perguntado
ao Ney quantos ossos possuía o crânio humano, este, em tom irônico, teria
respondido: - “Não me recordo professor, mas tenho-os todos aqui na cabeça”.
Relata-se que, em outra sabatina de anatomia, seu
mestre teria dito que faria inicialmente, apenas uma única pergunta, porém se
ele respondesse corretamente, não faria mais nenhuma outra, então o professor inquiriu
ao senhor Paula Ney a seguinte pergunta: - “Quantos fios de cabelos o senhor
possuí?”, De pronto Ney respondeu: - “Duzentos e sessenta e cinco mil
oitocentos e noventa e quatro” senhor querido professor! Surpreso o
professor questiona: - “Mas como o Sr. chegou a esta conclusão?”, Paula
de forma irreverente fala: - “Caro professor, não se esqueça de que o Sr. garantiu que, caso eu acertasse, só faria uma
pergunta. Trato é trato!”.
Obras:
Carta Anônima; E pur si muov; O Álbum; Sonetos Brasileiros. Periódico a
República; O Meio; Labarum Literário; Discursos.
Fontes:
ACL. Pesquisa Histórica. Francisco de Paula Ney. Site: Academia
Cearense de Letras. Fortaleza: Copyright, acesso em 2023.
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura
brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia
Brasileira de Letras, 2001.
CUNHA, Círo Vieira. No Tempo de Paula Nei. São Paulo: Editora
Saraiva, 1950.
LEAO, Andrea Borges; SECUNDO, Francisco. Ceará, Lado Moleque (As
Letras e a Sociogênese do Humor). Fortaleza: Dossiê Literatura e Memória,
UFC, 2015.
LINHARES, Mário. História Literária do Ceará. Fortaleza:
Federação das Academias de Letras, 1948.
MENEZES, Raimundo. A vida boêmia de Paulo Ney. São Paulo: Editora
Martins, 1957.
MIRANDA, Antônio. Francisco De Paula Nei: Poesia dos Brasis. Site:
Antônio Miranda. Brasília: Portal de poesia Ibero-americano, Acesso em 2024.
NETTO, Coelho. Fogo Fátuo. Editora Cherdron, 1929.
SEVERO, Marconi. Duelos e intelectuais no Brasil (1886-1892). Revista
Eletrônica Scielo. São Paulo: Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2022.
SOLDON, Renato. Verve Cearense.
Fortaleza: Instituto do Ceará, 1969.
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