domingo, 29 de outubro de 2023

Píndaro de Cinoscéfalos

Píndaro de Cinoscéfalos – (518 a 440) a.C   

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade grega que se utilizou da literatura poética para escrever sua obra. Pode ser enquadrado na chamada filosofia estética ou filosofia da arte. Era considerado um proeminente poeta lírico e sua obra é tida como um clássico da História da Literatura. Transcorreu sua obra-prima por um viés chamado de lirismo grego. Teria sido afamado, em seu tempo, com o título de o “príncipe dos poetas”. Foi considerado o autor da célebre frase: "Homem, torna-te quem tu és". Estudou as áreas da Poesia, Música e Escrita na cidade de Atenas. Especula-se que tenha escrito em torno de 17 livros, mas apenas quatro sobreviveram ao tempo. Visto por muitos como uma mistura de profeta com poeta, ele era considerado um exímio tocador de flautas. Iniciou seus estudos musicais na cidade de Delfos, tendo como mestres Agatides e Apolodoro. Posteriormente, enveredou por uma linha mais artística, estudando poesia na cidade de Atenas. Escreveu sua obra em formato de hinos, odes, cantos, elogios, ditirambos, epinícios e lamentos fúnebres. A escrita desenvolvida por ele já era vista, em seu tempo, como sendo ornada de uma linguagem primorosa e inovadora. Seu pai era um aristocrata conhecido pelo nome de Daífanto. Nasceu por volta de 518 a.C, em Cinoscéfalos, região de Tebas e faleceu em 440 a.C, na cidade de Argos.

Filosofia da Arte

Era um grande defensor do renascimento da cultura grega. Pertencia à aristocracia, por isso seus escritos defendiam uma visão de mundo relacionado à sua classe social. Sua obra tinha como objetivo principal enaltecer os atletas vencedores dos jogos olímpicos e exprimir conhecimentos da mitologia grega, dessa forma, seu trabalho cantava a glória dos vencedores. Sua poesia tinha a missão de tornar os atletas vencedores imortais. Nesse sentido, a poesia funcionava como um veículo de memória dos feitos heroicos. Mencionava heróis mortos nas guerras e chegou a escrever a poética frase em homenagem a um deles: "no fundo da terra seu coração escuta". Vivia exercendo seu trabalho de forma itinerante, recitando seus poemas através da tradição oral e da lírica coral. Figura-se na lista dos noves poetas líricos descritos pelos eruditos alexandrinos.

Filosofia Literária

Sua obra textual e poética pode ser enquadrada no ramo da filosofia denominada de estética literária. Utilizou-se da poesia como um instrumento de educação na sociedade ateniense. Píndaro foi considerado um dos primeiros poetas que refletiram a respeito da natureza da poesia e sobre o papel do poeta. Suas odes eram caracterizadas por três elementos fundamentais: elogio ao vencedor, fato mítico e conselhos morais. Dessa forma, ele valorizava um sentimento de honra e elevação moral que eram aprimorados pela emoção lírica. Retratava temas relacionados à mitologia grega. Sua linguagem trabalhava elementos elípticos nas frases, onde ele omitia alguns termos, deixando a ideia subentendida. Esse formato era algo inovador em seu tempo, tornando a linguagem mais refinada. Utilizou-se principalmente da escrita dórica em sua produção, tendo ensaiado algumas composições em linguagem eólica e homérica.

Filosofia Teopolítica

Era contrário ao estilo de democracia realizada em Atenas, desse modo, defendia um conservadorismo que apoiava a aristocracia, zelando pela ordem pública, por isso era adepto da chamada “eunomia”, o mesmo que, “boa ordem”. Utilizava-se de metáforas para misturar elementos singulares da religião com a nobreza. Misturava elementos religiosos com concepções morais em suas odes. Defendia a religião tradicional que era difundida em Tebas. Seu primeiro poema advertia aos homens sobre os perigos da guerra e exaltações da paz. Seus textos também serviram de apoio político no sentido de legitimar as conquistas e auxiliar no processo de colonização dos locais ocupados. Era adepto da metempsicose, pois acreditava na justiça e também que a justiça após a morte traria como prêmio, punições e recompensas.

Filosofia Sapiencial

+ “O que é Deus? É tudo".

+ "Homem, torna-te quem tu és".

+ “É um dia, um dia só, a vida humana”.

+ “O homem é o sonho de uma sombra”.

+ "A resignação é um suicídio cotidiano"

+ “A força, com o tempo, abate o arrogante”

+ “As palavras vivem mais do que os feitos”.

+ “O silêncio é a maior sabedoria do homem”.

+ “O dia precedente é o mestre do dia seguinte”

+ “A Serenidade, é a filha benévola da Justiça.”

+ “O melhor médico é aquele que mais adverte o paciente.”

+ “Muita vezes se diz melhor calando do que falando em demasia”.

+ “Aqueles que seguem por caminhos sinuosos, jamais serão felizes”.

+ “Minha alma não aspira à vida imortal, mas esgota o campo do possível”

+ “Não é possível com mente mortal, indagar os pensamentos dos deuses”

+ “O sucesso, para quem é um grande batalhador, apaga o esforço da luta”.

+ "Muitas vezes o silêncio é a coisa mais inteligente que um homem pode ouvir."

+ “Não é bom que toda a verdade revele tranquilamente a sua essência; e muitas vezes o silêncio é para o homem a melhor decisão”.

+ “Não banho as minhas palavras na mentira; a ação é o controle de todo o homem”.

+ “Não busque a imortalidade na vida; mas esgote todas as possibilidades que estão ao seu alcance”.

+ “Nada neste mundo se oculta dos olhos de Deus: a sua providência estende-se a tudo e por tudo”.

+ “Quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente”.

+ “A glória dos mortais num só dia cresce, mas basta um só dia, contrário e funesto, para que o destino, impiedoso, num gesto a lance por terra e ela, súbito, fenece”.

+ “A glória só tem pleno valor quando é inata. Quem só tem o que aprendeu é um homem obscuro e indeciso, jamais caminha com passo firme. Apenas esquadrinha com imaturo espírito mil coisas altas”.

Fatos e Curiosidades:

Quando Alexandre, o Grande, demoliu Tebas em 335 a.C, como punição por sua resistência ao expansionismo macedônio, ele ordenou que a casa  de Píndaro fosse deixada intacta em agradecimento aos versos elogiando seu ancestral, Alexandre I da Macedônia.

A emblemática frase “Homem torna-te quem tu és”, citada por Píndaro, influenciou consideravelmente vários filósofos ao longo da história, tendo ganhando mais destaque na filosofia de Nietzsche.

Obras:

Epinícios ou odes triunfais: Odes píticas, Odes olímpicas, Odes neméias, Odes ístimicas; Prosódia; Partenéia; Cantos de Coroação; Cantos a Baco; Dafnefórica; Peãs; Hiporquemas; Hinos; Ditirambos; Escólios; Encômios; Trenos; Dramas trágicos; Epigramas épicos;  Exortações em prosa  para  os gregos.

Fontes:

ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Editora Edipro, 2009.

CARPEAUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 2008.

GENTILI, Bruno. Poesia Pública na Grécia Antiga. Bari: Laterza, 1984.

HESÍODO. Teogonia. Trad. Christian Werner. São Paulo: Hedra, 2013.

HOLDERLIN, Friedrich. Fragmentos de Píndaro. Lisboa: Assírio & Alvim, 2010.

LESKY, Albin. História da literatura grega. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.

NIETZSCHE, Friedrich. Filosofia na Idade Trágica dos Gregos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

ORTEGA, Afonso. Píndaro: Odes e Fragmentos. Madrid: Editora Gredos, 1984.

ROCHA, Roosevelt. . Píndaro: Epinícios e fragmentos. Curitiba: Kotter, 2018.

SANTOS, Rubens Dos.  A sétima sinfonia de Píndaro: Ensaios de Literatura e Filologia. Vol. 05. Periódicos. UFMG, 1985.

PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Sete odes de Píndaro. Porto: Editora Porto, 2003.

domingo, 22 de outubro de 2023

Pápias de Hierápolis

Pápias de Hierápolis – (70 a 140) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo teológico que teria vivido no período de transição da filosofia antiga para a filosofia medieval. Desenvolveu uma teoria chamada de “milenarismo”. Era bispo de Hierápolis, localidade da antiga Frígia, na atual Turquia. Faz parte da lista dos chamados padres apostólicos. A igreja católica o nomeou como santo, tendo ficado conhecido como o “São Pápias”. Acredita-se que seu nome seria uma variação do verbo papear, isto é, o mesmo que gorjear. Assim como outros cristãos do seu tempo, ele também sofreu perseguição e foi martirizado, tendo sido um grande amigo e discípulo de Policarpo de Esmirna. Também conviveu com outros importantes expoentes da filosofia cristã, como o Inácio de Antioquia, o presbítero João de Éfeso e o pensador Aristion. Escreveu sua obra em formato de “logias”, que eram “ditos populares” narrados pela tradição oral. Existem poucas informações a seu respeito, pois sua obra foi perdida no tempo, restando somente poucos fragmentos isolados que foram preservados por alguns autores e comentários referenciados, sobre sua vida, que foram descritos, por outros pensadores. Pápias floresceu, aproximadamente, entre os anos (70 a 140) d.C.

Filosofia Teológica

Sua obra é considerada muito importante para a compreensão do pensamento primitivo da Igreja e também para entender as origens dos evangelhos. Foi um dos pensadores considerados pioneiros nos estudos e pesquisas a respeito da origem do cristianismo. As teorias descritas por ele foram influenciadas apenas pelos evangelhos de Marcos e de Mateus, não havendo referências ou citações dos outros evangelhos escritos. Seu sistema de pensamento era denominado como sendo de cunho pastoral e escatológico, pois defendia uma doutrina baseada no livro do Apocalipse, em que afirmava que o messias voltaria a Terra para estabelecer um reinado de mil anos, por isso essa corrente ficou conhecida como “ideias milenaristas”. Sua doutrina estabelecia uma relação entre os sete dias da criação e os sete dias da redenção.

Nessa época, ao contrário do que muitos pensam, não havia somente apóstolos, mas também discípulos que seguiam o mestre, desse modo, muitos fatos narrados, em outras literaturas ou textos considerados apócrifos, foram, provavelmente, relatados de forma oral, por discípulos que conviveram naquele meio. Irineu de Lião, por exemplo, chegou a afirmar que Pápias não recebeu ensinamentos dos santos apóstolos, mas sim de pessoas que conviveram com os apóstolos. Alegava que Marcos tinha como propósito não omitir os ensinamentos de Cristo ou falsificá-los, por isso ele tinha muito cuidado na compilação e citação dos fatos que lhe eram narrados.

Filosofia Eclesiológica

Elaborou várias teorias bíblicas que são consideradas apócrifas pela igreja católica, como uma lenda que fala sobre Judas, que após a morte de Cristo, Judas passou a viver moribundo e combalido, como forma de castigo, posteriormente, ao tentar o suicídio, Pápias disse que Judas não morreu enforcado, mas sim de uma queda, pois a corda teria se partido, tendo Judas caído de cabeça e suas entranhas ficaram expostas, depois disso, uma carruagem passou e esmagou partes de suas entranhas.

Contava sobre alguns milagres que teria ouvido de pessoas que conviveram com os apóstolos. Narrou um episódio envolvendo um homem chamado Justus Barsabas, em que este, ao ser desafiado por descrentes, teria bebido veneno de uma serpente, em nome de cristo, tendo sido protegido e nada acontecido, deixando os incrédulos surpresos. Relatou também a respeito de um milagre que ele teria ouvido de uma das filhas de Felipe, que era um discípulo evangelista, em que descreve uma pessoa morta sendo ressuscitada, possivelmente essa pessoa seria a mãe de Manaimo. Discorreu sobre a fertilidade da terra e pensamentos que relacionavam ideias judaicas e cristãs. Declarava que Jesus não teve irmãos carnais, pois estes teriam sido filhos de outra Maria.

Filosofia Sapiencial

+ “A verdade na tradição oral é palavra viva e permanente”.

+ “Não tenho prazer, como a maioria das pessoas, em quem fala muito, mas em quem ensina a verdade”.

+ "Chegarão os dias em que as videiras crescerão, cada uma com dez mil trepadeiras, e em cada videira dez mil galhos, e em cada galho dez mil botões, e em cada botão dez mil cachos, e em cada cacho dez mil sementes, e cada o grão prensado dará vinte e cinco metros de vinho. E quando um dos santos arranca um cacho, outro bando clama a ele: Eu estou melhor, arranca-me e, através de mim, bendiga ao Senhor! Da mesma forma que o grão de trigo produzirá dez mil espigas, cada espiga terá dez mil grãos e cada grão dará cinco chenices de farinha fina; e será o mesmo, mantendo todas as proporções, com os outros frutos, com as sementes e com a grama. E todos os animais, usando este alimento que receberão da terra, viverão em paz e harmonia uns com os outros e estarão totalmente sujeitos aos homens” 

Fatos e Curiosidades

Especula-se que o João descrito, ao qual Pápias teria extraído informações sobre a vida de Cristo, não seria o João evangelista, mas sim João o presbítero, que também era conhecido como “João, o ancião”. As correntes antigas divergem sobre esse fato, porém a corrente majoritária supõe que Pápias se referia ao João ancião. Contudo, existe uma linha intermediária de pensamento que defende a tese de que os dois Joãos seriam a mesma pessoa.

Obras:

Exposição e interpretação das palavras do Senhor

Fontes:

BERTRAND, Dominique. Os padres Apostólicos. Col. Sabedoria Cristã, Brasília: CERF, 2001.

BIBLIOTHECA Patrística. Os Fragmentos de Pápias. Site: Suma Teológica. Internet: Publicado em 2010, Acesso em 2023.

BUENO, Ruiz. Padres Apostólicos. Madrid: Editora. BAC bilíngue, 1950.

CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Editora Novo Século, 2002.

CODEX, Alexandrinus. Enciclopédia Católica. Domínio Público: British Library, 1913.

HALL, Edward Henry. Pápias e seus contemporâneos: um estudo do pensamento religioso no século II. Cambridge: Livros Gardners, 2007.

IRINEU, Lião de. Contra as Heresias. São Paulo: Editora Paulus, 2021.

JUSTINO Mártir. Diálogo com Trifão. Col. Pais da Igreja. Brasília: Repositório Cristão, 2022.

KNIGHT, Kevin. Dos Padres Ante-Nicenos. Buffalo: Christian Literature Publishing, 1885.

ROMANO, Clemente. Cartas aos Coríntios. San Juan: Biblioteca Patrística, acesso 2023.

domingo, 8 de outubro de 2023

Gilgamesh de Uruk

Gilgamesh de Uruk – (2750 a 2600) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade sumeriana que escreveu um famoso poema épico, conhecido como “A Epopeia de Gilgamesh”. Essa obra é considerada um clássico da literatura mundial, e descrita também como sendo uma das mais antigas da humanidade. Foi redigida inicialmente na linguagem sumérica, contendo caracteres cuneiformes. Posteriormente passou a ser traduzida para outras línguas, como o hitita, hurrita, elamita e semítico-acadiana. Gilgamesh ficou afamado como sendo um dos reis mais conceituados da antiga Mesopotâmia. Seu nome tinha um significado próximo ao conceito de “o velho que rejuvenesce”. Era filho de um sacerdote conhecido pelo nome de Kullab-Lugalbanda com uma semideusa chamada Ninsuna. As deidades egípcias, descritas nos tempos antigos, eram vistas como uma espécie de rei-herói que possuíam algum poder sobrenatural. Ele teria sido o quinto rei da cidade de Uruk, na antiga Suméria, durante a dinastia de Ur, por volta de (2750 a 2600) a.C. Fala-se que seu reinado teria durado cerca de 126 anos. No prólogo de sua obra está escrito o seguinte adágio: “ele veio de uma estrada distante, estava cansado e encontrou a paz”.

Filosofia Mítica

Segundo as lendas míticas da antiguidade, ele teria recebido uma força descomunal da deidade tempestade, que era também conhecida por Adad. Tendo adquirido grande beleza de Samash, uma espécie de semideus do Sol. O rei de Uruk tinha se entregado aos vícios mundanos e adquirido um caráter tirânico, o povo, então solicitou ajuda dos céus para que Gilgamesh fosse punido. Uma potência divina conhecida por Aruru teria enviado, outro herói chamado Enkidu, que foi feito do barro, para derrotar Gilgamesh, porém depois de lutarem, os dois se tornaram grandes amigos e partiram pelo mundo a procura de aventuras. Após vencerem várias peripécias, outra potestade de nome Ishtar ou Inana, ficou inconformada com as vitórias de Gilgamesh, ela, então, decidiu lançar uma maldição contra Gilgamesh, com isso seu amigo Enkidu acabou sendo morto.

Logo em seguida a morte de seu amigo Enkidu, Gilgamesh inicia outra jornada em busca de um herói chamado “Utnapishtim” que teria sobrevivido a um dilúvio e possuía o segredo da vida eterna. Depois de encontrar a planta que possuía o elixir da eternidade, Gilgamesh se distrai e tem a planta usurpada por uma serpente que engole o vegetal. A serpente retira sua velha pele e foge. Posteriormente a tudo isso, Gilgamesh aceita suas limitações frente ao acaso e os desfortúnios da vida, mas considera que tudo isso lhe serviu de lição, pois agora acredita que está mais sábio, devido às experiências de vida que acumulou entre vitórias e derrotas.

Filosofia Esotérica

A obra retrata um misto de aventura, moralidade e tragédia. Nela o personagem descrito possui características de um semideus com traços humanos. Carrega inicialmente uma personalidade opressora, subjugando a população aos seus interesses, era descrito como um jovem rebelde, por isso teria despertado a desafeição de vários inimigos que passaram a conspirar contra ele. Posteriormente ele se tornou menos agressivo, devido ter se apaixonado por uma mulher, o amor transformou seu caráter mais irascível, em uma pessoa mais branda. A partir daí, ele iniciou uma jornada espiritual em busca da imortalidade, passando a ser visto como “o sábio que viu os mistérios e conheceu coisas secretas”.

A visão esotérica retrata o texto da epopeia mostrando questões fundamentais como o sentido da vida e as incertezas do destino, os quais permeiam a alma humana, desde os primórdios da civilização. Aborda de maneira alegórica os temas relacionados aos vícios e virtudes do homem, como traições, inveja, felicidade, espiritualidade, amor, sexo, amizade, força, poder, coragem, desejo e morte. A obra é vista nesse sistema de pensamento como uma metáfora que trata a respeito da jornada do herói em busca da imortalidade. Explicando que o homem ao sair da sua zona de conforto e enfrentar os desafios da vida, mesmo que não alcance o que desejava, estará, ao final da jornada, mais forte, será uma pessoa melhor, mais autêntica e mais galante.

Várias representações são mistificadas para expressar as reflexões simbólicas que o texto traz. Essa figuração mostra a transformação que alma humana passa, ao longo da vida, após o indivíduo buscar o autoconhecimento e encontrar respostas dentro do seu “eu” interior. Nesse ponto, em dado momento, um dos personagens aclara a seguinte sentença: “Que seja seu próprio reflexo, seu segundo eu”; Aponta também os perigos que homem passa quando se entrega aos vícios e paixões. Gilgamesh buscou alcançar a glória com a finalidade de se tornar imortal, apesar disso se deparou com a inescapável derrota, que lhe ensinou a entender que “os homens passam, mas as obras ficam”. 

Filosofia da História

A Epopeia era composta por 12 tábuas de argila e cada qual continha cerca de 300 versos. Elas foram encontras e preservadas, após uma escavação realizada na região de Nínive, no Oriente Médio. O arqueólogo Austen Harry Layard foi o principal responsável pelas escavações onde foram localizadas as tábuas, por volta de 1890, do século XIX. O texto teria sido publicado pela primeira vez, em 1928, com transliteração do ilustre arqueólogo britânico Campbell Thompson. Ajudaram também no processo de decodificação, os peritos Henry Rawlinson e George Smith, que decifraram as tábuas e encontraram uma narrativa a respeito do dilúvio universal.

Esse documento foi muito importante para a compreensão da cultura desenvolvida na região da Suméria, contendo informações sobre as estruturas de construção, muralhas, templos e o mercado, tudo isso teria sido demonstrado pelos estudos arqueológicos. Os escribas da antiguidade utilizavam o épico como texto para treinamento da escrita. A obra teria desaparecido após um grande incêndio que aconteceu na cidade de Nínive, esse acidente destruiu a principal biblioteca que continha a epopeia. Ela parece ter sido bastante conhecida na região onde teve origem.

Filosofia Sapiencial

+ “Tudo termina onde tudo começa”

+ “Os homens passam, mas as obras ficam”

+ “Busque ser um bom pastor para seu povo”

+ “Sou aquele que viu a profundeza do abismo”

+ “Embora os indivíduos sejam mortais, a humanidade é eterna”

+ “É tolice se preocupar com a eternidade, isso é desperdício de tempo, pois mata a vida aos poucos”.

+ "Quem por você convocará os deuses a uma assembleia, para que possa encontrar a vida que busca?"

+ “Vou apresentar ao mundo aquele que tudo viu, conheceu a terra inteira, penetrou todas as coisas e tudo explorou. Tudo que estava escondido”.

+ “A vida que você procura nunca encontrará. Quando os deuses criaram o homem, reservaram-lhe a morte, porém mantiveram a vida para sua própria posse.”

+ "Você nada mais é do que um braseiro que sai no frio; uma porta dos fundos que não impede a explosão nem o furacão; Calçado que aperta o pé de seu dono! Qual amante você sempre amou?"

+ "Quero ao país dar a conhecer aquele que tudo viu, que conheceu os mares, que soube todas as coisas, que analisou o conjunto de todos os mistérios, Gilgamesh, o sábio universal que conheceu todas as coisas: ele viu as coisas secretas, trouxe o que estava escondido, e transmitiu-nos o saber mais antigo que o Dilúvio".

+ “O destino decretado por Enlil da montanha, o pai dos deuses foi cumprido. Os heróis e os sábios, como a lua nova, têm seus períodos de ascensão e declínio. Foi-te dado um trono, reinar era teu destino; a vida eterna não era o teu destino. Assim não fiques triste, não te atormentes. Ele te concedeu supremacia sobre o povo, vitória nas batalhas. Mas não abuses deste poder; procede com justiça com teus servos no palácio, faze justiça ante a face do Sol”.

 

Fontes:

ARAÚJO, Emanuel. A literatura no Egito faraônico. Brasília: UnB, 2000.

BAPTISTA, Sylvia. Mello. O Arquétipo do caminho: Guilgamesh e Parsifal de mãos dadas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.

CARREIRA, José Nunes. Gilgamesh em veste hitita. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2013.

CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. A água os deuses e o poder na Mesopotâmia: Reflexões sobre os símbolos aquáticos na versão ninivita do épicos de Gilgamesh. Tese de Mestrado. Curitiba: UFPA, 2003.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 1997.

DURANT, Will. The Story of Civilization: Our Oriental History, 1935.

KLUGER, Rivkah Scharf. O significado arquetípico de Gilgamesh: um moderno herói antigo. São Paulo: Paulus, 1999.

LEICK, Gwendolyn. Mesopotâmia: A invenção da cidade. Rio de Janeiro: Editora Imago, 2003.

OLIVEIRA, Carlos Daudt. A Epopeia de Gilgamesh. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SANDARS, Nancy. Katharine. A Epopeia de Gilgamesh. Trad. Carlos Daudt de Oliveira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.