Gilgamesh de Uruk – (2750 a 2600) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo da antiguidade sumeriana que escreveu um famoso poema
épico, conhecido como “A Epopeia de Gilgamesh”. Essa obra é considerada
um clássico da literatura mundial, e descrita também como sendo uma das mais
antigas da humanidade. Foi redigida inicialmente na linguagem sumérica,
contendo caracteres cuneiformes. Posteriormente passou a ser traduzida para
outras línguas, como o hitita, hurrita, elamita e semítico-acadiana. Gilgamesh
ficou afamado como sendo um dos reis mais conceituados da antiga Mesopotâmia. Seu
nome tinha um significado próximo ao conceito de “o velho que rejuvenesce”. Era
filho de um sacerdote conhecido pelo nome de Kullab-Lugalbanda com uma
semideusa chamada Ninsuna. As deidades egípcias, descritas nos tempos antigos, eram
vistas como uma espécie de rei-herói que possuíam algum poder sobrenatural. Ele
teria sido o quinto rei da cidade de Uruk, na antiga Suméria, durante a
dinastia de Ur, por volta de (2750 a 2600) a.C. Fala-se que seu reinado teria
durado cerca de 126 anos. No prólogo de sua obra está escrito o seguinte
adágio: “ele veio de uma estrada distante, estava cansado e encontrou a
paz”.
Filosofia Mítica
Segundo as lendas míticas da antiguidade, ele teria recebido uma força
descomunal da deidade tempestade, que era também conhecida por Adad. Tendo
adquirido grande beleza de Samash, uma espécie de semideus do Sol. O rei de
Uruk tinha se entregado aos vícios mundanos e adquirido um caráter tirânico, o
povo, então solicitou ajuda dos céus para que Gilgamesh fosse punido. Uma
potência divina conhecida por Aruru teria enviado, outro herói chamado Enkidu,
que foi feito do barro, para derrotar Gilgamesh, porém depois de lutarem, os
dois se tornaram grandes amigos e partiram pelo mundo a procura de aventuras.
Após vencerem várias peripécias, outra potestade de nome Ishtar ou Inana, ficou
inconformada com as vitórias de Gilgamesh, ela, então, decidiu lançar uma
maldição contra Gilgamesh, com isso seu amigo Enkidu acabou sendo morto.
Logo em seguida a morte de seu amigo Enkidu, Gilgamesh inicia outra jornada em busca de um herói chamado “Utnapishtim” que teria sobrevivido a um dilúvio e possuía o segredo da vida eterna. Depois de encontrar a planta que possuía o elixir da eternidade, Gilgamesh se distrai e tem a planta usurpada por uma serpente que engole o vegetal. A serpente retira sua velha pele e foge. Posteriormente a tudo isso, Gilgamesh aceita suas limitações frente ao acaso e os desfortúnios da vida, mas considera que tudo isso lhe serviu de lição, pois agora acredita que está mais sábio, devido às experiências de vida que acumulou entre vitórias e derrotas.
Filosofia Esotérica
A obra retrata um misto de aventura, moralidade e tragédia. Nela o
personagem descrito possui características de um semideus com traços humanos.
Carrega inicialmente uma personalidade opressora, subjugando a população aos
seus interesses, era descrito como um jovem rebelde, por isso teria despertado
a desafeição de vários inimigos que passaram a conspirar contra ele.
Posteriormente ele se tornou menos agressivo, devido ter se apaixonado por uma
mulher, o amor transformou seu caráter mais irascível, em uma pessoa mais
branda. A partir daí, ele iniciou uma jornada espiritual em busca da
imortalidade, passando a ser visto como “o sábio que viu os mistérios e
conheceu coisas secretas”.
A visão esotérica retrata o texto da epopeia mostrando questões
fundamentais como o sentido da vida e as incertezas do destino, os quais
permeiam a alma humana, desde os primórdios da civilização. Aborda de maneira
alegórica os temas relacionados aos vícios e virtudes do homem, como traições, inveja,
felicidade, espiritualidade, amor, sexo, amizade, força, poder, coragem, desejo
e morte. A obra é vista nesse sistema de pensamento como uma metáfora que trata
a respeito da jornada do herói em busca da imortalidade. Explicando que o homem
ao sair da sua zona de conforto e enfrentar os desafios da vida, mesmo que não
alcance o que desejava, estará, ao final da jornada, mais forte, será uma
pessoa melhor, mais autêntica e mais galante.
Várias representações são mistificadas para expressar as reflexões simbólicas que o texto traz. Essa figuração mostra a transformação que alma humana passa, ao longo da vida, após o indivíduo buscar o autoconhecimento e encontrar respostas dentro do seu “eu” interior. Nesse ponto, em dado momento, um dos personagens aclara a seguinte sentença: “Que seja seu próprio reflexo, seu segundo eu”; Aponta também os perigos que homem passa quando se entrega aos vícios e paixões. Gilgamesh buscou alcançar a glória com a finalidade de se tornar imortal, apesar disso se deparou com a inescapável derrota, que lhe ensinou a entender que “os homens passam, mas as obras ficam”.
Filosofia da História
A Epopeia era composta por 12 tábuas de argila e cada qual continha
cerca de 300 versos. Elas foram encontras e preservadas, após uma escavação
realizada na região de Nínive, no Oriente Médio. O arqueólogo Austen Harry
Layard foi o principal responsável pelas escavações onde foram localizadas as
tábuas, por volta de 1890, do século XIX. O texto teria sido publicado pela
primeira vez, em 1928, com transliteração do ilustre arqueólogo britânico
Campbell Thompson. Ajudaram também no processo de decodificação, os peritos Henry
Rawlinson e George Smith, que decifraram as tábuas e encontraram uma narrativa
a respeito do dilúvio universal.
Esse documento foi muito importante para a compreensão da cultura desenvolvida na região da Suméria, contendo informações sobre as estruturas de construção, muralhas, templos e o mercado, tudo isso teria sido demonstrado pelos estudos arqueológicos. Os escribas da antiguidade utilizavam o épico como texto para treinamento da escrita. A obra teria desaparecido após um grande incêndio que aconteceu na cidade de Nínive, esse acidente destruiu a principal biblioteca que continha a epopeia. Ela parece ter sido bastante conhecida na região onde teve origem.
Filosofia Sapiencial
+ “Tudo termina onde tudo começa”
+ “Os homens passam, mas as obras ficam”
+ “Busque ser um bom pastor para seu povo”
+ “Sou aquele que viu a profundeza do abismo”
+ “Embora os indivíduos sejam mortais, a humanidade é eterna”
+ “É tolice se preocupar com a eternidade, isso é desperdício de tempo,
pois mata a vida aos poucos”.
+ "Quem por você convocará os deuses a uma assembleia, para que possa
encontrar a vida que busca?"
+ “Vou apresentar ao mundo aquele que tudo viu, conheceu a terra
inteira, penetrou todas as coisas e tudo explorou. Tudo que estava escondido”.
+ “A vida que você procura nunca encontrará. Quando os deuses criaram o
homem, reservaram-lhe a morte, porém mantiveram a vida para sua própria posse.”
+ "Você nada mais é do que um braseiro que sai no frio; uma porta
dos fundos que não impede a explosão nem o furacão; Calçado que aperta o pé de
seu dono! Qual amante você sempre amou?"
+ "Quero ao país dar a conhecer aquele que tudo viu, que conheceu
os mares, que soube todas as coisas, que analisou o conjunto de todos os
mistérios, Gilgamesh, o sábio universal que conheceu todas as coisas: ele viu
as coisas secretas, trouxe o que estava escondido, e transmitiu-nos o saber
mais antigo que o Dilúvio".
+ “O destino decretado por Enlil da montanha, o pai dos deuses foi
cumprido. Os heróis e os sábios, como a lua nova, têm seus períodos de ascensão
e declínio. Foi-te dado um trono, reinar era teu destino; a vida eterna não era
o teu destino. Assim não fiques triste, não te atormentes. Ele te concedeu
supremacia sobre o povo, vitória nas batalhas. Mas não abuses deste poder;
procede com justiça com teus servos no palácio, faze justiça ante a face do Sol”.
Fontes:
ARAÚJO, Emanuel. A literatura no Egito faraônico. Brasília: UnB,
2000.
BAPTISTA, Sylvia. Mello. O Arquétipo do caminho: Guilgamesh e
Parsifal de mãos dadas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.
CARREIRA, José Nunes. Gilgamesh em veste hitita. Lisboa:
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2013.
CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. A água os deuses e o poder na
Mesopotâmia: Reflexões sobre os símbolos aquáticos na versão ninivita do épicos
de Gilgamesh. Tese de Mestrado. Curitiba: UFPA, 2003.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 1997.
DURANT, Will. The Story of Civilization: Our Oriental History,
1935.
KLUGER, Rivkah Scharf. O significado arquetípico de Gilgamesh: um
moderno herói antigo. São Paulo: Paulus, 1999.
LEICK, Gwendolyn. Mesopotâmia: A invenção da cidade. Rio de
Janeiro: Editora Imago, 2003.
OLIVEIRA, Carlos Daudt. A Epopeia de Gilgamesh. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
SANDARS, Nancy. Katharine. A Epopeia de Gilgamesh. Trad. Carlos
Daudt de Oliveira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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