domingo, 8 de outubro de 2023

Gilgamesh de Uruk

Gilgamesh de Uruk – (2750 a 2600) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade sumeriana que escreveu um famoso poema épico, conhecido como “A Epopeia de Gilgamesh”. Essa obra é considerada um clássico da literatura mundial, e descrita também como sendo uma das mais antigas da humanidade. Foi redigida inicialmente na linguagem sumérica, contendo caracteres cuneiformes. Posteriormente passou a ser traduzida para outras línguas, como o hitita, hurrita, elamita e semítico-acadiana. Gilgamesh ficou afamado como sendo um dos reis mais conceituados da antiga Mesopotâmia. Seu nome tinha um significado próximo ao conceito de “o velho que rejuvenesce”. Era filho de um sacerdote conhecido pelo nome de Kullab-Lugalbanda com uma semideusa chamada Ninsuna. As deidades egípcias, descritas nos tempos antigos, eram vistas como uma espécie de rei-herói que possuíam algum poder sobrenatural. Ele teria sido o quinto rei da cidade de Uruk, na antiga Suméria, durante a dinastia de Ur, por volta de (2750 a 2600) a.C. Fala-se que seu reinado teria durado cerca de 126 anos. No prólogo de sua obra está escrito o seguinte adágio: “ele veio de uma estrada distante, estava cansado e encontrou a paz”.

Filosofia Mítica

Segundo as lendas míticas da antiguidade, ele teria recebido uma força descomunal da deidade tempestade, que era também conhecida por Adad. Tendo adquirido grande beleza de Samash, uma espécie de semideus do Sol. O rei de Uruk tinha se entregado aos vícios mundanos e adquirido um caráter tirânico, o povo, então solicitou ajuda dos céus para que Gilgamesh fosse punido. Uma potência divina conhecida por Aruru teria enviado, outro herói chamado Enkidu, que foi feito do barro, para derrotar Gilgamesh, porém depois de lutarem, os dois se tornaram grandes amigos e partiram pelo mundo a procura de aventuras. Após vencerem várias peripécias, outra potestade de nome Ishtar ou Inana, ficou inconformada com as vitórias de Gilgamesh, ela, então, decidiu lançar uma maldição contra Gilgamesh, com isso seu amigo Enkidu acabou sendo morto.

Logo em seguida a morte de seu amigo Enkidu, Gilgamesh inicia outra jornada em busca de um herói chamado “Utnapishtim” que teria sobrevivido a um dilúvio e possuía o segredo da vida eterna. Depois de encontrar a planta que possuía o elixir da eternidade, Gilgamesh se distrai e tem a planta usurpada por uma serpente que engole o vegetal. A serpente retira sua velha pele e foge. Posteriormente a tudo isso, Gilgamesh aceita suas limitações frente ao acaso e os desfortúnios da vida, mas considera que tudo isso lhe serviu de lição, pois agora acredita que está mais sábio, devido às experiências de vida que acumulou entre vitórias e derrotas.

Filosofia Esotérica

A obra retrata um misto de aventura, moralidade e tragédia. Nela o personagem descrito possui características de um semideus com traços humanos. Carrega inicialmente uma personalidade opressora, subjugando a população aos seus interesses, era descrito como um jovem rebelde, por isso teria despertado a desafeição de vários inimigos que passaram a conspirar contra ele. Posteriormente ele se tornou menos agressivo, devido ter se apaixonado por uma mulher, o amor transformou seu caráter mais irascível, em uma pessoa mais branda. A partir daí, ele iniciou uma jornada espiritual em busca da imortalidade, passando a ser visto como “o sábio que viu os mistérios e conheceu coisas secretas”.

A visão esotérica retrata o texto da epopeia mostrando questões fundamentais como o sentido da vida e as incertezas do destino, os quais permeiam a alma humana, desde os primórdios da civilização. Aborda de maneira alegórica os temas relacionados aos vícios e virtudes do homem, como traições, inveja, felicidade, espiritualidade, amor, sexo, amizade, força, poder, coragem, desejo e morte. A obra é vista nesse sistema de pensamento como uma metáfora que trata a respeito da jornada do herói em busca da imortalidade. Explicando que o homem ao sair da sua zona de conforto e enfrentar os desafios da vida, mesmo que não alcance o que desejava, estará, ao final da jornada, mais forte, será uma pessoa melhor, mais autêntica e mais galante.

Várias representações são mistificadas para expressar as reflexões simbólicas que o texto traz. Essa figuração mostra a transformação que alma humana passa, ao longo da vida, após o indivíduo buscar o autoconhecimento e encontrar respostas dentro do seu “eu” interior. Nesse ponto, em dado momento, um dos personagens aclara a seguinte sentença: “Que seja seu próprio reflexo, seu segundo eu”; Aponta também os perigos que homem passa quando se entrega aos vícios e paixões. Gilgamesh buscou alcançar a glória com a finalidade de se tornar imortal, apesar disso se deparou com a inescapável derrota, que lhe ensinou a entender que “os homens passam, mas as obras ficam”. 

Filosofia da História

A Epopeia era composta por 12 tábuas de argila e cada qual continha cerca de 300 versos. Elas foram encontras e preservadas, após uma escavação realizada na região de Nínive, no Oriente Médio. O arqueólogo Austen Harry Layard foi o principal responsável pelas escavações onde foram localizadas as tábuas, por volta de 1890, do século XIX. O texto teria sido publicado pela primeira vez, em 1928, com transliteração do ilustre arqueólogo britânico Campbell Thompson. Ajudaram também no processo de decodificação, os peritos Henry Rawlinson e George Smith, que decifraram as tábuas e encontraram uma narrativa a respeito do dilúvio universal.

Esse documento foi muito importante para a compreensão da cultura desenvolvida na região da Suméria, contendo informações sobre as estruturas de construção, muralhas, templos e o mercado, tudo isso teria sido demonstrado pelos estudos arqueológicos. Os escribas da antiguidade utilizavam o épico como texto para treinamento da escrita. A obra teria desaparecido após um grande incêndio que aconteceu na cidade de Nínive, esse acidente destruiu a principal biblioteca que continha a epopeia. Ela parece ter sido bastante conhecida na região onde teve origem.

Filosofia Sapiencial

+ “Tudo termina onde tudo começa”

+ “Os homens passam, mas as obras ficam”

+ “Busque ser um bom pastor para seu povo”

+ “Sou aquele que viu a profundeza do abismo”

+ “Embora os indivíduos sejam mortais, a humanidade é eterna”

+ “É tolice se preocupar com a eternidade, isso é desperdício de tempo, pois mata a vida aos poucos”.

+ "Quem por você convocará os deuses a uma assembleia, para que possa encontrar a vida que busca?"

+ “Vou apresentar ao mundo aquele que tudo viu, conheceu a terra inteira, penetrou todas as coisas e tudo explorou. Tudo que estava escondido”.

+ “A vida que você procura nunca encontrará. Quando os deuses criaram o homem, reservaram-lhe a morte, porém mantiveram a vida para sua própria posse.”

+ "Você nada mais é do que um braseiro que sai no frio; uma porta dos fundos que não impede a explosão nem o furacão; Calçado que aperta o pé de seu dono! Qual amante você sempre amou?"

+ "Quero ao país dar a conhecer aquele que tudo viu, que conheceu os mares, que soube todas as coisas, que analisou o conjunto de todos os mistérios, Gilgamesh, o sábio universal que conheceu todas as coisas: ele viu as coisas secretas, trouxe o que estava escondido, e transmitiu-nos o saber mais antigo que o Dilúvio".

+ “O destino decretado por Enlil da montanha, o pai dos deuses foi cumprido. Os heróis e os sábios, como a lua nova, têm seus períodos de ascensão e declínio. Foi-te dado um trono, reinar era teu destino; a vida eterna não era o teu destino. Assim não fiques triste, não te atormentes. Ele te concedeu supremacia sobre o povo, vitória nas batalhas. Mas não abuses deste poder; procede com justiça com teus servos no palácio, faze justiça ante a face do Sol”.

 

Fontes:

ARAÚJO, Emanuel. A literatura no Egito faraônico. Brasília: UnB, 2000.

BAPTISTA, Sylvia. Mello. O Arquétipo do caminho: Guilgamesh e Parsifal de mãos dadas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.

CARREIRA, José Nunes. Gilgamesh em veste hitita. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2013.

CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. A água os deuses e o poder na Mesopotâmia: Reflexões sobre os símbolos aquáticos na versão ninivita do épicos de Gilgamesh. Tese de Mestrado. Curitiba: UFPA, 2003.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 1997.

DURANT, Will. The Story of Civilization: Our Oriental History, 1935.

KLUGER, Rivkah Scharf. O significado arquetípico de Gilgamesh: um moderno herói antigo. São Paulo: Paulus, 1999.

LEICK, Gwendolyn. Mesopotâmia: A invenção da cidade. Rio de Janeiro: Editora Imago, 2003.

OLIVEIRA, Carlos Daudt. A Epopeia de Gilgamesh. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SANDARS, Nancy. Katharine. A Epopeia de Gilgamesh. Trad. Carlos Daudt de Oliveira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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