sábado, 30 de setembro de 2023

Ferreira França

Ferreira França – (1809 a 1857) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Eduardo Ferreira França foi um filósofo brasileiro ligado as correntes de pensamentos da “filosofia da mente”. Sua obra é vista como umas das primeiras investigações psicológicas das Américas. Desse modo, ele era considerado um dos pioneiros da Psicologia no Brasil. Tinha como tema central de sua abordagem a chamada “psicologia experimental”. Encaminhou-se inicialmente pelas ideias do materialismo, migrando posteriormente para as concepções do espiritualismo. Exerceu grande importância nas ciências médicas, doutorando-se em Medicina pela Faculdade de Paris, em 1834, com a tese intitulada de “Ensaio sobre as relações da influência alimentar na moral”. Além da Medicina, atuou também em várias outras áreas, como Química, Literatura, Mineralogia, Filosofia e Política. Tendo relacionado os estudos da mente humana com as ciências da filosofia, fisiologia, frenologia, psicologia e política social. Era filho do senhor Antônio Ferreira França com a dona Ana da Costa Barradas. Nasceu na cidade de Salvador, em 1809 e faleceu por volta de 1857, em alto mar. Relata-se que seu navio teria afundado a caminho da Europa.

Filosofia da Mente

Abordou temas morais relacionando o ecletismo com a psicologia, tendo se destacado, por uma linha de ideias denominada de “ética espiritualista”. Segundo contam, ele desejava encontrar elementos observáveis que pudessem ser aptos a explicar o comportamento moral das pessoas. Em 1854 publicou o livro Investigações de Psicologia. Tal livro é identificado por historiadores da psicologia como sendo um dos mais antigos das Américas. Ensaiou alguns entendimentos a respeito da “motilidade”, isto é, a capacidade de movimentação da alma humana e como a alma exerce ações sobre o corpo. Dissertou acerca dos fenômenos da consciência, dos atributos intelectuais, dos instintos humanos e das atividades volitivas, direcionando esses saberes para as questões da influência do ambiente sobre o homem.

Para a ele a concepção de moral se formava a partir de uma série de funções da mente, o resultado seria o produto equipolente das faculdades intelectivas com as propriedades emocionais. Com isso, existia, segundo ele, uma razão proporcional desses fatores, desse modo, a moral dependeria do grau de assertividade de cada fator limitante. Nesse contexto, ele explicava que os limites da faculdade mental tenderiam a aumentar ou diminuir, conforme se estendessem ou reduzissem os fatores da emoção humana. Nessa perspectiva, ele descrevia que o processo de educação do homem poderia transformar a moral humana, tanto de forma positiva, como também de maneira negativa.

Filosofia Naturalista

Teve grande influência do pensamento naturalista, descrevendo pontos fisiológicos e biológicos da condição existencial do homem. Para Ferreira, havia um determinismo que caracterizava a condição natural do ser humano. Seu naturalismo determinista abordava uma relação interior do indivíduo com questões de ordem social, desse modo, para ele, questões como a “alimentação e a civilização” eram requisitos que justificavam as condições naturais de existência. Nesse sentido, ele destacava que os alimentos e as bebidas ingeridas pelo ser humano influenciavam na formação moral do homem. Diferenciava a influencia que os alimentos de origem animal e vegetal causavam no ser humano. Pontuando que o primeiro despertava no ser humano mais vigor e agressividade, já o segundo gerava menos vigor, produzindo um sentimento de timidez no indivíduo.

Explicava que o homem era formado por duas substâncias principais, corpo e alma, e que elas mantinham uma interação mútua. Segundo Ferreira, o homem enquanto ser material mantém um determinismo característico de sua condição animal, e que por isso, seria regulado pelas leis físicas gerais dos corpos. Porém sua alma, que estaria ligada aos princípios vitais, era responsável por dá animação ao corpo, podendo agir de maneira contraposta as leis naturais dos corpos.

Filosofia Política

Exerceu atividades políticas como deputado federal, atuando em causas ligadas a saúde pública e a medicina social. Era adepto das correntes políticas do liberalismo. Para ele, as questões naturalistas exerceriam determinadas influências na liberdade humana, por consequência, isso também afetava a vida política nas cidades. Explanava que algumas nações eram mais corajosas e cruéis que outras por conta de ingerir uma alimentação rica, apenas em carne animal. Porém os povos que mantinham uma dieta de origem somente vegetal seriam mais compassivos e supersticiosos, demonstrando uma moral fraca. Contudo, as civilizações que consumiam uma alimentação mista, isto é, de origem animal e vegetal, e ao mesmo tempo, essas possuíam todas as vantagens que os alimentos forneciam e ainda eliminavam os percalços produzidos pelas dietas que eram feitas apenas de maneira isolada.

Filosofia Sapiencial

+ “Os alimentos e as bebidas influenciam significativamente nossa moral”.

+ “Não há fenômeno sem uma mudança, não há mudança sem uma causa”

+ “Não é possível ser filósofo sem ser médico nem ser médico sem ser filósofo”.

+ “O estudo do homem moral é um dos mais interessantes e dos mais úteis que existem”.

+ “Os fenômenos que percebemos diariamente são aqueles que mais merecem nossa atenção”.

+ “As constituições não devem ser feitas em favor do poder; as constituições são sempre feitas em favor dos povos”.

+ “Observar os fenômenos da alma, classificá-los, deduzir suas leis e aplicá-las: eis em resumo o fim do estudo do espírito humano”

+ “O regime animal exclusivo produz paixões violentas e sem freio, torna os homens corajosos, independentes, mas, ao mesmo tempo, cruéis e pouco sociáveis. O regime vegetal, ao contrário, estingue o aguilhão das paixões, torna os homens doces e compassivos; mas ele gera a pusilanimidade, a escravidão, e termina muitas vezes por produzir a fraqueza e a corrupção. Todos os dois, empregados exclusivamente, são contrários ao desenvolvimento da inteligência. É então por um regime misto que o homem pode adquirir as mais belas qualidades morais, que sua inteligência pode crescer e se aperfeiçoar, que ele pode ser corajoso sem ser cruel doce sem ser escravo”.      

Obras:

Investigações de Psicologia; Influência dos pântanos sobre o homem; Ornitologia brasileira; Discursos introdutórios ao estudo de química médica; Relatório sobre o Sistema Penitenciário; Influência das emanações pútridas animais sobre o homem; Ensaio sobre a influência dos alimentos e das bebidas sobre o moral do homem.

Fontes:

ARAÚJO, Bernardo Goytacazes de. As éticas espiritualistas de Cunha Seixas e Ferreira França. Revista Estudos Filosóficos. N: 07. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2011.

CALMOM, Pedro. História da literatura baiana. Rio de Janeiro: Editora José Olímpio, 1949.

CERQUEIRA, Luiz Alberto. Filosofia brasileira: ontogênese da consciência de si. Petrópoles: Editora Vozes, 2002.

FRANCA, Leonel. Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1965.

JAIME. Jorge. História da Filosofia no Brasil. Vol. 1. Petrópolis: Vozes, 1997.

LEITE, Geraldo. Eduardo Ferreira França: 114. Site: Blog Médicos Ilustres da Bahia e de Sergipe. Internet: Publicado em 2011. Acesso em 2023.  

MARGUTTI, Paulo. As ideias filosóficas de Eduardo Ferreira França. Porto Alegre: Editorra Fiorg, 2023.

PAIM, Antônio. Ferreira França: Investigações de Psicologia. São Paulo: EDUSP/Editorial Grijalbo, 1973.

ROMERO, Sylvio. A Filosofia no Brasil: Ensaio Crítico. Porto Alegre: Typ. de Deutsche Zeitung, 1878.

SACRAMENTO, Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.

Nenhum comentário:

Postar um comentário