Ferreira França – (1809 a 1857) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Eduardo Ferreira França foi um filósofo brasileiro ligado as correntes de pensamentos da “filosofia
da mente”. Sua obra é vista como umas das primeiras investigações psicológicas
das Américas. Desse modo, ele era considerado um dos pioneiros da Psicologia no
Brasil. Tinha como tema central de sua abordagem a chamada “psicologia
experimental”. Encaminhou-se inicialmente pelas ideias do materialismo,
migrando posteriormente para as concepções do espiritualismo. Exerceu grande
importância nas ciências médicas, doutorando-se em Medicina pela Faculdade de
Paris, em 1834, com a tese intitulada de “Ensaio sobre as relações da
influência alimentar na moral”. Além da Medicina, atuou também em várias outras
áreas, como Química, Literatura, Mineralogia, Filosofia e Política. Tendo
relacionado os estudos da mente humana com as ciências da filosofia,
fisiologia, frenologia, psicologia e política social. Era filho do senhor
Antônio Ferreira França com a dona Ana da Costa Barradas. Nasceu na cidade de
Salvador, em 1809 e faleceu por volta de 1857, em alto mar. Relata-se que seu
navio teria afundado a caminho da Europa.
Filosofia da Mente
Abordou temas morais relacionando o ecletismo com a psicologia, tendo se
destacado, por uma linha de ideias denominada de “ética espiritualista”. Segundo
contam, ele desejava encontrar elementos observáveis que pudessem ser aptos a
explicar o comportamento moral das pessoas. Em 1854 publicou o livro
Investigações de Psicologia. Tal livro é identificado por historiadores da
psicologia como sendo um dos mais antigos das Américas. Ensaiou alguns
entendimentos a respeito da “motilidade”, isto é, a capacidade de movimentação
da alma humana e como a alma exerce ações sobre o corpo. Dissertou acerca dos
fenômenos da consciência, dos atributos intelectuais, dos instintos humanos e
das atividades volitivas, direcionando esses saberes para as questões da
influência do ambiente sobre o homem.
Para a ele a concepção de moral se formava a partir de uma série de
funções da mente, o resultado seria o produto equipolente das faculdades
intelectivas com as propriedades emocionais. Com isso, existia, segundo ele,
uma razão proporcional desses fatores, desse modo, a moral dependeria do grau
de assertividade de cada fator limitante. Nesse contexto, ele explicava que os
limites da faculdade mental tenderiam a aumentar ou diminuir, conforme se
estendessem ou reduzissem os fatores da emoção humana. Nessa perspectiva, ele
descrevia que o processo de educação do homem poderia transformar a moral
humana, tanto de forma positiva, como também de maneira negativa.
Filosofia Naturalista
Teve grande influência do pensamento naturalista, descrevendo pontos
fisiológicos e biológicos da condição existencial do homem. Para Ferreira,
havia um determinismo que caracterizava a condição natural do ser humano. Seu
naturalismo determinista abordava uma relação interior do indivíduo com
questões de ordem social, desse modo, para ele, questões como a “alimentação e
a civilização” eram requisitos que justificavam as condições naturais de
existência. Nesse sentido, ele destacava que os alimentos e as bebidas ingeridas
pelo ser humano influenciavam na formação moral do homem. Diferenciava a
influencia que os alimentos de origem animal e vegetal causavam no ser humano.
Pontuando que o primeiro despertava no ser humano mais vigor e agressividade,
já o segundo gerava menos vigor, produzindo um sentimento de timidez no
indivíduo.
Explicava que o homem era formado por duas substâncias principais, corpo
e alma, e que elas mantinham uma interação mútua. Segundo Ferreira, o homem enquanto
ser material mantém um determinismo característico de sua condição animal, e
que por isso, seria regulado pelas leis físicas gerais dos corpos. Porém sua
alma, que estaria ligada aos princípios vitais, era responsável por dá animação
ao corpo, podendo agir de maneira contraposta as leis naturais dos corpos.
Filosofia Política
Exerceu atividades políticas como deputado federal, atuando em causas
ligadas a saúde pública e a medicina social. Era adepto das correntes políticas
do liberalismo. Para ele, as questões naturalistas exerceriam determinadas
influências na liberdade humana, por consequência, isso também afetava a vida
política nas cidades. Explanava que algumas nações eram mais corajosas e cruéis
que outras por conta de ingerir uma alimentação rica, apenas em carne animal.
Porém os povos que mantinham uma dieta de origem somente vegetal seriam mais
compassivos e supersticiosos, demonstrando uma moral fraca. Contudo, as
civilizações que consumiam uma alimentação mista, isto é, de origem animal e
vegetal, e ao mesmo tempo, essas possuíam todas as vantagens que os alimentos
forneciam e ainda eliminavam os percalços produzidos pelas dietas que eram
feitas apenas de maneira isolada.
Filosofia Sapiencial
+ “Os alimentos e as bebidas influenciam significativamente nossa
moral”.
+ “Não há fenômeno sem uma mudança, não há mudança sem uma causa”
+ “Não é possível ser filósofo sem ser médico
nem ser médico sem ser filósofo”.
+ “O estudo do homem moral é um dos mais interessantes e dos mais úteis
que existem”.
+ “Os fenômenos que percebemos diariamente são aqueles que mais merecem
nossa atenção”.
+ “As constituições não devem ser feitas em
favor do poder; as constituições são sempre feitas em favor dos povos”.
+ “Observar os fenômenos da alma,
classificá-los, deduzir suas leis e aplicá-las: eis em resumo o fim do estudo
do espírito humano”
+ “O regime animal exclusivo produz paixões violentas e sem freio, torna os homens corajosos, independentes, mas, ao mesmo tempo, cruéis e pouco sociáveis. O regime vegetal, ao contrário, estingue o aguilhão das paixões, torna os homens doces e compassivos; mas ele gera a pusilanimidade, a escravidão, e termina muitas vezes por produzir a fraqueza e a corrupção. Todos os dois, empregados exclusivamente, são contrários ao desenvolvimento da inteligência. É então por um regime misto que o homem pode adquirir as mais belas qualidades morais, que sua inteligência pode crescer e se aperfeiçoar, que ele pode ser corajoso sem ser cruel doce sem ser escravo”.
Obras:
Investigações de Psicologia; Influência dos pântanos sobre o homem; Ornitologia
brasileira; Discursos introdutórios ao estudo de química médica; Relatório
sobre o Sistema Penitenciário; Influência das emanações pútridas animais sobre
o homem; Ensaio sobre a influência dos alimentos e das bebidas sobre o moral do
homem.
Fontes:
ARAÚJO, Bernardo Goytacazes de. As éticas espiritualistas de Cunha
Seixas e Ferreira França. Revista Estudos Filosóficos. N: 07. Rio de
Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2011.
CALMOM, Pedro. História da literatura baiana. Rio de Janeiro:
Editora José Olímpio, 1949.
CERQUEIRA, Luiz Alberto. Filosofia brasileira: ontogênese da
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FRANCA, Leonel. Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro:
Livraria Agir Editora, 1965.
JAIME. Jorge. História da Filosofia no Brasil. Vol. 1.
Petrópolis: Vozes, 1997.
LEITE, Geraldo. Eduardo Ferreira França: 114. Site: Blog Médicos
Ilustres da Bahia e de Sergipe. Internet: Publicado em 2011. Acesso em 2023.
MARGUTTI, Paulo. As ideias filosóficas de Eduardo Ferreira França.
Porto Alegre: Editorra Fiorg, 2023.
PAIM, Antônio. Ferreira França: Investigações de Psicologia. São
Paulo: EDUSP/Editorial Grijalbo, 1973.
ROMERO, Sylvio. A Filosofia no Brasil: Ensaio Crítico. Porto
Alegre: Typ. de Deutsche Zeitung, 1878.
SACRAMENTO, Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.
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