quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Adolfo Caminha

Adolfo Caminha – (1867 a 1897) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Adolfo Ferreira dos Santos Caminha foi um filósofo cearense ligado a corrente filosófica chamada de “Determinismo Naturalista”. Era considerado um dos primeiros intelectuais dessa corrente de pensamento no Ceará. Seu sistema de pensamento abrangeu elementos do positivismo, do realismo e do pessimismo. Utilizou-se da literatura para explanar suas ideias. Sua obra era composta de poesias, ensaios críticos e romances literários. Teve uma infância sofrida, pois perdeu sua mãe, com apenas dez anos de idade, atingida pela seca que assombrou o Ceará. Trabalhou inicialmente, por um longo tempo, na Marinha do Brasil. Posteriormente, laborou como escritor na “revista moderna”. Foi um dos fundadores do Centro Republicano Cearense. Participou do movimento chamado de “A Padaria Espiritual”, onde utilizava o pseudônimo de “Félix Guanabarino”. Seus pais eram Raimundo Ferreira dos Santos Caminha e Maria Firmina Caminha. Nasceu no município de Aracati, em 1867 e faleceu prematuramente, em 1897, com apenas 29 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, vitimado por uma tuberculose. Dois anos depois de sua morte, uma de suas filhas, também faleceu precocemente de tuberculose. Adolfo recebeu várias homenagens de ruas e escolas com o seu nome.

Filosofia Naturalista

Sua obra transcorria sobre aspectos zoomórficos da condição humana, isto é, o homem como um animal selvagem. Essa concepção seria um viés do naturalismo, em que eram pontuados aspectos de uma solidez dramática, que retratava cenas desumanas e sinistras. Havia um intenso criticismo social que caracterizava um aspecto pavoroso. Seus textos eram vistos como obras polêmicas e subversivas, que descreviam os vícios da condição humana. Continha um caráter ácido que desaguavam em crimes e perversões. Entre suas principais características estavam o objetivismo e a impessoalidade. Tinha o domínio de uma escrita linear que desvelava a realidade factual. Nesse sentido, ele valorizava as ideias científicas sobre o prisma do “existencialismo determinista”. Os aspectos que caracterizavam seu enredo eram movidos por situações que contextualizavam a sociedade, a cultura e a genética dos atores sociais. Dessa forma, o personagem sofria influência da raça ao qual fazia parte, por isso, o meio social e a época seriam fatores determinantes nos destinos dos indivíduos. Os personagens agiam movidos pela vontade e também de forma animalesca, sem controle dos impulsos e desejos. Dessa maneira, os instintos subjugavam a razão humana. Os indivíduos eram sempre retratados como pobres e miseráveis que vivam a margem da sociedade. Misturavam os temas como o homossexualismo e o racismo, com ideias ligadas ao racionalismo e o cientificismo.  

Filosofia Política

No campo político era um grande defensor dos ideais abolicionistas no Brasil. Ainda muito jovem, já fazia discursos contra a escravidão e contra o sistema imperial. Essa perspectiva era contrária à posição conservadora em que ele estava inserido socialmente. Sua visão política era moderna e estava em sintonia com o movimento republicano, que era contrário a permanência da monarquia. Desse modo, criticava a ordem política e as injustiças ardilosas que eram perpetradas. Foi considerado um dos fundadores do movimento literário e político chamado de “Padaria Espiritual”, onde eram debatidas ideias sobre a conscientização popular, através da cultura e da educação. Acreditava na educação como meio de transformação da realidade social, em que o país estava submergido. Envolveu-se em certas celeumas sociais que serviram como fonte de inspiração para algumas de suas obras. Nesse sentido, ele utilizava seus textos como forma de resistência contra o falso puritanismo da qual lhe atacavam, denunciando furtivamente aspectos da violência física e psicológica, que eram dissimulados na sociedade.

Filosofia Literária

Lançou o romance “A Normalista”, de cunho naturalista, em que criticava a vida urbana das capitais. A atmosfera escolhida como referência foi à cidade de Fortaleza, onde pontuava aspectos regionalistas, denunciando um espaço urbano parco e frugal.  A obra foi descrita por alguns pensadores como tendo um aspecto pessimista do cenário urbano. Também tinha elementos que mostravam a realidade de uma sociedade vulgar, mesquinha e preconceituosa. O autor evidenciava um cenário de corrupção moral e assédios que maculavam os valores, mostrando o falso moralismo que a sociedade tentava esconder. A história impactante denunciava um incesto patriarcal praticado contra uma jovem moça pelo seu próprio padrinho. O romance abalava os bons costumes morais, tendo sido considerada pervertida pela ordem social vigente. Utilizava-se de um vocabulário coloquial que representava as características locais dos personagens. Alguns desses personagens possuíam um saber empírico que alimentava a percepção das vicissitudes experienciais.

Sofreu censura de algumas obras como o romance “bom-crioulo”, em que descrevia cenas impactantes e polêmicas a respeito do homossexualismo. Na literatura alencarina, essa era uma obra inédita em relação à temática escolhida. Contudo, a crítica conservadora teria desaprovado essa obra, por conta do tema escolhido. Ainda sim, a obra seria considerada tempos depois como uma importante fonte histórica. Ele retratava, nessa obra, além do naturalismo característico, aspectos do realismo, pois confrontava o romantismo idealizado que existia na sociedade. Pontuou a questão de igualdade ao colocar um negro e um branco em situações semelhantes, tanto da vida castrense, como na vida pessoal dos personagens, tendo até polemizado um romance inter-racial. Apropriava-se de hiperbolismos para descrever algumas cenas, enaltecendo sentimentos como o desejo e a frustração, que culminavam em tragédias. Externalizava as discriminações que eram praticadas por questões de raça, gênero e sexualidade, e também certos castigos físicos que eram infligindo nas classes mais desfavorecidas.

 Filosofia Sapiencial

+ “O mundo da lenda é infinito.”

+ “A perfeição é inimiga do homem.”

+ “E consumou-se o delito contra a natureza”.

+ “Pela cara se conhece quem tem lombrigas”.

+ “O dever de todo artista é produzir e produzir sempre.”

+ “Eu de mim só sei que o patriotismo, longe da pátria, duplica.”

+ “A arte é sempre a arte, verdadeira e bela, intransigente e nobre.”

+ “A forma é quase tudo na arte, dizem; creio, porém, que a sinceridade é tudo”

+ “A lágrima há de existir enquanto palpitar em nós esse músculo que se chama coração.”

+ “A saudade é um estado da alma como a nostalgia, como o amor, como a tristeza, como a dor.”

+ “Para quem viaja no mar uma vela que se avista é sempre motivo de inocente alegria.”

+ “A literatura e as artes de um país são coisas muito mais sérias do que vulgarmente se julga.”

+ “Não se escreve a história de um país sem demorar-se em largo e paciente estudo sobre as suas origens”.

+ “Ser talentoso é o quanto basta para que um rapaz veja-se antipatizado, odiado, cercado de inimigos.”

+ “Ali se achava, ao redor dele, a sublime expressão da liberdade infinita e da soberania absoluta, coisas que seu instinto alcançava muito vagamente através de um nevoeiro de ignorância”

+ “E um dia a sociedade, esse vampiro enorme, que o sangue chupa ao justo e poupa a tirania, essa ave negra, viu-te, arroxeado e informe, o corpo de criança, a alma… já não via!”

+ “Na obra de arte, com especialidade, essa perfeição só se adquire por meio de um trabalho penoso, mortificante, cheio de desesperos, e que vai desde o simples esboço, rápido e nervoso, até a forma definitiva, serena e límpida, através da qual não se percebem as agonias do artista na luta pela realização do ideal estético”.

Obras:

Voos Incertos (1886), poesia; Judite (1887), contos; A chibata 1887, Contos; Lágrimas de um Crente (1887), contos; A Normalista (1893), romance; No País dos Ianques (1894), romance; Bom Crioulo (1895), romance; Cartas Literárias (1895), romance; Tentação (1896); Ângelo, romance inacabado; O Emigrado, romance inacabado; Pequenos contos; Duas Histórias; Traduções do teatro de Balzac.

 

Fontes:

ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Literatura Brasileira. São Paulo: Moderna, 2005.

ADOLFO Caminha. A Normalista. São Paulo, Editora Três, 1973.

_________________ Bom Crioulo.  Carapicuíba: Ateliê Editorial, 1895.

_________________ No país dos Ianques. São Paulo: Poeteiro Editor Digital, 2014.

AZEVEDO, Sânzio de. Literatura Cearense. Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1976.

BEZERRA, Carlos Eduardo de Oliveira. Adolfo Caminha: um polígrafo na literatura brasileira do Século XIX (1885-1897). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2015.

COUTINHO, Afrânio. A ficção naturalista. São Paulo: Global, 1997.

FERRÉZ. Ninguém é inocente em São Paulo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. São Paulo: Vinhedo Horizonte, 2012.

RIBEIRO, João. Roteiro de Adolfo Caminha. Rio de janeiro: Livraria São José, 1957.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira: seus fundamentos econômicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.

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