Adolfo Caminha – (1867 a 1897) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Adolfo Ferreira dos Santos Caminha foi um filósofo cearense
ligado a corrente filosófica chamada de “Determinismo Naturalista”. Era considerado
um dos primeiros intelectuais dessa corrente de pensamento no Ceará. Seu
sistema de pensamento abrangeu elementos do positivismo, do realismo e do
pessimismo. Utilizou-se da literatura para explanar suas ideias. Sua obra era
composta de poesias, ensaios críticos e romances literários. Teve uma infância
sofrida, pois perdeu sua mãe, com apenas dez anos de idade, atingida pela seca
que assombrou o Ceará. Trabalhou inicialmente, por um longo tempo, na Marinha
do Brasil. Posteriormente, laborou como escritor na “revista moderna”.
Foi um dos fundadores do Centro Republicano Cearense. Participou do movimento
chamado de “A Padaria Espiritual”, onde utilizava o pseudônimo de “Félix
Guanabarino”. Seus pais eram Raimundo
Ferreira dos Santos Caminha e Maria Firmina Caminha. Nasceu no município de
Aracati, em 1867 e faleceu prematuramente, em 1897, com apenas 29 anos de idade,
na cidade do Rio de Janeiro, vitimado por uma tuberculose. Dois anos depois de
sua morte, uma de suas filhas, também faleceu precocemente de tuberculose.
Adolfo recebeu várias homenagens de ruas e escolas com o seu nome.
Filosofia Naturalista
Sua obra transcorria sobre aspectos zoomórficos da condição humana, isto
é, o homem como um animal selvagem. Essa concepção seria um viés do naturalismo,
em que eram pontuados aspectos de uma solidez dramática, que retratava cenas
desumanas e sinistras. Havia um intenso criticismo social que caracterizava um
aspecto pavoroso. Seus textos eram vistos como obras polêmicas e subversivas,
que descreviam os vícios da condição humana. Continha um caráter ácido que
desaguavam em crimes e perversões. Entre suas principais características
estavam o objetivismo e a impessoalidade. Tinha o domínio de uma escrita linear
que desvelava a realidade factual. Nesse sentido, ele valorizava as ideias
científicas sobre o prisma do “existencialismo determinista”. Os aspectos que
caracterizavam seu enredo eram movidos por situações que contextualizavam a
sociedade, a cultura e a genética dos atores sociais. Dessa forma, o personagem
sofria influência da raça ao qual fazia parte, por isso, o meio social e a
época seriam fatores determinantes nos destinos dos indivíduos. Os personagens
agiam movidos pela vontade e também de forma animalesca, sem controle dos
impulsos e desejos. Dessa maneira, os instintos subjugavam a razão humana. Os
indivíduos eram sempre retratados como pobres e miseráveis que vivam a margem
da sociedade. Misturavam os temas como o homossexualismo e o racismo, com
ideias ligadas ao racionalismo e o cientificismo.
Filosofia Política
No campo político era um grande defensor dos ideais abolicionistas no
Brasil. Ainda muito jovem, já fazia discursos contra a escravidão e contra o
sistema imperial. Essa perspectiva era contrária à posição conservadora em que
ele estava inserido socialmente. Sua visão política era moderna e estava em
sintonia com o movimento republicano, que era contrário a permanência da
monarquia. Desse modo, criticava a ordem política e as injustiças ardilosas que
eram perpetradas. Foi considerado um dos fundadores do movimento literário e
político chamado de “Padaria Espiritual”, onde eram debatidas ideias sobre a
conscientização popular, através da cultura e da educação. Acreditava na
educação como meio de transformação da realidade social, em que o país estava
submergido. Envolveu-se em certas celeumas sociais que serviram como fonte de
inspiração para algumas de suas obras. Nesse sentido, ele utilizava seus textos
como forma de resistência contra o falso puritanismo da qual lhe atacavam, denunciando
furtivamente aspectos da violência física e psicológica, que eram dissimulados
na sociedade.
Filosofia Literária
Lançou o romance “A Normalista”, de cunho naturalista, em que criticava
a vida urbana das capitais. A atmosfera escolhida como referência foi à cidade
de Fortaleza, onde pontuava aspectos regionalistas, denunciando um espaço
urbano parco e frugal. A obra foi
descrita por alguns pensadores como tendo um aspecto pessimista do cenário
urbano. Também tinha elementos que mostravam a realidade de uma sociedade
vulgar, mesquinha e preconceituosa. O autor evidenciava um cenário de corrupção
moral e assédios que maculavam os valores, mostrando o falso moralismo que a
sociedade tentava esconder. A história impactante denunciava um incesto
patriarcal praticado contra uma jovem moça pelo seu próprio padrinho. O romance
abalava os bons costumes morais, tendo sido considerada pervertida pela ordem
social vigente. Utilizava-se de um vocabulário coloquial que representava as
características locais dos personagens. Alguns desses personagens possuíam um
saber empírico que alimentava a percepção das vicissitudes experienciais.
Sofreu censura de algumas obras como o romance “bom-crioulo”, em que descrevia cenas impactantes e polêmicas a respeito do homossexualismo. Na literatura alencarina, essa era uma obra inédita em relação à temática escolhida. Contudo, a crítica conservadora teria desaprovado essa obra, por conta do tema escolhido. Ainda sim, a obra seria considerada tempos depois como uma importante fonte histórica. Ele retratava, nessa obra, além do naturalismo característico, aspectos do realismo, pois confrontava o romantismo idealizado que existia na sociedade. Pontuou a questão de igualdade ao colocar um negro e um branco em situações semelhantes, tanto da vida castrense, como na vida pessoal dos personagens, tendo até polemizado um romance inter-racial. Apropriava-se de hiperbolismos para descrever algumas cenas, enaltecendo sentimentos como o desejo e a frustração, que culminavam em tragédias. Externalizava as discriminações que eram praticadas por questões de raça, gênero e sexualidade, e também certos castigos físicos que eram infligindo nas classes mais desfavorecidas.
Filosofia Sapiencial
+ “O mundo da lenda é infinito.”
+ “A perfeição é inimiga do homem.”
+ “E consumou-se o delito contra a natureza”.
+ “Pela cara se conhece quem tem lombrigas”.
+ “O dever de todo artista é produzir e produzir sempre.”
+ “Eu de mim só sei que o patriotismo, longe da pátria, duplica.”
+ “A arte é sempre a arte, verdadeira e bela, intransigente e nobre.”
+ “A forma é quase tudo na arte, dizem; creio, porém, que a sinceridade
é tudo”
+ “A lágrima há de existir enquanto palpitar em nós esse músculo que se
chama coração.”
+ “A saudade é um estado da alma como a nostalgia, como o amor, como a
tristeza, como a dor.”
+ “Para quem viaja no mar uma vela que se avista é sempre motivo de
inocente alegria.”
+ “A literatura e as artes de um país são coisas muito mais sérias do
que vulgarmente se julga.”
+ “Não se escreve a história de um país sem demorar-se em largo e
paciente estudo sobre as suas origens”.
+ “Ser talentoso é o quanto basta para que um rapaz veja-se
antipatizado, odiado, cercado de inimigos.”
+ “Ali se achava, ao redor dele, a sublime expressão da liberdade
infinita e da soberania absoluta, coisas que seu instinto alcançava muito
vagamente através de um nevoeiro de ignorância”
+ “E um dia a sociedade, esse vampiro enorme, que o sangue chupa ao
justo e poupa a tirania, essa ave negra, viu-te, arroxeado e informe, o corpo
de criança, a alma… já não via!”
+ “Na obra de arte, com especialidade, essa perfeição só se adquire por meio de um trabalho penoso, mortificante, cheio de desesperos, e que vai desde o simples esboço, rápido e nervoso, até a forma definitiva, serena e límpida, através da qual não se percebem as agonias do artista na luta pela realização do ideal estético”.
Obras:
Voos Incertos (1886), poesia; Judite (1887), contos; A chibata 1887, Contos;
Lágrimas de um Crente (1887), contos; A Normalista (1893), romance; No País dos
Ianques (1894), romance; Bom Crioulo (1895), romance; Cartas Literárias (1895),
romance; Tentação (1896); Ângelo, romance inacabado; O Emigrado, romance
inacabado; Pequenos contos; Duas Histórias; Traduções do teatro de Balzac.
Fontes:
ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Literatura Brasileira.
São Paulo: Moderna, 2005.
ADOLFO Caminha. A Normalista. São Paulo, Editora Três, 1973.
_________________ Bom Crioulo. Carapicuíba: Ateliê Editorial, 1895.
_________________ No país dos Ianques.
São Paulo: Poeteiro Editor Digital, 2014.
AZEVEDO, Sânzio de. Literatura Cearense.
Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1976.
BEZERRA, Carlos Eduardo de Oliveira. Adolfo
Caminha: um polígrafo na literatura brasileira do Século XIX (1885-1897).
São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São
Paulo: Cultrix, 2015.
COUTINHO, Afrânio. A ficção naturalista. São Paulo: Global, 1997.
FERRÉZ. Ninguém é inocente em São Paulo. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2006.
DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira
contemporânea: um território contestado. São Paulo: Vinhedo Horizonte,
2012.
RIBEIRO, João. Roteiro de Adolfo Caminha. Rio de janeiro:
Livraria São José, 1957.
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