sábado, 23 de abril de 2022

Metrodoro de Quíos

Metrodoro de Quíos - (440 a 370) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga que teria inicialmente pertencido à escola atomista, mas acabou posteriormente se tornando um filósofo cético. Foi aluno de Demócrito de Abdera, e embora tenha assimilado alguns dos conhecimentos de seu mestre, ele teria desenvolvido algumas teorias próprias relacionadas ao ceticismo. Suas ideias influenciaram a criação da escola cética, por isso, exerceu grande influência nos pensamentos dos filósofos Epicuro de Samos e Pirro de Élis. O filósofo Cícero define as ideias de Metrodoro como sendo as bases do pensamento cético. Por ter sido influenciado pelo filósofo Demócrito e ter uma veia cética, os pensamentos de Metrodoro foram considerados um importante elo entre o atomismo e o ceticismo. Metrodoro foi aluno de um importante filósofo conhecido como Nessus de Quíos. Além disso, seus conhecimentos também sofreram influência dos pensamentos de Protágoras. Ademais, as biografias descrevem que ele teria ensinado os filósofos Anaxarco de Abdera e o Diógenes de Esmirna.

Alguns de seus pensamentos são considerados avançados para a sua época. Sua filosofia cética trabalhava temas relacionados à estética do saber e também sobre a gnosiologia. Estudou os campos da Lógica e desenvolveu ideias sobre a Teoria do Conhecimento. Segundo constata alguns doxógrafos, ele teria escrito tratados sobre a história dos jônicos e a história das mulheres troianas. Escreveu uma obra intitulada “Sobre a Natureza” da qual foram conservados poucos fragmentos. Existem outros textos descobertos que podem ser de sua autoria, mas que ainda não foram confirmadas por historiógrafos. Seu nome Metrodoro significava “presente de mãe”. Nasceu em 440 a.C na localidade de Quíos e veio a falecer em 370 a.C.

Filosofia Cética

Segundo alguns pesquisadores, o pensamento de Metrodoro seria uma versão mais radical das ideias de Sócrates, pois ele levou ao extremo o conceito socrático do “só sei que nada sei” e elaborou uma visão mais profunda do ceticismo. Desse modo, ele descreveu que o homem não poderia sequer saber se sabe ou não sabe a respeito de algum saber. Nesse sentido, ele nega a possibilidade do homem de poder conhecer a verdade, ou seja, ao homem não seria possível alcançar o verdadeiro conhecimento por meio do “logos” ou da razão. Sua definição cética se ancorava na ideia de que não seria possível afirmar ou negar nada, mas apenas, abster-se do saber. Dessa forma, ele lançou as bases do que viria a ser posteriormente a ideia de suspenção do juízo, ideia essa que foi futuramente sistematizada por outras correntes céticas. Nessa perspectiva, ele complementava que estando o homem incapacitado de compreender plenamente a realidade das coisas, restava-lhe somente a oportunidade de percepção conceitual das abstrações. Afirmava que todas as coisas são para cada pessoa aquilo que lhe parece ser. Buscava uma compreensão da realidade que não poderia ser decifrada de maneira clara, ou seja, a razão seria um instrumento de compreensão do mundo e os sentidos não eram capazes de mostrar as mesmas percepções da razão, dessa maneira, as sensações provocariam experiências enganosas no cérebro, portanto, não seria possível saber sobre nada e as sensações não poderiam ser colocadas como fonte de conhecimento. Defendia que era impossível fundamentar um critério de verdade em relação ao conhecimento. Porém, ele acreditava que o que pudesse ser pensado poderia ser transformado em realidade, pois dentro da noção de infinito haveria infinitas possibilidades.

Filosofia Cosmológica

Em suas teorias sobre o universo, ele dizia que as estrelas eram formadas pelo calor que o Sol exercia sobre a “humidade do ar” de maneira regular e diária. Considerava que o cosmos teria sido gerado através de uma força intelectiva que teria dado início ao movimento e ao tempo. Acreditava na existência de infinitos mundos que eram formados através da infinidade dos átomos e do vazio existente entre eles. Descrevia esses conceitos entre átomo e espaço como sendo o “cheio” e o “vazio”, desse modo, isso também poderia ser compreendido como o cheio sendo o “ser” e o vazio o “não-ser”. Nesse sentido, o cosmos seria eterno e infinito, essas ideias revelavam a “arché” que originava a realidade. O átomo estaria em constante movimento com o vazio existente, então, desse movimento se daria um processo contínuo de integração e desintegração de infinitos mundos, isto é, formação e extinção do cosmos. Essas ideias são influências diretas dos atomistas que lhe antecederam. Seus pensamentos contribuíram para o desenvolvimento da astrobiologia e geraram reflexões a respeito da vida fora da Terra. Sua visão de mundos alternativos partia do princípio de que o vazio absoluto poderia conter realidades paralelas. Era considerado um dos primeiros gregos da antiguidade a falar sobre a pluralidade de mundos habitados.

Obras

 - Sobre a Natureza

- História dos Jônios

- História das Mulheres


Filosofia Sapiencial

- "As sensações enganam".

- “Nem sei se nada sei”.

- “Todas as coisas são o que se pode pensar delas”.

- “Existe também um tipo de prazer relacionado à tristeza”.

- “As sensações não podem nos levar a um conhecimento legítimo”.

- "Todas as coisas são para cada pessoa aquilo que lhe parece ser".

- "Uma única espiga de trigo em um grande campo seria tão estranho quanto um único mundo no espaço infinito".

- "Não sabemos nada, nem mesmo que não sabemos nada. Nós nada sabemos, não, nem mesmo se sabemos ou não".

- “Afirmo que não sabemos se sabemos ou ignoramos uma coisa, ou se algo existe ou não”.

- “Nenhum dentre nós conhece coisa alguma, e não sabemos mesmo se existe um ignorar ou um conhecer, e mais geralmente, se existe alguma coisa ou se nada existe”.

- “Nenhum de nós sabe de nada, nem mesmo isso, se sabemos ou não sabemos; nem sabemos o que são 'não saber' ou 'saber', nem no todo, se algo é ou não é”.

- “Digo que não sabemos se sabemos algo ou se não sabemos nada; digo que não sabemos nem mesmo o que é saber ou não saber; digo que não sabemos absolutamente se há algo ou se não há nada”.

 

Fontes:

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