segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Myia de Crotona

Myía de Crotona - (522 a 472) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma filósofa da antiguidade grega pertencente à escola pitagórica. Era considerada uma grande poetisa erudita. Destacou-se nos conhecimentos relacionados à pediatria, educação infantil, educação feminina e a ética familiar. Teria sido provavelmente, uma das filhas de Pitágoras com a filósofa Theano. Dedicou-se as áreas da Filosofia, Matemática, Poesia e Enfermagem. Suas possíveis irmãs seriam: Esara de Lucânia, Damo e Arignote. Grande parte do legado dessa filósofa antiga foi registrada por doxógrafos e filósofos da época que relataram pequenas citações sobre a sua vida e obra. Biógrafos antigos a descrevem como sendo uma filósofa que possuía uma beleza admirável. O nome “Myia” no grego antigo tem o significado de mosca, porém outros tradutores dizem que pode ser também compreendido no sentido de voar e que ela teria recebido esse nome em homenagem a uma estrela. Seu nome também é traduzido por historiadores como sendo “Mia”. Ela teria sido casada com um atleta muito famoso em sua época conhecido por Mílon de Crotona. Seu marido Mílon desenvolveu vários métodos e técnicas de musculação e halterofilismo, sendo considerado um homem muito forte, em sua época. Ele competiu em várias modalidades olímpicas como o levantamento e o arremesso de pesos. Também inovou importantes conhecimentos na área de nutrição esportiva. Myia nasceu próximo ao ano de 522 a.C e a data exata de sua morte é incerta, entretanto se especula que tenha falecido por volta de 472 a.C.

Filosofia Medicinal

Historiadores da filosofia afirmam que “Myia” gostava de escrever poesia e se destacava em um coral litúrgico ao qual liderava. Essas fontes destacam que ela tinha um comportamento muito religioso e que por isso, era muito polida em sua conduta moral. Redigiu uma carta para sua filha explicando sobre cuidados básicos com crianças recém-nascidas, nessa carta ela descrevia ensinamentos importantes sobre como manter o equilíbrio e a harmonia nos cuidados primaciais do bebê. Também discorria sobre as necessidades que são por natureza sensível ao desenvolvimento moderado do nascituro. Myia e suas irmãs teriam herdado de sua mãe Theano, importantes conhecimentos médicos, por isso, existem indícios de que elas teriam atuado também na área da Medicina e Enfermagem infantil. As filósofas dessa escola ajudaram na formação de um pensamento pitagórico feminino, conceituado como “administradoras do lar” ou “filósofas do lar”, sendo esse pensamento, considerado para a época, de grande relevância social.  

Um ponto fundamental que é destacado em sua filosofia seria a aplicação do principio da harmonia na vida doméstica da mulher. De acordo com seus escritos, a natureza do bebê exige por si mesmo um cuidado moderado, principalmente na alimentação, aquecimento e vestimentas. Segundo essa filósofa, uma boa enfermeira deveria observar o tempo de maneira comprometida com os deveres de vigilância  da criança, sabendo ter prudência e zelo nos cuidados do recém-nascido. Essa ponderação deveria se iniciar na gestação e acompanhar o desenvolvimento do nenê. Esses ensinamentos eram importantes tanto para a mãe como também para as mulheres que auxiliavam as lactantes nos atendimentos básicos. Mesmo com poucas informações sobre a sua vida é possível compreender a importância dessa filósofa na cultura local e no papel social que ela desenvolveu em seu tempo. Mulheres como “Myia” tiveram bastante relevância no desenvolvimento dos primeiros cuidados relativa à criança. Pontuando conceitos de enfermagem que iam desde os primeiros meses de gravidez, até ao processo de maturação do recém-nascido.

Filosofia Pitagórica

Os pitagóricos, dessa época, tinham uma ideia de que os números ímpares eram uma representação do universo masculino e os números pares seria a interpretação do mundo feminino. Nessa escola de pensamento havia uma forte comparação entre o homem e o universo, por isso a escola pitagórica trabalhava a ideia de que o homem seria uma cópia em miniatura do universo. Ademais, as mulheres seriam vistas também como parte da natureza dos números podendo ocupar um espaço na escola pitagórica. Myía dissertou sobre a aplicação dos princípios pitagóricos no cotidiano familiar da mulher e também a respeito da conduta correta que a esposa deveria ter no seio do lar. Tanto ela como sua mãe, lecionaram acerca da moral sexual em relação à intimidade entre casais. Myia ajudou na escola pitagórica a construir conhecimentos sobre a vida comedida e virtuosa que a mulher deveria seguir no matrimônio, essas ideias foram importantes para compreender o papel moral e ético da mulher na cultura pitagórica. Do ponto de vista histórico ela é vista como uma figura lendária, sendo venerada não apenas pelos conhecimentos que detinha, mas também por uma notável elegância.

Filosofia Sapiencial

+ “A natureza deseja o que lhe convém, mas não o que é extravagante”.

+ “Observe com atenção qual deve ser o ar que seu filho respira. Nem muito quente, nem muito frio”.

+ “Um bebê naturalmente deseja as coisas com moderação, e seu cuidador deve atender a essas necessidades com moderação”.

+ “A natureza da criança deve ser sempre cuidada; pede-se que suas necessidades sejam bem atendidas, mas sem superficialidade ou magnificência”.

+ “Também é necessário que aqueles que estão sendo educados, exercitem-se perto de coisas que o assustam, mesmo que isso o assuste. Como aflições e sofrimentos, para que não se tornem escravos dessas paixões e vícios, nem famintas por prazeres, nem avessas ao esforço; mas honre as coisas nobres acima de tudo, afastando-se dos feitiços dos prazeres, mantendo-se constante no esforço, assim se tornarão mais fortes”.

Fontes:

BRUMBAUGH, Roberte Sherrick. Os filósofos da Grécia. Albany: Universidade de New York, 1981.

CLEMENTE DE ALEXANDRIA. Stromata. Madrid: Cidade Nova, 2003.

COPLESTON, Frederick. História da Filosofia. Londres: Search Press, 1946.

FERREIRA, Maria Luísa Ribeiro. As Mulheres na Filosofia. Lisboa: Colibri, 2009.

JÂBLICO. Vida Pitagórica. Madrid: Editoria Gredos, 2003.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB. 2008.

MÉNAGE, Gilles. História das mulheres filósofas. Herder Editorial. 2012.

MOSSÉ, Claude. Mulheres na Grécia clássica. Hondarribia: Editorial Nerea, 2001.

OLSEN, Kirstin. Cronologia da História da Mulher. Greenwood Press 1994.

PACHECO, Juliana. Filósofas: A presença das mulheres na filosofia. Brasília:. Editora FI. 2016.

PIOVEZANE, Helenice Vieira. As mulheres na filosofia: A antiguidade. Vol. 1. São Paulo: Nova Acrópole. 2016.

POMEROY, Sarah. Mulheres pitagóricas: Sua história e escritos. Baltimore: Universidade Johns Hopkins, 2013.

PORFÍRIO. A vida de Pitágoras. Barcelona: Planeta de Agostini, 1996.

WAITHE, Mary Ellen. The history of women philosophers. Vol. 1. Boston: Martinus Nijhoff, 1987.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Protágoras de Abdera

Protágoras de Abdera – (480 a 410) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo sofista da Grécia antiga que ficou conhecido por ter desenvolvido uma linha de pensamento relativista. Sua filosofia se estabeleceu na transição entre o período pré-socrático e o período clássico, isto é, na chamada fase antropológica. Este sofista assentava sua reflexão na provável capacidade de conhecer do homem. Protágoras era de família humilde, e por isso exercia atividades manuais para manter sua subsistência. Essas atividades laborais possibilitaram ao jovem filósofo a invenção de alguns utensílios relacionados aos seus trabalhos. Depois disso, passou a cobrar pelo ensino das lições que dava aos cidadãos, a partir daí se intitulou de sofista, fazendo do conhecimento uma profissão. É chamado por muitos historiadores como sendo o pai do sofismo. Ele se apresentava como sendo mestre na arte da argumentação lógica. Entre seus estudos, estar à exploração das questões relacionadas à ética e a política. Lecionou disciplinas sobre poesia, oratória e gramática na cidade de Atenas. Teria sido acusado de ateísmo e teve parte de sua obra queimada em praça pública. Ademais, sofreu perseguição política, sendo banido da cidade de Atenas. Foi um grande amigo do estadista Péricles e cogita-se a hipótese, entre os historiadores, de que Protágoras teria estudado com alguns magos da Pérsia. Em razão de suas convicções democráticas e sociais, ele foi escolhido para elaborar a constituição da cidade de Túrios. Platão chegou a citar esse filósofo em vários de seus diálogos, tendo inclusive dado o nome a um deles de “Protágoras”. Nasceu por volta de 480 a.C, em Abdera e faleceu em um naufrágio a caminho da região da Sicília, no sul da Itália, aproximadamente, em 410 a.C.

Filosofia do Conhecimento 

Protágoras ficou afamado na História da Filosofia pela frase: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são."Para Protágoras, o pensamento seria relativo, por isso ele acreditava que não existia uma verdade absoluta. Assim sendo, ele descrevia que se o homem era a medida de todas as coisas, então nada poderia ser medido de forma absoluta pelos os homens. Daí, todos os valores sociais poderiam até ser medidos em uma sociedade, mas não necessariamente em outras, e também não obrigatoriamente em outro tempo. Segundo alguns pesquisadores, o referido relativismo de Protágoras pode ser denunciado em algumas de suas afirmações, entre as quais, a que dizia que enquanto uma mesma ideia poderia ser boa para uma pessoa, ela também poderia ser má para outra pessoa, da mesma forma, o contrário, ou seja, o que é mau para alguns pode ser bom para outros. Protágoras também acreditava que as coisas são conhecidas de forma particular pelo homem, e que cada indivíduo observa as coisas da sua própria maneira. Ele explicava que não seria possível realizar uma concreta explicação sobre o que “as coisas são”, desse modo, não seria possível também dizer o que “as coisas não-são”, nesse sentido, logicamente, restaria ao homem apenas explanar a respeito daquilo que ele perceberia no mundo, ou seja, “a coisa em si”. Nessa perspectiva ele afirmava que: “não conhecemos os objetos como eles verdadeiramente são, mas como ele nos parecem ser, não a essência deles, e sim a aparência deles”.

De acordo com Protágoras, cada indivíduo possuiria uma subjetividade única que tornaria seu pensamento uma particularidade. Devido o relativismo do seu pensamento, ele acreditava que os homens deveriam desenvolver seus conceitos e opiniões, para que assim, pudessem ser produtores de suas próprias histórias e construtores de seus destinos no mundo. Além dos seus estudos centrados na subjetividade do ser, ele também se empenhou nas questões direcionadas ao “não-ser”. Por exemplo, no seu conceito de “homo-mensura” (O homem é a medida de todas as coisas) ele definia que a “medida” seria o juízo e que as “coisas” eram as experiências das pessoas. Dentro de sua visão teórica, ele explicava maneiras de argumentar e também ensinava técnicas de convencimento, desse modo, afirmava que o sofismo tinha a capacidade de expressar ideias com justiça. Nesse contexto, contrariando os ideais sobre a verdade absoluta, ele explicava que o que existia eram conceitos oportunos para um momento específico, ou seja, a verdade seria aquela útil para uma ocasião específica. Por isso, o verdadeiro sábio, para ele, seria uma pessoa que conseguisse convencer os outros indivíduos sobre uma determinada vantagem para cada momento singular. Segundo sua visão, cada homem fazia seu julgamento conforme seu próprio modo de ver as coisas, isto é, de acordo com seu entendimento. Nessa perspectiva, seus estudos foram muitos importantes para o desenvolvimento da epistemologia.

Filosofia da Linguagem

Em sua obra “As antilogias”, ele defendia a ideia de que o debate sobre um assunto se resumia a duas ideias coerentes em si mesmas, mas que se contradiziam uma com a outra, ao mesmo tempo. Como se o contraditório pudesse coexistir, assim sendo ele dividia a contradição em uma antilogia¹. Daí, nesse jogo de antilogias, o homem seria como um peso em uma balança, em que decidiria qual caminho escolher. A cada argumento se oporia outro de igual força, dessa maneira, Protágoras sofreu influência de Heráclito de Éfeso, pois afirmava que o princípio e o fim de todas às coisas estaria na imanência reciproca dos contrários. Por isso, a retórica seria a principal virtude do homem, desse modo, ele conseguia tornar mais forte o argumento que a princípio parecia mais fraco. De acordo com suas ideias, seria possível apresentar razões diferentes que se anulam de maneira recíproca, ou seja, tanto seria possível defender um argumento como também contradizer o mesmo argumento. A virtude do homem sábio estaria na habilidade de fazer valer qualquer raciocínio, tanto de um ponto de vista, como também do contrário. Segundo Protágoras, a antilogia designaria o método de produzir argumentos a favor e contra qualquer questão, para tornar mais forte o argumento mais fraco.

Filosofia da Religião

Afirmava que as religiões e os deuses eram criados por convenções humanas. Protágoras foi acusado no seu tempo de ser ateísta, e por isso foi perseguido, tendo fugido e vivido no exílio. Por conta de seu ceticismo religioso, acabou tendo suas obras queimadas em praça pública. Acreditava que o homem não poderia afirmar se Deus existia ou não, pois a resposta para essas questões dependeria de uma soma de outras incertezas e obscuridades. Dizia que as questões divinas estavam além da capacidade de compreensão do ser humano, desse modo, o homem possuiria limitações para esses saberes. Nesse sentido, o homem estaria sempre criando argumentos de afirmação a favor e contra a existência dos deuses. Seu pensamento de que o homem era a medida de todas as coisas, inaugurava a ideia de que a razão dependeria de uma experiência individual e própria de cada ser. Esse relativismo estava ligado a um ponto de vista de cada um. Explicava que o fato da vida humana ser breve limitava o ser humano a compreender as experiências relacionadas às divindades. Por isso, seu suposto ateísmo estaria relacionado apenas, à ideia de que a razão humana possuiria limites para compreensão dos fenômenos metafísicos. Dessa maneira, não seria possível ao homem determinar de forma absoluta, o que era o bem e o mal. Para alguns pesquisadores, Protágoras não se encaixava propriamente em uma vertente de pensamento ateísta, mas sim em uma concepção denominada agnóstica.  

Filosofia da Educação

Afirmava que o Estado deveria ser o principal responsável pela formação dos cidadãos. Entre suas ideias, ele ressaltava a importância da pena como instrumento de recuperação do criminoso, juntando esse conceito com uma doutrina sobre a educação pública. Portanto, ele definia a moral e a justiça como virtudes que poderiam ser adquiridas pela “Paidéia”, ou seja, pela educação grega. Sua teoria do “homem-mensura” inaugurou o relativismo e o subjetivismo como ideias na teoria do conhecimento, desse modo, ele estabeleceu que o objeto de seu estudo fosse à prudência. Seu relativismo é visto por alguns teóricos como sendo muito radical, pois negava a existência tanto do que era a verdade, bem como também, do que seria falso. Assim, não poderia existir um critério comparativo para definir o que seria verdadeiro e o que seria falso. Ninguém estaria absolutamente errado, mas cada um estaria com a verdade, ou seja, a sua verdade relativa. Cada um seria seu próprio critério para definir o que é certo e errado. Nesse sentido, não existiria nenhum critério absoluto que pudesse presumir se algo seria falso ou verdadeiro. Seguindo seu raciocínio, as convenções sociais ditavam as regras morais que serviam de norte para orientar a educação dos homens.

Protágoras - Diálogo platônico

A obra de Platão descrevia um diálogo entre alguns personagens que tratavam sobre ideias relacionadas à virtude e a sabedoria. Entre os principais personagens estavam Sócrates e Protágoras. O principal questionamento da obra era sobre, a possibilidade ou não, de ser possível ensinar a virtude, de acordo com as definições pensadas entre os interlocutores. Protágoras no início do debate acreditava que a virtude poderia sim ser ensinada, já Sócrates achava que não era possível. No final do diálogo, eles mudam de opinião e Protágoras reconhece sua ignorância e passa, então, a achar que a virtude, talvez, realmente não possa ser ensinada, enquanto que Sócrates passa, então, a acreditar que existe uma possibilidade da virtude ser ensinada. O impasse persiste entre eles sem que se chegue a uma conclusão concreta. Ao final, Sócrates se aproxima de uma possível definição de que sabedoria e virtude talvez seja a mesma coisa. O principal conflito de ideias entre os argumentos dos dois estava na natureza da definição dada por cada um, sobre o que era a virtude ou “aretê”, após cada um explanar sua ideia e argumentar o conceito de virtude dentro de um contexto, e de sua visão de mundo, os dois passaram a analisar a questão de outra maneira, isto é, do ponto de vista do outro, porém sem chegar a uma solução definitiva ou a um denominador comum.

Filosofia Sapiencial

+ “O homem é a medida da realidade”

+ “O homem é a medida do universo.”.

+ “Existem dois lados para cada pergunta”.

+ “Sobre os deuses não posso saber se existem ou se não existem”.

+ “Toda a vida do homem tem necessidade de ordem e de adaptação”.

+ “Sobre qualquer questão existem dois argumentos contrários entre si”.

+ “Muitas coisas impedem o conhecimento, incluindo a obscuridade do tema e a brevidade da vida humana”.

+ "Tal como cada coisa se apresenta para mim, assim ela é para mim, tal como ela se apresenta para ti, assim ela é para ti.”

+ "O Homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são.”

+ “Quando se trata de considerar como administrar bem a cidade, deve-se proceder inteiramente com justiça e bom senso.”

+ “Todo o argumento permite sempre a discussão de duas teses contrárias, inclusive este de que a tese favorável e contrária são igualmente defensáveis”.

+ “Das coisas belas umas são belas por natureza e outras por lei, mas as coisas justas não são justas por causa da natureza, os homens estão continuamente disputando pela justiça e a alteram também continuamente”.

 

Obras:

- As Antilogias

- Sobre a verdade e Sobre o ser 

- Grandes discursos

- Raciocínios demolidores

- Tratado Sobre os Deuses

- Técnica Erística

- Sobre as Lutas

- Das Virtudes e Ambições

 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

CASERTANO, Giovanni. Sofistas. São Paulo: Paulus, 2010.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Editora Ática, 2000.

CASSIN, Barbara. O efeito sofístico: Sofística, filosofia, retórica, literatura. São Paulo: Editora 34, 2005.

DHERBEY, Gilbert. Os Sofistas. Trad. João Amado. Lisboa: Edições 70, 1999.

DUMONT, Jean. Paul. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005.

EMPIRICO, Sexto. Esboços Pirrônicos. Cambridge: Harvard University Press, 1933.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas. Dissertatio Filosofia. 2014.

HUISMAN, Denis. Dicionário dos Filósofos. Martins Fontes, 2001.

KENNY, Anthony. História Concisa da Filosofia Ocidental. Lisboa: Temas e Debates, 1999.

KERFERD. George. O movimento sofista. trad. Margarida Oliva. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

KIRK, Geoffrey. RAVEN, John. Os Filósofos pré-socráticos. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília. UnB, 2008.

RIBEIRO, Luís Felipe Bellintani. História da filosofia I. Florianópolis: Filosofia/Ead/UFSC, 2008.

PLATÃO. Protágoras. Trad. Carlos Alberto Nunes, Ed. UFPA, 2002.

_________________ Teeteto. Trad. Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2007.

 

Notas:

_________________

¹ Antilogia significa contradição, antilógico, ilógico, ou seja, contrário à razão.


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Hipódamo de Mileto

Hipódamo de Mileto – (498 a 408) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo urbanista da Grécia antiga, apelidado de Hipodâmico. É considerado o pai do planejamento urbano e visto como um dos grandes arquitetos da antiguidade. Seu sistema de pensamento está voltado para as correntes de pensamento da filosofia político-social. Era titular de um vasto conhecimento erudito em muitas áreas. Estudou as áreas de Arquitetura, Planejamento Urbano, Matemática, Medicina, Meteorologia, Geopolítica e Filosofia. O filósofo Aristóteles afirma que Hipódamo foi o primeiro filósofo a escrever um tratado sobre a teoria do governo. Descreve-o como sendo um homem muito vaidoso que fazia questão de se apresentar de maneira estética com uma exótica cabeleira e com roupas de alto valor. Existem fortes indícios de que ele possa ter estudado com os pitagóricos, embora outros historiadores o classifiquem como pertencente à escola Jônica. Alguns pensadores o consideram como sendo o primeiro urbanista a criar ordem no caos. Essa metáfora retrata os conhecimentos físicos e matemáticos utilizados por Hipódamo para projetar as cidades de maneira regular em locais que antes eram considerados desorganizados. Segundo relatos, ele teria ajudado a reconstruir a cidade de Mileto após a guerra contra os persas. Seu modelo de planejamento teria sido aplicado em algumas colônias gregas e se estendido também para outras regiões da Grécia. Nasceu no ano de 498 a.C, em Mileto e faleceu por volta de 408 a.C.

Filosofia Política

Hipódamo estudou os problemas funcionais das cidades e estabeleceu relações com a estrutura administrativa da “polis”. Sua ideia de arquitetura urbana privilegiava uma estrutura de funcionalidade para a cidade juntamente com os aspectos políticos. Desenvolveu essa relação funcional da “polis” com as teorias de administração do Estado. Também associou os conhecimentos matemáticos e físicos com o planejamento urbanístico. Seu modelo de pensamento trabalhava os conceitos de perfeição, simetria, luxo, e conforto, assim sendo, sua filosofia tentava unir ideias de uma sociedade produtiva, em que os aspectos políticos e ambientais pudessem manter certo bem-estar social. Sua proposta de pensamento levava o conceito de “polis” a projetar cidades que pudessem levar conforto ao maior número possível de cidadãos. Ele ficou conhecido por ser o introdutor de uma planificação apoiada em ruas largas que se cruzavam em ângulos retos. Devido ao fato de possuir um formato quadricular ou retangular semelhante a um tabuleiro de xadrez, seu modelo de planejamento urbano ficou conhecido como “plano de grelha”. Além disso, também é visto como um dos primeiros filósofos que idealizaram uma cidade com traços de uma matriz ortogonal.

Com isso, ele estabeleceu a arte de traçar diferentes quarteirões em uma cidade com o objetivo de marcar as divisões. Além da arte de projetar cidades, ele também se dedicava ao ofício de investigar a melhor forma de governo para uma "polis". Para ele, a planta de uma cidade poderia formalmente materializar e explicar uma ordem social e lógica da urbe. Ele também era considerado um pioneiro no estudo sobre o planejamento urbano, tendo inclusive idealizado conceitos de cidades perfeitas. Esse modelo era embasado em blocos habitacionais entre si, onde casas e espaços públicos poderiam adquirir formatos padronizados que passaram a ser chamados, entre os arquitetos, de “traçados hipodâmicos”.

Filosofia Social

Em sua cidade ideal ele afirmava que o número máximo de habitantes deveria ser de dez mil. Dizia que os cidadãos que produzissem coisas úteis na sociedade deveriam ser recompensados. Com relação às leis ele defendia a existência de apenas três formas de ações judiciais: ações de injúria, insulto e homicídio. A suprema corte deveria ser composta por anciães e os demais magistrados eleitos pelos cidadãos. Ensaiou noções jurídicas a respeito das leis sobre patentes. Propôs a divisão dos cidadãos em três classes sociais: soldados, artesãos e lavradores. Além disso, projetou o solo urbano também em três partes: sagrado, público e privado. Em relação ao solo sagrado, explicava que ele deveria ser utilizado para o culto aos deuses, já o solo público deveria ser utilizado para o uso dos guerreiros, e o solo privado seria destinado aos agricultores. Advogava a favor da tese de que os filhos dos cidadãos mortos em combate deveriam ser sustentados pelo Estado. As ideias de Hipódamo em relação ao planejamento das cidades gregas eram de uma ordem que regularizavam o cenário confuso das antigas cidades. Entre os principais estudos de planejamento realizado por ele, destaca-se o planejamento urbano da cidade de Pireu e o planejamento urbano da colônia de Túrio. Nesses estudos ele utilizou fórmulas polinomiais para a construção e infraestrutura hidráulica dessas cidades. O filósofo Aristóteles fez duras críticas aos sistemas pensados por Hipódamo, pontuando várias disfunções que poderia existir nesses modelos de sistemas.

Fontes:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ALBUQUERQUE, Marcelo. Roma Antiga para artistas, arquitetos e viajantes. Arte e Culturas. Independently published, 2020.  

ARISTÓTELES. A política. Trad. Nestor Chaves. Bauru: EDIPRO, 2ª ed. 2009.

BARNES, Jonathan. Filósofos pré-socráticos. Trad. Julio, Fischer. São Paulo: Martins Fontes. 1997.

BENEVOLO, Leonardo. História da cidade. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.

CHISHOLM, Hugh. Hipódomo. Enciclopédia Britânica. 11ª ed. Cambridge: University Press, 1911.

ESTRABÃO. Geografia. Coleção livros III ao X. Grécia antiga. Universidade de Coimbra.

GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Rio de Janeiro: Editora Difel, 1980.

JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. São Paulo, Martins Fontes, 1989.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília. UnB. 2008.

MENENDEZ, José Luiz. Fontes antigas sobre o urbanismo de Hipódamo. Universidade de Barcelona. 1997.

SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto, 2010.

TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Tradução, R.M.R. Fernandes e M.G.P. Granwehr. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

VERNANT, Jean. Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 20ª ed. 2002.

VERA, Luiz Cevera. As Cidades Teóricas de Hipódamo ​​de Mileto. Hungria: Academia Real de Belas Artes, 1987. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Demócrito de Abdera

Demócrito de Abdera – (460 a 370) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da Grécia antiga que viveu no período de transição entre os pré-socráticos e a filosofia clássica. Ele foi discípulo de Leucipo de Mileto e mestre do sofista Protágoras de Abdera. Além disso, também teria exercido grande influência na obra do filósofo Epicuro. Demócrito juntamente com seu mestre Leucipo são os fundadores do atomismo. Suas obras são consideradas como sendo de caráter materialista, mecanicista e determinista, pois explicavam a ordem do cosmos através da natureza. A frase que sintetizou seu pensamento foi: “há apenas átomos e vazio”. Possuía uma boa condição de vida o que lhe permitiu realizar muitas viagens pelo mundo antigo, com isso aperfeiçoou os diversos saberes que assimilava. Historiadores apontam que ele teria escrito aproximadamente noventa obras, porém apenas alguns fragmentos se conservaram no tempo. O descrito atomista também estudou as áreas da Matemática, Astronomia, Música, Línguas, História, Geografia e Ética. Entre seus principais temas de estudo estavam o problema da ética, da natureza e da educação. O nome “Demócrito” no grego antigo significava: “o escolhido do povo”. Demócrito ficou conhecido como o “filósofo hilário”, pois vivia rindo de tudo, até das suas próprias explicações sobre filosofia. Acreditava que o sorriso atraía conhecimento. Nasceu na cidade de Abdera, por volta do ano 460 a.C e veio a falecer, em 370 a.C.

Filosofia Atomista

A partir dos ensinamentos de seu mestre, ele desenvolveu e sistematizou a “teoria atômica” que também ficou conhecida como “atomismo”. Esse modelo de pensamento era explicado apenas no campo filosófico, pois ainda era um pensamento primitivo em relação às ideias atômicas que viriam a surgir na modernidade. Segundo Demócrito, a matéria poderia ser dividida até chegar a uma partícula mínima que seria indivisível, essa partícula era chamada de átomo, isto é, sem divisão. A palavra átomo significa indivisível e vem da junção de “a” que quer dizer “não” e “tomos” que tem o sentido de “parte”, ou seja, parte “não-divisível”.

A teoria atomista foi desenvolvida por ele quando ao observar a natureza Demócrito teria visto um raio de sol penetrando por uma fresta na porta de um quarto, daí notou as pequenas partículas de poeira dispersas no ar e obteve o seguinte raciocínio: “os átomos são como partículas de poeira, um turbilhão de partículas que se colidem de forma aleatória, eles também se expelem, porém existem alguns que nunca se tocam”.  O pensador Aristóteles explicou algumas ideias a respeito da obra de Demócrito, demonstrando que para a matéria se deslocar no espaço, seria necessário existir um grande vazio, ou seja, um vácuo infinito onde uma quantidade infinita de átomos se deslocaria nesse espaço. Dessa forma, deveria então existir partes vazias para que assim fosse possível existir o movimento entre os átomos, porém se a matéria se dividisse em partes cada vez menores, e de forma infinita, então não haveria consistência nessa matéria, nesse sentido, a matéria não poderia se formar de outras partes menores, em razão do espaço vazio sofrer pressão da formação infinita de divisões. Desse modo, a divisão da matéria não poderia ser infinita, ao contrário, deveria ser finito, consequentemente, esse fenômeno de divisão mínima da matéria, seria entendido como sendo os átomos. O conceito de vazio definido pelo Demócrito teria relação com a ideia de espaços que existiam entre os átomos.

Nas suas obras, ele explicava que os átomos possuíam um formato geométrico, daí esse aspecto simétrico permitiria que existisse encaixe entre eles, assim sendo, esses átomos ao serem combinados, produziriam outras substâncias que eram geradas por processos mecânicos. Sua visão do átomo se assemelhava ao que atualmente se chama de partes de uma molécula. Demócrito tentou resolver a oposição de ideias que existia entre Heráclito e Parmênides, desse modo, ele afirmou que o universo seria composto por dois elementos básicos, o átomo que era o “ser” e o vácuo denominado de “não-ser”. Além de ser indivisível, o átomo de Demócrito também apresentava as seguintes características, ele seria: invariável, individual, invisível, incompreensível, indestrutível, eterno e estaria em movimento constante, tendo tamanho e formatos diferentes, ocupando ordenamento e posições variadas, em vista disso, a matéria seria construída pela combinação desse modelo de átomo que era esférico, leve e aquecido. Através desse estudo físico e mecânico, ele afirmava que o átomo seria indestrutível, e que eles teriam pesos diferentes. Era eterno porque nada poderia ter surgido do nada.

Filosofia Cosmológica

Para Demócrito, o universo era formado por infinitos átomos de diversos formatos que se chocavam e se repeliam o tempo todo. Alguns átomos, como um jogo de quebra-cabeça, possuiriam afinidade com outros átomos e poderiam se unir formando uma diversidade de matéria. Da mesma forma que a matéria se formaria com o choque aleatório de átomos afins, a matéria também se desintegraria com o movimento dos átomos.  Para ele, a consistência dos aglomerados de átomos era o que fazia com que algo se parecesse com os “Estados da Matéria”, isto é, o sólido, o líquido, o gasoso e o anímico (estado de espírito), a matéria seria então determinada pelo formato (figura) e arranjo dos átomos envolvidos, logo, os átomos poderiam ter os seguintes formatos:

Os átomos de aço possuíam um formato que se assemelhava a ganchos, que os prendiam solidamente entre si. Os átomos de água eram lisos e escorregadios. Os átomos de sal como demonstravam o seu gosto, seriam ásperos e pontudos. Os átomos de ar seriam pequenos e pouco ligados, penetrando todos os outros materiais. Os átomos da alma e do fogo eram esféricos e muito delicados. (Demócrito).

Seu modelo cosmológico descrevia o vácuo como um vazio que ele denominou de “não-ser”. Para ele, esse vácuo era uma espécie de oposição aos átomos. Ele também chegou à conclusão de que existiriam aglomerados gigantes de estrelas, ou seja, galáxias que devido a distância delas em relação à Terra, elas pareceriam pequenas, por isso eram confundidas com as estrelas. Além da teoria do atomismo, ele também acreditava que o universo era infinito e que existiam muitos mundos iguais ao nosso por todo o universo.

Filosofia teleológica

Ao contrário do que afirmavam muitos filósofos de seu tempo, Demócrito acreditava que não existia uma causa primeira ou inteligente para tudo, pois assim como os átomos seriam eternos, assim também a natureza se autorrevelaria, isto é, ela sempre existiu, de maneira que tudo “sempre foi, é, e sempre será”. Segundo o filósofo Diógenes de Laércio, Demócrito acreditava que tudo acontecia por força da necessidade, essa força seria como um vórtice gerador da gênese de todas as coisas. Dessa maneira, argumentava que o fim absoluto de tudo era a serenidade da alma, que poderia ser adquirida pelo equilíbrio e pela calma. Essa calma seria a ausência de emoções que perturbavam a alma, como o medo e as superstições.

Sua visão materialista explicava os fenômenos através das leis naturais, por isso os átomos poderiam se unir e se separar de maneira harmônica, porém eram indivisíveis em seu aspecto físico. Nesse sentido, a causa de tudo seria resultado das leis naturais e a mecânica do mundo poderia explicar os fenômenos da natureza. Para Demócrito, a física explicava de forma material como era feito a realidade e a lógica definia os fundamentos do que poderia ser conhecido como verdade. Através da união desses saberes, seria formada a ideia de moral. Ele também acreditava que a alma humana era feita de átomos e que por isso ela sofreria um processo de decomposição e adaptação. Embora os átomos fossem eternos, os corpos poderiam perecer, mas sua essência não, pois a alma era formada por átomos semelhantes ao aspecto volátil do fogo. Desta forma, os átomos da alma se dispersam no espaço, isto é, quando uma pessoa morre, os átomos de sua alma se espalham para todas as direções, podendo se agrupar ou se agregar a outra alma. Dito isto, compreende-se que na sua visão, a alma não seria imortal.

Filosofia Moral

Para Demócrito, não seria possível ao homem ter um livre-arbítrio absoluto, pois a liberdade de escolha era uma ilusão, já que não seria possível ao homem alcançar todas as causas que o levam a uma decisão plena. Porém, o indivíduo poderia controlar seus impulsos e desejos, pois a alma exerceria uma ordenação capaz de direcionar o homem em um caminho ético e moral na sociedade. Sustentava que se deveria buscar a felicidade na moderação dos desejos e no reconhecimento da superioridade da alma sobre o corpo. Para ele, os sentidos enganam os indivíduos em relação à compreensão dos átomos, desta forma, ele dizia que cada sentido que o corpo possuía poderia ser entendido pelo formato específico de cada átomo, logo, o homem teria uma sensação sobre os fenômenos. Nesse contexto, ele observava que:  “os homens acreditam que branco e o preto, o doce e o amargo e todas as outras qualidades do gênero, são algo de real, quando na verdade só o que existe é o ente e o nada”.

Filosofia do Conhecimento

Ele definia duas formas de conhecimento, que seria o conhecimento inteligível, e o conhecimento sensível. Daí explicava que apenas o inteligível seria de fato verdadeiro, pois o conhecimento sensível dependeria dos sentidos, e os sentidos não captavam a realidade de maneira totalmente real, apenas de forma simples. Afirmava que o pensamento era um processo físico e que o objetivo da vida seria a felicidade. Boa parte da ciência moderna foi bastante influenciada pelos pensamentos de Demócrito. Ele foi considerado um escritor prolífico e visto por muitos como o pai da ciência. Tinha uma forma de escrita em formato de poema na qual desenvolvia suas ideias científicas e filosóficas.

Filosofia da Matemática

O pensamento de Demócrito foi influenciado pela escola pitagórica no sentido do formato geométrico dos átomos. Além disso, Demócrito também chegou a estudar alguns ramos da Matemática como, por exemplo, os problemas relacionados aos volumes das figuras geométricas e suas relações com cálculos infinitesimais. Também estudou conceitos ligados aos números irracionais e dissertou a respeito das tangentes. Na geometria, ele descreveu que o volume de um cone é um terço do volume de um cilindro de mesma base e altura, e que o volume de uma pirâmide seria um terço do volume de um prisma de mesmas base e altura.

Curiosidades:

Demócrito era um homem muito viajado, por isso se envaidecia como sendo o filósofo que mais tinha percorrido o mundo da época e também o que mais tinha conversado com sábios de todos os lugares. Conta-se que certa vez, tendo ido a Atenas, desapontou-se porque ninguém na cidade o conhecia.

Obras:

 - Pequena ordem do mundo

- Da forma e do entendimento

- Do bom ânimo,

- Preceitos.

- Sobre Pitágoras

Filosofia Sapiencial 

+ “O homem é um microcosmo.”

+ “A palavra é à sombra da ação.”

+ “A ignorância do bem é a causa do mal.”

+ “A alegria é mais sábia que a sabedoria”.

+ “O sol visita a latrina e não se contamina.”

+ “O caráter de um homem faz o seu destino.”

+ “Os homens, ao fugir da morte, perseguem-na.”

+ “O prazer do amor é apenas uma curta epilepsia.”

+ "É sinal de alma elevada suportar os excessos dos outros".

+ “Os grandes prazeres nascem de contemplar as belas obras”.

+ "Tudo o que existe no universo é fruto do acaso e da necessidade”

+ “Desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para as demais.”

+ “Bom não é apenas não ser injusto, mas, também, não querer sê-lo.”

+ “Na realidade, não conhecemos nada, pois a verdade está no íntimo”

+ "Não se poderá jamais chegar, a saber, o que cada coisa realmente é"

+ “Quem faz o homem feliz não é o dinheiro: é a retidão e a prudência.”

+ "Devemos nos distanciar dos erros, não por medo, mas por obrigação"

+ “A felicidade não reside nas posses e nem em ouro, ela mora na alma”.

+ “Sábio é quem não se aflige com o que lhe falta e se alegra com o que possui”.

+ “Toda a terra está ao alcance do sábio, já que o pai de uma alma elevada é o universo.”

+ "A virtude deve ser provada através de fatos e atitudes e não apenas por palavras".

+ “Se você sofreu alguma injustiça, console-se; a verdadeira infelicidade é cometê-la.”

+ “O bem não significa simplesmente não fazer o mal, mas antes não desejar fazer o mal".

+ "É uma questão de sensatez cedermos diante da lei, diante do governante e diante do mais sábio".

+ “Falsos e hipócritas são aqueles que tudo fazem com palavras, mas na realidade nada fazem.”

+ “Para todos, o belo e o verdadeiro são a mesma coisa, mas o agradável é diferente para cada um”.

+ “A amizade de um único ser humano inteligente é melhor do que a amizade de todos os insensatos”.

+ “Um homem é digno de fé ou não o é, não somente pelo que faz, mas também é pelo que quer”.

+ “A verdadeira formosura e o ornamento mais precioso da mulher é falar pouco e ponderadamente.”

+ “Todo país da terra está aberto ao homem sábio, porque a pátria do homem virtuoso é o universo inteiro”.

+ “Quem de boa vontade se lança a obras justas e lícitas, dia e noite está alegre, seguro e despreocupado”.

+ "Toda belicosidade é insensata; pois enquanto se busca prejudicar o inimigo, esquecemos o nosso próprio interesse."

+ “O animal é tão ou mais sábio do que o homem: conhece a medida da sua necessidade, enquanto o homem a ignora.”

+ “A morte não nos concerne, pois quando vivemos, a morte não está aqui. E quando ela chega, não estamos mais vivos.”

+ “Ainda que estejas só, não deves dizer nem fazer nada ruim. Aprende a envergonhar-te mais ante ti do que ante os demais.”

+ “A natureza e a educação são algo semelhante, pois a educação transforma o homem e o transformando lhe constitui a natureza”.

+ “A vida má, sem moderação, desprovida de entendimento e de respeito pelo sagrado não é uma vida má, mas um morrer lentamente.”

+ "Por trás das melhores razões, muitas vezes estão às ações mais vergonhosas cometidas pelos formuladores de tais razões".

+ “Convém ao homem dar maior atenção à alma do que ao corpo, pois a excelência da Alma corrige a fraqueza do corpo; a fraqueza do corpo, contudo, sem a razão, é incapaz de melhorar a Alma.”

+ “Quem evita o injusto apenas por temor à lei provavelmente cometerá o mal em segredo; quem, ao contrário, for levado ao dever pela convicção provavelmente não cometerá o injusto nem em segredo nem abertamente. Por isto, quem agir corretamente em compreensão e entendimento mostrar-se-á corajoso e correto de pensamento”. 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

BARNES, Jonathan. Filósofos pré-socráticos. Tradução: Julio, Fischer. São Paulo: Martins Fontes. 1997.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA. 1996.

DUMONT, Jean. Paul. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005.

DURANT, Will. História da Filosofia: A Vida e as Ideias dos Grandes Filósofos. São Paulo: Editora Nacional, 1926.

FRANCA, Leonel. Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro: Livraria agir editora: 1954.

HARVEY, Paul. Dicionário Oxford de Literatura Clássica Grega e Latina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB. 2008.

MCKIRAHAN, Richard. A filosofia antes de Sócrates: uma introdução aos textos. São Paulo: Paulus, 2013.

PLUTARCO. Vidas Paralelas. Trad. Carlos Alcade Martín e Marta González González. Madrid: Gregos, 2010.

REALE, Giovanni. História da filosofia grega e romana. São Paulo: Loyola. 2010.

RIBEIRO, Daniel. Demócrito de Abdera. Revista Ciência elementar. Vol. 3. N; 03. Porto: casa das ciências, 2015.

SANTOS, Eberth Eleutério. Leucipo, Démocrito e Kant: Uma reflexão sobre a equivalência entre ser e não-ser. Campina Grande: UFCG, 2015.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega. 2ª Ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2003.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: PUC. 1965.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Leucipo de Mileto

Leucipo de Mileto – (500 a 420) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga que era considerado um dos idealizadores do “atomismo”. Muitos pesquisadores acreditam que foi Leucipo o primeiro filósofo a afirmar que todo o universo era feito de átomos. A partir daí, ele lançou as primeiras bases sobre a teoria do atomismo. Foi mestre do filósofo Demócrito de Abdera que também o ajudou a desenvolver e concluir a teoria atomista. Escreveu uma obra intitulada de “a grande cosmologia”, esta obra parece ter sido também a mesma de nome “Grande ordem do mundo”. A sua escola de pensamento ficou afamada como escola atomista ou escola de Abdera. Historiadores afirmam que Leucipo seria reconhecido como sendo de Abdera devido o nome da escola de sua fundação, mas que provavelmente ele tenha nascido em Mileto. Os pesquisadores da filosofia acreditam na possibilidade de Leucipo ter sido aluno de Parmênides e do Zenão de Eléia, dessa forma, provavelmente ele teria sofrido grande influência da escola eleática, bem como também da escola pluralista. Não se sabe ao certo o ano exato de seu florescimento, mas se cogita que tenha sido entre os anos de (500 a 420) a.C.

Filosofia Atomista

Na sua teoria filosófica, Leucipo abriu mão dos conceitos tradicionais da época que explicavam os fenômenos pela dicotomia entre “ser” e “não-ser”, desse modo, ele atribuiu um valor material para essas compreensões, passando a desenvolver a noção de “cheio” e “vazio”, pois, isso definiria melhor a explicação do surgimento e existência das coisas. Para ele, existiam infinitas partículas mínimas da matéria que eram o princípio de todas as coisas, ou seja, essas partículas seriam a menor quantidade da matéria existente na natureza. Sua visão do átomo era descrita como sendo uma partícula mínima da matéria que não poderia mais ser dividida. Eram partículas invisíveis, indivisíveis, compactas e imutáveis que representavam a “arché” do universo. Esses átomos se diferenciavam pela noção de tamanho, forma e disposição.

Ele afirmava que o mundo seria formado por átomos e pelo vazio existente entre eles. Assim sendo, os átomos formavam a matéria e a matéria se tornava essencialmente infinita, em número e forma, dessa maneira, o átomo seria, então, o princípio de todas as coisas. Seu conceito de “arché” seria um princípio absoluto entre o átomo e o vazio, pois ele explicava que o átomo precisaria de espaços vazios ao seu redor para se movimentar, caso contrário, se não houvesse o vácuo, não seria possível haver movimento. Nesse sentido, ele definia o “ser” como sendo o “átomo” e o “não-ser” como sendo o “vácuo”. O átomo e o vazio formavam uma unidade, ou seja, o átomo isoladamente não representava nada, ele precisaria do espaço vazio para compor a ideia de unidade principiológica da matéria.  

Filosofia Cosmológica

De acordo com alguns pesquisadores, a teoria de Leucipo pregava a ideia do mundo como sendo um grande sistema cósmico. Para Leucipo, o “todo” seria composto de dois elementos básicos: o “cheio” e o “vazio”, daí os mundos seriam formados quando os átomos se aglomeravam e do movimento desses átomos iriam surgindo as estrelas e os demais astros. Leucipo dizia que em uma região hipotética do universo, alguns átomos de diversos formatos saiam do ilimitado para um imenso espaço vazio, esse movimento aleatório fazia com que os átomos se colidissem e se afastassem, gerando ainda mais movimento entre eles. Então, como uma espécie de redemoinho no espaço, esses átomos giravam e se desequilibravam formando coisas, como um sistema esférico primário. Essa aglomeração de átomos seguia seu fluxo em direção ao centro, formando assim os mundos. Todavia, se ao girar, alguns desses átomos se desprendessem do centro, eles entrariam em combustão e se transformariam em estrelas. Ele explicava que o átomo era imutável, porém vários átomos se combinados de maneira diferente poderiam formar outras partículas da matéria. Dessa forma, os átomos se aglutinavam por afinidade, ou seja, quanto mais parecidos e idênticos, mais eles se juntavam. Na gênese do atomismo, ele descrevia como a matéria poderia ser dividida até chegar a uma parte mínima e indivisível. Não acreditava na morte e nem no nascimento dos átomos, pois sua essência estaria na ideia de aglomeração e separação dessas partículas.

Filosofia da Mente

Além da teoria atomista, Leucipo também formulou uma teoria de explicação da percepção humana em que teorizava que o pensamento era criado na mente humana a partir de estímulos experimentados pelo corpo, essas assimilações seriam proporcionadas por partes de átomos que eram absorvidos pelo corpo através de imagens. Nesse sentido, ele entendia que os objetos emitiam pequenos fragmentos que atingiam os órgãos sensoriais do corpo humano, como, por exemplo, a visão. Os sentidos não seriam capazes de perceber nitidamente a existência dos átomos, ou seja, por isso não poderiam ser vistos claramente, mas eles poderiam ser pensados e percebidos, isto é, o pensamento e a intuição eram capazes de percebê-los. Nesse contexto, os sentidos eram capazes de perceberem uma realidade transitória, que se modificava constantemente, por essa razão, criava-se a ideia de ilusão perceptiva, ou seja, as transformações seriam percebidas, mas os átomos que constituem a realidade das coisas eram inalteráveis. Leucipo tinha uma visão muito materialista da realidade e dizia que o ser humano só poderia conhecer aquilo que estaria ligado ao mundo material, dessa forma, ele dizia não acreditar em divindades. Compreendia que alma seria formada por átomos com formatos mais arredondados que os demais. Alguns pensadores atribuem às ideias dos primeiros atomistas como sendo o início da Química.

Obras:

- A grande Cosmologia

- Sobre o Espírito

Filosofia Sapiencial

- “Os átomos estão sempre em movimento no espaço”.

- “A alma é idêntica ao que produz movimento nos animais”

- “Não se pode verdadeiramente saber o que cada coisa realmente é”.

- “Eu me recuso a acreditar que o Sol, a Lua e as estrelas são seres vivos”.

- “Nada acontece ao acaso, mas tudo a partir da razão, e por necessidade”.

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

BARNES, Jonathan. Filósofos pré-socráticos. Trad. Julio, Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo. Nova Cultura LTDA. 1996.

GAARDER, Jostein. O mundo de sofia: Romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

GOMES, Pinharanda. Filosofia Grega Pré-Socrática. Lisboa: Guimarães Editora, 1994.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MARCONDES, Danilo. Iniciação a História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

MATTEO, Andolfo. Atomistas Antigos: Testemunhos e Fragmentos. Milão: Bompiani, 2001.

REALE, Giovanni. História da filosofia grega e romana. São Paulo: Loyola, 2010.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ªed. Vol.1. São Paulo: Paulus,1990.

RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental. São Paulo: Companhia editora nacional. 1957.

SANTOS, Eberth Eleutério. Leucipo, Demócrito e Kant: Uma reflexão sobre a equivalência entre ser e não-ser. Campina Grande: Vol. 38. UFCG. 2015.

SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto, 2010.

SIMPLICÍO. Física.  Trad. Alexandre Costa. Anais de filosofia clássica. Vol. 3. N; 06. UFRJ. 2009.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.