Protágoras de
Abdera – (480 a 410) a.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi um filósofo
sofista da Grécia antiga que ficou conhecido por ter desenvolvido uma linha de
pensamento relativista. Sua filosofia se estabeleceu na transição entre o
período pré-socrático e o período clássico, isto é, na chamada fase
antropológica. Este sofista assentava sua reflexão na provável capacidade de
conhecer do homem. Protágoras era de
família humilde, e por isso exercia atividades manuais para manter sua
subsistência. Essas atividades laborais possibilitaram ao jovem filósofo a
invenção de alguns utensílios relacionados aos seus trabalhos. Depois disso,
passou a cobrar pelo ensino das lições que dava aos cidadãos, a partir daí se
intitulou de sofista, fazendo do conhecimento uma profissão. É chamado por muitos
historiadores como sendo o pai do sofismo. Ele se apresentava como sendo mestre
na arte da argumentação lógica. Entre seus estudos, estar à exploração das
questões relacionadas à ética e a política. Lecionou disciplinas sobre poesia,
oratória e gramática na cidade de Atenas. Teria sido acusado de ateísmo e teve
parte de sua obra queimada em praça pública. Ademais, sofreu perseguição
política, sendo banido da cidade de Atenas. Foi um grande amigo do estadista
Péricles e cogita-se a hipótese, entre os historiadores, de que Protágoras
teria estudado com alguns magos da Pérsia. Em razão de suas convicções
democráticas e sociais, ele foi escolhido para elaborar a constituição da
cidade de Túrios. Platão chegou a citar esse filósofo em vários de seus
diálogos, tendo inclusive dado o nome a um deles de “Protágoras”. Nasceu por
volta de 480 a.C, em Abdera e faleceu em um naufrágio a caminho da região da Sicília,
no sul da Itália, aproximadamente, em 410 a.C.
Filosofia
do Conhecimento
Protágoras ficou
afamado na História da Filosofia pela frase: "O
homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, e das
coisas que não são, enquanto não são.". Para Protágoras, o
pensamento seria relativo, por isso ele acreditava que não existia uma verdade
absoluta. Assim sendo, ele descrevia que se o homem era a medida de todas as
coisas, então nada poderia ser medido de forma absoluta pelos os homens. Daí,
todos os valores sociais poderiam até ser medidos em uma sociedade, mas não
necessariamente em outras, e também não obrigatoriamente em outro tempo. Segundo
alguns pesquisadores, o referido relativismo de Protágoras pode ser denunciado
em algumas de suas afirmações, entre as quais, a que dizia que enquanto uma
mesma ideia poderia ser boa para uma pessoa, ela também poderia ser má para
outra pessoa, da mesma forma, o contrário, ou seja, o que é mau para alguns
pode ser bom para outros. Protágoras
também acreditava que as coisas são conhecidas de forma particular pelo homem,
e que cada indivíduo observa as coisas da sua própria maneira. Ele explicava
que não seria possível realizar uma concreta explicação sobre o que “as coisas
são”, desse modo, não seria possível também dizer o que “as coisas não-são”,
nesse sentido, logicamente, restaria ao homem apenas explanar a respeito
daquilo que ele perceberia no mundo, ou seja, “a coisa em si”. Nessa
perspectiva ele afirmava que: “não conhecemos os objetos como eles
verdadeiramente são, mas como ele nos parecem ser, não a essência deles, e sim
a aparência deles”.
De
acordo com Protágoras, cada indivíduo possuiria uma subjetividade única que
tornaria seu pensamento uma particularidade. Devido o relativismo do seu
pensamento, ele acreditava que os homens deveriam desenvolver seus conceitos e
opiniões, para que assim, pudessem ser produtores de suas próprias histórias e
construtores de seus destinos no mundo. Além dos seus estudos centrados na
subjetividade do ser, ele também se empenhou nas questões direcionadas
ao “não-ser”. Por exemplo, no seu conceito de “homo-mensura” (O
homem é a medida de todas as coisas) ele definia que a “medida” seria
o juízo e que as “coisas” eram as experiências das pessoas.
Dentro de sua visão teórica, ele explicava maneiras de argumentar e também
ensinava técnicas de convencimento, desse modo, afirmava que o sofismo tinha a
capacidade de expressar ideias com justiça. Nesse contexto, contrariando os
ideais sobre a verdade absoluta, ele explicava que o que existia eram conceitos
oportunos para um momento específico, ou seja, a verdade seria aquela útil para
uma ocasião específica. Por isso, o verdadeiro sábio, para ele, seria uma
pessoa que conseguisse convencer os outros indivíduos sobre uma determinada
vantagem para cada momento singular. Segundo sua visão, cada homem fazia seu
julgamento conforme seu próprio modo de ver as coisas, isto é, de acordo com
seu entendimento. Nessa perspectiva, seus estudos foram muitos importantes para
o desenvolvimento da epistemologia.
Filosofia
da Linguagem
Em
sua obra “As antilogias”, ele defendia a ideia de que o debate
sobre um assunto se resumia a duas ideias coerentes em si mesmas, mas que se
contradiziam uma com a outra, ao mesmo tempo. Como se o contraditório pudesse
coexistir, assim sendo ele dividia a contradição em uma antilogia¹. Daí, nesse
jogo de antilogias, o homem seria como um peso em uma balança, em que decidiria
qual caminho escolher. A cada argumento se oporia outro de igual força, dessa
maneira, Protágoras sofreu influência de Heráclito de Éfeso, pois afirmava que
o princípio e o fim de todas às coisas estaria na imanência reciproca dos
contrários. Por isso, a retórica seria a principal virtude do homem, desse modo,
ele conseguia tornar mais forte o argumento que a princípio parecia mais fraco.
De acordo com suas ideias, seria possível apresentar razões diferentes que se
anulam de maneira recíproca, ou seja, tanto seria possível defender um
argumento como também contradizer o mesmo argumento. A virtude do homem sábio
estaria na habilidade de fazer valer qualquer raciocínio, tanto de um ponto de
vista, como também do contrário. Segundo Protágoras, a antilogia designaria o
método de produzir argumentos a favor e contra qualquer questão, para tornar
mais forte o argumento mais fraco.
Filosofia
da Religião
Afirmava
que as religiões e os deuses eram criados por convenções humanas. Protágoras
foi acusado no seu tempo de ser ateísta, e por isso foi perseguido, tendo
fugido e vivido no exílio. Por conta de seu ceticismo religioso, acabou tendo
suas obras queimadas em praça pública. Acreditava que o homem não poderia
afirmar se Deus existia ou não, pois a resposta para essas questões dependeria
de uma soma de outras incertezas e obscuridades. Dizia que as questões divinas
estavam além da capacidade de compreensão do ser humano, desse modo, o homem
possuiria limitações para esses saberes. Nesse sentido, o homem estaria sempre
criando argumentos de afirmação a favor e contra a existência dos deuses. Seu
pensamento de que o homem era a medida de todas as coisas, inaugurava a ideia
de que a razão dependeria de uma experiência individual e própria de cada ser.
Esse relativismo estava ligado a um ponto de vista de cada um. Explicava que o
fato da vida humana ser breve limitava o ser humano a compreender as
experiências relacionadas às divindades. Por isso, seu suposto ateísmo estaria
relacionado apenas, à ideia de que a razão humana possuiria limites para
compreensão dos fenômenos metafísicos. Dessa maneira, não seria possível ao
homem determinar de forma absoluta, o que era o bem e o mal. Para alguns
pesquisadores, Protágoras não se encaixava propriamente em uma vertente de
pensamento ateísta, mas sim em uma concepção denominada agnóstica.
Filosofia
da Educação
Afirmava que o Estado deveria ser o principal responsável pela formação dos cidadãos. Entre suas ideias, ele ressaltava a importância da pena como instrumento de recuperação do criminoso, juntando esse conceito com uma doutrina sobre a educação pública. Portanto, ele definia a moral e a justiça como virtudes que poderiam ser adquiridas pela “Paidéia”, ou seja, pela educação grega. Sua teoria do “homem-mensura” inaugurou o relativismo e o subjetivismo como ideias na teoria do conhecimento, desse modo, ele estabeleceu que o objeto de seu estudo fosse à prudência. Seu relativismo é visto por alguns teóricos como sendo muito radical, pois negava a existência tanto do que era a verdade, bem como também, do que seria falso. Assim, não poderia existir um critério comparativo para definir o que seria verdadeiro e o que seria falso. Ninguém estaria absolutamente errado, mas cada um estaria com a verdade, ou seja, a sua verdade relativa. Cada um seria seu próprio critério para definir o que é certo e errado. Nesse sentido, não existiria nenhum critério absoluto que pudesse presumir se algo seria falso ou verdadeiro. Seguindo seu raciocínio, as convenções sociais ditavam as regras morais que serviam de norte para orientar a educação dos homens.
Protágoras
- Diálogo platônico
A obra de Platão descrevia um diálogo entre alguns personagens que tratavam sobre ideias relacionadas à virtude e a sabedoria. Entre os principais personagens estavam Sócrates e Protágoras. O principal questionamento da obra era sobre, a possibilidade ou não, de ser possível ensinar a virtude, de acordo com as definições pensadas entre os interlocutores. Protágoras no início do debate acreditava que a virtude poderia sim ser ensinada, já Sócrates achava que não era possível. No final do diálogo, eles mudam de opinião e Protágoras reconhece sua ignorância e passa, então, a achar que a virtude, talvez, realmente não possa ser ensinada, enquanto que Sócrates passa, então, a acreditar que existe uma possibilidade da virtude ser ensinada. O impasse persiste entre eles sem que se chegue a uma conclusão concreta. Ao final, Sócrates se aproxima de uma possível definição de que sabedoria e virtude talvez seja a mesma coisa. O principal conflito de ideias entre os argumentos dos dois estava na natureza da definição dada por cada um, sobre o que era a virtude ou “aretê”, após cada um explanar sua ideia e argumentar o conceito de virtude dentro de um contexto, e de sua visão de mundo, os dois passaram a analisar a questão de outra maneira, isto é, do ponto de vista do outro, porém sem chegar a uma solução definitiva ou a um denominador comum.
Filosofia
Sapiencial
+
“O homem é a medida da realidade”
+ “O homem é a medida do universo.”.
+
“Existem dois lados para cada pergunta”.
+
“Sobre os deuses não posso saber se existem ou se não existem”.
+
“Toda a vida do homem tem necessidade de ordem e de adaptação”.
+
“Sobre qualquer questão existem dois argumentos contrários entre si”.
+ “Muitas coisas
impedem o conhecimento, incluindo a obscuridade do tema e a brevidade da vida
humana”.
+ "Tal como
cada coisa se apresenta para mim, assim ela é para mim, tal como ela se
apresenta para ti, assim ela é para ti.”
+
"O Homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que
são e daquelas que não são por aquilo que não são.”
+
“Quando se trata de considerar como administrar bem a cidade, deve-se proceder
inteiramente com justiça e bom senso.”
+ “Todo o
argumento permite sempre a discussão de duas teses contrárias, inclusive este
de que a tese favorável e contrária são igualmente defensáveis”.
+
“Das coisas belas umas são belas por natureza e outras por lei, mas as coisas
justas não são justas por causa da natureza, os homens estão continuamente
disputando pela justiça e a alteram também continuamente”.
Obras:
-
As Antilogias
-
Sobre a verdade e Sobre o ser
-
Grandes discursos
-
Raciocínios demolidores
-
Tratado Sobre os Deuses
-
Técnica Erística
-
Sobre as Lutas
-
Das Virtudes e Ambições
Fontes:
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Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.
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O efeito sofístico: Sofística, filosofia, retórica, literatura. São Paulo:
Editora 34, 2005.
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Jean. Paul. Elementos de história da filosofia antiga.
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1933.
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Oliva. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
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Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed.
Brasília. UnB, 2008.
RIBEIRO, Luís
Felipe Bellintani. História da filosofia I. Florianópolis:
Filosofia/Ead/UFSC, 2008.
PLATÃO. Protágoras.
Trad. Carlos Alberto Nunes, Ed. UFPA, 2002.
_________________ Teeteto.
Trad. Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2007.
Notas:
_________________
¹ Antilogia significa contradição, antilógico,
ilógico, ou seja, contrário à razão.
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