segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Protágoras de Abdera

Protágoras de Abdera – (480 a 410) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo sofista da Grécia antiga que ficou conhecido por ter desenvolvido uma linha de pensamento relativista. Sua filosofia se estabeleceu na transição entre o período pré-socrático e o período clássico, isto é, na chamada fase antropológica. Este sofista assentava sua reflexão na provável capacidade de conhecer do homem. Protágoras era de família humilde, e por isso exercia atividades manuais para manter sua subsistência. Essas atividades laborais possibilitaram ao jovem filósofo a invenção de alguns utensílios relacionados aos seus trabalhos. Depois disso, passou a cobrar pelo ensino das lições que dava aos cidadãos, a partir daí se intitulou de sofista, fazendo do conhecimento uma profissão. É chamado por muitos historiadores como sendo o pai do sofismo. Ele se apresentava como sendo mestre na arte da argumentação lógica. Entre seus estudos, estar à exploração das questões relacionadas à ética e a política. Lecionou disciplinas sobre poesia, oratória e gramática na cidade de Atenas. Teria sido acusado de ateísmo e teve parte de sua obra queimada em praça pública. Ademais, sofreu perseguição política, sendo banido da cidade de Atenas. Foi um grande amigo do estadista Péricles e cogita-se a hipótese, entre os historiadores, de que Protágoras teria estudado com alguns magos da Pérsia. Em razão de suas convicções democráticas e sociais, ele foi escolhido para elaborar a constituição da cidade de Túrios. Platão chegou a citar esse filósofo em vários de seus diálogos, tendo inclusive dado o nome a um deles de “Protágoras”. Nasceu por volta de 480 a.C, em Abdera e faleceu em um naufrágio a caminho da região da Sicília, no sul da Itália, aproximadamente, em 410 a.C.

Filosofia do Conhecimento 

Protágoras ficou afamado na História da Filosofia pela frase: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são."Para Protágoras, o pensamento seria relativo, por isso ele acreditava que não existia uma verdade absoluta. Assim sendo, ele descrevia que se o homem era a medida de todas as coisas, então nada poderia ser medido de forma absoluta pelos os homens. Daí, todos os valores sociais poderiam até ser medidos em uma sociedade, mas não necessariamente em outras, e também não obrigatoriamente em outro tempo. Segundo alguns pesquisadores, o referido relativismo de Protágoras pode ser denunciado em algumas de suas afirmações, entre as quais, a que dizia que enquanto uma mesma ideia poderia ser boa para uma pessoa, ela também poderia ser má para outra pessoa, da mesma forma, o contrário, ou seja, o que é mau para alguns pode ser bom para outros. Protágoras também acreditava que as coisas são conhecidas de forma particular pelo homem, e que cada indivíduo observa as coisas da sua própria maneira. Ele explicava que não seria possível realizar uma concreta explicação sobre o que “as coisas são”, desse modo, não seria possível também dizer o que “as coisas não-são”, nesse sentido, logicamente, restaria ao homem apenas explanar a respeito daquilo que ele perceberia no mundo, ou seja, “a coisa em si”. Nessa perspectiva ele afirmava que: “não conhecemos os objetos como eles verdadeiramente são, mas como ele nos parecem ser, não a essência deles, e sim a aparência deles”.

De acordo com Protágoras, cada indivíduo possuiria uma subjetividade única que tornaria seu pensamento uma particularidade. Devido o relativismo do seu pensamento, ele acreditava que os homens deveriam desenvolver seus conceitos e opiniões, para que assim, pudessem ser produtores de suas próprias histórias e construtores de seus destinos no mundo. Além dos seus estudos centrados na subjetividade do ser, ele também se empenhou nas questões direcionadas ao “não-ser”. Por exemplo, no seu conceito de “homo-mensura” (O homem é a medida de todas as coisas) ele definia que a “medida” seria o juízo e que as “coisas” eram as experiências das pessoas. Dentro de sua visão teórica, ele explicava maneiras de argumentar e também ensinava técnicas de convencimento, desse modo, afirmava que o sofismo tinha a capacidade de expressar ideias com justiça. Nesse contexto, contrariando os ideais sobre a verdade absoluta, ele explicava que o que existia eram conceitos oportunos para um momento específico, ou seja, a verdade seria aquela útil para uma ocasião específica. Por isso, o verdadeiro sábio, para ele, seria uma pessoa que conseguisse convencer os outros indivíduos sobre uma determinada vantagem para cada momento singular. Segundo sua visão, cada homem fazia seu julgamento conforme seu próprio modo de ver as coisas, isto é, de acordo com seu entendimento. Nessa perspectiva, seus estudos foram muitos importantes para o desenvolvimento da epistemologia.

Filosofia da Linguagem

Em sua obra “As antilogias”, ele defendia a ideia de que o debate sobre um assunto se resumia a duas ideias coerentes em si mesmas, mas que se contradiziam uma com a outra, ao mesmo tempo. Como se o contraditório pudesse coexistir, assim sendo ele dividia a contradição em uma antilogia¹. Daí, nesse jogo de antilogias, o homem seria como um peso em uma balança, em que decidiria qual caminho escolher. A cada argumento se oporia outro de igual força, dessa maneira, Protágoras sofreu influência de Heráclito de Éfeso, pois afirmava que o princípio e o fim de todas às coisas estaria na imanência reciproca dos contrários. Por isso, a retórica seria a principal virtude do homem, desse modo, ele conseguia tornar mais forte o argumento que a princípio parecia mais fraco. De acordo com suas ideias, seria possível apresentar razões diferentes que se anulam de maneira recíproca, ou seja, tanto seria possível defender um argumento como também contradizer o mesmo argumento. A virtude do homem sábio estaria na habilidade de fazer valer qualquer raciocínio, tanto de um ponto de vista, como também do contrário. Segundo Protágoras, a antilogia designaria o método de produzir argumentos a favor e contra qualquer questão, para tornar mais forte o argumento mais fraco.

Filosofia da Religião

Afirmava que as religiões e os deuses eram criados por convenções humanas. Protágoras foi acusado no seu tempo de ser ateísta, e por isso foi perseguido, tendo fugido e vivido no exílio. Por conta de seu ceticismo religioso, acabou tendo suas obras queimadas em praça pública. Acreditava que o homem não poderia afirmar se Deus existia ou não, pois a resposta para essas questões dependeria de uma soma de outras incertezas e obscuridades. Dizia que as questões divinas estavam além da capacidade de compreensão do ser humano, desse modo, o homem possuiria limitações para esses saberes. Nesse sentido, o homem estaria sempre criando argumentos de afirmação a favor e contra a existência dos deuses. Seu pensamento de que o homem era a medida de todas as coisas, inaugurava a ideia de que a razão dependeria de uma experiência individual e própria de cada ser. Esse relativismo estava ligado a um ponto de vista de cada um. Explicava que o fato da vida humana ser breve limitava o ser humano a compreender as experiências relacionadas às divindades. Por isso, seu suposto ateísmo estaria relacionado apenas, à ideia de que a razão humana possuiria limites para compreensão dos fenômenos metafísicos. Dessa maneira, não seria possível ao homem determinar de forma absoluta, o que era o bem e o mal. Para alguns pesquisadores, Protágoras não se encaixava propriamente em uma vertente de pensamento ateísta, mas sim em uma concepção denominada agnóstica.  

Filosofia da Educação

Afirmava que o Estado deveria ser o principal responsável pela formação dos cidadãos. Entre suas ideias, ele ressaltava a importância da pena como instrumento de recuperação do criminoso, juntando esse conceito com uma doutrina sobre a educação pública. Portanto, ele definia a moral e a justiça como virtudes que poderiam ser adquiridas pela “Paidéia”, ou seja, pela educação grega. Sua teoria do “homem-mensura” inaugurou o relativismo e o subjetivismo como ideias na teoria do conhecimento, desse modo, ele estabeleceu que o objeto de seu estudo fosse à prudência. Seu relativismo é visto por alguns teóricos como sendo muito radical, pois negava a existência tanto do que era a verdade, bem como também, do que seria falso. Assim, não poderia existir um critério comparativo para definir o que seria verdadeiro e o que seria falso. Ninguém estaria absolutamente errado, mas cada um estaria com a verdade, ou seja, a sua verdade relativa. Cada um seria seu próprio critério para definir o que é certo e errado. Nesse sentido, não existiria nenhum critério absoluto que pudesse presumir se algo seria falso ou verdadeiro. Seguindo seu raciocínio, as convenções sociais ditavam as regras morais que serviam de norte para orientar a educação dos homens.

Protágoras - Diálogo platônico

A obra de Platão descrevia um diálogo entre alguns personagens que tratavam sobre ideias relacionadas à virtude e a sabedoria. Entre os principais personagens estavam Sócrates e Protágoras. O principal questionamento da obra era sobre, a possibilidade ou não, de ser possível ensinar a virtude, de acordo com as definições pensadas entre os interlocutores. Protágoras no início do debate acreditava que a virtude poderia sim ser ensinada, já Sócrates achava que não era possível. No final do diálogo, eles mudam de opinião e Protágoras reconhece sua ignorância e passa, então, a achar que a virtude, talvez, realmente não possa ser ensinada, enquanto que Sócrates passa, então, a acreditar que existe uma possibilidade da virtude ser ensinada. O impasse persiste entre eles sem que se chegue a uma conclusão concreta. Ao final, Sócrates se aproxima de uma possível definição de que sabedoria e virtude talvez seja a mesma coisa. O principal conflito de ideias entre os argumentos dos dois estava na natureza da definição dada por cada um, sobre o que era a virtude ou “aretê”, após cada um explanar sua ideia e argumentar o conceito de virtude dentro de um contexto, e de sua visão de mundo, os dois passaram a analisar a questão de outra maneira, isto é, do ponto de vista do outro, porém sem chegar a uma solução definitiva ou a um denominador comum.

Filosofia Sapiencial

+ “O homem é a medida da realidade”

+ “O homem é a medida do universo.”.

+ “Existem dois lados para cada pergunta”.

+ “Sobre os deuses não posso saber se existem ou se não existem”.

+ “Toda a vida do homem tem necessidade de ordem e de adaptação”.

+ “Sobre qualquer questão existem dois argumentos contrários entre si”.

+ “Muitas coisas impedem o conhecimento, incluindo a obscuridade do tema e a brevidade da vida humana”.

+ "Tal como cada coisa se apresenta para mim, assim ela é para mim, tal como ela se apresenta para ti, assim ela é para ti.”

+ "O Homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são.”

+ “Quando se trata de considerar como administrar bem a cidade, deve-se proceder inteiramente com justiça e bom senso.”

+ “Todo o argumento permite sempre a discussão de duas teses contrárias, inclusive este de que a tese favorável e contrária são igualmente defensáveis”.

+ “Das coisas belas umas são belas por natureza e outras por lei, mas as coisas justas não são justas por causa da natureza, os homens estão continuamente disputando pela justiça e a alteram também continuamente”.

 

Obras:

- As Antilogias

- Sobre a verdade e Sobre o ser 

- Grandes discursos

- Raciocínios demolidores

- Tratado Sobre os Deuses

- Técnica Erística

- Sobre as Lutas

- Das Virtudes e Ambições

 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

CASERTANO, Giovanni. Sofistas. São Paulo: Paulus, 2010.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Editora Ática, 2000.

CASSIN, Barbara. O efeito sofístico: Sofística, filosofia, retórica, literatura. São Paulo: Editora 34, 2005.

DHERBEY, Gilbert. Os Sofistas. Trad. João Amado. Lisboa: Edições 70, 1999.

DUMONT, Jean. Paul. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005.

EMPIRICO, Sexto. Esboços Pirrônicos. Cambridge: Harvard University Press, 1933.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas. Dissertatio Filosofia. 2014.

HUISMAN, Denis. Dicionário dos Filósofos. Martins Fontes, 2001.

KENNY, Anthony. História Concisa da Filosofia Ocidental. Lisboa: Temas e Debates, 1999.

KERFERD. George. O movimento sofista. trad. Margarida Oliva. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

KIRK, Geoffrey. RAVEN, John. Os Filósofos pré-socráticos. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília. UnB, 2008.

RIBEIRO, Luís Felipe Bellintani. História da filosofia I. Florianópolis: Filosofia/Ead/UFSC, 2008.

PLATÃO. Protágoras. Trad. Carlos Alberto Nunes, Ed. UFPA, 2002.

_________________ Teeteto. Trad. Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2007.

 

Notas:

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¹ Antilogia significa contradição, antilógico, ilógico, ou seja, contrário à razão.


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