domingo, 27 de agosto de 2023

Hermas de Roma

Hermas de Roma – (80 a 170) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo romano que viveu no período de transição entre a filosofia helenística e a filosofia medieval. Direcionou seus estudos para o campo da filosofia teológica. Era considerado um dos patriarcas da literatura apostólica. Ficou conhecido como o “Pastor de Hermas”, por conta do livro “o pastor” que teria sido escrito por ele. Contudo, acredita-se que seu irmão de nome Pio, que era um conceituado bispo da cátedra de Roma, teria lhe ajudado a escrever a obra, pois Hermas era iletrado e não sabia escrever muito bem. Hermas era de origem pobre, inclusive chegou a ser vendido como escravo, porém uma mulher, de nome Rosa, com boas condições, teria lhe comprado e depois o libertou, tendo ele adquirido um matrimônio com essa senhorita. Após conquistar sua liberdade, Hermas tornou-se um homem de grandes posses. Nesse contexto, a obra teria um viés autobiográfico, pois alguns fatos do texto de Hermas, e da sua vida, possuem certa correspondência. A obra foi encontrada em vários pergaminhos e manuscritos antigos, que foram preservados, em formatos de códices. Não existe, ao certo, um consenso exato do ano em que a obra foi precisamente escrita, porém, alguns pesquisadores, presumem que tenha sido, aproximadamente, no decorrer de (142 a 150) d.C. Diante de alguns documentos e fatos históricos, especula-se que Hermas tenha florescido entre os anos de (80 a 170) d.C.

Filosofia Moral

Dissertou a respeito dos conceitos morais que fundamentavam as primeiras doutrinas orientadas pela igreja. Defendia a ideia de que igreja seria uma instituição necessária para a condição de salvação da alma humana. A principal preocupação de Hermas era com a ideia de penitência, por isso ele advertia aos fieis, sobre a possibilidade de arrependimento dos seus pecados. Acreditava que existia uma nova possibilidade de perdão além do batismo. Discorria sobre a importância da piedade como virtude cristã e sobre a necessidade de santificação do homem, para se alcançar a misericórdia divina. Fazia algumas revelações de cunho metafísico, em que trazia a tona conhecimentos transcendentes. Os ensinamentos apresentavam visões que ensinavam a respeito da vida sacra e como se aproximar de Deus. Para ele, a noção de Deus era representada, com a noção de “trindade” estando inserida dentro da ideia de “dualidade”, pois ele dividia essa concepção como sendo, apenas “Deus-Pai” e “Deus-Espírito-Filho”.

Filosofia Eclesiológica

O livro o Pastor de Hermas quase chegou a ser escolhido para fazer parte dos livros bíblicos do novo testamento, sendo considerado, na época, um dos livros mais populares da igreja primitiva. Posteriormente ele foi incluído na lista dos livros tidos como apócrifos pela igreja católica. O estudo dessa obra revela importantes questões culturais que servem de base para a compreensão da relação que existia entre Roma e a igreja católica. Sua compilação dissertava a respeito de alguns temas eclesiológicos e também trazia explanações de cunho social. Utilizava-se de algumas alegorias para simbolizar a estruturação da igreja, revelando que a anciã mencionada nos textos representava a igreja, por ter sido criada há muito tempo, antes de todas as coisas. Já o pastor seria a personificação de um anjo que surgia para orientá-lo e protegê-lo.

A obra foi muito utilizada no cristianismo primitivo como instrumento de orientação para os novos membros da igreja, pontuando preceitos religiosos e questões ligadas ao sacramento. Advertia aos fieis sobre a relevância do jejum, do celibato e do martírio. Explicava que, enquanto a igreja estivesse no mundo estaria constantemente em construção, edificando seu aprimoramento, até os últimos dias do juízo final. Seu trabalho foi dividido basicamente, em visões, mandamentos e parábolas, sendo considerada uma produção que orientava sobre o mundo apocalíptico, convidando o cristão a se arrepender antes que fosse tarde demais, porém ela também anunciava elementos éticos e apologéticos, a respeito de uma boa conduta.

Filosofia Sapiencial

+ “É necessário arrancar da miséria todo homem”.

+ “O verdadeiro profeta é calmo, sereno e humilde”.

+ “Afasta de ti a tristeza, pois ela é irmã da dúvida e da cólera”.

+ “A paciência é mais doce do que o mel e a ira, porém, é amarga e inútil”.

+ “Quando o homem indeciso descumpre um propósito, a tristeza toma conta da alma”

+ “A dúvida, não tendo fé total em si mesma, falha em toda obra em que empreende”.

+ “Aquele, pois, que livrar uma pessoa da necessidade, adquire para si uma grande alegria”.

+ “Purifique o seu coração de todas as vaidades do mundo, do mal e do pecado. Purifique sua alma da dúvida, vista-a dá-lhe fé, porque a fé é poderosa, e creio firmemente que Deus ouvirá todas as suas súplicas”.

+ “Dois anjos acompanham o homem, um da justiça e outro do mal... O anjo da justiça é delicado e modesto e manso e calmo. Então, quando este anjo entrar em seu coração, ele imediatamente falará com você sobre justiça, pureza, santidade, para se contentar com o que você tem, sobre todo trabalho justo e toda virtude reconhecida. Quando você sentir que seu coração está penetrado por todas essas coisas, entenda que o anjo da justiça está com você, porque essas são as obras do anjo da justiça. Você deve acreditar nele então, e em suas obras”.

+ “Aqueles que nunca buscaram a verdade ou indagaram sobre a divindade, mas se contentaram em acreditar, agitados com seus negócios, suas riquezas. suas amizades pagãs e muitas outras ocupações deste século, todos aqueles que estão envolvidos nessas coisas. eles não entendem as parábolas sobre a divindade. É que com todos esses negócios eles estão escurecidos, corrompidos e secos. Assim como as belas vinhas secam por causa dos espinhos e de todo tipo de ervas daninhas se não forem cuidadas, assim também os homens que, depois de receberem a fé, se entregam à multiplicidade das ditas ações, se perdem em sua inteligência e já compreendem absolutamente nada sobre divindade. Porque, na verdade, quando eles ouvem algo sobre a divindade, suas mentes estão em seus negócios e, portanto, eles não entendem absolutamente nada. Mas aqueles que temem a Deus, e investigam sobre a divindade e a verdade, e têm seus corações voltados para o Senhor, entendem e compreendem imediatamente o que lhes é dito, porque eles têm dentro de si o temor de Deus. Pois onde o Senhor habita, há grande inteligência. Aderi, pois, ao Senhor, e compreendereis e compreendereis tudo”.

 

Fontes:

BERARDINO, Ângelo. Patrologia: A idade de ouro da literatura patrística Latina. Madrid: Biblioteca de Autores Cristãos, 2007.

CALVO, Juan José Ayán. O Pastor de Hermas. Alenquer: Editora Cidade Nova, 1995.  

EUSÉBIO DE CESARÉIA. História Eclesiástica. São Paulo: Editora Novo Século, 2002.

FRANGIOTTI, Roque. Introdução a Hermas. São Paulo: Editora Paulus, 1995.

HERMAS, O pastor de. Padres Apostólicos. Col. Patrística. São Paulo: Paulus, 1995.

IRINEU, Lião de. Contra as Heresias. São Paulo: Editora Paulus, 2021.

JAEGER, Werner. Cristianismo primitivo e a Paideia grega. México: FCE, 1998.

PADOVESE, Luigi. Introdução à teologia patrística. São Paulo: Editora Loyola, 1999.

VALDEMIR, Mota de Menezes. O Pastor de Hermas Explicado pelo Escriba de Cristo. Col. Patrologia. Domínio Público: Editora: Bibliomundi. Ubook acesso em 2023.

VIELHAUER, Philipp. História da Literatura Cristã Primitiva: Introdução ao Novo Testamento, aos livros apócrifos e aos pais apostólicos. Santo André: Editora Academia Cristã, 2005.