Hermas de Roma – (80 a 170) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo romano que viveu no período de transição entre a
filosofia helenística e a filosofia medieval. Direcionou seus estudos para o
campo da filosofia teológica. Era considerado um dos patriarcas da literatura
apostólica. Ficou conhecido como o “Pastor de Hermas”, por conta do livro “o
pastor” que teria sido escrito por ele. Contudo, acredita-se que seu irmão de
nome Pio, que era um conceituado bispo da cátedra de Roma, teria lhe ajudado a
escrever a obra, pois Hermas era iletrado e não sabia escrever muito bem. Hermas
era de origem pobre, inclusive chegou a ser vendido como escravo, porém uma
mulher, de nome Rosa, com boas condições, teria lhe comprado e depois o
libertou, tendo ele adquirido um matrimônio com essa senhorita. Após conquistar
sua liberdade, Hermas tornou-se um homem de grandes posses. Nesse contexto, a
obra teria um viés autobiográfico, pois alguns fatos do texto de Hermas, e da
sua vida, possuem certa correspondência. A obra foi encontrada em vários
pergaminhos e manuscritos antigos, que foram preservados, em formatos de
códices. Não existe, ao certo, um consenso exato do ano em que a obra foi
precisamente escrita, porém, alguns pesquisadores, presumem que tenha sido,
aproximadamente, no decorrer de (142 a 150) d.C. Diante de alguns documentos e
fatos históricos, especula-se que Hermas tenha florescido entre os anos de (80
a 170) d.C.
Filosofia Moral
Dissertou a respeito dos conceitos morais que fundamentavam as primeiras doutrinas orientadas pela igreja. Defendia a ideia de que igreja seria uma instituição necessária para a condição de salvação da alma humana. A principal preocupação de Hermas era com a ideia de penitência, por isso ele advertia aos fieis, sobre a possibilidade de arrependimento dos seus pecados. Acreditava que existia uma nova possibilidade de perdão além do batismo. Discorria sobre a importância da piedade como virtude cristã e sobre a necessidade de santificação do homem, para se alcançar a misericórdia divina. Fazia algumas revelações de cunho metafísico, em que trazia a tona conhecimentos transcendentes. Os ensinamentos apresentavam visões que ensinavam a respeito da vida sacra e como se aproximar de Deus. Para ele, a noção de Deus era representada, com a noção de “trindade” estando inserida dentro da ideia de “dualidade”, pois ele dividia essa concepção como sendo, apenas “Deus-Pai” e “Deus-Espírito-Filho”.
Filosofia Eclesiológica
O livro o Pastor de Hermas quase chegou a ser escolhido para fazer parte
dos livros bíblicos do novo testamento, sendo considerado, na época, um dos
livros mais populares da igreja primitiva. Posteriormente ele foi incluído na
lista dos livros tidos como apócrifos pela igreja católica. O estudo dessa obra
revela importantes questões culturais que servem de base para a compreensão da
relação que existia entre Roma e a igreja católica. Sua compilação dissertava a
respeito de alguns temas eclesiológicos e também trazia explanações de cunho
social. Utilizava-se de algumas alegorias para simbolizar a estruturação da
igreja, revelando que a anciã mencionada nos textos representava a igreja, por
ter sido criada há muito tempo, antes de todas as coisas. Já o pastor seria a
personificação de um anjo que surgia para orientá-lo e protegê-lo.
A obra foi muito utilizada no cristianismo primitivo como instrumento de orientação para os novos membros da igreja, pontuando preceitos religiosos e questões ligadas ao sacramento. Advertia aos fieis sobre a relevância do jejum, do celibato e do martírio. Explicava que, enquanto a igreja estivesse no mundo estaria constantemente em construção, edificando seu aprimoramento, até os últimos dias do juízo final. Seu trabalho foi dividido basicamente, em visões, mandamentos e parábolas, sendo considerada uma produção que orientava sobre o mundo apocalíptico, convidando o cristão a se arrepender antes que fosse tarde demais, porém ela também anunciava elementos éticos e apologéticos, a respeito de uma boa conduta.
Filosofia Sapiencial
+ “É necessário arrancar da miséria todo homem”.
+ “O verdadeiro profeta é calmo, sereno e humilde”.
+ “Afasta de ti a tristeza, pois ela é irmã da dúvida e da cólera”.
+ “A paciência é mais doce do que o mel e a ira, porém, é amarga e
inútil”.
+ “Quando o homem indeciso descumpre um propósito, a tristeza toma conta
da alma”
+ “A dúvida, não tendo fé total em si mesma, falha em toda obra em que
empreende”.
+ “Aquele, pois, que livrar uma pessoa da necessidade, adquire para si
uma grande alegria”.
+ “Purifique o seu coração de todas as vaidades do mundo, do mal e do
pecado. Purifique sua alma da dúvida, vista-a dá-lhe fé, porque a fé é poderosa,
e creio firmemente que Deus ouvirá todas as suas súplicas”.
+ “Dois anjos acompanham o homem, um da justiça e outro
do mal... O anjo da justiça é delicado e modesto e manso e calmo. Então,
quando este anjo entrar em seu coração, ele imediatamente falará com você sobre
justiça, pureza, santidade, para se contentar com o que você tem, sobre todo
trabalho justo e toda virtude reconhecida. Quando você sentir que seu
coração está penetrado por todas essas coisas, entenda que o anjo da justiça
está com você, porque essas são as obras do anjo da justiça. Você deve
acreditar nele então, e em suas obras”.
+ “Aqueles que nunca buscaram a verdade ou indagaram
sobre a divindade, mas se contentaram em acreditar, agitados com seus negócios,
suas riquezas. suas amizades pagãs e muitas outras ocupações deste século,
todos aqueles que estão envolvidos nessas coisas. eles não entendem as
parábolas sobre a divindade. É que com todos esses negócios eles estão
escurecidos, corrompidos e secos. Assim como as belas vinhas secam por
causa dos espinhos e de todo tipo de ervas daninhas se não forem cuidadas,
assim também os homens que, depois de receberem a fé, se entregam à
multiplicidade das ditas ações, se perdem em sua inteligência e já compreendem
absolutamente nada sobre divindade. Porque, na verdade, quando eles ouvem
algo sobre a divindade, suas mentes estão em seus negócios e, portanto, eles
não entendem absolutamente nada. Mas aqueles que temem a Deus, e
investigam sobre a divindade e a verdade, e têm seus corações voltados para o
Senhor, entendem e compreendem imediatamente o que lhes é dito, porque eles têm
dentro de si o temor de Deus. Pois onde o Senhor habita, há grande
inteligência. Aderi, pois, ao Senhor, e compreendereis e compreendereis
tudo”.
Fontes:
BERARDINO, Ângelo. Patrologia: A idade de ouro da literatura patrística
Latina. Madrid: Biblioteca de Autores Cristãos, 2007.
CALVO, Juan José Ayán. O Pastor de Hermas. Alenquer: Editora
Cidade Nova, 1995.
EUSÉBIO DE CESARÉIA. História Eclesiástica. São Paulo: Editora
Novo Século, 2002.
FRANGIOTTI, Roque. Introdução a Hermas. São Paulo: Editora Paulus,
1995.
HERMAS, O pastor de. Padres Apostólicos. Col. Patrística. São
Paulo: Paulus, 1995.
IRINEU, Lião de. Contra as Heresias. São Paulo: Editora Paulus,
2021.
JAEGER, Werner. Cristianismo primitivo e a Paideia grega. México:
FCE, 1998.
PADOVESE, Luigi. Introdução à teologia patrística. São Paulo: Editora
Loyola, 1999.
VALDEMIR, Mota de Menezes. O Pastor de Hermas Explicado pelo Escriba
de Cristo. Col. Patrologia. Domínio Público: Editora: Bibliomundi. Ubook
acesso em 2023.
VIELHAUER, Philipp. História da Literatura Cristã Primitiva: Introdução
ao Novo Testamento, aos livros apócrifos e aos pais apostólicos. Santo
André: Editora Academia Cristã, 2005.
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