segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Escola Pitagórica

Escola Pitagórica

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma escola filosófica da Grécia antiga pertencente ao período pré-socrático. Teve como principal fundador o mestre Pitágoras de Samos que era também visto por seus discípulos como sendo uma espécie de profeta. A seguinte escola possuía um conjunto de ideias ascéticas que influenciaram sua formação. Utilizava um método de educação baseado nos estudos da Geometria, Aritmética, Música e Astronomia, esse método era chamado de “quadrivium”. Esses pensadores tinham uma concepção racional sobre a criação do universo. Cogita-se a ideia, entre os historiadores, de que Pitágoras não teria deixado nada escrito, tendo sido seus pensamentos compilados por discípulos. A escola admitia que as mulheres participassem das instruções, o próprio Pitágoras afirmava que as mulheres eram iguais aos homens em inteligência e tinham o direito de estudar filosofia. A escola se iniciou por volta de 530 a.C, na região de Crotona, local que atualmente fica na região sul da Itália, por isso também era conhecida como escola Itálica.

Filosofia Pitagórica

Especula-se que a doutrina pitagórica era ensinada na escola através de votos de silêncio. Dessa forma, apenas alguns membros, que passavam por uma etapa inicial, é que poderiam seguir em frente com o aprendizado e o ensino de outros conhecimentos. Eles levavam uma vida de obediência e lealdade às regras da escola, mantendo sempre o respeito e a disciplina. Nessa escola, eram ensinados conceitos de como levar uma vida ascética, realizando práticas de purificação da alma. Trabalhavam o domínio das paixões do corpo e a elevação moral, combatendo alguns vícios como a preguiça e a ira. Essa prática tinha a finalidade de buscar uma vida iluminada através do controle material dos prazeres. Segundo essa escola, para se chegar a uma vida virtuosa, era necessário o domínio total dos instintos humanos. Defendiam a concepção de que a alma mantinha uma relação com os números. Os bens materiais eram distribuídos de forma coletiva entre os membros. Os discípulos dessa escola passavam por algumas provações com a finalidade de demostrarem ter aprendido a controlar seus impulsos. Entre essas provações, estava a de ficar com fome, em frente a um grande banquete, cheio de deliciosas comidas e resistirem à tentação, sem poderem comer nada.

A escola pitagórica, trabalhou em sua filosofia, algumas ideias científicas que se relacionavam com elementos teológicos e lendários. Além disso, também praticavam um sincretismo religioso entre os saberes matemáticos e filosóficos, com as doutrinas órficas e místicas. Pitágoras viajou por muitos lugares, e por isso absorveu muitos conhecimentos de outras culturas, por esta razão, o pitagorismo teve influência dos saberes adquiridos na cultura oriental e na cultura do norte da África. Ele teve vários mestres que o iniciaram na filosofia, a principal seria Temistocleia que era uma mulher e filósofa da antiguidade. Também teve como mestre o filósofo Ferécides de Siro. Provavelmente os filósofos da escola de Mileto também exerceram grande importância na formação de Pitágoras.

Filosofia da Matemática

A frase que definia bem as ideias pitagóricas era a de que: “todas as coisas são números”. Para esses pensadores a “arché” do universo era representada por uma estrutura numérica. Os pitagóricos pensavam a matemática como sendo um sistema seguro para se chegar à verdade. Eles se diferenciaram dos pensadores de Mileto, devido ao fato de utilizarem a Matemática para explicar os fenômenos físicos da época. Esses pensadores acreditavam que a Matemática era o alfabeto em que Deus se utilizou para escrever o universo. Os matemáticos dessa escola usavam muito o conceito de harmonia e diziam que os números eram o princípio de todas as coisas. Foram responsáveis por sistematizar a noção de números figurados, que era o número de pontos existentes em uma configuração geométrica, representando uma conexão estabelecida entre a geometria e a aritmética. A divisão numérica era o conceito utilizado para descrever o surgimento dos números, nesse sentido, os pitagórico explicavam que o número dois, por exemplo, não surgia de forma sequencial, logo após o número um, mas sim da divisão do número um por dois, pois ao dividir algo unitário, era possível parti-lo em dois, assim se obtinha a ideia do número dois, posteriormente o três e assim sucessivamente.

Teoria da harmonia

Segundo essa teoria, o número seria o elemento básico da realidade, pois existia uma proporção numérica em todo o cosmos. O mundo teria surgido a partir da imposição de formas numéricas sobre o espaço que conferiram limites ao princípio fundamental, isto é, a “arché”. O universo era um conjunto de dez corpos celestes que orbitavam ao redor de um fogo no centro. E o número de corpos celestes era “dez” por conta da “tetractys” que era caracterizada como sendo os quatro primeiros algarismos que totalizavam “dez” quando dispostos em forma triangular.

A harmonia musical, por corresponder aos acordes desenvolvidos com base em proporções aritméticas, fez com que Pitágoras supusesse que essa mesma harmonia era encontrada na natureza. Associada à astronomia, essa teoria fez com que Pitágoras pensasse que o universo também era organizado por relações matemáticas. Essa sua teoria ficou conhecida como “teoria da harmonia das esferas”. Cada número correspondia a uma noção da realidade: o número 1 correspondia à inteligência; o dois, à opinião; o três, ao todo; o quatro, à justiça; o cinco, ao casamento e o sete, à pontualidade. As principais contribuições da escola pitagórica são encontradas nos campos da matemática, da música e da astronomia.

Considerações Finais

Devido à soma de ciências que eram estudadas nessa escola de pensamento, ela teria ficado afamada por muitos como sendo a primeira universidade do Ocidente. Gerando influência até hoje em variadas áreas do conhecimento e relacionando os campos da matemática, filosofia e religião. Segundo Pitágoras, o universo poderia ser decifrado quando o homem percebe, de maneira analógica, que o cosmos se assemelha a um poema, sendo a matemática a sua linguagem. Os números seriam uma espécie de ente que configura a realidade do universo. Essa escola apontou definições a respeito do que seriam as chamadas unidades-plurais, buscando, desse modo, compreender a realidade e a origem das coisas, por meio de uma linguagem matemática. O racionalismo de Descartes teve grande influência do pitagorismo. 

Membros da Escola Pitagórica

Temistocleia de Delfos; Filolau de Crotona; Arquitas de Tarento; Alcmeão de Crotona; Ameinias Ou amínias; Brotino; Hermodamas; Arignote de Samos Alexícrates; Andrócides (pitagórico); Arígnote; Cebes; Damão e Pítias; Damo; Diodoro de Aspendo; Ecfanto o Pitagórico; Equécrates; Esara de Lucânia; Eudoro de Alexandria; Fíntis de Esparta; Hicetas; Lísis de Tarento; Melissa (filósofa); Myia de Crotona; Símias de Tebas; Teano de Crotona; Telauge; Timica; Zópiro de Tarento; Hipaso de Metaponto; Apolônio de Tiana; Babelyka de Argos; Bitale; Boio de Argos; Cheilonis; Echekrateia de Phlius; Habrotelia de Tarento; Kleaichma; Kratesikleia; Numenios de Apamea; Okkelo de Lucânia; Peisirrhode de Taranto; Tyrsenis de Sybaris; Zalmoxis; Timáridas; Lasthenia de Mantinea; Rodopis Dórica; Theadusa de Esparta; Fliasia; Eurito de Crotona; Pitonax de Creta. 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

BOYER, Carl. História da Matemática. trad. Elza Gomide São Paulo: USP, 1974.

BURNET, John. A aurora da filosofia grega. 1ª ed. Rio de Janeiro: PUC RIO, 2007.

CAPELLE, Wilhelm. História da filosofia grega. Madrid: Biblioteca Hispanica de Filosofia, 1991.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA. 1996.

EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. Campinas: Unicamp, 1997.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MATTÉI, Jean François. Pitágoras e os pitagóricos. São Paulo: Editora Paulus, 2000.

PORFÍRIO. A Vida de Pitágoras. 4 ed; Barcelona: Planeta de Agostini, 1996.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. Filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus, 2004.

SANTOS, Mário Ferreira. Pitágoras e o tema do número. São Paulo: ed. Ibrasa, 2000.

VERNANT, Jean. Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Editora Difel, 2002.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Paula Ney

Paula Ney – (1858 a 1897) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Francisco de Paula Ney - Foi um filósofo cearense ligado a corrente de pensamento do asteísmo. Utilizava-se da ironia como ponto chave para desvelar sua obra. Era visto como um ilustre humorista e excelente repentista. Ficou conhecido como o “rei da pilhéria”, tendo recebido de Chico Anysio o título de primeiro humorista brasileiro. Atuou como escritor, redator e poeta. Tinha um espírito livre, por isso vivia de maneira desprendida, com um estilo boêmio, quando não estava no trabalho, perambulava pelos cafés, confeitarias e bares da cidade. Possuía uma admirável oratória caracterizada pela reverência típica do cearense nato. Escreveu para várias revistas e periódicos da época, tendo inclusive fundado uma revista juntamente com o filósofo Clóvis Beviláqua. Realizou seus primeiros estudos no Ateneu e no Liceu cearense, depois frequentou o seminário de Fortaleza. Viajou para o Rio de Janeiro, onde iniciou o curso de Engenharia e depois passou a estudar Medicina, após problemas pessoais, tentou concluir o curso na faculdade de medicina da Bahia, porém desistiu mais uma vez do curso e migrou novamente para o Rio, onde retomou sua carreira de redator, tida por ele, como sendo sua verdadeira vocação e paixão. Foi um dos fundadores do Grêmio de Letras e Artes, da cidade do Rio de Janeiro. Era filho de um alfaiate conhecido por Mariano de Melo Ney, com a dona Carlota Cavalcanti de Sousa Pinheiro. Nasceu em 02 de fevereiro de 1858, na cidade de Aracati. Faleceu na cidade do Rio de janeiro, em 13 de novembro de 1897, vitimado por uma tuberculose pulmonar.  

Filosofia Humanista

Participou solidariamente de vários episódios humanitários de ajuda aos humildes e necessitados. Era visto como um homem que possuía um grande coração e enaltecia o valor da camaradagem. Cultuava também a defesa dos animais, da natureza e os valores da pátria. Admirado pela sua grande eloquência, era dotado de uma vasta cultura popular. Lutou em prol da abolição dos escravos, tendo inclusive auxiliado a vinda de José do Patrocínio para o Ceará, com a finalidade de intensificar o movimento abolicionista de libertação dos cativos. Após o êxito da emancipação libertária, José do Patrocínio aclarou a famosa sentença: "O Ceará é a terra da luz!". Paula Ney utilizou os meios de comunicação de seu tempo para lutar em defesa dos ideais dos quais acreditava, as guerras internas travadas no Brasil não estavam somente no campo político e militar, mas também entre os intelectuais, por isso Ney fazia parte de outro grande campo de batalha, onde se travava duelos entre os pensadores, tendo lutado bravamente nesse front. Discursava em nome dos valores da liberdade, da justiça e da solidariedade. Chegou a laborar como diretor da hospedaria dos Imigrantes, na cidade do Rio de Janeiro.

Filosofia Literária

No campo literário, trabalhou em sua obra, um sincretismo entre o parnasianismo e o romantismo. Fez parte da geração de literatos brasileiros que figuraram na chamada “Era Dourada” do cenário cultural nacional, juntamente com grandes figuras de peso, em sua época, como Olavo Bilac, Aluízio Azevedo e Luíz Mutat. Seus versos satíricos continham emotividade, exagero e figuras de linguagem. Também encenava nos teatros boêmicos, os seguintes estilos: paródias, repentes, epigramas, anedotas, piadas, paradoxos, e trocadilhos. Seu humor ácido continha certa ironia, em que explanava respostas prontas para tudo, demostrando clara inteligência e grande poder de persuasão. Alguns sonetos possuía um tom de comédia, detendo forte capacidade de improvisação. Visto como um escritor modesto, Ney não costumava assinar seus textos. Ainda sim, sua obra possui atualmente um valor histórico e cultural. Ciro Vieira registrou uma obra com o título: “cem piadas de Paula Ney”, em que descreve o lado cômico e irreverente desse pensador. Imortalizou-se com o famoso verso, em homenagem a cidade de Fortaleza: “a loira desposada do sol”!

Filosofia Sapiencial

+ "Pelo Brasil eu morro e pelo Ceará eu mato!".

+ “Não mais escravos pelas esplanadas, são todos livres, não há mais senhores, foi-se a noite: só temos alvoradas!”

+ “E eu chorava também...tinha em meu peito, a dor da ausência, o perenal martírio, dum grande amor passado e já desfeito!”

+ Na solidão dos verdes matagais...É minha terra! A terra de Iracema, O decantado e esplêndido poema, De alegria e beleza universais!

+ “A justiça de um povo generoso, pesando sobre a negra escravidão, esmagou-a de um modo glorioso, sufocando-a com a lei da Abolição”.

+ “Voa minha alma, voa pelos ares, como o trapo de nuvem flutuante, vai perdida, sozinha e soluçante, distende as asas tuas sobre os mares!”

+ “Ao longe, em brancas praias embaladas, pelas ondas azuis dos verdes mares, a Fortaleza, a loira desposada do sol, dormita a sombra dos palmares”.

Fatos e Curiosidades:

Conta-se que, em certa ocasião, numa sala de aula, da faculdade de Medicina, o professor da disciplina de anatomia teria perguntado ao Ney quantos ossos possuía o crânio humano, este, em tom irônico, teria respondido: - “Não me recordo professor, mas tenho-os todos aqui na cabeça”.

Relata-se que, em outra sabatina de anatomia, seu mestre teria dito que faria inicialmente, apenas uma única pergunta, porém se ele respondesse corretamente, não faria mais nenhuma outra, então o professor inquiriu ao senhor Paula Ney a seguinte pergunta: - “Quantos fios de cabelos o senhor possuí?”, De pronto Ney respondeu: - “Duzentos e sessenta e cinco mil oitocentos e noventa e quatro” senhor querido professor! Surpreso o professor questiona: - “Mas como o Sr. chegou a esta conclusão?”, Paula de forma irreverente fala: - “Caro professor, não se esqueça de que o Sr. garantiu  que, caso eu acertasse, só faria uma pergunta. Trato é trato!”.

Obras:

Carta Anônima; E pur si muov; O Álbum; Sonetos Brasileiros. Periódico a República; O Meio; Labarum Literário; Discursos. 

Fontes:

ACL. Pesquisa Histórica. Francisco de Paula Ney. Site: Academia Cearense de Letras. Fortaleza: Copyright, acesso em 2023.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001.

CUNHA, Círo Vieira. No Tempo de Paula Nei. São Paulo: Editora Saraiva, 1950.

LEAO, Andrea Borges; SECUNDO, Francisco. Ceará, Lado Moleque (As Letras e a Sociogênese do Humor). Fortaleza: Dossiê Literatura e Memória, UFC, 2015.

LINHARES, Mário. História Literária do Ceará. Fortaleza: Federação das Academias de Letras, 1948.

MENEZES, Raimundo. A vida boêmia de Paulo Ney. São Paulo: Editora Martins, 1957.

MIRANDA, Antônio. Francisco De Paula Nei: Poesia dos Brasis. Site: Antônio Miranda. Brasília: Portal de poesia Ibero-americano, Acesso em 2024.

NETTO, Coelho. Fogo Fátuo. Editora Cherdron, 1929.

SEVERO, Marconi. Duelos e intelectuais no Brasil (1886-1892). Revista Eletrônica Scielo. São Paulo: Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2022.

SOLDON, Renato. Verve Cearense.  Fortaleza: Instituto do Ceará, 1969.