domingo, 12 de julho de 2020

Empédocles de Agrigento

Empédocles de Agrigento – (492 a 435) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga pertencente à escola pluralista. A escola pluralista relacionava conceitos e teorias das várias outras escolas de pensamento da época, buscando na pluralidade de princípios a explicação para os fenômenos do cosmos. Empédocles é considerado um dos últimos filósofos gregos a escreverem suas obras em versos, ele redigia de uma forma muito clara e objetiva, também falava de maneira eloquente, e isto lhe rendeu o título dado por Aristóteles de o pai da retórica. Era admirado por ser um excelente orador, sendo também conceituado, em seu tempo, como um sábio e mago místico. Ademais, foi visto como um bom conhecedor da natureza e possuidor de habilidades sobrenaturais, por isso muitos estudiosos o define como sendo um filósofo naturalista. O filósofo sofista Górgias teria sido um de seus poucos discípulos.

Escreveu duas obras principais intituladas de“Purificações” e “Sobre a Natureza”. Estudou ás áreas da Filosofia, Literatura, Astronomia, Física, Medicina, Direito, Política, Biologia e Poesia. Devido ao fato de ter estudado com amigos que eram médicos, Empédocles relacionou os conhecimentos da Medicina com os saberes da natureza, passando a ser afamado como uma espécie de curandeiro. Em razão de ter atuado na política grega, ele foi considerado um forte defensor da democracia, tendo inclusive trabalhado em defesa dos necessitados e lutado contra alguns tiranos. Também chegou a participar de várias olimpíadas e conquistou muitas vitórias. Pertencia a uma família abastada, por isso era detentor de grandes posses. Nasceu no ano aproximado de 492 a.C, em Agrigento na Sicília e faleceu por volta de 435 a.C, na localidade de Etna. A causa de sua morte é controversa, dizem que ele se jogou dentro do famoso vulcão Etna com o objetivo de provar que era imortal.

Filosofia Pluralista

Ele acreditava que a origem de tudo estava ancorada em um princípio plural formado por quatro elementos básicos, chamado de “raízes”. Nesse sentido, a “arché” do universo seria uma “singularidade plural” que poderia ser compreendida como uma teoria unificadora. Sua filosofia relacionou os saberes das escolas: jônica, pitagórica e eleática. Empédocles unificou alguns conceitos das teorias opostas de Parmênides e Heráclito, além também de ter bebido da fonte de outros grandes filósofos da época. Seu pensamento agregou determinadas teorias do materialismo de Mileto juntamente com certos conceitos da escola eleata, e paralelamente a isto, confrontou as ideias de Heráclito com os pensamentos pitagóricos.

Enquanto Parmênides explicava que tudo permanecia parado no universo e Heráclito defendia o oposto, isto é, que tudo estaria em constante transformação, Empédocles conciliou pontos comuns dessas duas teorias antagônicas e conseguiu sintetizar uma saída para esse impasse. Em relação à água, por exemplo, ele dizia que Parmênides estava certo de que ela não sofreria mudanças na natureza, ou seja, ela não se transformaria em outro “ser” como, por exemplo, em uma ave ou um peixe. Porém, na sua visão, Heráclito também estaria correto ao definir que as coisas estariam em uma eterna transformação na natureza, mas essa transformação seria aparente, pois o que haveria na verdade seria uma combinação de misturas entre os elementos, que se integram e se desintegram constantemente, desse modo, ele concluiu que não poderia existir apenas uma substância primordial que daria origem a tudo, nem tão pouco, uma pluralidade sem uma causa inicial. O que poderia existir, portanto, eram quatro “raízes” que seriam os quatro elementos fundamentais: “terra, fogo, ar e água”.  Isto significava que a origem de tudo estaria na combinação dessas “raízes” com duas forças primordiais que seriam o “amor e o ódio”.

Filosofia Cosmológica

Empédocles foi considerado o criador da teoria cosmogônica dos quatro elementos: “terra, água, fogo e ar”. Esses elementos seriam o conteúdo básico do universo, e o “amor” e “ódio” seriam a variação de sua harmonia. A ideia de amor e ódio conceituada por Empédocles não teria relação literal com o sentido sentimental compreendido atualmente, mas apenas simbólico, nesse sentido, essa comparação estaria mais direcionada para a noção cósmica de forças vitais, isto é, a percepção de atração e repulsão. Para ele, as “raízes” formavam tudo de maneira isolada ou composta e seriam regulados por duas forças divinas e opostas chamadas de “amor e ódio”. Afirmava que todo o cosmos sofreria um ciclo infinito de comutação. Na sua filosofia, o conceito de amor também era definido como sendo amizade ou o “bem” e o ódio entendido como discórdia ou o “mal”. Compreendia que o destino alternava a predominância das duas forças que atuavam sobre os quatros elementos em um tempo constante. Essas substâncias seriam indestrutíveis e eternamente iguais. Nesse sentido, o cosmos não poderia ter surgido do nada, bem como também, o universo não poderia deixar de existir. Empédocles acreditava em um universo cíclico onde os elementos regressam e preparam a sua formação para o próximo período do universo. 

Filosofia da Natureza

Ao criticar o pensamento de Heráclito, ele dizia não acreditar que a existência das coisas pudesse surgir do movimento delas, e também não aceitava que o repouso pudesse caracterizar a “não-existência” das coisas, pois segundo ele pensava, uma “não-existência” não poderia passar para a existência das coisas, e vice-versa. O “ser” não poderia surgir do “não-ser”, e da mesma maneira o “ser” não poderia deixar de existir, ou seja, tornasse “não-ser”. O que “é” não poderia surgir do nada, e também não poderia se tornar nada. Para Empédocles, uma possível mudança só poderia acontecer pela agregação ou separação de substâncias inalteráveis, isto é, à existência e a morte seria apenas a mistura e separação do que já estaria misturado. Todas as coisas surgiriam da união e da separação dos quatros elementos básicos, logo, não surgia de movimentos e nem do que estaria estático.

Afirmava que era através da agregação e segregação dos elementos que se ocasionavam as possíveis mudanças, de modo que, nada novo “vem” ou pode “vir-a-ser”, a mudança estaria na justaposição de elemento com elemento. Essa colocação se daria a partir das duas forças divinas que regulavam essa mudança de posição dos elementos, ou seja, as duas forças chamadas de “amor” e “ódio”. O amor era o responsável por unir tudo e o ódio seria o responsável por separar tudo. Os quatro elementos seriam simples, eternos e imutáveis. Segundo sua teoria, esses elementos seriam indestrutíveis e ilimitados. Daí, a partir das combinações desses elementos, era que o restante da matéria iria aos poucos se formando.

O filósofo das raízes não acreditava no nascimento e morte das coisas, pois isso significaria para ele que as coisas iam e viam do nada, daí ele não acreditava que o “nada” pudesse ser significativo nessa questão. Explicava que o nascimento e a morte tinha relação com a aproximação e separação das coisas. Ao observar que o amor e o ódio separavam e unia às pessoas, Empédocles fez a mesma analogia com a natureza, para ele, essas forças antagônicas eram capazes de realizar atração e repulsão. Não acreditava que os elementos opostos pudessem se atrair, e sim que apenas o que era semelhante poderia atrair outra substância semelhante, e o que era diferente causaria repulsa em outra coisa diferente.

Filosofia do Conhecimento

Em sua obra, Empédocles descreveu suas teorias a respeito dos quatro elementos básicos, discorreu sobre a História do Universo, explicou ideias sobre a percepção e o pensamento, conceituou sobre a teoria da causa e sobre os fenômenos terrestres. Ele também chegou a falar sobre a evolução das espécies através da água e suas possíveis adaptações ao ecossistema. De acordo com suas ideias, as partes individuais do corpo do animal foram sendo formadas e adaptadas para a sobrevivência ao longo do tempo. Chegou a afirmar que o “ar” seria distinto do espaço vazio, essa ideia era nova para época. Algumas correntes de pensamento da atualidade afirmam que a teoria das pulsões de Freud, sofreu forte influência dessas ideias de Empédocles sobre vida e morte.

Acreditava que o conhecimento das coisas de dava através do processo de semelhança percebida pelos sentidos corpóreos. Para Empédocles, os sentidos do corpo absorveriam a existência das coisas através de poros, ou seja, ele afirmava que o nossos órgãos e sentidos receberiam emanações vindas das coisas pelos seus poros. Ele acreditava que a capacidade de pensar do homem estaria relacionada com o órgão do coração, e que o sangue seria o responsável pelo transporte desse conhecimento pelo corpo. Explicava que o conhecimento que o homem poderia ter era limitado, e apenas conseguiria absorver aquilo em que ele manteria certa relação, ou seja, aquilo que o acaso lhe oportunizava vivenciar. Nesse contexto ele dizia que: “a percepção humana é assustadoramente limitada; acreditamos estar vendo o todo, quando na verdade só vemos uma fração”.

Filosofia Teológica

Empédocles relatava em sua obra que houve uma época em que os espíritos vivam uma espécie de êxtase, mas por terem cometido um crime de natureza desconhecida, então eles teriam sido punidos. Essa punição seria a reencarnação em homens, animais e plantas, ou seja, de acordo com a conduta moral realizada por cada um, essas almas poderiam voltar a se tornarem deuses novamente. Para Empédocles, houve um tempo em que os elementos puros (raízes) e os dois poderes (amor e ódio) coexistiram juntos, numa condição de repouso e imobilidade, na forma de uma esfera compacta. Nessa época, o poder do amor era predominante, depois de um tempo, o ódio passou a ganhar mais espaços na extremidade da esfera, e daí acabou por separar os elementos puros que havia dentro da esfera. Então, o amor e o ódio passaram a formar o mundo como conhecemos hoje, com seus contrastes e oposições. A esfera sendo a personificação da existência pura e também a representação de Deus.

Empédocles chamava Deus de Esfero, que significava a união de todos os elementos pelo amor. Quando o amor dominava todos os elementos, nesse exato momento, existiria uma perfeita harmonia, e também nesse instante tudo se resumia a uma unidade do todo chamado de Esfero. Porém quando o ódio passava a dominar, então existiria uma dissolução desses elementos que acabavam formando o que seria o caos. Acreditava que a alma também sofria ação das forças e dos elementos. Explicava que cada raiz possuía uma analogia com uma divindade, que seriam identificadas como sendo Zeus, Hera, Aidoneus e Néstis.

Curiosidades

Relatos afirmam que ele dizia conseguir controlar as tempestades e realizar milagres. Comenta-se que ele teria salvado uma cidade de um surto de malária. Empédocles tinha fama de profeta, daí entre os vários milagres que ele dizia realizar como controlar a chuva, o vento e as epidemias, conta-se que ele teria declarado certa vez que poderia destruir a força do mal e também curar a velhice.

Obras:

- Purificações

- Sobre a Medicina

- Políticos

- Sobre a Natureza

Filosofia Sapiencial

- “O mar é o suor da terra”.

- “Os iguais se reconhecem”.

- “Sobrevive o que for mais capacitado”.

- “É necessário repetir as palavras úteis”.

- “É impossível que algo se torne o que não é”.

- “O mundo evoluiu da água por meios naturais”.

- “Cada homem acredita apenas em sua experiência”.

- “Quatro são as raízes de todas as coisas: fogo, ar, água e terra”.

- Nenhum dos deuses formou o mundo, nem tem homem algum – “Sempre foi”.

- “Do não-existente, nada pode nascer e nada pode desaparecer no nada absoluto”.

- “Deus é um círculo em que o centro está em toda parte e o acesso é por nenhuma parte”.

- “Se você exige só obediência, então você juntará em volta de si mesmo somente bobos”.

- "Porque eu já fui rapaz e fui donzela, fui planta, e ave, e um peixe mudo que pula sobre as ondas".

- “O sol é uma seta aguda. A lua um olho claro. O mar é o suor da terra. À noite  é solitária e cega”.

- “A percepção humana é assustadoramente limitada; acreditamos estar vendo o todo, quando na verdade só vemos uma fração”.

- “Afortunado é aquele que adquiriu uma riqueza de sabedoria divina, mas miserável em quem repousa uma opinião sombria sobre os deuses”.

- “Tendo vislumbrado uma pequena parte da vida, os homens se levantam e desaparecem como fumaça, sabendo apenas o que cada um aprendeu”.

- “O que é legal não é vinculativo apenas para alguns e não vinculativo para os outros. A legalidade se estende por toda parte, através do ar amplo e da luz infinita do céu”.

- “Nenhuma coisa mortal tem um começo ou fim na destruição da morte; existe apenas uma mistura e separação dos mistos, mas para os homens mortais esses processos são chamados de ‘começos’.”.

- “Pois impossível é que algo nasça do que não existe, assim como é impossível que o que existe possa ser completamente destruído. Onde quer que alguém o coloque, aí, por certo, sempre se há de encontrar”.

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