domingo, 30 de julho de 2023

Teodoro de Cirene

Teodoro de Cirene – (465 a 398) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo do período clássico da Grécia antiga pertencente à chamada escola cirenaica. Essa escola ficou conhecida também como Escola Moral de Cirene ou “Escola Hedonista”. Ele teria vivido em Cirene, na região da Líbia, e era tido como um dos principais representantes dessa escola. Inicialmente teria sofrido grande influência dos pitagóricos, tendo posteriormente desenvolvido conceitos relacionados à ética, por isso sua filosofia está relacionada com os estudos da moral. Dedicou-se principalmente as áreas da Matemática, Astronomia, Música, Filosofia e Educação. Chegou a lecionar na cidade de Atenas e conviveu com grandes filósofos da antiguidade como, por exemplo, o famoso Sócrates. Foi discípulo do filósofo Protágoras de Abdera e considerado também um dos mestres de Platão, que inclusive escreveu sobre ele, em sua obra chamada Teaetetos. Muito do que se sabe a respeito de sua vida foi escrito pelo filósofo conhecido como Teaetetos, que também teria sido seu discípulo.

Destacou-se com grande relevância nos estudos sobre os números irracionais. Escreveu uma obra chamada de: “sobre os deuses”, por isso foi apelidado de “o ateu”, tendo sido acusado de ateísmo. Sua obra foi mal compreendida na cidade de Cirene, em vista disso, ele teve que se refugiar na cidade de Atenas, mas foi reconhecido, e assim como Sócrates, condenado a beber cicuta. Retornou para a sua terra natal, e faleceu na cidade de Cirene, por volta de 398 a.C. Algumas correntes da história da filosofia tentam desvincular o Teodoro de Cirene do Teodoro Matemático, acreditando que eles sejam duas pessoas distintas e que viveram em épocas diferentes. Contudo, a maior parte da historiografia filosófica reconhece que se trata da mesma pessoa.

Filosofia Moral

Fazia uma relação da felicidade com o conhecimento e também das dores com a ignorância, em outras palavras, a alegria seria resultado da sabedoria, e o sofrimento era decorrente da ignorância. Dizia que nenhum dos prazeres ou dores era bons e nem maus. Nesse sentido, ele explicava que o objetivo da vida era a busca pelo “bem-estar” e em contrapartida o homem deveria evitar a dor. Sua teoria se aproximava um pouco dos conceitos hedonistas, em relação à ideia de que o sentimento interior de alegria e serenidade poderia despertar no homem sábio, o senso de justiça e o espírito de alegria. Pensava que para ser feliz bastava conseguir ser um "sábio" e que a alegria, a sabedoria e o senso de justiça eram suficientes para se alcançar a felicidade. Chegou a defender ideias no campo do cosmopolitismo, que era o conceito de que o homem deveria viver de acordo com as leis da natureza, sem estabelecer fronteiras geográficas entre as cidades-estados. Por conta disso, alguns teóricos afirmaram que Teodoro tinha uma veia da filosofia Cínica. Também dissertou a respeito de questões ligadas a velhice, a desvalorização da amizade e sobre o impulso das relações sexuais.

Filosofia da Matemática

Ele postulou um teorema matemático conhecido como “Espiral de Teodoro”, em que descreve um método para construir geometricamente os segmentos de comprimento, em um formato de espiral proporcional. Ficou lembrado na Matemática por sua contribuição para o desenvolvimento dos números irracionais, exercendo importantes contribuições, especialmente para a seara dos números irracionais e no que diz respeito às raízes quadradas. Segundo alguns historiadores, Teodoro teria sido um dos pioneiros nos estudos da irracionalidade das raízes dos números inteiros não-quadrados (2, 3, 5.....17). A partir do teorema de Pitágoras, ele teria desenvolvido um método novo, para provar que a raiz quadrada de dois era irracional. A existência desses números já havia sido descoberta, por outros pitagóricos, contudo, acredita-se que o método de Teodoro ajudou a consolidar novos fundamentos sobre os números incomensuráveis.

Filosofia sapiencial

+ “A felicidade pode ser alcançada com a alegria e o juízo”.

+ "São princípios da ação o prazer e a dor, que aquele dimana da sabedoria e esta da ignorância.”

+ “Ofereça os seus discursos com a maior boa vontade, “com a mão direita”, mas quanto aos ouvintes, os recebam com a mão esquerda”.

+ “Os ignorantes não aproveitam uma boa oportunidade quando ela se apresenta. Mas as pessoas sensatas agem como as abelhas, que extraem mel, do tomilho, planta que é seca e azeda, assim do mesmo modo, de forma similar, as pessoas sensatas muitas vezes obtêm para si algo de útil e aprazível das mais situações adversas”.


Fatos e Curiosidades:

Diógenes Laercio relata, que certa vez, o filósofo Estilpo teria questionado Teodoro lhe indagando: -- Teodoro!  No seu nome “Teo”, significa Deus, correto. Logo em seguida, Teodoro teria respondido: -- Sim! Estilpo, está correto. Então, em seguida, o filósofo Estilpo adverte a seguinte conclusão.... Se teu nome é Teodoro, e teu nome quer dizer deus, logo, tu és deus? Nessa hora, Teodoro refuta com um riso irônico: “Meu querido, tu demonstrarias por este raciocínio, que tu és uma gralha ou um outro animal do gênero”.

 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

BARNES, Jonathan. Filósofos pré-socráticos. Trad. Julio, Fischer. São Paulo: Editora Martins Fontes. 1997.

CÍCERO, Marcus Tullios. A academia do Cícero. Trad. Harris Rackham. Attalus. 1933.

EVES, Howard. Introdução a História da Matemática. São Paulo: Editora Unicamp, 2011.

JÂMBLICO. Suma Pitagórica. Milão: Bompiani, 2006.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

PLATÃO. Diálogo: Crátilo e Teeteto. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 1988.

PLUTARCO. Vidas Paralelas. Trad. Carlos Alcade Martín e Marta González González. Madrid: Gregos, 2010.

SIMPLICÍO. Física.  Trad. Alexandre Costa. Col. Anais de filosofia clássica. Vol. 3. N; 06. UFRJ. 2009.

ZINGANO, Marco. Estudos de Ética Antiga. São Paulo: Editora Discurso Editorial, 2007.

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