Hermótimo de Clazômenas – (610 a 570) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo da antiguidade grega que viveu no período pré-socrático,
durante a época dos primeiros filósofos gregos. Algumas correntes da história
da filosofia classificavam esses filósofos, que antecederam os primeiros
pré-socráticos, como sendo os “filósofos hiperbóreos”. Enquadra-se no período da
filosofia grega, em que estava se iniciando a transição do pensamento mítico
para o pensamento racional. Trabalhou, em seu sistema de pensamento, tanto
ideias ligadas a filosofia da mente, bem como também, ao xamanismo, mantendo certa
relação com os conceitos pitagóricos. Acredita-se que Hermótimo teria sido um
dos mestres de Anaxágoras e que tenha convivido com outros notáveis pensadores de
seu tempo. Considerado um filósofo lendário, alguns dos discípulos de Pitágoras
chegaram a afirmar que ele seria uma reencarnação de Hermótimo. O próprio
Pitágoras também teria confirmado essas alegações, ao dizer que se lembrava de
suas vidas passadas, tendo recordado e reconhecido antigos objetos de outras
vidas.
Não se sabe ao certo a data exata de seu nascimento e de sua morte, o
que se sabe é que ele floresceu por volta de 610 a.C, tendo falecido após
realizar um transe, em que sua alma viajava no tempo, fora do corpo, porém
alguns inimigos aproveitaram sua vulnerabilidade e atearam fogo no seu corpo
adormecido. Segundo relatos, em um fatídico dia, após entrar em transe e
realizar uma viajem astral, a sua esposa teria cometido uma traição, devido uma
intriga pessoal entre o casal, permitindo que os algozes de Hermótimo queimasse
seu corpo, enquanto o mesmo se encontrava em estado letárgico. Por conta de tal
fato, sua alma teria retornado tarde demais para seu corpo inconsciente,
provocando o seu falecimento. Posteriormente, os habitantes da cidade ergueram
um templo para Hermótimo, exprimindo uma homenagem. As mulheres ficaram
proibidas de frequentar o templo, simbolizando a marca da traição que teria
sido realizada por sua esposa.
Filosofia da Mente
Estabeleceu como “arché” do universo a ideia de uma mente
transformadora, ou seja, uma razão, que seria a força propulsora e geradora das
mudanças na matéria, em outras palavras, defendia a ideia de que uma espécie de
inteligência ordenadora teria dado causa originária a tudo. Ele trabalhava o
conceito de mudança das coisas, através da mente, isto é, a mente seria um
regente do cosmos, porém a essência da matéria permanecia estática. Nesse
sentido, sua teoria é considerada dual, pois estabelecia um princípio material
e outro ativo, como sendo as causas primeiras que davam origem a tudo no
universo. As teorias de Hermótimo antecederam os pensamentos que tinham a mesma
similitude, porém o seu discípulo Anáxagoras foi o responsável por sistematizar
essas concepções com mais fundamentação.
Acreditava na ideia de que a alma seria capaz de viajar fora do corpo
durante o sono, desse modo se supõe que ele era considerado um praticante da
letargia, o mesmo que, uma prática multisciente ou parapsíquica, tida como
variante da meditação, esse fenômeno era muito experienciado pelos primeiros pensadores
xamanicos dessa época. Segundo o historiador Plinio (1991), as chamadas “viagens
extáticas” tinham como principal objetivo, se conectar com o mundo do além,
para aquisição do poder de cura junto aos deuses, esse êxtase teria as mesmas
características e aspectos do transe xamânico. Nas suas viagens, o filósofo da
mente relatava o que viveu, em outras vidas passadas, tendo revelado fatos
curiosos sobre antigas calamidades, desastres e terremotos. Enquanto alguns
dos pensadores dessa época relatavam, apenas acontecimentos do passado, Hermótimo
julgava também poder avançar no tempo e beber da fonte do conhecimento futuro.
Segundo os doxógrafos, sua alma viajava por muito tempo e para lugares
distantes, observando o passado e profetizando o futuro.
Filosofia Sapiencial
+ “Qualquer um pode segurar o leme quando o mar está calmo”.
+ "A raça humana está em uma melhor situação quando possui o mais alto grau de liberdade".
Fatos e Curiosidades
O filósofo Luciano de Samósata, em uma de suas obras, teria escrito uma fábula comparativa que descrevia como uma mosca poderia se reanimar, após sofrer possíveis desalentos. No seu texto, “o elogio da mosca” ele descreveu uma analogia, explicando que assim como a mosca conseguia se reascender, também seria possível para Hermótimo entrar em grandes êxtases profundos e reflorescer repetidamente, trazendo de volta sua alma ao corpo.
Fontes:
ARISTÓTELES. Metafísica. trad. Edson BINI. São Paulo: Editora Edipro,
2012.
BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos
Pré-Socráticos. São Paulo: Editora Cultrix , 1967.
CATIQUE, Mariney Souza. Xamanismo grego: sabedoria e filosofia no
pensamento de Empédocles e Pitágoras. Manaus: UFAM, 2014.
CIVITA, Victor. Pré-Socráticos:
Os pensadores. São Paulo: Editora Nova Cultura LTDA. 1996.
DETIENNE, Marcel. Os mestres da verdade na Grécia Arcaica. Rio de
Janeiro: Editora Zahar, 2003.
ELIADE, Mircea. O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. São
Paulo: Editora Martins Fontes, 2002.
HADOT, Pierre. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Editora
Lisboa, 1999.
KIRK,
Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos.
Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1983.
LUCIANO de
SAMÓSATA. Obras I: O Elogio da Mosca. Cambridge/Madrid: Editora Gredos,
1996.
PLÍNIO, O velho. História
Natural. trad. Harris Rackam.
Cambridge: Harvard University Press, 1991.
Nenhum comentário:
Postar um comentário