domingo, 30 de julho de 2023

Hermótimo de Clazômenas

Hermótimo de Clazômenas – (610 a 570) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade grega que viveu no período pré-socrático, durante a época dos primeiros filósofos gregos. Algumas correntes da história da filosofia classificavam esses filósofos, que antecederam os primeiros pré-socráticos, como sendo os “filósofos hiperbóreos”. Enquadra-se no período da filosofia grega, em que estava se iniciando a transição do pensamento mítico para o pensamento racional. Trabalhou, em seu sistema de pensamento, tanto ideias ligadas a filosofia da mente, bem como também, ao xamanismo, mantendo certa relação com os conceitos pitagóricos. Acredita-se que Hermótimo teria sido um dos mestres de Anaxágoras e que tenha convivido com outros notáveis pensadores de seu tempo. Considerado um filósofo lendário, alguns dos discípulos de Pitágoras chegaram a afirmar que ele seria uma reencarnação de Hermótimo. O próprio Pitágoras também teria confirmado essas alegações, ao dizer que se lembrava de suas vidas passadas, tendo recordado e reconhecido antigos objetos de outras vidas.

Não se sabe ao certo a data exata de seu nascimento e de sua morte, o que se sabe é que ele floresceu por volta de 610 a.C, tendo falecido após realizar um transe, em que sua alma viajava no tempo, fora do corpo, porém alguns inimigos aproveitaram sua vulnerabilidade e atearam fogo no seu corpo adormecido. Segundo relatos, em um fatídico dia, após entrar em transe e realizar uma viajem astral, a sua esposa teria cometido uma traição, devido uma intriga pessoal entre o casal, permitindo que os algozes de Hermótimo queimasse seu corpo, enquanto o mesmo se encontrava em estado letárgico. Por conta de tal fato, sua alma teria retornado tarde demais para seu corpo inconsciente, provocando o seu falecimento. Posteriormente, os habitantes da cidade ergueram um templo para Hermótimo, exprimindo uma homenagem. As mulheres ficaram proibidas de frequentar o templo, simbolizando a marca da traição que teria sido realizada por sua esposa.

Filosofia da Mente

Estabeleceu como “arché” do universo a ideia de uma mente transformadora, ou seja, uma razão, que seria a força propulsora e geradora das mudanças na matéria, em outras palavras, defendia a ideia de que uma espécie de inteligência ordenadora teria dado causa originária a tudo. Ele trabalhava o conceito de mudança das coisas, através da mente, isto é, a mente seria um regente do cosmos, porém a essência da matéria permanecia estática. Nesse sentido, sua teoria é considerada dual, pois estabelecia um princípio material e outro ativo, como sendo as causas primeiras que davam origem a tudo no universo. As teorias de Hermótimo antecederam os pensamentos que tinham a mesma similitude, porém o seu discípulo Anáxagoras foi o responsável por sistematizar essas concepções com mais fundamentação.

Acreditava na ideia de que a alma seria capaz de viajar fora do corpo durante o sono, desse modo se supõe que ele era considerado um praticante da letargia, o mesmo que, uma prática multisciente ou parapsíquica, tida como variante da meditação, esse fenômeno era muito experienciado pelos primeiros pensadores xamanicos dessa época. Segundo o historiador Plinio (1991), as chamadas “viagens extáticas” tinham como principal objetivo, se conectar com o mundo do além, para aquisição do poder de cura junto aos deuses, esse êxtase teria as mesmas características e aspectos do transe xamânico. Nas suas viagens, o filósofo da mente relatava o que viveu, em outras vidas passadas, tendo revelado fatos curiosos sobre antigas calamidades, desastres e terremotos. Enquanto alguns dos pensadores dessa época relatavam, apenas acontecimentos do passado, Hermótimo julgava também poder avançar no tempo e beber da fonte do conhecimento futuro. Segundo os doxógrafos, sua alma viajava por muito tempo e para lugares distantes, observando o passado e profetizando o futuro.

 

Filosofia Sapiencial

+ “Qualquer um pode segurar o leme quando o mar está calmo”.

+ "A raça humana está em uma melhor situação quando possui o mais alto grau de liberdade".

Fatos e Curiosidades

O filósofo Luciano de Samósata, em uma de suas obras, teria escrito uma fábula comparativa que descrevia como uma mosca poderia se reanimar, após sofrer possíveis desalentos. No seu texto, “o elogio da mosca” ele descreveu uma analogia, explicando que assim como a mosca conseguia se reascender, também seria possível para Hermótimo entrar em grandes êxtases profundos e reflorescer repetidamente, trazendo de volta sua alma ao corpo.

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. trad. Edson BINI. São Paulo: Editora Edipro, 2012.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Editora Cultrix , 1967.

CATIQUE, Mariney Souza. Xamanismo grego: sabedoria e filosofia no pensamento de Empédocles e Pitágoras. Manaus: UFAM, 2014.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Editora Nova Cultura LTDA. 1996.

DETIENNE, Marcel. Os mestres da verdade na Grécia Arcaica. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2003.

ELIADE, Mircea. O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002.

HADOT, Pierre. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Editora Lisboa, 1999.

KIRK, Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos. Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

LUCIANO de SAMÓSATA. Obras I: O Elogio da Mosca. Cambridge/Madrid: Editora Gredos, 1996.

PLÍNIO, O velho. História Natural.  trad. Harris Rackam. Cambridge: Harvard University Press, 1991.

PLUTARCO. Vidas Paralelas. Trad. Carlos Alcade Martín e Marta González González. Madrid: Editora Gregos, 2010.

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