Kagemni do Egito - (2600 a 2500) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo
egípcio da antiguidade que escreveu uma obra de instrução sapiencial chamada de
“Instruções de Kagemni”. Acredita-se que ele tenha vivido
aproximadamente entre a IV e a VI dinastia egípcia, no chamado médio império. Seu nome também é transliterado como “Kagemni-Memi”.
Exercia a função de vizir no reino do faraó Seneferu, esse cargo acumulava
várias atribuições como o de ministro, conselheiro, administrador,
superintendente e juiz. Sua obra possuía algumas semelhanças com as máximas de
Ptahotep, porém se diferenciava das obras de outros pensadores da época. Foi
escrito no formato de “sebayt” que era um típico gênero literário
egípcio, escrito com a finalidade didática de ensinar. Teria sido produzida em
um estilo de escrita denominado de “hierático arcaico”. Parte de sua
obra se encontra compilado no famoso Papiro de Prisse. Sua esposa era conhecida
pelo nome de “Nebtynubkhet Sesheshet” e acredita-se que ela, provavelmente
era filha do faraó Teti. O nome de sua esposa foi descoberto ocasionalmente,
por arqueólogos, em uma pedra detectada de maneira independente. A múmia de
Kagemni foi adulterada, tendo sido retirados do local os amuletos e outros
objetos preciosos.
Filosofia Moral
Segundo algumas fontes, Kagemni foi considerado o
primeiro pensador pacifista do antigo Egito. A servidão ao próximo era um
exercício humano que, segundo ele, agradava a Deus. Defendia a teoria de que
era preciso ter respeito e compaixão por todos os seres vivos. Por isso, também
era visto como um forte defensor da natureza e dos animais. Sua obra foi agrupada em um compilado
de máximas instrutivas que revelavam conselhos proverbiais para a condução de
uma vida boa. A escrita retravava ensinamentos práticos para a vivência, orientando
sobre como obter moderação e praticar a virtude da modéstia. As instruções são
fontes importantes para os padrões morais e éticos do antigo Egito. Ele
explicava que o homem virtuoso seria aquele que conseguia cultivar o silêncio,
pois este sabia ter moderação, praticando o autocontrole e a calma. Advertia
também sobre como evitar os vícios da gula, ensinava a respeito de saber como
se alimentar bem, praticando bons hábitos alimentares. Esse seu tratado, a
respeito da arte de viver bem, trazia recomendações sobre comportamentos
sociais, explanando algumas regras de etiqueta. Defendia um
conceito ético de que o ser humano deveria realizar ações corretas quando
acreditasse que verdadeiramente estava certo, deveria se policiar para não
buscar interesses egoísticos ou vantagens pessoais. Exercitava o hábito da
simplicidade como sendo uma qualidade necessária para o homem se tornar um
sábio. Recriminava a corrupção moral que era ocasionada pelo orgulho
desmedido.
Filosofia da História
Seu túmulo está localizado em uma mastaba, situada
em um sítio arqueológico do Egito conhecido como “Saqqara”. As mastabas são
espécies de tumbas do antigo Egito que possuíam um formato piramidal. A mastaba
de Kagemni é uma das mais conhecidas e procuradas por turistas, tendo um
labirinto de quartos e antessalas que servem de visitação. Logo na entrada, há
uma pintura que descreve Kagemni segurando na mão direita um cetro,
simbolizando o poder e na mão esquerda um longo bastão, representando a arte do
ofício. Nas salas de sua mastaba se encontram vários quadros pintados que
retratam cenas do cotidiano político de Kagemni, juntamente com elementos da
natureza. Os temas teriam sido sugeridos pelo próprio Kagemni com a finalidade
de descrever a arquitetura local, a fertilidade do campo e a riqueza de bens. A fauna descrita apresenta animais selvagens e
domésticos, como peixes, sapos, crocodilos, insetos, pássaros, gansos, hienas, hipopótamos
e vacas. Os quadros também exprimem peças de artes cênicas como pessoas
praticando acrobacias e danças variadas.
Alguns historiadores afirmam que provavelmente
teriam existido duas pessoas com o mesmo nome, chamados de Kagemni I e Kagemni
II, outros pesquisadores acreditam que esse nome, seria na verdade um sobrenome
de família que descrevia uma linhagem tradicional do antigo Egito. Contudo, à
maioria dos especialistas apontam que Kagemni produziu suas obras com o
objetivo de ser lembrado pelos seus descendentes, por isso, houve, em outros
períodos da história antiga, algumas comemorações de ancestralidade, em
homenagem a sua memória, esse fato é que pode ter gerado tal dubiedade.
Filosofia Sapiencial
+ “São as nossas ações que falam por nós”
+ “O homem sábio não se exalta e nem se gaba”.
+ “Não se gabe de sua força no meio de jovens
soldados”
+ “Deixe seu nome avançar enquanto você silencia
tua boca”
+ “O homem tímido prospera e é louvado quem sabe se
adaptar”.
+ “As ações que levam seu nome são melhores que
palavras ao vento”
+ “O homem humilde floresce, e aquele que age com
retidão é elogiado”
+ “Reserve um momento para conter seu coração e sua
ganância ignóbil”
+ “As tendas são abertas ao silencioso e espaçoso é
o assento do satisfeito”
+ “Uma coisa boa significa bondade, o que é bom, e
o pouco substitui o muito”
+ “Leva apenas um
breve momento para conter o coração e é vergonhoso ser ganancioso”.
+ “Quando for chamado não venha com grande
personalidade, para que não seja desafiado”
+ “As facas estão afiadas contra o imprudente, e
ninguém avança rapidamente se não é a seu tempo”.
+ “Cuidado para não criar conflitos; não se sabe o
que pode acontecer, o que o Deus fará quando castigar”
+ “Um copo de água aplaca a sede, a glutonaria é
grosseira e censurável e um punhado de vegetais fortalece o coração”.
+ “É desprezível aquele cujo ventre continua
cobiçando depois que passou a hora de comer: Esquece-se daqueles que vivem na
casa quando devoras”.
+ “Se você se sentar com um glutão, coma quando ele
terminar; se você se sentar com um bêbado, aceite apenas uma bebida, e seu
coração ficará satisfeito”.
+ “Se um homem carece de boa comunhão, nenhum
discurso tem qualquer influência sobre ele. Ele é azedo para os de bom coração
que são gentis com ele. Ele é uma dor para sua mãe e seus amigos”.
+ “Não seja arrogante entre seus pares por causa de sua força. E tome cuidado para agir de maneira a incentivar a oposição. Pois não se sabe o que acontecerá ou as coisas que Deus fará para punir o mal”.
Fontes:
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Introdução à Língua e à Cultura dos Hieróglifos. Inglaterra: Universidade
de Cambridge, 2000.
ASANTE, Molefi Kete. Os filósofos egípcios:
Vozes Antigas Africanas para Estes Tempos de Imhotep a Akhenaten. Site:
Docero Brasil. Internet: Acesso em 2023.
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CARPICECI, Alberto Carlos. Arte e História do
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CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos.
Lisboa: Editora Europa-América, 1994.
CELADA, Benito. Literatura Egípcia: Origem,
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DIOP, Cheikh Anta. História Geral da África.
São Paulo: Editora Ática/UNESCO, 1980.
GUNN, Battiscombe. A Instrução de Ptah-Hotep e a
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do Oriente, 2009.
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Reino Unido: Editora Michael O'Mara, 1995.
PACHECO, Francklim. Os ensinamentos para
kagemni: Textos de Sabedoria. Egito: Comissão Diocesana da Cultura, 2016.
TALLET, Pierre. História da cozinha faraônica. São
Paulo: Editora SENAC, 2002.
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