terça-feira, 18 de julho de 2023

Kagemni do Egito

Kagemni do Egito - (2600 a 2500) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo egípcio da antiguidade que escreveu uma obra de instrução sapiencial chamada de “Instruções de Kagemni”. Acredita-se que ele tenha vivido aproximadamente entre a IV e a VI dinastia egípcia, no chamado médio império.  Seu nome também é transliterado como “Kagemni-Memi”. Exercia a função de vizir no reino do faraó Seneferu, esse cargo acumulava várias atribuições como o de ministro, conselheiro, administrador, superintendente e juiz. Sua obra possuía algumas semelhanças com as máximas de Ptahotep, porém se diferenciava das obras de outros pensadores da época. Foi escrito no formato de “sebayt” que era um típico gênero literário egípcio, escrito com a finalidade didática de ensinar. Teria sido produzida em um estilo de escrita denominado de “hierático arcaico”. Parte de sua obra se encontra compilado no famoso Papiro de Prisse. Sua esposa era conhecida pelo nome de “Nebtynubkhet Sesheshet” e acredita-se que ela, provavelmente era filha do faraó Teti. O nome de sua esposa foi descoberto ocasionalmente, por arqueólogos, em uma pedra detectada de maneira independente. A múmia de Kagemni foi adulterada, tendo sido retirados do local os amuletos e outros objetos preciosos.

Filosofia Moral

Segundo algumas fontes, Kagemni foi considerado o primeiro pensador pacifista do antigo Egito. A servidão ao próximo era um exercício humano que, segundo ele, agradava a Deus. Defendia a teoria de que era preciso ter respeito e compaixão por todos os seres vivos. Por isso, também era visto como um forte defensor da natureza e dos animais. Sua obra foi agrupada em um compilado de máximas instrutivas que revelavam conselhos proverbiais para a condução de uma vida boa. A escrita retravava ensinamentos práticos para a vivência, orientando sobre como obter moderação e praticar a virtude da modéstia. As instruções são fontes importantes para os padrões morais e éticos do antigo Egito. Ele explicava que o homem virtuoso seria aquele que conseguia cultivar o silêncio, pois este sabia ter moderação, praticando o autocontrole e a calma. Advertia também sobre como evitar os vícios da gula, ensinava a respeito de saber como se alimentar bem, praticando bons hábitos alimentares. Esse seu tratado, a respeito da arte de viver bem, trazia recomendações sobre comportamentos sociais, explanando algumas regras de etiqueta. Defendia um conceito ético de que o ser humano deveria realizar ações corretas quando acreditasse que verdadeiramente estava certo, deveria se policiar para não buscar interesses egoísticos ou vantagens pessoais. Exercitava o hábito da simplicidade como sendo uma qualidade necessária para o homem se tornar um sábio. Recriminava a corrupção moral que era ocasionada pelo orgulho desmedido.   

Filosofia da História

Seu túmulo está localizado em uma mastaba, situada em um sítio arqueológico do Egito conhecido como “Saqqara”. As mastabas são espécies de tumbas do antigo Egito que possuíam um formato piramidal. A mastaba de Kagemni é uma das mais conhecidas e procuradas por turistas, tendo um labirinto de quartos e antessalas que servem de visitação. Logo na entrada, há uma pintura que descreve Kagemni segurando na mão direita um cetro, simbolizando o poder e na mão esquerda um longo bastão, representando a arte do ofício. Nas salas de sua mastaba se encontram vários quadros pintados que retratam cenas do cotidiano político de Kagemni, juntamente com elementos da natureza. Os temas teriam sido sugeridos pelo próprio Kagemni com a finalidade de descrever a arquitetura local, a fertilidade do campo e a riqueza de bens.  A fauna descrita apresenta animais selvagens e domésticos, como peixes, sapos, crocodilos, insetos, pássaros, gansos, hienas, hipopótamos e vacas. Os quadros também exprimem peças de artes cênicas como pessoas praticando acrobacias e danças variadas.

Alguns historiadores afirmam que provavelmente teriam existido duas pessoas com o mesmo nome, chamados de Kagemni I e Kagemni II, outros pesquisadores acreditam que esse nome, seria na verdade um sobrenome de família que descrevia uma linhagem tradicional do antigo Egito. Contudo, à maioria dos especialistas apontam que Kagemni produziu suas obras com o objetivo de ser lembrado pelos seus descendentes, por isso, houve, em outros períodos da história antiga, algumas comemorações de ancestralidade, em homenagem a sua memória, esse fato é que pode ter gerado tal dubiedade.

Filosofia Sapiencial

+ “São as nossas ações que falam por nós”

+ “O homem sábio não se exalta e nem se gaba”.

+ “Não se gabe de sua força no meio de jovens soldados”

+ “Deixe seu nome avançar enquanto você silencia tua boca”

+ “O homem tímido prospera e é louvado quem sabe se adaptar”.

+ “As ações que levam seu nome são melhores que palavras ao vento”

+ “O homem humilde floresce, e aquele que age com retidão é elogiado”

+ “Reserve um momento para conter seu coração e sua ganância ignóbil”

+ “As tendas são abertas ao silencioso e espaçoso é o assento do satisfeito”

+ “Uma coisa boa significa bondade, o que é bom, e o pouco substitui o muito”

+ “Leva apenas um breve momento para conter o coração e é vergonhoso ser ganancioso”.

+ “Quando for chamado não venha com grande personalidade, para que não seja desafiado”

+ “As facas estão afiadas contra o imprudente, e ninguém avança rapidamente se não é a seu tempo”.

+ “Cuidado para não criar conflitos; não se sabe o que pode acontecer, o que o Deus fará quando castigar”

+ “Um copo de água aplaca a sede, a glutonaria é grosseira e censurável e um punhado de vegetais fortalece o coração”.

+ “É desprezível aquele cujo ventre continua cobiçando depois que passou a hora de comer: Esquece-se daqueles que vivem na casa quando devoras”.

+ “Se você se sentar com um glutão, coma quando ele terminar; se você se sentar com um bêbado, aceite apenas uma bebida, e seu coração ficará satisfeito”.

+ “Se um homem carece de boa comunhão, nenhum discurso tem qualquer influência sobre ele. Ele é azedo para os de bom coração que são gentis com ele. Ele é uma dor para sua mãe e seus amigos”.

+ “Não seja arrogante entre seus pares por causa de sua força. E tome cuidado para agir de maneira a incentivar a oposição. Pois não se sabe o que acontecerá ou as coisas que Deus fará para punir o mal”.

Fontes:

ALLEN, James Peter. Egípcio Médio: Uma Introdução à Língua e à Cultura dos Hieróglifos. Inglaterra: Universidade de Cambridge, 2000.

ASANTE, Molefi Kete. Os filósofos egípcios: Vozes Antigas Africanas para Estes Tempos de Imhotep a Akhenaten. Site: Docero Brasil. Internet: Acesso em 2023.

BROWN, Brian. A Sabedoria dos Egípcios. Nova Iorque: Brentano, 1923.

CARPICECI, Alberto Carlos. Arte e História do Egito. Florença: Editora Bonechi, 1994.

CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos. Lisboa: Editora Europa-América, 1994.

CELADA, Benito. Literatura Egípcia: Origem, Características, Autores e Obras. Espanha: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 1935.

DIOP, Cheikh Anta. História Geral da África. São Paulo: Editora Ática/UNESCO, 1980.

GUNN, Battiscombe. A Instrução de Ptah-Hotep e a Instrução de Kagemni: Os livros mais antigos do mundo. Londres: A Sabedoria do Oriente, 2009.

KASTER, Joseph. A Sabedoria do Antigo Egito. Reino Unido: Editora Michael O'Mara, 1995.

PACHECO, Francklim. Os ensinamentos para kagemni: Textos de Sabedoria. Egito: Comissão Diocesana da Cultura, 2016.

TALLET, Pierre. História da cozinha faraônica. São Paulo: Editora SENAC, 2002.

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