Demócrito de Abdera
– (460 a 370) a.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi um filósofo da
Grécia antiga que viveu no período de transição entre os pré-socráticos e a
filosofia clássica. Ele foi discípulo de Leucipo de Mileto e mestre do sofista
Protágoras de Abdera. Além disso, também teria exercido grande influência na
obra do filósofo Epicuro. Demócrito juntamente com seu mestre Leucipo são os
fundadores do atomismo. Suas obras são consideradas como sendo de caráter
materialista, mecanicista e determinista, pois explicavam a ordem do cosmos
através da natureza. A frase que sintetizou seu pensamento foi: “há apenas
átomos e vazio”. Possuía uma boa condição de vida o que lhe permitiu
realizar muitas viagens pelo mundo antigo, com isso aperfeiçoou os diversos
saberes que assimilava. Historiadores apontam que ele teria escrito
aproximadamente noventa obras, porém apenas alguns fragmentos se conservaram no
tempo. O descrito atomista também estudou as áreas da Matemática, Astronomia,
Música, Línguas, História, Geografia e Ética. Entre seus principais temas de estudo estavam o problema da ética, da
natureza e da educação. O nome “Demócrito” no grego antigo
significava: “o escolhido do povo”. Demócrito ficou conhecido como o “filósofo
hilário”, pois vivia rindo de tudo, até das suas próprias explicações
sobre filosofia. Acreditava que o sorriso atraía conhecimento. Nasceu na cidade
de Abdera, por volta do ano 460 a.C e veio a falecer, em 370 a.C.
Filosofia Atomista
A partir dos
ensinamentos de seu mestre, ele desenvolveu e sistematizou a “teoria
atômica” que também ficou conhecida como “atomismo”. Esse
modelo de pensamento era explicado apenas no campo filosófico, pois ainda era
um pensamento primitivo em relação às ideias atômicas que viriam a surgir na
modernidade. Segundo Demócrito, a matéria poderia ser dividida até chegar a uma
partícula mínima que seria indivisível, essa partícula era chamada de átomo,
isto é, sem divisão. A palavra átomo significa indivisível e vem da junção
de “a” que quer dizer “não” e “tomos” que tem
o sentido de “parte”, ou seja, parte “não-divisível”.
A teoria atomista
foi desenvolvida por ele quando ao observar a natureza Demócrito teria visto um
raio de sol penetrando por uma fresta na porta de um quarto, daí notou as
pequenas partículas de poeira dispersas no ar e obteve o seguinte
raciocínio: “os átomos são como partículas de poeira, um turbilhão de
partículas que se colidem de forma aleatória, eles também se expelem, porém
existem alguns que nunca se tocam”. O pensador Aristóteles
explicou algumas ideias a respeito da obra de Demócrito, demonstrando que para
a matéria se deslocar no espaço, seria necessário existir um grande vazio, ou
seja, um vácuo infinito onde uma quantidade infinita de átomos se deslocaria
nesse espaço. Dessa forma, deveria então existir partes vazias para que assim
fosse possível existir o movimento entre os átomos, porém se a matéria se
dividisse em partes cada vez menores, e de forma infinita, então não haveria
consistência nessa matéria, nesse sentido, a matéria não poderia se formar de
outras partes menores, em razão do espaço vazio sofrer pressão da formação
infinita de divisões. Desse modo, a divisão da matéria não poderia ser
infinita, ao contrário, deveria ser finito, consequentemente, esse fenômeno de
divisão mínima da matéria, seria entendido como sendo os átomos. O conceito de
vazio definido pelo Demócrito teria relação com a ideia de espaços que existiam
entre os átomos.
Nas suas obras,
ele explicava que os átomos possuíam um formato geométrico, daí esse aspecto
simétrico permitiria que existisse encaixe entre eles, assim sendo, esses
átomos ao serem combinados, produziriam outras substâncias que eram geradas por
processos mecânicos. Sua visão do átomo se
assemelhava ao que atualmente se chama de partes de uma molécula. Demócrito
tentou resolver a oposição de ideias que existia entre Heráclito e Parmênides,
desse modo, ele afirmou que o universo seria composto por dois elementos
básicos, o átomo que era o “ser” e o vácuo denominado de “não-ser”.
Além de ser indivisível, o átomo de Demócrito também apresentava as seguintes
características, ele seria: invariável, individual, invisível, incompreensível,
indestrutível, eterno e estaria em movimento constante, tendo tamanho e
formatos diferentes, ocupando ordenamento e posições variadas, em vista disso,
a matéria seria construída pela combinação desse modelo de átomo que era
esférico, leve e aquecido. Através desse estudo físico e mecânico, ele afirmava
que o átomo seria indestrutível, e que eles teriam pesos diferentes. Era eterno
porque nada poderia ter surgido do nada.
Filosofia
Cosmológica
Para Demócrito, o
universo era formado por infinitos átomos de diversos formatos que se chocavam
e se repeliam o tempo todo. Alguns átomos, como um jogo de quebra-cabeça,
possuiriam afinidade com outros átomos e poderiam se unir formando uma
diversidade de matéria. Da mesma forma que a matéria se formaria com o choque
aleatório de átomos afins, a matéria também se desintegraria com o movimento
dos átomos. Para ele, a
consistência dos aglomerados de átomos era o que fazia com que algo se
parecesse com os “Estados da Matéria”, isto é, o sólido, o líquido, o gasoso e
o anímico (estado de espírito), a matéria seria então determinada pelo formato
(figura) e arranjo dos átomos envolvidos, logo, os átomos poderiam ter os
seguintes formatos:
Os
átomos de aço possuíam um formato que se assemelhava a ganchos, que os
prendiam solidamente entre si. Os átomos de água eram lisos e
escorregadios. Os átomos de sal como demonstravam
o seu gosto, seriam ásperos e pontudos. Os átomos de ar seriam pequenos e pouco ligados, penetrando todos os outros
materiais. Os átomos da alma e do fogo eram esféricos e muito delicados. (Demócrito).
Seu
modelo cosmológico descrevia o vácuo como um vazio que ele denominou de “não-ser”.
Para ele, esse vácuo era uma espécie de oposição aos átomos. Ele também chegou
à conclusão de que existiriam aglomerados gigantes de estrelas, ou seja,
galáxias que devido a distância delas em relação à Terra, elas pareceriam
pequenas, por isso eram confundidas com as estrelas. Além
da teoria do atomismo, ele também acreditava que o universo era infinito e que
existiam muitos mundos iguais ao nosso por todo o universo.
Filosofia
teleológica
Ao
contrário do que afirmavam muitos filósofos de seu tempo, Demócrito acreditava
que não existia uma causa primeira ou inteligente para tudo, pois assim como os
átomos seriam eternos, assim também a natureza se autorrevelaria, isto é, ela
sempre existiu, de maneira que tudo “sempre foi, é, e sempre será”. Segundo o
filósofo Diógenes de Laércio, Demócrito acreditava que tudo acontecia por força
da necessidade, essa força seria como um vórtice gerador da gênese de todas as
coisas. Dessa maneira, argumentava que o fim absoluto de tudo era a serenidade
da alma, que poderia ser adquirida pelo equilíbrio e pela calma. Essa calma
seria a ausência de emoções que perturbavam a alma, como o medo e as
superstições.
Sua visão
materialista explicava os fenômenos através das leis naturais, por isso os
átomos poderiam se unir e se separar de maneira harmônica, porém eram
indivisíveis em seu aspecto físico. Nesse sentido, a causa de tudo seria resultado das leis naturais e a mecânica do mundo
poderia explicar os fenômenos da natureza. Para Demócrito, a física explicava
de forma material como era feito a realidade e a lógica definia os fundamentos
do que poderia ser conhecido como verdade. Através da união desses saberes,
seria formada a ideia de moral. Ele também acreditava que a alma humana era
feita de átomos e que por isso ela sofreria um processo de decomposição e
adaptação. Embora os átomos fossem eternos, os corpos poderiam perecer, mas sua
essência não, pois a alma era formada por átomos semelhantes ao aspecto volátil
do fogo. Desta forma, os átomos da
alma se dispersam no espaço, isto é, quando uma pessoa morre, os átomos de sua
alma se espalham para todas as direções, podendo se agrupar ou se agregar a
outra alma. Dito isto, compreende-se que na sua visão, a alma não seria
imortal.
Filosofia
Moral
Para
Demócrito, não seria possível ao homem ter um livre-arbítrio absoluto, pois a
liberdade de escolha era uma ilusão, já que não seria possível ao homem
alcançar todas as causas que o levam a uma decisão plena. Porém, o indivíduo
poderia controlar seus impulsos e desejos, pois a alma exerceria uma ordenação
capaz de direcionar o homem em um caminho ético e moral na sociedade.
Sustentava que se deveria buscar a felicidade na moderação dos desejos e no
reconhecimento da superioridade da alma sobre o corpo. Para
ele, os sentidos enganam os indivíduos em relação à compreensão dos átomos,
desta forma, ele dizia que cada sentido que o corpo possuía poderia ser
entendido pelo formato específico de cada átomo, logo, o homem teria uma
sensação sobre os fenômenos. Nesse contexto, ele observava que: “os
homens acreditam que branco e o preto, o doce e o amargo e todas as outras
qualidades do gênero, são algo de real, quando na verdade só o que existe é o
ente e o nada”.
Filosofia
do Conhecimento
Ele
definia duas formas de conhecimento, que seria o conhecimento inteligível, e o
conhecimento sensível. Daí explicava que apenas o inteligível seria de fato
verdadeiro, pois o conhecimento sensível dependeria dos sentidos, e os sentidos
não captavam a realidade de maneira totalmente real, apenas de forma simples.
Afirmava que o pensamento era um processo físico e que o objetivo da vida seria
a felicidade. Boa parte da ciência moderna foi bastante
influenciada pelos pensamentos de Demócrito. Ele foi considerado um escritor
prolífico e visto por muitos como o pai da ciência. Tinha uma forma de escrita
em formato de poema na qual desenvolvia suas ideias científicas e filosóficas.
Filosofia
da Matemática
O
pensamento de Demócrito foi influenciado pela escola pitagórica no sentido do
formato geométrico dos átomos. Além disso, Demócrito também chegou a estudar
alguns ramos da Matemática como, por exemplo, os problemas relacionados aos
volumes das figuras geométricas e suas relações com cálculos infinitesimais.
Também estudou conceitos ligados aos números irracionais e dissertou a respeito
das tangentes. Na geometria, ele descreveu que o volume de um cone é um terço
do volume de um cilindro de mesma base e altura, e que o volume de uma pirâmide
seria um terço do volume de um prisma de mesmas base e altura.
Curiosidades:
Demócrito era um homem muito viajado, por isso se envaidecia como sendo o filósofo que mais tinha percorrido o mundo da época e também o que mais tinha conversado com sábios de todos os lugares. Conta-se que certa vez, tendo ido a Atenas, desapontou-se porque ninguém na cidade o conhecia.
Obras:
-
Pequena ordem do mundo
- Da forma e do
entendimento
- Do bom ânimo,
- Preceitos.
- Sobre Pitágoras
Filosofia
Sapiencial
+
“O homem é um microcosmo.”
+
“A palavra é à sombra da ação.”
+
“A ignorância do bem é a causa do mal.”
+
“A alegria é mais sábia que a sabedoria”.
+
“O sol visita a latrina e não se contamina.”
+
“O caráter de um homem faz o seu destino.”
+
“Os homens, ao fugir da morte, perseguem-na.”
+
“O prazer do amor é apenas uma curta epilepsia.”
+
"É sinal de alma elevada suportar os excessos
dos outros".
+
“Os grandes prazeres nascem de contemplar as belas obras”.
+
"Tudo o que existe no universo é fruto do acaso e da necessidade”
+
“Desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para as demais.”
+ “Bom não é apenas não ser injusto, mas, também, não querer sê-lo.”
+
“Na realidade, não conhecemos nada, pois a verdade está no íntimo”
+ "Não se poderá
jamais chegar, a saber, o que cada coisa realmente é"
+ “Quem faz o homem feliz não é o dinheiro: é a retidão e a prudência.”
+
"Devemos nos distanciar dos erros, não por medo, mas por obrigação"
+ “A felicidade não reside nas posses e nem em ouro, ela mora na alma”.
+ “Sábio é quem não se aflige com o que lhe falta e se alegra com o que
possui”.
+
“Toda a terra está ao alcance do sábio, já que o pai de uma alma elevada é o
universo.”
+
"A virtude deve ser provada através de fatos e
atitudes e não apenas por palavras".
+
“Se você sofreu alguma injustiça, console-se; a verdadeira infelicidade é
cometê-la.”
+
“O bem não significa simplesmente não fazer o mal, mas antes não desejar fazer
o mal".
+ "É uma
questão de sensatez cedermos diante da lei, diante do governante e diante do
mais sábio".
+ “Falsos e
hipócritas são aqueles que tudo fazem com palavras, mas na realidade nada
fazem.”
+
“Para todos, o belo e o verdadeiro são a mesma coisa, mas o agradável é
diferente para cada um”.
+ “A amizade de um único ser humano inteligente é melhor do que a
amizade de todos os insensatos”.
+
“Um homem é digno de fé ou não o é, não somente pelo que faz, mas também é pelo
que quer”.
+
“A verdadeira formosura e o ornamento mais precioso da mulher é falar pouco e
ponderadamente.”
+ “Todo país da terra está aberto ao homem sábio, porque a pátria do
homem virtuoso é o universo inteiro”.
+ “Quem de boa vontade se lança a obras justas e lícitas, dia e noite
está alegre, seguro e despreocupado”.
+ "Toda
belicosidade é insensata; pois enquanto se busca prejudicar o inimigo, esquecemos
o nosso próprio interesse."
+
“O animal é tão ou mais sábio do que o homem: conhece a medida da sua
necessidade, enquanto o homem a ignora.”
+ “A morte não nos concerne, pois quando vivemos, a morte não está aqui.
E quando ela chega, não estamos mais vivos.”
+
“Ainda que estejas só, não deves dizer nem fazer nada ruim. Aprende a
envergonhar-te mais ante ti do que ante os demais.”
+
“A natureza e a educação são algo semelhante, pois a educação transforma o
homem e o transformando lhe constitui a natureza”.
+
“A vida má, sem moderação, desprovida de entendimento e de respeito pelo
sagrado não é uma vida má, mas um morrer lentamente.”
+ "Por trás
das melhores razões, muitas vezes estão às ações mais vergonhosas cometidas
pelos formuladores de tais razões".
+
“Convém ao homem dar maior atenção à alma do que ao corpo, pois a excelência da
Alma corrige a fraqueza do corpo; a fraqueza do corpo, contudo, sem a razão, é
incapaz de melhorar a Alma.”
+ “Quem evita o
injusto apenas por temor à lei provavelmente cometerá o mal em segredo; quem,
ao contrário, for levado ao dever pela convicção provavelmente não cometerá o
injusto nem em segredo nem abertamente. Por isto, quem agir corretamente em
compreensão e entendimento mostrar-se-á corajoso e correto de pensamento”.
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