Tobias Barreto – (1839 a 1889) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Tobias Barreto de Meneses – Foi
um filósofo brasileiro que liderou um movimento filosófico conhecido como
“culturalismo” da Escola de Recife. Era visto também como sendo o fundador de
uma escola literária chamada de condoreirismo brasileiro. Suas ideias
influenciaram diversos pensadores brasileiros, bem como também, várias áreas do
conhecimento. Começou a trabalhar logo cedo, aos 15 anos, como professor de
latim. Iniciou seus estudos na Vila de Campos, localizada em Sergipe,
posteriormente se deslocou para estudar no seminário de Salvador, na Bahia,
nesse ínterim, não conseguiu se adaptar, decidiu então se dirigir para Recife,
onde cursou Direito, bacharelando-se em ciências jurídicas. Também possuía o domínio
de várias línguas, sendo considerado um pensador poliglota.
Atuou principalmente como filósofo, jurista e escritor, tendo assumido um cargo de magistério na Faculdade de Direito do Recife. Bebeu de várias fontes do conhecimento, por isso foi considerado, por alguns, como sendo um filósofo materialista, por outros, um pensador espiritualista, chegou a ser definido como eclético, mas se dizia ser um relativista. Entre suas principais influências estão os filósofos: Haeckel, Buckle, Comte, Darwin, Spencer, Hartmann, Shopenhauer e Kant. Estudou com grandes intelectuais de seu tempo, entre eles estavam Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Sílvio Romero e Castro Alves. Sofreu preconceitos e perseguições por conta de sua origem humilde e pela cor da sua pele que era mestiça. É patrono da cadeira de número 38 da Academia Brasileira de Letras, seu nome está inserido no livro dos Heróis da Pátria. Era filho do escrivão Pedro Barreto de Menezes com a senhora Emerenciana Barreto de Menezes. Nasceu no dia 7 de junho de 1839, em uma localidade conhecida como Vila de Campos, em Sergipe. Faleceu aos 50 anos de idade, em 27 de junho de 1889, na cidade de Recife. Tempos depois de sua morte, seus ossos foram levados para a cidade de Sergipe e colocados em uma urna de bronze, abaixo de uma estátua que foi construída em sua homenagem.
Filosofia do Culturalismo
Estabeleceu um sistema de
pensamento que relacionava a antropologia e a filosofia moral com as ciências
jurídicas. Posicionando-se como um pensador relativista que transitava entre
teorias materialistas, evolucionistas, monistas, positivistas, deterministas e
concepções espiritualistas. Nesse sentido, suas ideias investigavam os fenômenos
sociais, a partir dos fatores culturais, históricos, políticos e jurídicos,
desvinculando-se daquilo que fosse incompatível com a realidade cultural do
país. Opondo-se ao sistema de pensamento jurídico que dominava e influenciava a
classe dirigente da época. Compreendeu os aspectos de formação das instituições
políticas brasileiras, pontuando e esclarecendo questões relacionadas à
Filosofia do Direito e a Ciência Política.
Estudou com afinco o sistema de escravidão brasileira, sendo considerado um dos principais expoentes do abolicionismo. Nessa época, reinava entre a elite brasileira um conservadorismo eivado de pensamento escravocrata, legitimado pelo sistema político da monarquia. Nesse contexto, a finalidade da filosofia “culturalista” de Tobias era sistematizar uma identidade nacional e modernizar o país. Com isso, ele difundiu o positivismo científico na esfera jurídica e firmou o evolucionismo no campo social. Para Tobias, a área do Direito era produto de um meio social, sendo o Estado o regulador dessa esfera jurídica. Seu sistema de ideias, ao mesmo tempo, que articulava no campo da educação uma relação entre a cultura, à ciência e a técnica, também procurava constituir uma autonomia universalista, que se desprendesse dos antigos valores escravocratas e se emancipasse para uma visão mais moderna, abrindo espaço para a participação da mulher e das classes rurais.
Filosofia Política
Fez parte do partido liberal, atuando politicamente como deputado provincial. Visto por muitos como sendo um crítico polemista, ele defendia as causas abolicionistas. Embora tivesse uma excelente oratória, Tobias sofreu duras críticas, por conta de alguns posicionamentos políticos contrários a de seus adversários, chegou a declarar certa vez que: “não sou ovelha de rebanho”, em resposta as duras críticas que sofria. Nesse sentido, ele se dizia ser um antimonarquista que lutava em prol de um pensamento laico. Segundo Tobias, o Brasil necessitava solucionar a problemática que existia em torno dos conflitos sociais e ideológicos suplantados no período imperial, direcionando a classe intelectual brasileira para um país mais atualizado, conduzidos por princípios iluministas como liberdade, igualdade e fraternidade. Barreto objetivou a construção de uma ciência política positiva com a finalidade de instruir a sociedade por meio da razão. Porém, tempos depois, migrou seu pensamento para uma visão mais original, utilizando seu “culturalismo” como ponto basilar de uma análise política, refutando o positivismo, e estabelecendo novos paradigmas para a filosofia social brasileira.
Filosofia Sapiencial
+ “A gratidão é a
virtude da posteridade”
+ "Nós, as
estrelas, que no céu pensamos.”
+ “O socialismo é
a luta contra a luta pela existência”
+ “A teoria é
sempre franca e generosa, a prática sovina e mesquinha.”.
+ “Mais do que os
nossos maiores, interessam-me os nossos melhores”.
+ "Cada
guerreiro que por nós combate é a ira de Deus que se faz homem.”.
+ "Oh, minha
estrela que de longe brilhas, nada te importa que eu soluce ou cante! "
+ “Só é grande a
liberdade que sacode a majestade e arranca a juba dos reis!…”
+ "O direito
é a disciplina das forças sociais ou o princípio da seleção legal na luta pela
vida."
+ “O axioma
democrático da igualdade perante a lei só tem sentido no pórtico dos
cemitérios.”
+ “Não sei! Quem é
que não sabe, numa lagrima sentida, aliviar-se da vida, que pesa no coração”!
+ “Um homem que
tem a boca cheia de língua parece-me inadmissível que tenha uma cabeça cheia de
ideias.”
+ "Passar
como uma aura leve, ou como um sonho de amor; ter a morte de uma santa, tendo a
vida de uma flor. "
+ “Amar é fazer o
ninho, que a duas almas contém, ter medo de estar sozinho, dizer com lágrimas:
vem, Flor, querida, noiva, esposa…vem”
+ " Não sei
por que a língua humana os brutos não falam mais, quando hoje têm melhor vida,
e há muita besta instruída nas ciências sociais. "
+ "No meu
sepulcro não tereis as rosas, as doces preces que os felizes têm; pobres
ervinhas brotarão viçosas e o esquecimento brotará também. "
+ "O poeta é,
pois, aquele em quem se exprime e se encarna a natureza completa do povo a que
ele pertence, e como o génio no qual a posteridade o encarna. "
+ "Faz medo
vir ainda em horas doces sentar-se a sós à borda do oceano, e, ante o golfão
azul ca imensidade, pensar no abismo do destino humano. Nos oceanos da noite,
grandes naus de asas selvagens"
+ “É preciso
pensar por nossa conta. Ninguém, mais do que eu, está sempre disposto a
reformar, a abandonar mesmo, como imprestáveis, as opiniões mais queridas,
quando recai sobre elas qualquer suspeita de erro. Mas, quero ver razões que me
convençam.”
+ "Verdade é
que a sociedade, na qualidade de um organismo de ordem superior, na qualidade,
não de uma antítese, mas de uma continuação da natureza, deve ter a sua
mecânica; mas essa mecânica, para dizer tudo em uma só palavra, ainda não
encontrou o seu Kepler."
+ "A morte
que se conquista pela Pátria não é uma dessas mortes lúgubres, choradas,
misteriosas, comuns. Não. Morrer assim, ao fumegar das batalhas, é
desembaraçar-se de um dos enigmas do nosso destino, é resolver o problema da
grandeza humana. Morrer assim é engrandecer-se. "
+ “O único meio de
salvar e engrandecer o Brasil é tratar de colocá-lo em condições de poder ele
tirar de si mesmo, quero dizer, do seio da sua história, a direção que lhe
convém. O destino de um povo, como o destino de um indivíduo, não se muda, nem
se deixa acomodar
ao capricho e
ignorância daqueles que pretendem dirigi-lo”.
+ “A candidatura
do Brasil aos foros de nação culta é um fenômeno mórbido: alguma coisa de
semelhante ao disparate dos loucos, que se julgam reis. Que cultura se concebe
para um povo cuja religião, cujas políticas são puramente mecânicas? E que
religião, e que política pode haver em um país, onde a filosofia é nula, onde a
arte é nula, onde a ciência é nula? –Eis aí tudo”.
+ "Vibrando as cordas de sua harpa douro, que meiga ecoa pelo céu sem fim, com voz que infiltra a eternidade nalma, o anjo fala suspirando assim: A morte é bela na manhã da vida, quando sentido já se tem a dor; é doce sonho que nos arrebata a uma morada só de paz e amor. A alma, virgem das paixões mundanas, ao céu se eleva sem sentir pavor; a terra chora, murmurando preces, e os anjos cantam com maior fervor. "
Obras:
Dias e Noites; O Gênio da Humanidade; A Escravidão; Polêmicas; Ensaios de Filosofia e Crítica; Ensaio de Pré-História da Literatura Alemã; Menores e Loucos em Direito Criminal; Discursos; Questões Vigentes de Filosofia e Direito; Estudos Alemães; Glosa; Brasilien, wie es ist.
Fontes:
BARRETO, Luiz Antônio. Tobias
Barreto. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1994.
BUARQUE, Sergio. História
geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil,
2012.
CÂNDIDO, Antônio. Formação
da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins, 1969.
CERQUEIRA, Luiz Alberto. Filosofia
brasileira: ontogênese da consciência de si. Petrópoles: Editora Vozes,
2002.
COUTINHO, Afrânio; SOUSA,
José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001..
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural
de Arte e Cultura Brasileira. Tobias Barreto. São Paulo: Itaú Cultural,
acesso em 2024.
GODOY, Arnaldo. Tobias
Barreto: uma biografia intelectual do insurreto sergipano e sua biblioteca com livros
alemães no Brasil do século XIX. Curitiba: Juruá Editora, 2018.
LIMA, Hermes. Pensamento
vivo de Tobias Barreto. São Paulo:
Editora Martins, 1942.
MONT'ALEGRE, Omer. Vida
admirável de Tobias Barreto. Rio de Janeiro: Editora Vecchi, 1939.
SEBRÃO de Carvalho. José
Tobias Barreto: o desconhecido. Aracaju: Imprensa oficial, 1941.
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