sábado, 24 de fevereiro de 2024

Tobias Barreto

Tobias Barreto – (1839 a 1889) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Tobias Barreto de Meneses – Foi um filósofo brasileiro que liderou um movimento filosófico conhecido como “culturalismo” da Escola de Recife. Era visto também como sendo o fundador de uma escola literária chamada de condoreirismo brasileiro. Suas ideias influenciaram diversos pensadores brasileiros, bem como também, várias áreas do conhecimento. Começou a trabalhar logo cedo, aos 15 anos, como professor de latim. Iniciou seus estudos na Vila de Campos, localizada em Sergipe, posteriormente se deslocou para estudar no seminário de Salvador, na Bahia, nesse ínterim, não conseguiu se adaptar, decidiu então se dirigir para Recife, onde cursou Direito, bacharelando-se em ciências jurídicas. Também possuía o domínio de várias línguas, sendo considerado um pensador poliglota.    

Atuou principalmente como filósofo, jurista e escritor, tendo assumido um cargo de magistério na Faculdade de Direito do Recife. Bebeu de várias fontes do conhecimento, por isso foi considerado, por alguns, como sendo um filósofo materialista, por outros, um pensador espiritualista, chegou a ser definido como eclético, mas se dizia ser um relativista.  Entre suas principais influências estão os filósofos: Haeckel, Buckle, Comte, Darwin, Spencer, Hartmann, Shopenhauer e Kant. Estudou com grandes intelectuais de seu tempo, entre eles estavam Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Sílvio Romero e Castro Alves. Sofreu preconceitos e perseguições por conta de sua origem humilde e pela cor da sua pele que era mestiça. É patrono da cadeira de número 38 da Academia Brasileira de Letras, seu nome está inserido no livro dos Heróis da Pátria. Era filho do escrivão Pedro Barreto de Menezes com a senhora Emerenciana Barreto de Menezes. Nasceu no dia 7 de junho de 1839, em uma localidade conhecida como Vila de Campos, em Sergipe. Faleceu aos 50 anos de idade, em 27 de junho de 1889, na cidade de Recife. Tempos depois de sua morte, seus ossos foram levados para a cidade de Sergipe e colocados em uma urna de bronze, abaixo de uma estátua que foi construída em sua homenagem.

Filosofia do Culturalismo

Estabeleceu um sistema de pensamento que relacionava a antropologia e a filosofia moral com as ciências jurídicas. Posicionando-se como um pensador relativista que transitava entre teorias materialistas, evolucionistas, monistas, positivistas, deterministas e concepções espiritualistas. Nesse sentido, suas ideias investigavam os fenômenos sociais, a partir dos fatores culturais, históricos, políticos e jurídicos, desvinculando-se daquilo que fosse incompatível com a realidade cultural do país. Opondo-se ao sistema de pensamento jurídico que dominava e influenciava a classe dirigente da época. Compreendeu os aspectos de formação das instituições políticas brasileiras, pontuando e esclarecendo questões relacionadas à Filosofia do Direito e a Ciência Política.

Estudou com afinco o sistema de escravidão brasileira, sendo considerado um dos principais expoentes do abolicionismo. Nessa época, reinava entre a elite brasileira um conservadorismo eivado de pensamento escravocrata, legitimado pelo sistema político da monarquia. Nesse contexto, a finalidade da filosofia “culturalista” de Tobias era sistematizar uma identidade nacional e modernizar o país. Com isso, ele difundiu o positivismo científico na esfera jurídica e firmou o evolucionismo no campo social. Para Tobias, a área do Direito era produto de um meio social, sendo o Estado o regulador dessa esfera jurídica. Seu sistema de ideias, ao mesmo tempo, que articulava no campo da educação uma relação entre a cultura, à ciência e a técnica, também procurava constituir uma autonomia universalista, que se desprendesse dos antigos valores escravocratas e se emancipasse para uma visão mais moderna, abrindo espaço para a participação da mulher e das classes rurais.

Filosofia Política

Fez parte do partido liberal, atuando politicamente como deputado provincial. Visto por muitos como sendo um crítico polemista, ele defendia as causas abolicionistas. Embora tivesse uma excelente oratória, Tobias sofreu duras críticas, por conta de alguns posicionamentos políticos contrários a de seus adversários, chegou a declarar certa vez que: “não sou ovelha de rebanho”, em resposta as duras críticas que sofria. Nesse sentido, ele se dizia ser um antimonarquista que lutava em prol de um pensamento laico.  Segundo Tobias, o Brasil necessitava solucionar a problemática que existia em torno dos conflitos sociais e ideológicos suplantados no período imperial, direcionando a classe intelectual brasileira para um país mais atualizado, conduzidos por princípios iluministas como liberdade, igualdade e fraternidade. Barreto objetivou a construção de uma ciência política positiva com a finalidade de instruir a sociedade por meio da razão. Porém, tempos depois, migrou seu pensamento para uma visão mais original, utilizando seu “culturalismo” como ponto basilar de uma análise política, refutando o positivismo, e estabelecendo novos paradigmas para a filosofia social brasileira.  

Filosofia Sapiencial

+ “A gratidão é a virtude da posteridade”

+ "Nós, as estrelas, que no céu pensamos.”

+ “O socialismo é a luta contra a luta pela existência”

+ “A teoria é sempre franca e generosa, a prática sovina e mesquinha.”.

+ “Mais do que os nossos maiores, interessam-me os nossos melhores”.

+ "Cada guerreiro que por nós combate é a ira de Deus que se faz homem.”.

+ "Oh, minha estrela que de longe brilhas, nada te importa que eu soluce ou cante! "

+ “Só é grande a liberdade que sacode a majestade e arranca a juba dos reis!…”

+ "O direito é a disciplina das forças sociais ou o princípio da seleção legal na luta pela vida."

+ “O axioma democrático da igualdade perante a lei só tem sentido no pórtico dos cemitérios.”

+ “Não sei! Quem é que não sabe, numa lagrima sentida, aliviar-se da vida, que pesa no coração”!

+ “Um homem que tem a boca cheia de língua parece-me inadmissível que tenha uma cabeça cheia de ideias.”

+ "Passar como uma aura leve, ou como um sonho de amor; ter a morte de uma santa, tendo a vida de uma flor. "

+ “Amar é fazer o ninho, que a duas almas contém, ter medo de estar sozinho, dizer com lágrimas: vem, Flor, querida, noiva, esposa…vem”

+ " Não sei por que a língua humana os brutos não falam mais, quando hoje têm melhor vida, e há muita besta instruída nas ciências sociais. "

+ "No meu sepulcro não tereis as rosas, as doces preces que os felizes têm; pobres ervinhas brotarão viçosas e o esquecimento brotará também. "

+ "O poeta é, pois, aquele em quem se exprime e se encarna a natureza completa do povo a que ele pertence, e como o génio no qual a posteridade o encarna. "

+ "Faz medo vir ainda em horas doces sentar-se a sós à borda do oceano, e, ante o golfão azul ca imensidade, pensar no abismo do destino humano. Nos oceanos da noite, grandes naus de asas selvagens"

+ “É preciso pensar por nossa conta. Ninguém, mais do que eu, está sempre disposto a reformar, a abandonar mesmo, como imprestáveis, as opiniões mais queridas, quando recai sobre elas qualquer suspeita de erro. Mas, quero ver razões que me convençam.”

+ "Verdade é que a sociedade, na qualidade de um organismo de ordem superior, na qualidade, não de uma antítese, mas de uma continuação da natureza, deve ter a sua mecânica; mas essa mecânica, para dizer tudo em uma só palavra, ainda não encontrou o seu Kepler."

+ "A morte que se conquista pela Pátria não é uma dessas mortes lúgubres, choradas, misteriosas, comuns. Não. Morrer assim, ao fumegar das batalhas, é desembaraçar-se de um dos enigmas do nosso destino, é resolver o problema da grandeza humana. Morrer assim é engrandecer-se. "

+ “O único meio de salvar e engrandecer o Brasil é tratar de colocá-lo em condições de poder ele tirar de si mesmo, quero dizer, do seio da sua história, a direção que lhe convém. O destino de um povo, como o destino de um indivíduo, não se muda,  nem  se  deixa  acomodar  ao  capricho  e  ignorância  daqueles  que pretendem dirigi-lo”.

+ “A candidatura do Brasil aos foros de nação culta é um fenômeno mórbido: alguma coisa de semelhante ao disparate dos loucos, que se julgam reis. Que cultura se concebe para um povo cuja religião, cujas políticas são puramente mecânicas? E que religião, e que política pode haver em um país, onde a filosofia é nula, onde a arte é nula, onde a ciência é nula? –Eis aí tudo”.

+ "Vibrando as cordas de sua harpa douro, que meiga ecoa pelo céu sem fim, com voz que infiltra a eternidade nalma, o anjo fala suspirando assim: A morte é bela na manhã da vida, quando sentido já se tem a dor; é doce sonho que nos arrebata a uma morada só de paz e amor. A alma, virgem das paixões mundanas, ao céu se eleva sem sentir pavor; a terra chora, murmurando preces, e os anjos cantam com maior fervor. "

Obras:

Dias e Noites; O Gênio da Humanidade; A Escravidão; Polêmicas; Ensaios de Filosofia e Crítica; Ensaio de Pré-História da Literatura Alemã; Menores e Loucos em Direito Criminal; Discursos; Questões Vigentes de Filosofia e Direito; Estudos Alemães;      Glosa; Brasilien, wie es ist.

Fontes:

BARRETO, Luiz Antônio. Tobias Barreto. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1994.

BUARQUE, Sergio. História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2012.

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins, 1969.

CERQUEIRA, Luiz Alberto. Filosofia brasileira: ontogênese da consciência de si. Petrópoles: Editora Vozes, 2002.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001..

ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Tobias Barreto. São Paulo: Itaú Cultural, acesso em 2024.

GODOY, Arnaldo. Tobias Barreto: uma biografia intelectual do insurreto sergipano e sua biblioteca com livros alemães no Brasil do século XIX. Curitiba: Juruá Editora, 2018.

LIMA, Hermes. Pensamento vivo de Tobias Barreto. São Paulo:  Editora Martins, 1942.

MONT'ALEGRE, Omer. Vida admirável de Tobias Barreto. Rio de Janeiro: Editora Vecchi, 1939.

SEBRÃO de Carvalho. José Tobias Barreto: o desconhecido. Aracaju: Imprensa oficial, 1941.

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