Amenemope de Akhmim - (1300 a 1075) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo do antigo Egito que escreveu uma obra
literária enquadrada na chamada filosofia sapiencial. A obra ficou conhecida
como “as sabedorias de Amenemope”, foi encontrada em formato hierático. Sua
filosofia influenciou outras gerações, servindo como guia prático para as
condutas éticas e morais, daqueles tempos. Esse livro é considerado um clássico
da sabedoria antiga, tendo sido localizado pela primeira vez em um rolo de
papiro egípcio. Segundo alguns pesquisadores, essa obra é um dos primeiros
livros de autoajuda da antiguidade. Seu sistema de pensamento misturava
elementos míticos com filosofia simbólica. Laborou como escriba-chefe pro três
gerações seguidas, nos reinados de Horemebe, Ramsés I e Seti I. Seu nome tinha
um significado etimológico descrito como “amen-em-ope”, o mesmo que, “O
Deus está em paz” e também pode ser transcrito como “Amenophis”. Seu pai era
conhecido como “Kanakht” e sua mãe pelo nome de “Tausert”. Floresceu no período
compreendido como novo reino, por volta do século XIII a.C. O túmulo de
Amenompe está localizado em uma colina da necrópole de Tebas. Um pesquisador
chamado Douglas Derry teria analisado os ossos e o crânio de Amenemope, tendo concluído
que ele faleceu de meningite e que provavelmente era manco.
Filosofia Moral
Foi um grande estudioso das cosmogonias do antigo Egito, tendo relacionado esses saberes com os conhecimentos da natureza humana. Sua filosofia retravava temas éticos e conselhos práticos para uma vida virtuosa. Direcionando os discípulos para alcançarem o equilíbrio e a justiça. As instruções ensinavam como agir corretamente, em várias situações do cotidiano e como manter uma boa relação humana com o outro. Ministrava também orientações sobre como alcançar o sucesso e a felicidade na vida, buscando evitar comportamentos negativos como o egoísmo, a inveja e a ganância. A bússola orientadora de sua filosofia estava ancorada na ideia de discernimento como fonte para se compreender a ética da serenidade e a virtude do silêncio. Condenava o autoritarismo e o abuso de poder, aconselhando sobre a importância de proteger e respeitar as classes mais frágeis da sociedade, como os idosos, crianças, pobres e as viúvas.
Apontava a importância de cultivar a honestidade, a
paciência, a piedade e a humildade, como meios para alcançar o “maat”, que
era a ideia de justiça harmônica e ordem cósmica, descrita pelos egípcios. Também
tratava de temas como a gentileza e a integridade. Advertia sobre a importância de não buscar o
poder para si, procurando sempre promover a tolerância. Acreditava que a
riqueza e a fortuna eram dádivas de Deus. Ensinava que o fruto do pecado era a
punição. Explicava sobre o “caminho da barca” que era uma metáfora a respeito
da experimentação como meio de obtenção da experiência de vida. Para Amenemope,
a ideia de barca representava simbolicamente a noção de travessia, possibilitando
ao homem, percorrer novos caminhos, tendo como finalidade experienciar seu
destino, atravessar o mundo em busca de si, como meio de compreensão da
realidade, objetivando aprender e ensinar.
Filosofia Teológica
Boa parte da obra possui muita semelhança com os escritos contidos no livro de provérbios, na Bíblia Sagrada. Muitos pensadores e historiadores comprovam que a filosofia hebraica influenciou os escribas do antigo Egito. Um grande estudioso da literatura sapiencial, conhecido por “Whybray”, publicou vários estudos comprovando que a literatura egípcia sofreu influência da filosofia hebraica. Os textos de Amenemope também possuem certa correspondência com textos egípcios mais antigos como as Máximas de Ptahotep. Escrita em formato de “sebayt”, o livro é visto como um “ético da serenidade”, transmitindo conselhos sobre como se importar menos com o sucesso material e procurar mais a chamada paz interior. De acordo com Amenemope, o homem deve se concentrar nos propósitos divinos e aceitar o destino que lhe for projetado por Deus. Os historiadores presumem que a obra “os analectos de Confúcio” tenham sido inspirados nesses compilados de Amenemope. Ensinava a respeito da confiança em Deus e como combater a ansiedade cultivando a tranquilidade. Utilizava a metáfora da balança para representar a medida exata da justiça, descrita também como o peso da verdade, desse modo, ele dizia: “Não altere as escalas nem falsifiques os pesos ou diminua as frações de medida, pois Deus posta-se junto á balança".
Filosofia Sapiencial
+ “Deus é o seu construtor”.
+ “As riquezas criam asas e voam”
+ “O homem propõe, mas Deus dispõe”.
+ “Evite amizade com pessoas violentas”
+ “Tenha cuidado com seus modos à mesa”
+ “Não roube terras e coma do seu próprio campo”
+ "Preserve sua língua de responder a um superior”.
+ “Não provoque nenhum inimigo, quando você não vir
suas ações”.
+ “Melhor é pão quando o coração está feliz que riqueza
na tristeza”
+ “A rapidez é a fala quando o coração está ferido,
mais que o vento”.
+ “Não fique ansioso demais, o Deus está sempre em sua
perfeição”.
+ “Melhor é pobreza na mão de deus, que riqueza em um
armazém”
+ “Não brigue com o homem argumentativo, nem o incite
com palavras”
+ “O escriba que é hábil em seu ofício, é considerado
digno de ser cortesão”.
+ “Não se deixem seduzir pelos lábios doces, mas sim
pela linguagem amarga”.
+ “Não estenda a mão para tocar um homem velho, nem
corte as palavras de um ancião”.
+ “Não fixe seus pensamentos em assuntos externos: para
cada homem há seu tempo determinado”.
+ "Não apague o sulco alheio, é proveitoso
mantê-lo são. São seus campos e você encontrará o que precisa. Você receberá
pão de sua própria eira."
+ “Dê ouvidos, ouça o que é dito, Permita seu coração
entendê-las, Deixar estas palavras chegarem ao seu coração é valioso, Mas
ignorá-las é danoso”.
+ “As tentativas de obter vantagem em detrimento de
outros incorrem em condenação, confunde os planos de Deus, e leva, inexoravelmente,
à desgraça e punição”.
+ “Não se esforce para buscar riquezas excessivas
quando suas necessidades estão seguras e satisfeitas. Se as riquezas forem
trazidas a você por roubo, elas não passarão a noite com você”.
+ “Deixe as palavras boas descansarem no meio do seu ventre, De modo que elas possam ser uma chave para o seu coração, quando há um tornado de palavras, elas devem ser um local de ancoragem para a sua língua”.
Fontes:
ARAÚJO, Emanuel. A literatura no Egito faraônico.
Brasília: UnB, 2000.
ASANTE, Molefi Kete. Amenemope. Os filósofos
egípcios: antigas vozes africanas de Imhotep a Akhenaton. Chicago: African
American, 2000.
BILDA, Jonas Otávio. A Instrução de Amenemope.
São Paulo: Clube dos Autores, 2021.
BROWN, Brian. A Sabedoria dos Egípcios. Nova
Iorque: Brentano's, 1923.
CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos.
Lisboa: Europa-América, 1994.
EMERTON, John Adney. O Ensino de Amenemope e
Provérbios: Reflexões adicionais sobre um problema antigo. Artigo de
Jornal. Vol. 51. Cambridge: JSTOR, 2021.
IPB, Instituto de Pesquisa Bíblica. Os Provérbios da
Septuaginta e a Sabedoria de Amenemope. Internet: Publicação Digital,
2021.
KASTER, Joseph. A Sabedoria do Antigo Egito.
Reino Unido: Editora Michael O'Mara, 1995.
MARZAL, Angel. O Ensino de Amenemope. Madri:
Marova, 1965.
SHAW, Ian; NICHOLSON, Paulo. O Dicionário do Egito Antigo. Nova Iorque: Princeton University Press, 1995.
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