domingo, 4 de agosto de 2019

Anaximandro de Mileto

Anaximandro de Mileto (610 a 547) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Anaximandro foi um filósofo da Grécia antiga pertencente à escola Jônica, além disso, foi também discípulo de Tales de Mileto e juntamente com ele é considerado um filósofo pré-socrático. Destacou-se em sua época nas áreas de Geografia, Política, Matemática, Astronomia e Filosofia. Definiu a “arché” do universo como sendo uma substância chamada de “ápeiron”. Anaximandro foi além de seu mestre Tales e definiu não apenas o princípio de tudo, mas também questionou qual a finalidade do surgimento das coisas. Ele buscava decifrar a origem e formação das substâncias no universo. Chegou a ocupar cargos políticos e administrativos em Mileto. Ele é tido como o criador de um relógio solar conhecido como “gnômon”. É apontado como um dos primeiros pensadores gregos a desenvolver uma visão sistemática da cosmologia. Além de ter construído muitos mapas terrestres e celestes, também lhe é atribuído à descoberta da obliquidade da eclíptica, estudos de introdução do quadrante solar, e a invenção de um modelo específico de mapa geográfico. O filósofo do infinito nasceu aproximadamente no ano de 610 a.C na cidade de Mileto e faleceu em sua cidade natal por volta de 547 a.C.

Filosofia da Natureza

O principal elemento que dava origem a todas as coisas na sua visão era o “ápeiron”, que seria uma definição para época de infinito e indeterminado, era um conceito abstrato e próximo à ideia de divindade. Essa definição contemplava a noção de infinito em quantidade, qualidade e profundidade, dizia que era ilimitado, indestrutível, indefinido e eterno. Teria uma definição de algo que existe, mas que nunca surgiu. Seria insurgido, ou seja, nunca surgiu, mas sempre existiu. Ele acreditava que quando os seres deixavam de existir, eles se tornavam novamente essa substância chamada de “ápeiron”.

Enquanto seu mestre Tales definia a “água” como sendo o princípio gerador de todas as coisas, Anaximandro dizia que essa “arché” era o “ápeiron”, para ele, essa substância teria as seguintes características: era infinita, indefinida, indeterminada, ilimitada, invisível e indestrutível. Daí afirmava que: “O que vem antes e depois do finito, tende a ser infinito”. Essa ideia de que o “ápeiron” não possuía limites era um conceito muito complexo para época, pois englobava todas as qualidades que existia no mundo. Daí ele definia que enquanto a característica de infinito tinha relação direta com a ideia de quantidade, a característica de indeterminado fazia relação direta com o conceito de qualidade, e dessa forma, a caraterística do movimento do “ápeiron” teria relação com o conceito de eternidade.

"ápeiron" estaria fora de qualquer limite compreendido pelo homem. Ele acreditava que essa abstração ao qual denominou de "ápeiron" não poderia ser observada pelos humanos, mas apenas deduzida. A substância básica da qual se originava todas as coisas seria eterna, e por isso jamais poderia deixar de existir. Seria o início, o meio e o fim de tudo. Estaria presente em todas as partes e ocuparia todos os espaços. Alguns pensadores afirmaram que essa ideia era muito próxima do conceito de divindade, pois o “ápeiron” seria indestrutível e imortal.

Ele explicava que o tempo seria um juiz que regulava os contrários, segundo ele, existiria uma luta constante entre esses contrários, isto é, entre os pares de opostos. Para Anaximandro, quando dois elementos contrários entravam em choque, eles geravam o “ápeiron”, então a luta entre o frio e o calor, o úmido e o seco dariam origem a essa substância, por isso, não poderia existir o calor e o frio ao mesmo tempo, ou seja, os opostos não poderiam coexistir em um mesmo corpo ou objeto ao mesmo tempo, daí o tempo regulava o momento de existência do calor e depois do frio, existindo sempre um de cada vez, logo, os contrários estariam constantemente e eternamente em luta. Nesse sentido, ele argumentava que tudo o que nasce um dia vai morrer, tudo o que é quente, um dia irá esfriar, tudo o que é grande, uma hora será quebrado em partes menores, o fogo poderia ser combatido com água, e como resultado disso, fogo e água deixariam de existir. Dessa forma, todas as coisas no universo se extinguem ao longo do tempo, mas o “ápeiron”, que seria a essência de tudo, permanece para sempre.  

Filosofia Cosmológica

Anaximandro também estudou Astronomia, tendo possivelmente calculado a distância de algumas estrelas e calculado o tamanho delas. Desenvolveu teorias a respeito da mecânica dos corpos celestes, ele chegou a dizer em sua cosmologia que a Terra tinha um formato cilíndrico e que ela seria o centro do universo, estando imóvel e suspensa no espaço por uma espécie de eixo de fogo equilibrada por forças. Acreditava que o processo de nascimento e fim dos astros seguia um ritmo eterno e sem fim. Pensava que o mundo conhecido era somente um entre diversos outros mundos que iriam se desenvolver, evoluir e se desintegrar em um processo infinito. Toda a sua teoria complexa tem relação com o paradoxo de onde pode se observar múltiplas realidades determinadas que se opõem, se conectam e se destroem de forma constante. Desse processo é que se formariam todos os elementos do universo.

O conceito de "ápeiron" descrito por Anaximandro inspirou muitas teorias da Física moderna, dentre elas, pode ser citada a famosa teoria do big-bang. Esse conceito de infinitude em quantidade e qualidade também influenciou pensadores e teólogos. Desde a antiguidade que Anaximandro já teria antecipado muitos dos conhecimentos que posteriormente foram aperfeiçoados pela ciência, afirmava, por exemplo, que haveria um equilíbrio para as várias forças que atuam sobre a Terra, o que hoje pode ser descrito como as forças centrípetas e a força da gravidade. A sua ideia de que os opostos se excluíam era muito parecida, com as que hoje explicam as teorias da matéria e da antimatéria. Pensava que o Sol era apenas uma roda cósmica que girava ao redor da Terra. Explicou naquele tempo de forma ainda simplista que o Sol ao tocar na água gerava seres e que esses seres posteriormente migraram para a terra, o que é algo muito parecido com a teoria moderna da evolução das espécies de Charles Darwin.

Anaximandro chegou a afirmar que assim como a sociedade era organizada por leis, a natureza também seria governada por uma lei, daí explicava que os elementos básicos: terra, água, fogo e ar, seriam forças da natureza e que o choque entre essas forças produzia uma harmonia cósmica ou uma espécie de equilíbrio da natureza. As ideias de Anaximandro influenciaram diversos físicos e cientistas ao logo da história das ciências, dentre eles o físico Max Born em sua teoria sobre as partículas elementares.

 Obras:

- Sobre a natureza

- Perímetro da terra

- Esfera celeste

- Sobre as estrelas filhas

Filosofia Sapiencial

- “O que vem antes e depois do finito, tende a ser infinito”.

- “O ilimitado é eterno, imortal e indissolúvel”.

- “Nosso mundo é um dos muitos mundos que surgem de alguma coisa e se dissolvem no infinito”.

- “Todos os seres derivam de outros seres mais antigos por transformações sucessivas”.

- “O ilimitado é eterno, não envelhece e envolve todos os cosmos”.

- “O “ápeiron” é o princípio de todas as coisas”.

- “O ilimitado é totalmente responsável pela gênese e pela dissolução do universo”.

- “As estrelas são porções comprimidas de ar, com a forma de rodas cheias de fogo, e emitem chamas a partir de pequenas fendas”.

- “Pois tudo ou é princípio ou procede de um princípio, mas do ilimitado não há princípio: se houvesse, seria seu limite”. O ilimitado não tem princípio, pois, nesse caso, seria limitado.

- "O Sol é um círculo vinte e oito vezes maior que a Terra; é como uma roda de carruagem, cujo aro é côncavo e cheio de fogo, que brilha em certos pontos de abertura como os bicos dos foles".

- “Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade; pois pagam umas as outras castigo e expiação pela injustiça, conforme a determinação do tempo”.

 - “Os primeiros seres vivos nasceram do úmido, circunvoltos por uma casca espinhosa; com o passar do tempo, subiram a terra seca, e rompendo-se a casca, mudaram de forma de vida”.

Fontes:

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HEIDEL, William. O livro de Anaximandro. trad. Katsuzo Koike. São Paulo: Ixtlan, 2011.

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LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

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