quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Hipaso de Metaponto

Hipaso de Metaponto – (510 a 460) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático pertencente à escola pitagórica da Grécia antiga. Estudou as áreas da Filosofia, Música e Matemática, tendo se destacado na descoberta dos números irracionais. Evidenciou a estruturação do dodecaedro (poliedro que contém doze faces). Assim como outros pitagóricos, ele também estudou a relação da matemática com a música. Existem relatos que afirmam que ele foi expulso da escola de Pitágoras por ter revelado o segredo da descoberta dos números irracionais. Ele sentia grande estima e admiração por Pitágoras e o chamava de “O grande homem”. Hipaso também realizou alguns experimentos com discos de bronze e acredita-se que pode ter ensinado filosofia ao filósofo Heráclito de Éfeso. Nasceu aproximadamente no ano 510 a.C, não se sabe muito sobre o seu nascimento, porém, em relação a sua morte, existem várias especulações a respeito. A data da sua morte ainda é um mistério e estima-se que tenha sido por volta da metade do século V a.C, em meados do ano 460 a.C, provavelmente em um misterioso naufrágio no mar mediterrâneo.  

Filosofia Pitagórica

Hipaso era responsável na escola pitagórica pelo grupo de iniciados chamados de acusmáticos, eles eram os alunos que ainda não possuíam conhecimentos suficientes para participarem de alguns estudos da escola, daí, eles ficavam atrás de uma cortina branca apenas ouvindo o outro grupo chamado de matemáticos, que eram os principais alunos já iniciados, e estes faziam um pacto de silêncio para não revelarem certos segredos. Muitos conhecimentos que eram repassados tinham características simbólicas e metafóricas, por isso, os aforismas carregavam mensagens subliminares que apenas os já iniciados conseguiam assimilar. Os conhecimentos morais da filosofia pitagórica mantinham forte relação com os saberes matemáticos, nesse sentido, era necessário adquirir as bases de compreensão para avançar em novos conhecimentos.

Na sua possível descoberta a respeito dos números irracionais, ele teria demostrado que o número raiz quadrada de dois não poderia ser escrito na forma de quociente de dois números naturais. A descrita descoberta em questão sobre os números irracionais abrangeria uma forte relação com o teorema de Pitágoras, pois a teoria de Hipaso teria se iniciado ao se perceber que na aplicação do “teorema de Pitágoras” em um quadrado de lado um, tendo como objetivo encontrar a medida de uma diagonal (hipotenusa), esta não poderia ser expressa pela razão de números inteiros, assim, então, iniciava-se uma série de estudos e descobertas matemáticas sobre a representação desses problemas, e consequentemente, a descoberta dos números irracionais. A filosofia dos pitagóricos era toda baseada na matemática, por isso, eles firmavam sua doutrina na ideia de que: “todas as coisas são números”.

Filosofia da Natureza

Aristóteles em sua obra metafísica explicou um pouco sobre a visão de Hipaso a respeito da “arché” do universo. Ele descreveu os conceitos de “alma-fogo” e “alma-número”, teorizando que esses conceitos faziam referência à ideia de que a “alma-fogo” seria um “elemento-luz” oposto às trevas e que ele se originaria de algo indeterminado dando surgimento a uma figura determinada chamada de “alma-número”. Acreditava que o fogo seria uma entidade principiológica do universo, dessa maneira, ele seria o construto das formas geométricas. Desse modo, Hipaso observava o fogo como sendo uma singularidade originária do cosmos e percebia o número apenas como um paradigma derivado dessa ideia de “uno”. Ele descrevia que o “fogo” estaria sempre em movimento, por isso, o “universo” estaria também em um contínuo movimento, mas ele seria limitado, pois seria apenas um, e ao ser uno, ele se mostraria limitado, logo, o cosmos seria: uno, móvel e limitado. Representado por uma unidade da eternidade do universo. Defendia a ideia de que a Terra teria um formato esférico, e que os planetas se moviam ao redor da Terra em várias órbitas distintas, com velocidades diferentes.

Filosofia Ocultista

Existem vários relatos a respeito da morte de Hipaso e entre os tantos fatos narrados, conta-se que no momento da descoberta das razões incomensuráveis Hipaso estaria navegando em alto mar juntamente com outros pitagóricos, daí os pitagóricos decidiram lançá-lo ao mar com o objetivo de silenciá-lo, pois ele poderia colocar a doutrina dos pitagóricos em xeque, visto que essa descoberta produzia um elemento novo no universo matemático ao afirmar a existência dos números irracionais. Para os pitagóricos, todos os fenômenos do universo poderiam ser traduzidos em números racionais, desse modo, até aquele momento, eles acreditavam que os números racionais traduziam a perfeição e a harmonia do cosmos, por isso temiam que a descoberta de Hispaso sobre os números irracionais pudesse levá-los ao descrédito na sociedade. Especula-se que após essa descoberta alguns pitagóricos ficaram desvairados e isso proporcionou que grupos políticos rivais perseguissem os pitagóricos. A filosofia pitagórica se assemelhava a uma religião e exercia grande influência política, nesse sentido, acredita-se que essa descoberta abalou as bases de fundamentação da irmandade exercida pelos membros, gerando com isso, uma crise e muita desunião, tudo isso teria se agravado por conta do vazamento do segredo de Hipaso para pessoas de fora da escola.

Outra versão relata que Hipaso teria quebrado a regra do silêncio imposta por Pitágoras e revelado a existência dos novos números, então os pitagóricos o expulsaram da escola e logo fizeram um túmulo simbólico com o seu nome, e nele escreveram um epitáfio ao qual dizia que Hipaso estava morto. Essa representação da morte realizada pelos pitagóricos significava o esquecimento vergonhoso pelo ato desonroso praticado por algum membro traidor. Fala-se que Pitágoras teria realizado pessoalmente essa condenação da morte simbólica e conduzido o cerimonial emblemático. Narra-se também a hipótese de que Hipaso teria se matado como forma de autocastigo, pois ele acreditava que poderia ter a oportunidade de se purificar do seu erro em outro corpo e recomeçar novamente em outra vida. Os pitagóricos também costumavam punir os membros com o silêncio como forma de censurar certos deslizes e isso pode ter levado Hipaso a cometer o suicídio.

Anedota:

Conta-se que em uma assembleia popular alguns oradores teriam perguntado para Hipaso o que ele teria feito de errado para receber o desprezo dos pitagóricos, e ele teria respondido: “Ainda nada, ainda ninguém me inveja”.

 

Filosofia Sapiencial

- “O tempo da transmutação do mundo é determinado”.

- “O universo é infinito e está em movimento perpétuo”.

- "Um número, raiz quadrada de dois ou de cinco - não há certeza - não podia ser expresso como um número racional”.

 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução do português, textos adicionais e notas de Edson BINI. São Paulo: Edipro, 2012.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo. Nova Cultura LTDA. 1996.

FELIPE, Luís Bellintani Ribeiro. História da filosofia I. Florianópolis. Filosofia/Ead/UFSC. 2008.

GONSALVES. Carlos. H.B. POSSANI, Claudio. Revisitando a descoberta dos incomensuráveis na Grécia antiga. 47 ed. São Paulo. USP.

HAMLYN. David. Uma história da filosofia ocidental. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 1990

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas. Dissertatio Filosofia. 2014.

JÂMBLICO. Suma Pitagórica. Milão: Bompiani, 2006.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília. UnB. 2008.

MURILLO, Guillermo. Garcia. Hipaso de Metaponto: Tradução, exposição e comentários de suas ideias. Costa Rica: Rev. Filós Univ, N9 24, 1969.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª.ed. Vol.1. São Paulo. Paulus.1990.

SELL, Sérgio. História da Filosofia I. Palhoça. UnisulVirtual. 2008.

SINGH, Simon. O Último Teorema de Fermat. Rio de janeiro: Record, 1998. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário