Empédocles de Agrigento – (492 a 435) a.C
Autor:
Alysomax Soares
Introdução
Foi um
filósofo pré-socrático da Grécia antiga pertencente à escola pluralista. A
escola pluralista relacionava conceitos e teorias das várias outras escolas de
pensamento da época, buscando na pluralidade de princípios a explicação para os
fenômenos do cosmos. Empédocles é considerado um dos últimos filósofos gregos a
escreverem suas obras em versos, ele redigia de uma forma muito clara e
objetiva, também falava de maneira eloquente, e isto lhe rendeu o título dado
por Aristóteles de o pai da retórica. Era admirado por ser um excelente orador,
sendo também conceituado, em seu tempo, como um sábio e mago místico. Ademais,
foi visto como um bom conhecedor da natureza e possuidor de habilidades
sobrenaturais, por isso muitos estudiosos o define como sendo um filósofo naturalista.
O filósofo sofista Górgias teria sido um de seus poucos discípulos.
Escreveu
duas obras principais intituladas de: “Purificações” e “Sobre a
Natureza”. Estudou ás áreas da Filosofia, Literatura, Astronomia, Física,
Medicina, Direito, Política, Biologia e Poesia. Devido ao fato de ter estudado
com amigos que eram médicos, Empédocles relacionou os conhecimentos da Medicina
com os saberes da natureza, passando a ser afamado como uma espécie de
curandeiro. Em razão de ter atuado na política grega, ele foi considerado um
forte defensor da democracia, tendo inclusive trabalhado em defesa dos
necessitados e lutado contra alguns tiranos. Também chegou a participar de
várias olimpíadas e conquistou muitas vitórias. Pertencia a uma família
abastada, por isso era detentor de grandes posses. Nasceu no ano aproximado de
492 a.C, em Agrigento na Sicília e faleceu por volta de 435 a.C, na localidade
de Etna. A causa de sua morte é controversa, dizem que ele se jogou dentro do
famoso vulcão Etna com o objetivo de provar que era imortal.
Filosofia Pluralista
Ele
acreditava que a origem de tudo estava ancorada em um princípio plural formado
por quatro elementos básicos, chamado de “raízes”. Nesse sentido, a “arché” do
universo seria uma “singularidade plural” que poderia ser compreendida como uma
teoria unificadora. Sua filosofia relacionou os saberes das escolas: jônica,
pitagórica e eleática. Empédocles unificou alguns conceitos das teorias opostas
de Parmênides e Heráclito, além também de ter bebido da fonte de outros grandes
filósofos da época. Seu pensamento agregou determinadas teorias do materialismo
de Mileto juntamente com certos conceitos da escola eleata, e paralelamente a
isto, confrontou as ideias de Heráclito com os pensamentos pitagóricos.
Enquanto
Parmênides explicava que tudo permanecia parado no universo e Heráclito
defendia o oposto, isto é, que tudo estaria em constante transformação,
Empédocles conciliou pontos comuns dessas duas teorias antagônicas e conseguiu
sintetizar uma saída para esse impasse. Em relação à água, por exemplo, ele
dizia que Parmênides estava certo de que ela não sofreria mudanças na natureza,
ou seja, ela não se transformaria em outro “ser” como, por exemplo, em uma ave
ou um peixe. Porém, na sua visão, Heráclito também estaria correto ao definir
que as coisas estariam em uma eterna transformação na natureza, mas essa
transformação seria aparente, pois o que haveria na verdade seria uma
combinação de misturas entre os elementos, que se integram e se desintegram
constantemente, desse modo, ele concluiu que não poderia existir apenas uma
substância primordial que daria origem a tudo, nem tão pouco, uma pluralidade
sem uma causa inicial. O que poderia existir, portanto, eram quatro “raízes”
que seriam os quatro elementos fundamentais: “terra, fogo, ar e água”. Isto significava que a origem de tudo estaria
na combinação dessas “raízes” com duas forças primordiais que seriam o “amor e
o ódio”.
Filosofia Cosmológica
Empédocles
foi considerado o criador da teoria cosmogônica dos quatro elementos: “terra,
água, fogo e ar”. Esses elementos seriam o conteúdo básico do universo, e o “amor”
e “ódio” seriam a variação de sua harmonia. A ideia de amor e ódio conceituada
por Empédocles não teria relação literal com o sentido sentimental compreendido
atualmente, mas apenas simbólico, nesse sentido, essa comparação estaria mais
direcionada para a noção cósmica de forças vitais, isto é, a percepção de
atração e repulsão. Para ele, as “raízes” formavam tudo de maneira isolada ou
composta e seriam regulados por duas forças divinas e opostas chamadas de “amor
e ódio”. Afirmava que todo o cosmos sofreria um ciclo infinito de comutação. Na
sua filosofia, o conceito de amor também era definido como sendo amizade ou o “bem”
e o ódio entendido como discórdia ou o “mal”. Compreendia que o destino
alternava a predominância das duas forças que atuavam sobre os quatros
elementos em um tempo constante. Essas substâncias seriam indestrutíveis e
eternamente iguais. Nesse sentido, o cosmos não poderia ter surgido do nada,
bem como também, o universo não poderia deixar de existir. Empédocles
acreditava em um universo cíclico onde os elementos regressam e preparam a sua formação
para o próximo período do universo.
Filosofia da Natureza
Ao
criticar o pensamento de Heráclito, ele dizia não acreditar que a existência
das coisas pudesse surgir do movimento delas, e também não aceitava que o
repouso pudesse caracterizar a “não-existência” das coisas,
pois segundo ele pensava, uma “não-existência” não poderia passar
para a existência das coisas, e vice-versa. O “ser” não
poderia surgir do “não-ser”, e da mesma maneira o “ser”
não poderia deixar de existir, ou seja, tornasse “não-ser”. O
que “é” não poderia surgir do nada, e também não poderia se
tornar nada. Para Empédocles, uma possível mudança só poderia acontecer pela
agregação ou separação de substâncias inalteráveis, isto é, à existência e a
morte seria apenas a mistura e separação do que já estaria
misturado. Todas as coisas surgiriam da união e da separação dos quatros
elementos básicos, logo, não surgia de movimentos e nem do que estaria
estático.
Afirmava
que era através da agregação e segregação dos elementos que se ocasionavam as
possíveis mudanças, de modo que, nada novo “vem” ou pode “vir-a-ser”, a
mudança estaria na justaposição de elemento com elemento. Essa colocação se
daria a partir das duas forças divinas que regulavam essa mudança de posição
dos elementos, ou seja, as duas forças chamadas de “amor” e “ódio”.
O amor era o responsável por unir tudo e o ódio seria o responsável por separar
tudo. Os quatro elementos seriam simples, eternos e imutáveis. Segundo sua
teoria, esses elementos seriam indestrutíveis e ilimitados. Daí, a partir das
combinações desses elementos, era que o restante da matéria iria aos poucos se
formando.
O
filósofo das raízes não acreditava no nascimento e morte das coisas, pois isso
significaria para ele que as coisas iam e viam do nada, daí ele não acreditava
que o “nada” pudesse ser significativo nessa questão. Explicava que o
nascimento e a morte tinha relação com a aproximação e separação das coisas. Ao
observar que o amor e o ódio separavam e unia às pessoas, Empédocles fez a
mesma analogia com a natureza, para ele, essas forças antagônicas eram capazes
de realizar atração e repulsão. Não acreditava que os elementos opostos
pudessem se atrair, e sim que apenas o que era semelhante poderia atrair outra
substância semelhante, e o que era diferente causaria repulsa em outra coisa
diferente.
Filosofia do Conhecimento
Em sua
obra, Empédocles descreveu suas teorias a respeito dos quatro
elementos básicos, discorreu sobre a História do Universo, explicou ideias
sobre a percepção e o pensamento, conceituou sobre a teoria da causa e sobre os
fenômenos terrestres. Ele também chegou a falar sobre a evolução das espécies
através da água e suas possíveis adaptações ao ecossistema. De acordo com suas
ideias, as partes individuais do corpo do animal foram sendo formadas e
adaptadas para a sobrevivência ao longo do tempo. Chegou a afirmar que o “ar” seria
distinto do espaço vazio, essa ideia era nova para época. Algumas correntes de
pensamento da atualidade afirmam que a teoria das pulsões de Freud, sofreu
forte influência dessas ideias de Empédocles sobre vida e morte.
Acreditava
que o conhecimento das coisas de dava através do processo de semelhança percebida
pelos sentidos corpóreos. Para Empédocles, os sentidos do corpo absorveriam a
existência das coisas através de poros, ou seja, ele afirmava que o nossos
órgãos e sentidos receberiam emanações vindas das coisas pelos seus poros. Ele
acreditava que a capacidade de pensar do homem estaria relacionada com o órgão
do coração, e que o sangue seria o responsável pelo transporte desse
conhecimento pelo corpo. Explicava que o conhecimento que o homem poderia ter
era limitado, e apenas conseguiria absorver aquilo em que ele manteria certa
relação, ou seja, aquilo que o acaso lhe oportunizava vivenciar. Nesse contexto
ele dizia que: “a percepção humana é assustadoramente limitada; acreditamos
estar vendo o todo, quando na verdade só vemos uma fração”.
Filosofia Teológica
Empédocles
relatava em sua obra que houve uma época em que os espíritos vivam uma espécie
de êxtase, mas por terem cometido um crime de natureza desconhecida, então eles
teriam sido punidos. Essa punição seria a reencarnação em homens, animais e
plantas, ou seja, de acordo com a conduta moral realizada por cada um, essas
almas poderiam voltar a se tornarem deuses novamente. Para Empédocles, houve um
tempo em que os elementos puros (raízes) e os dois poderes (amor e ódio)
coexistiram juntos, numa condição de repouso e imobilidade, na forma de uma
esfera compacta. Nessa época, o poder do amor era predominante, depois de um
tempo, o ódio passou a ganhar mais espaços na extremidade da esfera, e daí
acabou por separar os elementos puros que havia dentro da esfera. Então, o amor
e o ódio passaram a formar o mundo como conhecemos hoje, com seus contrastes e
oposições. A esfera sendo a personificação da existência pura e também a
representação de Deus.
Empédocles chamava Deus de Esfero, que significava a união de todos os elementos pelo amor. Quando o amor dominava todos os elementos, nesse exato momento, existiria uma perfeita harmonia, e também nesse instante tudo se resumia a uma unidade do todo chamado de Esfero. Porém quando o ódio passava a dominar, então existiria uma dissolução desses elementos que acabavam formando o que seria o caos. Acreditava que a alma também sofria ação das forças e dos elementos. Explicava que cada raiz possuía uma analogia com uma divindade, que seriam identificadas como sendo Zeus, Hera, Aidoneus e Néstis.
Curiosidades
Relatos
afirmam que ele dizia conseguir controlar as tempestades e realizar milagres.
Comenta-se que ele teria salvado uma cidade de um surto de malária. Empédocles
tinha fama de profeta, daí entre os vários milagres que ele dizia realizar como
controlar a chuva, o vento e as epidemias, conta-se que ele teria declarado
certa vez que poderia destruir a força do mal e também curar a velhice.
Obras:
-
Purificações
- Sobre
a Medicina
-
Políticos
- Sobre
a Natureza
Filosofia Sapiencial
- “O
mar é o suor da terra”.
- “Os
iguais se reconhecem”.
-
“Sobrevive o que for mais capacitado”.
- “É necessário
repetir as palavras úteis”.
- “É
impossível que algo se torne o que não é”.
- “O mundo evoluiu da
água por meios naturais”.
- “Cada homem acredita
apenas em sua experiência”.
-
“Quatro são as raízes de todas as coisas: fogo, ar, água e terra”.
- Nenhum
dos deuses formou o mundo, nem tem homem algum – “Sempre foi”.
- “Do
não-existente, nada pode nascer e nada pode desaparecer no nada absoluto”.
- “Deus
é um círculo em que o centro está em toda parte e o acesso é por nenhuma
parte”.
- “Se
você exige só obediência, então você juntará em volta de si mesmo somente
bobos”.
-
"Porque eu já fui rapaz e fui donzela, fui planta, e ave, e um peixe mudo
que pula sobre as ondas".
- “O
sol é uma seta aguda. A lua um olho claro. O mar é o suor da terra. À
noite é solitária e cega”.
- “A
percepção humana é assustadoramente limitada; acreditamos estar vendo o todo,
quando na verdade só vemos uma fração”.
-
“Afortunado é aquele que adquiriu uma riqueza de sabedoria divina, mas
miserável em quem repousa uma opinião sombria sobre os deuses”.
-
“Tendo vislumbrado uma pequena parte da vida, os homens se levantam e
desaparecem como fumaça, sabendo apenas o que cada um aprendeu”.
- “O
que é legal não é vinculativo apenas para alguns e não vinculativo para os
outros. A legalidade se estende por toda parte, através do ar amplo e da luz
infinita do céu”.
-
“Nenhuma coisa mortal tem um começo ou fim na destruição da morte; existe
apenas uma mistura e separação dos mistos, mas para os homens mortais esses
processos são chamados de ‘começos’.”.
- “Pois impossível é que algo nasça do que não existe, assim como é impossível que o que existe possa ser completamente destruído. Onde quer que alguém o coloque, aí, por certo, sempre se há de encontrar”.
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