Antifonte de Atenas – (480 a 411) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo sofista da Grécia antiga que viveu em Atenas no período
clássico. Ele ficou conhecido por lançar as bases da Teoria do Direito Natural.
Escreveu um tratado intitulado de “sobre a verdade”. Defendeu os princípios
igualitários e libertários que estavam relacionados com a democracia. Estudou
as áreas da Filosofia, Linguagens, Direito, Matemática e Física. Atuou como
estadista e logógrafro¹ em Atenas. É considerado um dos precursores da oratória
e da prosa literária ática. Recebeu o codinome de “o cozinheiro de discursos”.
Era afamado como o intérprete dos sonhos e também como “o sofista”, apelido
dado por Xenofonte. Foi o autor da famosa frase: “A natureza requer liberdade”.
Escrevia de maneira elegante e rebuscada, com traços de finura em seu estilo.
Destacou-se como professor de retórica e escreveu alguns poemas em gênero
épico. Seu nome é muitas vezes transliterado como “Antífona”. Teria participado
do movimento político conhecido como “quatrocentos”, sendo com isso, condenado
a morte, por volta de 411 a.C.
No decorrer da História da Filosofia, existiram algumas polêmicas, em torno de sua verdadeira identidade, pois assim como ele, verificou-se outros pensadores notáveis com o mesmo nome e que viveram, aproximadamente na mesma época. Posto isso, algumas obras da História da Filosofia não definem com exatidão qual Antifonte verdadeiro teria escrito certas obras ou se todos os Antifontes seriam, na verdade, a mesma pessoa. Entre os três ou quatro supostos Antifontes, de seu tempo, o de Atenas, geralmente, é o mais confundido com o de Rammunte. A História da Filosofia reporta o nome da cidade natal, dos filósofos, como sobrenome, para diferenciá-los. Porém, aqui nesse artigo, eles serão considerados, como sendo a mesma pessoa, devido à falta de clareza e objetividade, entre os historiadores.
Filosofia clínica
Desenvolveu técnicas de cura para o sofrimento psicológico, utilizando a
poesia, a música e a linguagem como forma de aliviar a dor e a aflição.
Escreveu um manual chamado de “A Arte de não sofrer”, em que descreve suas
técnicas de defesa contra as dores da alma. Através do seu método, ele
identificava as possíveis causas dos tormentos psicológicos e tratava seus
pacientes. Realizava algumas sessões de entrevistas como se fosse uma terapia e
depois, de um breve diagnóstico, ele fazia o tratamento, buscando consolar os
enfermos. Seu método, chamado de “logo-terapêutico”, visava através da
antilogia, encontrar novos significados e reinterpretações do sentido da vida,
servindo de alternativa para os transtornos que causavam a depressão, em seus
pacientes. Ele fazia com que os doentes vissem os fatos ruins, por outro
prisma, mudando os sentimentos e emoções, acerca daquele fato negativo. Ele
acreditava que algumas doenças tinham origem na mente e que as palavras
poderiam ser usadas, como remédio, contra os pensamentos evasivos. Após
direcionar o paciente para uma vida equilibrada e moderada, ele restabelecia a
saúde, aconselhando práticas de autocontrole.
Filosofia Jurídica
Explicava que o homem tende a evitar a dor e buscar o prazer de forma
natural, dessa maneira, tanto a liberdade como a igualdade seriam destinações
almejadas de maneira natural. Para isso, o homem se destina a superar seus
apetites individuais e dominar suas paixões. Para ele, qualquer restrição de
cunho social que era imposta, ao homem, representava a dor, já o processo
espontâneo da “natureza” humana seria procurar evitar a dor, isto é, o homem
deseja o prazer de forma habitual. Desse modo, por conta desse pensamento,
Antinfote antecipou as ideias relacionadas ao direito natural. O pensador
Unterstainer (2012) diz que Antifonte falava com a voz da humanidade,
criticando tudo o que poderia fazer violência a individualidade da pessoa.
Antifonte sugeriu a concepção de que o homem se inclina a seguir bem as leis
quando está em público, mas que segue seus instintos naturais e não a lei
quando tem a oportunidade de ficar sozinho, sem o olhar reprovador do outro.
Segundo ele, as leis criadas socialmente pelo homem são leis pactuadas, entre
os homens, e que por isso, sua transgressão traria vergonha e sofrimento na
sociedade, enquanto as da natureza, que são geradas naturalmente, não trazem
consequências negativas, pois não dependem da opinião pactuada com o outro, e
por isso, estas outras, estariam mais perto da verdade natural. Ele acreditava
na existência de uma guerra entre os valores morais criados pelo homem, com os
valores reais da natureza. Portanto, a lei estaria em guerra constante com a
natureza. Logo, a natureza seria o mundo da verdade, e as leis criadas pelo
homem seriam o mundo da aparência, ou seja, seriam ordenamentos falsos e
ilusórios. O homem criaria as leis através de uma convenção artificial, e como
as leis mudam com o tempo, pois a vontade humana também muda, essas leis podem
se tornar superficiais, prejudiciais e ultrapassadas.
Ele argumentava que a justiça e a verdade são inúteis, pois em um
testemunho judicial a testemunha, ao evidenciar uma verdade, em uma lide, ela
considera seu ato justo e útil para os homens. Entretanto, testemunhar a
verdade contra alguém que nunca nos fez mal, para ele, seria o mesmo que fazer
o mal contra alguém, sem ter recebido algum mal dele. E isso não seria justo,
pois quem por acaso fizesse isso, estaria sendo injusto, uma vez que ser justo,
é na sua visão, também não ser injusto com ninguém, visto que, essa suposta
testemunha, não sofreu nenhum mal injusto. Desse modo, aquele que testemunha
contra alguém, em nome da justiça, mesmo que testemunhe somente a verdade, de
alguma forma estaria sendo injusto com o outro. Assim sendo, quem testemunhasse
a verdade, ganharia apenas inimigos. Nesse contexto, a verdade, nesse caso,
serviu somente para a desarmonia. Pois o acusado, em tal caso, guardará remorso
e rancor, dessa maneira, essa injustiça implicará em ódio. Conclui-se, na sua
visão, que a justiça e a verdade podem ser inúteis ao homem.
Filosofia antilógica
Seu modelo de pensamento também estaria fundamentado no controle
argumentativo da contradição. Ele acreditava na possibilidade de poder defender
argumentos contrários, essa característica ficou conhecida como antilogia.
Nessa teoria, ele trabalhava a ideia de que algo poderia ser duas coisas
opostas ao mesmo tempo, daí, ele usava o exemplo da decomposição orgânica que
pode transformar a “morte” das coisas em adubo para a “vida”. Nesse sentido, os
filósofos antigos explicam que Antifonte tinha uma grande capacidade de
argumentar sobre dois lados opostos de qualquer questão. Para Antifonte, o
homem que defende ser feliz por ter muito dinheiro e diz que isso é bom, é o
mesmo que admite sentir tristeza em ter que gastá-lo e sente remorsos ao
usá-lo. Assim, ter muito dinheiro, é causa tanto de alegria, como de tristeza.
O homem vive, então, uma eterna contradição, entre duas opiniões opostas. A
riqueza causa, ao mesmo tempo, prazer e sofrimento.
Em sua obra tetralogia, ele faz análises sobre várias situações, na qual
o homem se depara em conflito com a lei. Ele argumentava sobre dois modos de se
ver o fato criminoso, um sobre o prisma do acusador e outro sobre o olhar da
defesa, levantando questões e teses contrárias, de forma magistral. Alguns
pontos de vista demonstram que os acusados podem não ter culpa pela não
intenção de realizar o crime, sendo fatalidades derivadas do acaso. Outro
destaque é a forma que ele coloca as emoções, como pontos importantes de
convencimento dos jurados, destacando metáforas e simbologias da mitologia,
para encenar a defesa e a acusação. Os discursos também problematizam situações
emblemáticas, que podem acontecer, em decorrência de assassinatos, sinalizando
ensejos e equívocos que podem ocorrer.
Explicava que, para se chegar a uma conclusão mais próxima da verdade
real, seria necessário desmistificar o que se apresenta como aparência da
verdade. Nesse sentido, tanto o acusador como o defensor, devem confrontar as
ideias e hipóteses, para construir analogias, sobre as verossimilhanças dos
fatos. Ele ensinava que a moderação das narrativas era importante, não apenas
para convencer os outros, mas também para convencer a si mesmo como acusador ou
defensor. A habilidade de se contradizer tornaria seus discípulos, cidadãos
melhores, pois um poderia conduzir o outro a observar um fato, por ângulos
diferentes. A equipolência dos discursos também levaria ambos os opositores a
enxergarem às contradições, por si próprios.
Filosofia da Natureza
Estabeleceu um princípio constituinte de todas as coisas, ao qual ele
chamou de “Arthythmiston”, isto é, “através das posições”. Essa substância
seria amorfa, pois não possuía forma e teria três preceitos básicos que seriam:
perenidade, materialidade e tenacidade. Ele também seria uma fonte inicial da
matéria com capacidade de geração e organização de todos os seres existentes na
matéria. Seria um “ser” completo, possuindo tudo e não tendo falta de
nada. Possuiria um equilíbrio eterno e permaneceria sempre o mesmo. Seria
invisível, porém de alguma forma perceptível. Seria também infalível,
ilimitado, indeterminado e indiferenciado.
Relacionava o mundo da verdade com a natureza e o mundo da aparência com a concepção de ser-humano. Acreditava que o tempo não era uma realidade concreta, mas apenas uma ideia abstrata que era utilizada como instrumento para mensurar o conceito de movimento. A realidade substantiva das coisas estaria fora do tempo. Dizia que para o “logos” tudo seria uno, já em relação aos sentidos, nada poderia existir individualmente. Em vista disso, o conhecimento humano não seria original e singular. Para ele, a realidade do “ser” possuía uma “essência”, mas essa realidade também seria composta por ilusões, da qual ele chamou de “aparências”. O conceito de essência que estava presente em todas as coisas, não possuía forma definida, mas seria material e eterna.
Filosofia Cosmológica
Desenvolveu os conceitos de macrocosmo e microcosmo, relacionando essas
ideias entre o universo-macro dos astros e o universo-micro da natureza humana.
Segundo ele, haveria uma interação entre esses dois universos. Ele fazia uma
analogia entre as coisas do universo maior com as coisas do universo menor.
Acreditava na existência de múltiplas realidades que coexistiam com dimensões
interligadas. Definia esses universos como sendo compostos por realidade e
aparência. Explicava que a Lua brilhava porque possuía luz própria, porém em
alguns momentos, sua luz era ofuscada pelo brilho de outro astro com maior
brilho. Nesse caso, o Sol seria um desses astros que causavam o ofuscamento do
brilho da Luz devido seu brilho ser mais nítido.
Filosofia do Conhecimento
Seus argumentos eram baseados principalmente em evidências, provas e
plausibilidades. Defendia a ideia de uma educação pautada no respeito, na
concentração e na aplicação para a vida adulta. Em seu tratado, ele atacava as
diferenças de classe social, explicando que elas não foram baseadas na natureza
dos indivíduos, mas sim na relação de preconceito convencional. Nos seus
estudos, ele enxergava um posicionamento sobre o estado de liberdade por um
ângulo igualitário, isso seria um traço característico da democracia grega. Ele
acreditava que a natureza humana deveria ser colocada em primeiro lugar, em
relação à natureza das convenções, bem como também, no que se refere a natureza
das leis sociais.
Filosofia da Matemática
Na área da Matemática, ele se destacou em algumas descobertas sobre o
número “pi” e suas relações com os círculos. Tratou sobre o tema da quadratura
do círculo pelo método da “hipótese da exaustão completa”, em que ele tenta
resolver esse problema, relacionando os conhecimentos da metafísica com a
geometria. Além disso, elaborou conceitos a respeito do cálculo das áreas dos
polígonos.
Antifonte e Sócrates
O sofista atacou as ideias de Sócrates dizendo que haveria uma grande
pretensão deste de querer formar bons cidadãos com seus ensinamentos, mas sua
maneira de agir seria contrária aos ideais políticos pregados em Atenas. Acusou
Sócrates de ser um homem infeliz e de utilizar a filosofia para viver como um
escravo. Criticava Sócrates porque ele não cobrava nada de seus discípulos para
ensiná-los. Dizia que os ensinamentos de Sócrates levariam seus discípulos a se
tornarem sujeitos sem posses, dependentes e subjugados na sociedade. Nesse
sentido, ele disse que Sócrates era o mestre da infelicidade. Sócrates rebateu
seus argumentos alegando que seu modo de vida lhe permitia uma vida livre no
sentido de não precisar se submeter a trabalhos inoportunos ou inconvenientes,
para a aquisição de posses, pois segundo Sócrates, a verdadeira felicidade não
estaria no acúmulo, abundância de dinheiro ou ostentações. Portanto, seus
ensinamentos pregava uma vida independente através de uma existência simples. Logo,
Sócrates advertia: “Eu, pelo contrário, considero o não precisar de nada ser
algo divino; o precisar de menos possível está mais próximo do divino e, sendo
o divino melhor, o mais próximo do divino está mais próximo do melhor.”.
Filosofia
Sapiencial
+ “viver e morrer é da natureza”
+ “A ‘natureza’ requer liberdade”.
+ “Os homens são
naturalmente iguais”.
+ "Não existe lei
positivada sem lei natural"
+ “O tempo é pensamento e
medida, não substância”.
+ “De tudo o quanto gastamos, o mais caro é o tempo”.
+ “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.”
+ “É com a putrefação da
madeira, que a terra se torna cheia de vida”
+ “A justiça consiste, pois, em não exceder as leis da cidade em que se
vive”
+ “Muitas coisas justas segundo a lei estão
em pé de guerra com a natureza”.
+ “O ambiente em que a pessoa se move a maior parte do dia, determina
seu caráter.”.
+ “A ambiguidade da linguagem o torna incapaz de expressar plenamente a
realidade que existe”.
+ “Por isso ‘Deus’ não carece de nada, nem recebe nada de outrem, mas é
ilimitado e sem necessidades”.
+ “Se alguém enterrasse uma cama e a putrefação da madeira pudesse gerar
um ser cheio de vida, este não viria a ser cama, mas madeira”.
+ “Viver das coisas presentes, existentes e subsistentes é, para nós, a
prudência. Loucura e falta de bom senso é querer viver de coisas que ficaram
para trás e já não existem mais.”.
+ “Há alguns que não vivem a vida presente, mas se preparam com zelo
como se uma outra vida fossem viver que não a presente; nesse caso, o tempo,
sendo desperdiçado, vai-se embora.”.
+ “Se alguém enterrasse uma cama de madeira e a putrefação dela tivesse
poder de fazer levantar um rebento, um broto de semente na terra, esse não
viria mais a ser cama, mas sim madeira”.
Fatos e Curiosidades:
Conta-se que, um corredor vislumbrando competir em uma corrida no
Olímpia teria tido um sonho, no qual conduzia uma carruagem com quatro cavalos.
Na manhã seguinte, ele procura um adivinhador de sonhos e indaga sobre o
significado desse sonho. O intérprete então responde: - “Tu vencerás, pois isso
significa rapidez e a força dos cavalos”. Pouco tempo depois, o corredor, então,
decide buscar a opinião de Antifonte e este lhe diz: “Tu serás
necessariamente vencido: tu não compreendeste que há quatro corredores à tua
frente”?
Em outro fato, um corredor visando competir no Olímpia teria sonhado que
se transformava em uma águia. Após questionar a um adivinhador de sonhos, sobre
o significado desse sonho, este teria dito: - “Tu
vencerás; nenhum pássaro tem voo mais poderoso que a águia”. Porém, ao indagar
sobre o mesmo sonho, ao Antifonte ele teria respondido assim: “Tolo, tu não
vês que serás vencido? Pois este pássaro, que persegue e caça outros, é sempre
o último”.
Relata-se que, certa vez, o rei Felipe teria sonhado, que estaria
sentado em seu palácio entretido, em um jardim cheio de pássaros, quando de
repente uma ave doméstica pousou em seu colo e pôs um ovo, o ovo, então, teria
rolado pelo chão do jardim, e após ter trincado, partiu-se, e de dentro do ovo
teria saído um filhote de serpente que ficou rodeando em torno da casca do ovo,
depois ficou tentando voltar para dentro do ovo e ao tentar colocar a cabeça
dentro do ovo morreu. Felipe, então, manda que chamem um decifrador de sinais
para que lhe revele sobre o acontecido. Antifote após escutar a estória explica
ao Felipe que: “Tu terás um filho, que será rei e percorrerá o mundo
inteiro, subjugando todos ao seu poder particular. Ele, porém, morrerá pouco
tempo depois que começar a voltar para casa. Pois a serpente é animal régio, e
o ovo, de onde saiu à serpente, é parecido com o mundo. Rodeando o ovo ao
querer voltar, antes de pôr a cabeça em sua pátria natal, morrerá do lado de
fora”.
Obras:
Tetralogias; Arte retórica; Tratado sobre a Verdade; Acerca da Concórdia
ou Sobre o Consenso; Tratado Político; Sobre a interpretação dos sonhos;
Libertação da dor; Discursos Forenses.
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Notas
_________________
¹ termo
que designava, os historiadores do passado, os autores de antigos discursos, bem
como também, os compositores de prosa.