quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Hípon de Régio

Hípon de Régio – (Séc. V a.C) 

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi considerado um filósofo pré-socrático da Grécia antiga. Pode ser apontado como sendo um filósofo da escola pluralista, pois mesclou seus estudos filosóficos entre as teorias da escola Jônica e as ideias do filósofo Diágoras de Melos. Aprofundou suas pesquisas nas áreas da Biologia, Botânica, Fisiologia e Medicina, por isso, alguns pensadores o definem também como sendo um filósofo naturalista. A filosofia de Tales e de Anaxímenes exerceu grande influência em seus pensamentos. Especula-se que ele tenha estudado os campos da Medicina com os pitagóricos. Teria sido acusado de impiedade que era um crime contra as religiões ou contras os costumes na Grécia antiga, pois teria feito a seguinte afirmação: “os deuses são apenas homens famosos”. Suas obras se perderam no tempo, mas alguns pesquisadores apontam a existência de determinados fragmentos que foram encontrados recentemente. 

O filósofo Aristóteles criticou sua obra ao comparar seus pensamentos com as de outros filósofos naturalistas. O termo “Hípon” também era o nome de uma das colônias gregas da Magna Grécia. Os historiadores divergem sobre o local exato de seu nascimento, estando divididos entre as cidades de Régio, Samos, Crotona e Metaponto, porém a corrente majoritária aponta para a cidade de Régio da Calábria no sul da Itália. Não se sabe ao certo o ano de seu nascimento, contudo um poeta cômico da época conhecido por Crátinos de Atenas, por volta do ano 420 a.C, chegou a satirizar as ideias religiosas de Hípon em sua obra “Panoptas”, dessa forma, os historiadores fazem uma possível previsão da época de seu florescimento. Outra fonte também descreve que ele foi contemporâneo de Péricles o que sustenta a tese dele ter vivido em meados do século V a.C.

Filosofia da Natureza

Explanava que a “arché” principal do universo era a “umidade”, afirmando que esta provinha da água e do fogo que seriam os elementos primordiais, esses elementos dariam origem às coisas no universo. Porém a água teria um destaque superior em relação ao fogo, pois dizia que o próprio fogo se originava da água. Acreditava que a “água” junto com “mente” teria dado surgimento a “alma” dos seres. Ilustrava que o cérebro era a morada do espírito. Para ele, essa substância denominada de “umidade” formava os seres vivos, por isso, dessa mistura entre a “água” e a “mente” se formaria a alma. Ele pensava que existia um nível apropriado de “umidade” em todos os seres vivos, e que as doenças seriam provocadas por um desequilíbrio na “umidade do ar”.

A sua ideia de que alma surge da água vem da observação de que os sêmens dos animais possuem certo aspecto úmido e viscoso, ele explicava que o sêmen não poderia ser confundido com o sangue, pois no sêmen estaria contida uma alma originária e o sangue seria apenas uma veia secundária de engendramento da vida. Também conceituava que a medula espinhal teria uma importância mais significativa que o cérebro na produção do sêmen. Essas ideias influenciaram pensadores da época ligados à área da medicina e da biologia, como por exemplo, o filósofo Crítias que era tio de Platão e defendia a ideia de que a alma surgia do sangue. Tais teorias possuem relação com as ideias de hereditariedade e reprodução as quais eram estudadas pelos filósofos da antiguidade.

Negava a existência de qualquer coisa que não pudesse ser percebida através dos sentidos. Ele teorizava que todos os seres vivos também precisariam da “umidade” para existir, dessa forma, ele explicava que os corpos mortos ficavam ressecados por falta de umidade. Acreditava na existência de uma “umidade natural” dentro dos seres vivos, essa umidade era responsável pelas sensações e pela ideia de vida. Pontuava que essa substância era o que mantinha os animais vivos, mas quando por algum motivo a umidade era dissipada, então os animais morriam. Pode-se concluir que sua ideia de vida estava relacionada com a existência do úmido. Suas conceituações foram importantes para o aprimoramento dos conhecimentos sobre a dissecação dos cadáveres.

Filosofia Cosmológica

Em seus estudos dizia que o Céu cobria a Terra em um formato de forno, ao realizar essas observações na atmosfera terrestre ele teve uma impressão de que haveria uma espécie de redoma cobrindo a Terra, alguns pensadores interpretaram essa ideia como sendo o “domo de um forno”, pois haveria pequenos espaços abertos nas laterais para que pudesse escapar o vapor que estaria relacionado aos estados da umidade mais fria ou mais quente da Terra. A cúpula serviria como uma espécie de regulador da temperatura das áreas gélidas ou férvidas. Pensava que a origem da umidade teria relação com a tendência que a água tinha de se elevar pela terra, daí ele utilizava o exemplo dos poços de água, onde a água brotava da terra, para com isso, contrapor os argumentos de alguns filósofos que defendiam a ideia de que água tenderia a cair na terra. Dessa forma, ele justificava que a Terra repousava sobre as águas. Segundo sua visão, a matéria produzia uma mudança permanente entre o dualismo do seco com o úmido, essa alternância entre esses dois estados dariam origem as coisas no universo, nesse sentido, ele explicava que o universo úmido surgiria da água, porém para que existisse essa transformação era necessário que água sofresse uma pequena mudança de temperatura para um estado um pouco mais quente, desse modo, o calor precisaria da água para existir.

Anedota:

Segundo relatos Hípon teria determinado para alguns súditos que após sua morte eles esculpissem um epitáfio em seu túmulo. Poetas descreveram o feito como uma tentativa dele de querer imortalizar sua própria morte. Os dizeres foram narrados pelo próprio Hípon com o seguinte “dístico elegíaco”: “Este túmulo é de Hípon, que o destino o fez, após a sua morte, semelhante aos imortais”.

Filosofia Sapiencial

- “A alma é a manifestação do cérebro”.

- “Os deuses são apenas homens famosos”.

- “Todos os alimentos frescos fornecem mais força do que os outros, por isto, porque estão mais próximos do que está vivo. Os velhos e pútridos são mais laxantes do que os frescos, porque estão mais próximos da corrupção”.

- “É preciso, pois, subtrair e acrescentar as propriedades de cada um do seguinte modo, sabendo que todas as coisas, tanto animais quanto vegetais, são compostas de fogo e água e que sob a ação deles se desenvolvem e neles se dissolvem”.

- “Todas as águas que bebemos provêm do mar, já que, se os poços fossem mais profundos do que o mar, sem dúvida não seria do mar que beberíamos, pois. nesse caso, a água não proviria dele, mas de alguma outra fonte. Sucede, porém, que o mar é mais profundo do que as águas, de modo que todas as águas acima do mar provêm dele”.


Fontes:

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