domingo, 19 de março de 2023

Gonçalves de Magalhães

Gonçalves de Magalhães - (1811 a 1882) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Domingos José Gonçalves de Magalhães foi um filósofo brasileiro considerado o introdutor do “Romantismo no Brasil”. Destacou-se como um dos principais poetas da primeira geração romântica. Ficou conhecido como o “Visconde de Araguaia”. Atuou como professor, filósofo, escritor, médico, político, historiador e diplomata. Teria sido muito influenciado pela filosofia de “Monte Alverne”, sendo inclusive considerado um de seus discípulos. Escreveu suas obras em formato de poemas, romances, revistas, ensaios literários e filosóficos. Obteve o título de Doutor em Medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, em 1832. Era visto como um dos pioneiros da dramaturgia brasileira, tendo escrito várias peças de teatro. Foi nomeado, em 1838, para o cargo de professor de Filosofia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, exercendo o magistério por um curto período. Chegou a assumir também o cargo de secretário do Duque de Caxias. Segundo algumas biografias, ele seria filho de Pedro Gonçalves de Magalhães Chaves, porém não se sabe ao certo o nome exato de sua mãe. É considerado o patrono da cadeira de número nove da Academia Brasileira de Letras. Gonçalves de Magalhães nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 13 de agosto de 1811. Faleceu na cidade de Roma, em 10 de julho de 1882.

Filosofia da Linguagem

Desenvolveu partes da literatura brasileira pontuando conceitos que ampliaram o campo de atuação da arte literária, dando, com isso, mais autonomia ao movimento do romantismo no Brasil. Sua obra de título “suspiros poéticos e saudade” é vista como um marco que deu inicio ao movimento do romantismo no Brasil. Seu trabalho associava aspectos ascéticos com conceitos naturalistas, descrevendo uma literatura poética que abordava as relações entre “Deus e a Natureza”. Ele refletia sobre as características de formação da literatura nacional, tecendo críticas e propondo mudanças que pudessem emancipar a literatura brasileira para que ela se desprendesse da influência europeia, o qual ela estaria associada. Levantou indagações que serviram de base para a análise reflexiva de seus ensaios, esclarecendo através de apontamentos históricos como a opressão da época atrasava o desenvolvimento intelectual do Brasil. Entre as principais questões retratadas em sua obra, estava o individualismo, a infância, o patriotismo, o sentimentalismo, o nacionalismo e o historicismo.

Filosofia Indianista

Descreveu conceitos indianistas em sua obra, especificando que o índio seria uma espécie de bom selvagem. Sua filosofia também marcou o período de transição entre o arcadismo e o romantismo, enaltecendo pontos que estabeleceram certo patriotismo, o qual estava sendo engendrado no Brasil, e que colocava o índio como sendo um forte herói nacional. Para ele, o índio seria um bravo guerreiro que defendia sua terra contra a força opressora do colonizador. Na obra “Confederação dos Tamoios”, por exemplo, ele abordou um levante indígena que lutou contra os portugueses. Nessa perspectiva, sua obra também trazia descrições sobre elementos da natureza, associando a natureza com a exaltação dos feitos indígenas. A idealização da figura do índio tinha como símbolos sua coragem, honra, pureza e beleza. Acreditava que o índio brasileiro descendia de um ancestral humano comum a todas as raças, ancorando sua tese, baseando-se nas correntes de pensamento do monogenismo.

Filosofia Política

Pautou partes de sua obra na construção política da independência artística nacional, em relação a Portugal. Mesmo sendo considerado por alguns teóricos como um reformador da literatura nacional, sua obra tratou de conservar aspectos relacionados ao sistema político vigente. Transitou seu sistema de pensamento por ideias espiritualistas que se relacionavam com a política. Desse modo, era caracterizado por alguns como sendo um nacionalista conservador, e por outros como um conciliador de ideias. Defendia que a educação letrada tinha um papel fundamental na formação do homem político. Por isso, posicionava-se também a favor da implementação de uma religião oficial no império, para que ela servisse de apoio na construção moral do homem. Explicava que as desigualdades sociais se originavam de certas disfunções da liberdade, e que esta, estaria condicionada as necessidades humanas.

Filosofia Espiritualista

Para Gonçalves, o espírito humano possuía uma característica infinita e como tal, ele se revelava no homem através de uma dimensão finita, ou seja, por um fato psíquico. Nessa linha de pensamento, sua filosofia encontrava apoio na relação existente entre o sensualismo e o materialismo, abordando os temas da “Alma e do Cérebro” com as concepções ligadas às áreas de filosofia, ciência, religião e moral. Refletia a respeito da consciência humana e suas reverberações no conhecimento. Desse modo, ele esclarecia em seus apontamentos que os aspectos materialistas dos conhecimentos fisiológicos estariam subordinados aos saberes metafísicos da filosofia da mente. Ilustrava que a memória conectava o mundo dos fenômenos sensíveis com a inteligência, servindo como uma ponte entre a realidade e o cérebro. Chegou a registrar elementos históricos, culturais e sociais sobre os lugares que passou, comparando suas vicissitudes com os saberes ligados aos vícios e paixões da alma.  

Filosofia Sapiencial

+ “A religião é indispensável à sociedade, que nela contêm todos os elementos da civilização, que é a fonte da filosofia, a base da moral, a origem do entusiasmo, e a criadora das artes”.

+ “Se a Providência não outorgou maior poder de execução ao nosso livre-arbítrio, foi porque previu o abuso que dele faríamos, como o provam aqueles que pelo tácito consentimento dos seus semelhantes se elevam ao absoluto mando”.

+ “Oh infantil vaidade! Vós, oh jovens, cuidais que sabeis tudo, As páginas de um livro apenas lendo. Dos velhos desprezais os sãos conselhos, E orgulhosos dizeis: — Hoje a velhice Lições deve tomar da juventude; Hoje de nossos pais acima estamos. Moço sou, como vós sábio julguei-me; Como vós iludi-me”.

+ “Cada povo tem sua literatura, como cada homem tem o seu caráter, cada árvore o seu fruto. Mas esta verdade, que para os primitivos povos é incontestável, e absoluta, todavia alguma modificação experimenta entre aqueles, cuja civilização apenas é um reflexo da civilização de outro povo”.

+ “Com efeito, sem a memória dos fenômenos sensíveis não haveria para nós experiência possível, nem linguagem articulada, e faltariam à nossa inteligência as condições indispensáveis para o seu exercício, e produção das ideias de tempo, de espaço, de cousa, de substância, do justo, e de outras muitas ideias puramente racionais”

+ “Da filosofia dependem mais ou menos todas as ciências, principalmente as morais e políticas, das quais tanto precisa um povo livre, que aspira a tomar um lugar distinto entre as nações civilizadas; o que só se consegue com a elevação da inteligência a tudo o que é belo, bom e justo; e todos podem cultivar a filosofia sem prejuízo, antes com muita vantagem, de todas as outras ciências e interesses”. 

Obras:

Poesias avulsas; Amância; Discurso sobre a Literatura no Brasil; Os indígenas do Brasil perante a História; Suspiros Poéticos e Saudades; Opúsculos Históricos e Literários; Antônio José ou o poeta e a Inquisição; Olgiato (1839); A Confederação dos Tamoios; Fatos do Espírito Humano; Os mistérios; A alma e o cérebro; Urânia; Cânticos fúnebres; A alma e o cérebro; Comentários e pensamentos; Os Mistérios; Napoleão em Waterloo; Revista Niterói.


Fontes:

AMORA, Antônio Soares. O romantismo. São Paulo: Cultrix, 1977.

BENJAMIN, Walter. Magia técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.

CAIRO, Luiz Roberto. Domingos José Gonçalves de Magalhães e a História da Literatura no Brasil. Revista Signótica. Vol. 15 N; 01. Recife: UNESP, 2003.

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins, 1969.

CASTELLO, José Aderaldo. Gonçalves de Magalhães: Trechos Escolhidos. Goiânia: Editora Agir, 1961.

HADAD, Jamil Almansur. História poética do Brasil. São Paulo: Letras Brasileiras, 1943.

KODOMA, Kaori. Um discurso sobre ciência, religião e liberdade no segundo reinado: A alma e o cérebro de Gonçalves Magalhães. Revista da SBHC. Vol. 03. N; 02. Rio de Janeiro: PUC – Rio, 2005.

MAGALHÃES, Gonçalves. A alma e o Cérebro: Estudos de Psicologia e Fisiologia. Rio de Janeiro : Livraria de B. L. Garnier, 1876.

MOREIRA, Maria Eunice. Nacionalismo e crítica romântica. Porto Alegre: IEL, 1991.

ROMERO, Silvio. Autores Brasileiros. Rio de Janeiro: Imago, 2002.

SACRAMENTO, Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.