domingo, 18 de agosto de 2024

Thomas Hobbes

Thomas Hobbes - (1588 a 1679) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo inglês pertencente a linha de pensamento da filosofia política. É considerado um dos formuladores da teoria contratualista do período moderno. Escreveu uma obra que é considerada um clássico da filosofia política, intitulada de “O Leviatã”. Dedicou-se principalmente as áreas da Filosofia, Política, Teologia e Física. Suas ideias tiveram grande influência dos conceitos ligados ao humanismo renascentista, ao jusnaturalismo e ao realismo político. Sua vida foi marcada por instabilidades, seu pai era um clérigo radical que abandonou a família por questões religiosas, por isso Hobbes teve parte de sua educação inicial orientada por um tio. Posteriormente estudou Filosofia na Universidade de Oxford. Passou um tempo exilado na França devido as conturbações políticas de seu tempo. Chegou a trabalhar como secretário do filósofo Francis Bacon, auxiliando-o na tradução de alguns ensaios. Viajou para Itália e lá conheceu o filósofo Galileu-Galilei que teria lhe orientado a respeito de algumas questões sociais. Por fim retorna a Inglaterra onde vive até o final de sua vida. Nasceu em Westport, Inglaterra, no dia 5 de abril de 1588, e faleceu em 4 de dezembro de 1679, em Derbyshire, com 91 anos, durante uma viagem.

Filosofia Política.

Sua obra influenciou bastante a ciência política. Ele partia da ideia de que, para se compreender a moral e a política, era necessário entender primeiramente o homem. Segundo Hobbes, o homem tem uma tendência natural a ser muito individualista, tendo construído a ideia de comunidade, apenas como um meio de sobrevivência, pois assim, estaria mais protegido. Para ele, o homem, em seu estado de natureza, poderia provocar a guerra de todos contra todos. Desse modo, o homem necessitava da ideia de segurança para poder produzir e sobreviver no mundo. De acordo com Hobbes, o indivíduo, em seu estado de natureza, tende a realizar o que ele chamava de “guerra de todos contra todos”, pois ele vive sobre o domínio de suas paixões, agindo sempre por impulso, ou seja, o ser humano teria uma pulsão natural pelo poder.

Segundo Hobbes, o conceito de sociedade só se torna vantajoso ao homem quando ele se ver ameaçado, nesse sentido, o indivíduo constrói a ideia de sociedade civil e firma um pacto social. Ele transfere para a noção de Estado seus direitos naturais com a finalidade de se preservar e se conservar de possíveis ameaças, transferindo elementos da filosofia natural para a filosofia civil, melhor dizendo, passando de um “estado de natureza” para o “estado de sociedade”. Nesse contexto, seriam o medo e a insegurança, os principais fatores que desenvolve a criação do Estado. Ele define o conceito “de guerra” de maneira figurada, pois essa ideia de guerra teria forte relação com a noção de medo e de autoproteção. A guerra seria uma preocupação permanente ou tensão constantes que seriam geradas pelo temor dos infortúnios. Conforme ele explica, o homem também não teria o instinto nato de sociabilidade, buscando a comunhão entre os compatriotas, apenas por interesse ou necessidade. No seu estado de natureza, o homem seria naturalmente um indivíduo interesseiro, competitivo, desconfiado e ambicioso, vivendo em um estado de guerra generalizada. O homem, deveria, então, utilizar-se da política e do Estado para constituir meios comunitários que garantam sua sobrevivência. 

Discorria de maneira contrária a ideia de que o rei governava por direito divino, não expressando seu apoio à Igreja na Inglaterra. Defendendo a tese do poder da realeza que deveria ser baseada no contrato social, fundamentada no apoio do povo. Defendeu os conceitos políticos ligados ao sistema de “monarquia absoluta”, em que estabelecia um poder centralizado e forte nas mãos de um soberano que fosse capaz de evitar as guerras civis. Nessa perspectiva, o Estado também deveria ser forte e com o poder centralizado. Para Hobbes, as questões sociais e políticas geram influência na natureza humana. Sendo o medo e a esperança os principais afetos mais atuantes nessa confluência entre paixão e racionalidade. O homem tem uma tendência a procurar a satisfação nos desejos e evitar o temor que é gerado pelas angústias.

Filosofia do Conhecimento

Hobbes acreditava que o conhecimento derivava dos sentidos, pois a ideia de desejo e de paixão exerceria grande poder de força, na vontade humana. A filosofia de Hobbes teve grande influência, em seus estudos, da Física, Matemática e Astronomia, pois ele pautou seu sistema de pensamento na visão mecanicista que ele tinha do universo, transpondo os movimentos físicos dos corpos celestes, com a ideia de sociedade civil, relacionando o mundo humano, com o meio social e com as questões das ciências e da física moderna. Para ele, a memória, as paixões e a imaginação seriam funções derivadas do arranjo mecânico humano, fez essa analogia, a partir do que observou com o mundo dos astros no universo, do qual seguia, na sua visão, um arranjo semelhante. Hobbes desenvolveu a sua filosofia social, baseando-se nos princípios da geometria e das ciências naturais. Na sua teoria, ele partia do princípio de uma base lógico-proposicional da matéria, para depois construir uma relação política e social, que se fundamentasse na lei positivada e na ordem do Estado. Alguns teóricos chegaram a caracterizar esse modo de pensar, proposto por Hobbes, de “fisicalismo”.

Filosofia Sapiencial

+ “Conhecimento é poder”

+ “O homem é o lobo do homem”

+ “A curiosidade é a luxúria da mente”.

+ “A experiência não leva a conclusões universais.”

+ “Os pactos sem espada não passam de palavras”

+ “Os costumes resultam do hábito convertido em caráter”.

+ “Nas próprias sombras da dúvida, começa um fio de razão”

+ “As palavras são a moeda dos sábios e o dinheiro dos tolos”.

+ “Em geral as paixões humanas são mais fortes do que a razão”

+ "A vida do homem é solitária, pobre, desagradável, brutal e curta"

+ “O verdadeiro e o falso são atributos da linguagem, não das coisas”.

+ “Toda vez que a razão se opõe ao humano, o humano se opõe à razão”.

+ “Impressões sensoriais não bastam para construir e preservar uma vida.”

+ “O universo é corpóreo; tudo o que é real é material, e aquilo que não é material não é real.”

+ “A razão é o passo, o aumento da ciência o caminho, e o benefício da humanidade é o fim.”

+ “Um homem não pode abandonar o direito de resistir àqueles que o atacam com força para lhe retirar a vida.”

+ “A singularidade do uso eclesiástico da palavra deu numerosas disputas relativas ao verdadeiro objeto da fé cristã.”

+ “Assim, na natureza do homem, encontramos três causas principais de discórdia: Primeiro, a competição; em segundo lugar, dissidência; em terceiro lugar, Glória.”

Obras:

Princípios Primeiros; Do Cidadão; O Leviatã; Dos Corpos; Os elementos da lei natural; Do Homem; Elementos da Filosofia.

 

Fontes:

BOBBIO, Noberto. Thomas Hobbes. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1991.

CHÂTELET, François. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro, Editora Zahar, 1986.

DIAS, Reinaldo. Ciência Política. São Paulo: Editora Atlas, 2008.

HOBBES, Thomas. O Leviatã. São Paulo: Editora‎ Martin Claret, 2014.

MEDEIROS, Alexandro Melo. Thomas Hobbes. Site: Sabedoria Política. Manaus: UFAM, 2014.

POGREBINSCHI, Thamy. O problema da obediência em Thomas Hobbes. São Paulo: EDUSC, 2003.

REALE, Giovani. História da filosofia. São Paulo: Editora Paulinas, 2006.

RIBEIRO, Renato Janine. Ao leitor sem medo: Hobbes escrevendo contra o seu tempo. Belo Horizonte, Editora UFMG, 1999.

SILVA, Hélio Alexandre da. As paixões humanas em Thomas Hobbes: entre a ciência e a moral, o medo e a esperança. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

SOUZA, Maria Eliane Rosa. Thomas Hobbes: Do movimento físico à fundação do Estado. Tese de Doutorado. Porto Alegre: Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008.

STRAUSS, Leo. Direito Natural e História. Trad. Bruno Costa Simões. São Paulo: Martins Fontes, 2014.


domingo, 11 de agosto de 2024

Mathetes Anônimos

Mathetes Anônimos - (120 a 200) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo teológico que teria escrito uma obra intitulada de “Epistola a Diogneto”. O texto foi considerado uma "joia rara da literatura cristã primitiva”. Floresceu no período de transição compreendido entre a filosofia antiga e a medieval, assim dizendo, no final da primeira fase da patrística. O denominado filósofo incógnito também teria ficado conhecido, juntamente com sua obra, pelo cognome de “Mathetes a Diogneto”. O próprio autor se autodescreve como sendo um discípulo dos Apóstolos. A palavra Mathetes significa “um discípulo” e teria sido designada, por ele, para representar seu pseudônimo, já o sobrenome Anônimos é muitas vezes referenciado, por pesquisadores, para especificar seu anonimato, pois trata-se de um pensador desconhecido. Também se descreve como alguém que mais tarde teria ascendido para a condição de mestre, passando a ensinar a doutrina cristã. A obra figura em algumas listas, como sendo, um dos últimos textos clássicos da filosofia apostólica. Porém enquadra-se didaticamente na literatura apologética, devido a predileção que o texto aponta.  

Filosofia Teológica

Segundo os estudiosos, a epístola seria uma antiga exposição apologética que retratava a vida e os costumes dos primeiros cristãos. A carta foi considerada um texto que possuía uma retórica elegante, e que enaltecia os primeiros conceitos da doutrina da igreja católica, desse modo, era uma obra que se direcionava, em defesa dos cristãos, contra as falsas acusações dos pagãos. A obra iniciava com argumentos contrários a idolatria, advertindo aos cristãos sobre a insignificância que existiria, em adorar objetos materiais que eram construídos de madeira, metais e pedras. Também precavia, aos católicos, sobre a transitoriedade da vida na Terra, ponderando que a passagem nesse mundo seria temporária. O tema principal da obra ensinava sobre a importância de manter-se santificado, como símbolo de iluminação, representando a luz de Cristo no mundo. O autor buscou responder aos questionamentos utilizando conselhos e dando instruções sobre o que lhe era indagado. Dissertava sobre os fundamentos éticos da religião, o amor fraternal entre cristãos e a vinda de Cristo. Descrevendo a transformação moral que o Cristianismo realizava, pontuando à pureza dos novos costumes e à caridade destes primeiros membros cristãos. Resgatou o conceito de “logos” caracterizando-o com a concepção de verbo, pregando que a ideia de que fé e razão, seriam atributos de uma racionalidade divina.

Filosofia da História

A epístola teria sido escrita na cidade de Atenas, por volta do século II d.C. Foi localizada acidentalmente, na cidade de Constantinopla, por volta de 1436, juntamente com outros manuscritos, os quais teriam sido supostamente encaminhados para um certo Diogneto. O original foi encontrado por um jovem pesquisador da igreja católica conhecido pelo nome de Tommaso Arezzo. As obras estavam juntas com papeis usados para embrulhar peixes, em uma pescadaria. O texto original foi perdido após a guerra franco-prussiana, porém outras três cópias foram preservadas. Vários pesquisadores, ao longo da História, teriam atribuído ou especulado, quem teria sido de fato, o suposto autor anônimo, estando descrito, ou melhor, sendo cogitado, entre os candidatos mencionados, os principais padres apostólicos do final da primeira fase da patrística, e os primeiros padres apologistas do início da segunda fase, ou seja, os que teriam florescido, mais ou menos, na mesma época, que a obra foi escrita. O autor se mostrou, em sua obra, um profundo conhecedor das culturas: judaica, grega, helênica, paganismo e cristã.

Diogneto, a quem a carta foi destinada, teria sido um provável pagão culto que desejava conhecer melhor a doutrina cristã. Era visto como um homem erudito que possuía grande poder e admirável eloquência. A maioria dos historiadores consentem com a teoria de que o Diogneto, ao qual a carta foi dirigida, seria o mesmo Diogneto que era tutor do imperador romano Marco Aurélio. Diogneto ficou admirado com a maneira como os cristãos desprezavam os deuses pagãos e testemunhavam o Amor que tinham uns para com os outros. Desse modo, ele teria indagado: “Que Deus era aquele em que confiavam e que gênero de culto lhe prestavam; de onde vinha aquela raça nova e por que razões apareceram na história tão tarde”.

Filosofia Sapiencial

+ “Não há vida sem conhecimento”

+ “Os cristãos são a alma do mundo”

+ “Viver no mundo sem pertencer a ele”

+ “Construindo o mundo, sem ser do mundo”.

+ “Amam a todos e por todos são perseguidos”.

+ “Os Cristãos, também amam aqueles que os odeiam”.

+ “Os cristãos vivem no mundo, mas não são do mundo”.

+ “A alma invisível está encerrada na prisão do corpo visível”

+ “Provada pela fome e pela sede, a alma vai-se melhorando”

+ “Não é a árvore da ciência que mata, mas a desobediência”.

+ “Os itens de Deus são tão elevados que não podem ser abandonados”.

+ “O que é a alma para o corpo, assim são os cristãos no meio do mundo”

+ “Por amor às coisas que nos são reveladas, deixamos você participar de tudo”.

+ “Deixe a ciência ser o seu coração e a vida a verdadeira palavra compreendida”.

+ “A posição que Deus nos atribui é tão importante que não nos é lícito desertar.”

+ “Embora não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os odeia, porque estes se opõem aos prazeres”.

+ “A alma ama o corpo e seus membros, mas o corpo odeia a alma; assim também os cristãos amam os que os odeiam”.

+ “E, como já disse, isso não é uma mera invenção terrena que foi entregue a eles, os cristãos, nem um sistema humano de opinião, que eles julgaram ser correto e o preservaram cuidadosamente, nem a dispensação de um mero mistério humano que foi confiado a eles, mas o Próprio Deus, o Todo-Poderoso o invisível Criador de Todas as Coisas, foi verdadeiramente enviado dos céus e colocado entre os homens, Aquele que é a verdade, santa e incompreensível Verbo, que foi firmemente estabelecido no coração deles”.

Fontes:

AL TRUESDALE. Heróis da Igreja: Uma Era Primitiva. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2021.

BABTISTA, João. Curso de Patrologia: História da Literatura antiga da Igreja. Braga: Escola tipográfica das oficinas de São José, 1943.

BERKHOF, Louis. A História das Doutrinas Cristãs. São Paulo: PES, 1992.

BLÁZQUEZ, José Maria. O Nascimento do Cristianismo. Madri: Sínteses, 1990.

CARTA A DIOGNETO. Padres Apologistas. Col. Patrística. São Paulo: Editora Paulus, 1995.

FIGUEIREDO, Jackson. A Ordem. Revista Cultural. Rio de Janeiro, O.C.D.V, 1941.

FRANGIOTTI, Roque. Padres apologistas. São Paulo: Editora Paulus, 1995.

HAMMAN. Adalbert-Gautier. Os Padres da Igreja. São Paulo: Editora Paulinas, 1985.

JUSTINO Mártir. Diálogo com Trifão. Col. Pais da Igreja. Brasília: Repositório Cristão, 2022.

LIGHTFOOT, Joseph Barber. Os Pais Apostólicos. São Paulo. Editora Principis, 2020.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. São Paulo: Paulus, 1993.

TERTULIANO. Apologéticos e o Pálio. Col. Patrística. São Paulo: Paulus, 1995.