Mathetes Anônimos - (120 a 200) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo teológico que teria escrito uma obra intitulada de
“Epistola a Diogneto”. O texto foi considerado uma "joia rara da
literatura cristã primitiva”. Floresceu no período de transição compreendido
entre a filosofia antiga e a medieval, assim dizendo, no final da primeira fase
da patrística. O denominado filósofo incógnito também teria ficado conhecido,
juntamente com sua obra, pelo cognome de “Mathetes a Diogneto”. O próprio autor
se autodescreve como sendo um discípulo dos Apóstolos. A palavra Mathetes
significa “um discípulo” e teria sido designada, por ele, para representar seu pseudônimo,
já o sobrenome Anônimos é muitas vezes referenciado, por pesquisadores, para especificar
seu anonimato, pois trata-se de um pensador desconhecido. Também se descreve
como alguém que mais tarde teria ascendido para a condição de mestre, passando
a ensinar a doutrina cristã. A obra figura em algumas listas, como sendo, um
dos últimos textos clássicos da filosofia apostólica. Porém enquadra-se
didaticamente na literatura apologética, devido a predileção que o texto
aponta.
Filosofia Teológica
Segundo os estudiosos, a epístola seria uma antiga exposição apologética que retratava a vida e os costumes dos primeiros cristãos. A carta foi considerada um texto que possuía uma retórica elegante, e que enaltecia os primeiros conceitos da doutrina da igreja católica, desse modo, era uma obra que se direcionava, em defesa dos cristãos, contra as falsas acusações dos pagãos. A obra iniciava com argumentos contrários a idolatria, advertindo aos cristãos sobre a insignificância que existiria, em adorar objetos materiais que eram construídos de madeira, metais e pedras. Também precavia, aos católicos, sobre a transitoriedade da vida na Terra, ponderando que a passagem nesse mundo seria temporária. O tema principal da obra ensinava sobre a importância de manter-se santificado, como símbolo de iluminação, representando a luz de Cristo no mundo. O autor buscou responder aos questionamentos utilizando conselhos e dando instruções sobre o que lhe era indagado. Dissertava sobre os fundamentos éticos da religião, o amor fraternal entre cristãos e a vinda de Cristo. Descrevendo a transformação moral que o Cristianismo realizava, pontuando à pureza dos novos costumes e à caridade destes primeiros membros cristãos. Resgatou o conceito de “logos” caracterizando-o com a concepção de verbo, pregando que a ideia de que fé e razão, seriam atributos de uma racionalidade divina.
Filosofia da História
A epístola teria sido escrita na cidade de Atenas, por volta do século
II d.C. Foi localizada acidentalmente, na cidade de Constantinopla, por volta
de 1436, juntamente com outros manuscritos, os quais teriam sido supostamente
encaminhados para um certo Diogneto. O original foi encontrado por um jovem
pesquisador da igreja católica conhecido pelo nome de Tommaso Arezzo. As obras
estavam juntas com papeis usados para embrulhar peixes, em uma pescadaria. O
texto original foi perdido após a guerra franco-prussiana, porém outras três
cópias foram preservadas. Vários pesquisadores, ao longo da História, teriam
atribuído ou especulado, quem teria sido de fato, o suposto autor anônimo,
estando descrito, ou melhor, sendo cogitado, entre os candidatos mencionados,
os principais padres apostólicos do final da primeira fase da patrística, e os
primeiros padres apologistas do início da segunda fase, ou seja, os que teriam
florescido, mais ou menos, na mesma época, que a obra foi escrita. O autor se
mostrou, em sua obra, um profundo conhecedor das culturas: judaica, grega,
helênica, paganismo e cristã.
Diogneto, a quem a carta foi destinada, teria sido um provável pagão culto que desejava conhecer melhor a doutrina cristã. Era visto como um homem erudito que possuía grande poder e admirável eloquência. A maioria dos historiadores consentem com a teoria de que o Diogneto, ao qual a carta foi dirigida, seria o mesmo Diogneto que era tutor do imperador romano Marco Aurélio. Diogneto ficou admirado com a maneira como os cristãos desprezavam os deuses pagãos e testemunhavam o Amor que tinham uns para com os outros. Desse modo, ele teria indagado: “Que Deus era aquele em que confiavam e que gênero de culto lhe prestavam; de onde vinha aquela raça nova e por que razões apareceram na história tão tarde”.
Filosofia Sapiencial
+ “Não há vida sem conhecimento”
+ “Os cristãos são a alma do mundo”
+ “Viver no mundo sem pertencer a ele”
+ “Construindo o mundo, sem ser do mundo”.
+ “Amam a todos e por todos são perseguidos”.
+ “Os Cristãos, também amam aqueles que os odeiam”.
+ “Os cristãos vivem no mundo, mas não são do
mundo”.
+ “A alma invisível está encerrada na prisão do corpo visível”
+ “Provada pela fome e pela sede, a alma
vai-se melhorando”
+ “Não é a árvore da ciência que mata, mas a desobediência”.
+ “Os itens de Deus são tão elevados que não podem ser abandonados”.
+ “O que é a alma para o corpo, assim são os cristãos no meio do mundo”
+ “Por amor às coisas que nos são reveladas, deixamos você participar de
tudo”.
+ “Deixe a ciência ser o seu coração e a vida a verdadeira palavra
compreendida”.
+ “A posição que Deus nos atribui é tão importante que não nos é lícito
desertar.”
+ “Embora não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os odeia,
porque estes se opõem aos prazeres”.
+ “A alma ama o corpo e seus membros, mas o corpo odeia a alma; assim
também os cristãos amam os que os odeiam”.
+ “E, como já disse, isso não é uma mera invenção terrena que foi entregue a eles, os cristãos, nem um sistema humano de opinião, que eles julgaram ser correto e o preservaram cuidadosamente, nem a dispensação de um mero mistério humano que foi confiado a eles, mas o Próprio Deus, o Todo-Poderoso o invisível Criador de Todas as Coisas, foi verdadeiramente enviado dos céus e colocado entre os homens, Aquele que é a verdade, santa e incompreensível Verbo, que foi firmemente estabelecido no coração deles”.
Fontes:
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Mundo Cristão, 2021.
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Igreja. Braga: Escola tipográfica das oficinas de São José, 1943.
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1992.
BLÁZQUEZ, José Maria. O Nascimento do Cristianismo. Madri: Sínteses,
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FIGUEIREDO, Jackson. A Ordem. Revista Cultural. Rio de Janeiro,
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FRANGIOTTI, Roque. Padres apologistas. São Paulo: Editora Paulus,
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HAMMAN. Adalbert-Gautier. Os Padres da Igreja. São Paulo: Editora
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JUSTINO Mártir. Diálogo com Trifão. Col. Pais da Igreja.
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LIGHTFOOT, Joseph Barber. Os Pais Apostólicos. São Paulo. Editora
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REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e
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TERTULIANO. Apologéticos e o Pálio. Col. Patrística.
São Paulo: Paulus, 1995.
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