sábado, 10 de maio de 2025

Franklyn Távora

Franklyn Távora – (1842 a 1888) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

João Franklin da Silveira Távora - Foi um filósofo cearense ligado as escolas de pensamento da “Literosofia”. Inclinou-se inicialmente pela linha do romantismo brasileiro, subintitulado como regionalismo-nacionalista, migrando posteriormente na direção do naturalismo-realista. Sofreu grande influência do positivismo de Haeckel. Atuou como escritor, político e magistrado, também exerceu a função de diretor-geral da Instrução Pública e curador-geral dos órfãos. Iniciou seus primeiros estudos na cidade de Fortaleza, depois mudou-se para o município de Goiana, onde terminou o curso de humanidades, logo em seguida, transmigrou para a cidade de Recife, local em que concluiu o curso de Direito.

Foi um dos fundadores da Associação dos Homens de Letras do Brasil. Participou como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. É patrono da cadeira número 14 da Academia Brasileira de Letras e Patrono da cadeira 16 da Academia Cearense de Letras. Pertenceu a outras agremiações literárias, filosóficas e filantrópicas. Era filho de Camilo Henrique da Silveira Távora e de Maria de Santana da Silveira. Nasceu em 13 de janeiro de 1842, em Baturité, no estado do Ceará. Faleceu em 18 de agosto de 1888, na cidade do Rio de Janeiro, vitimado por um aneurisma.  

Filosofia Literária

Utilizava-se de uma oratória eloquente para comunicar suas ideias, valendo-se dos pseudônimos de Semprônio e Farisvest, dialogando entre investigações históricas e reconstituições do passado. Na sua fase romântica, transmitiu uma aura sentimentalista, juntamente com uma idealização amorosa. Visto como um dos precursores do realismo brasileiro, nessa etapa, evidenciou as contradições sociais que permeavam o ambiente regional, retratando a influência que o meio exercia no comportamento humano e no destino dos indivíduos. Registrava um espaço rural que revelava as paisagens geográficas, expressando traços do nativismo basílico. Construiu uma visão que colocava o homem do campo como uma espécie de herói nacional. Seu regionalismo típico influenciou o surgimento do “romance de sertão”.

Sua obra ancorava-se na ideia de uma chamada “Literatura do Norte”, trabalhando, em seus textos, elementos relacionados aos costumes regionais do povo norte-nordestino, enaltecendo a cultura local e valorizando personagens tipicamente nacionais. Defendia a tese de que a literatura brasileira estava dividida em literatura do norte e do sul. Nesse sentido, sua literatura nortista visava engradecer a cultura dessa região, que era muitas vezes ignorada, mostrando uma cultura brasileira mais autêntica e original, que se diferenciava da literatura sulista, que estaria, na sua visão, eivada de vícios e estrangeirismos. Desse modo, combatia o chamado “provincianismo”, destacando o sertanismo, como elemento de valorização e idealização do sertanejo. Transmitiu através da literatura, elementos importantes da história e da cultura, pretendendo com isso, explicar em partes, o contexto nacional pelo viés regional.

Filosofia Juspolítica

A obra de Franklyn tratou de importantes questões ligadas ao Direito, servindo como fontes documentais históricas, bem como também, manifestando contradições sociais que conflitavam com a esfera jurídica. Trabalhou temas criminológicos, em sua obra, como a questão da pena de morte e o banditismo social. A questão da violência era retratada de forma crua, denunciando a corrupção moral e como o preconceito motivava os crimes cruéis. Comunicava uma visão sociológica do fenômeno delitivo que se transfigurava no caráter transgressor e no comportamento desviante, ambos resultados, de disputas pela sobrevivência e pelo poder. Alguns personagens eram retratados como pessoas excluídas da sociedade, que transitavam na fronteira entre o humano e o selvagem.     

No campo político, era visto como um progressista simpático as causas liberais, tendo desempenhado as funções de Deputado Provincial e funcionário da Secretaria do Império. Lutou em prol de mais liberdade religiosa, pontuando importantes dilemas do Direito constitucional e eclesiástico. Envolveu-se na chamada questão religiosa. Advogou em defesa do ensino livre, debatendo publicamente, a favor de mais autonomia e liberdade, para a educação. Combateu a escravidão defendendo a soltura dos cativos e atacando as injustiças contra os menos favorecidos. Escreveu para importantes periódicos de cunho sociopolítico, tendo inclusive dirigido, por um tempo, a Revista Brasileira.

Filosofia Sapiencial

+ “O fundo subsiste sempre”.

+ “O Engenho é o solar do Norte”

+ “A vida não passa de uma quimera”

+ “A honestidade deve ser a base do caráter da mulher”

+ “Lá se foi o tempo em que eu podia castigar tão grandes ousadias”

+ “Um indivíduo propenso ao crime, pode ser salvo pelo amor, pela educação e pelo trabalho”.

+ “Que vida temos nós, que felicidade!...Ornada dos festões da poesia; isenta da moral...a hipocrisia livre como no mar a tempestade!”

+ “O meu fim único é dar ideia dos costumes e paixões dominantes daquele tempo; é autorizar a narrativa com a tradição, junto da História”.

+ “A história de Pernambuco nos oferece exemplos de heroísmo e grandeza moral que podem figurar nos fastos dos maiores povos da antiguidade sem desdourá-los.”

+ “A filosofia da vida, dava pela primeira vez a ler ao bisonho almocreve uma das páginas tristes, que o homem versado em letras encontra aos milhares no imenso livro da história.”

+ “Proclamo uma verdade irrecusável. Norte e Sul são irmãos, mas são dois. Cada um há de ter uma literatura sua, porque o gênio de um não se confunde com o do outro. Cada um tem suas aspirações, seus interesses, e há de ter, se já não tem, sua política”.  

+ "Ah! meu amigo, a pena de morte; que as idades e as luzes têm demonstrado não ser mais que um crime jurídico, de feito não corrige nem moraliza. O que ela faz [...] é abater o poder que a aplica; é escandalizar, consternar e envilecer as populações em cujo seio se efetua. A justiça executou o Cabeleira por crimes que tiveram sua principal origem na ignorância e na pobreza."

Fatos e Curiosidades

Relata-se, segundo alguns biógrafos, que antes de falecer, Távora teria ficado desesperançado com algumas questões pessoais, tendo destruído vários manuscritos e crônicas. Entre as obras perdidas, estariam dois manuscritos inéditos que tratavam sobre a revolução pernambucana. Ainda assim, outras obras originais e dispersas, foram atribuídas a sua autoria, após sua morte.

Conta-se que Franklyn chegou a defender a ideia de que alguns escritores cearenses e brasileiros, não deveriam construir uma literatura de gabinete, sem conhecimento da realidade social. Segundo ele, seria necessário que os escritores, para transmitir a cultura que era revelada nas obras, caíssem em campo, para conhecer, verdadeiramente, as tradições populares e regionais.

Obras:

Trindade Maldita; Os Índios do Jaguaribe; Um mistério de família; A Casa de Palha; Um Casamento no Arrabalde; Três Lágrimas;       O Cabeleira; O Matuto; Lendas e Tradições do Norte; Lourenço; Sacrifício; Cartas a Cincinato; A Verdade; A Consciência Livre.

Fontes:

ABRÃO, Bernadette Siqueira. História da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2004.

AGUIAR, Cláudio. Franklin Távora e o seu tempo. Rio de Janeiro: ABL, 2005.

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Cultrix, 1970.

CÂNDIDO, Antônio. A Nova Narrativa. São Paulo: Editora Ática, 2003.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

LEAL, Vinícios Barros. Franklyn Távora: A Dimensão Nacional de um Regionalista. Fortaleza: Revista Instituto do Ceará, 2003.

PIMENTEL, Samarkandra Pereira dos Santos. Literatura, História e Sociedade Em Estilo de Casa: Um Casamento do Arrabalde de Franklyn Távora. Revista Fênix de História e Estudos Culturais. Fortaleza: UFC, 2009.

ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1953.

SACRAMENTO, Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

TÁVORA, Franklyn. O Cabeleira. São Paulo: Editora Martins Claret, 2014.