Hipaso de
Metaponto – (510 a 460) a.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi um filósofo
pré-socrático pertencente à escola pitagórica da Grécia antiga. Estudou as
áreas da Filosofia, Música e Matemática, tendo se destacado na descoberta dos
números irracionais. Evidenciou a estruturação do dodecaedro (poliedro que
contém doze faces). Assim como outros pitagóricos, ele também estudou a relação
da matemática com a música. Existem relatos que afirmam que ele foi expulso da
escola de Pitágoras por ter revelado o segredo da descoberta dos números
irracionais. Ele sentia grande estima e admiração por Pitágoras e o chamava de “O
grande homem”. Hipaso também realizou alguns experimentos com discos
de bronze e acredita-se que pode ter ensinado filosofia ao filósofo Heráclito
de Éfeso. Nasceu aproximadamente no ano 510 a.C, não se sabe muito sobre o seu nascimento, porém, em relação a sua morte, existem várias especulações a
respeito. A data da sua morte ainda é um mistério e estima-se que tenha sido
por volta da metade do século V a.C, em meados do ano 460 a.C, provavelmente em
um misterioso naufrágio no mar mediterrâneo.
Filosofia
Pitagórica
Hipaso era
responsável na escola pitagórica pelo grupo de iniciados chamados de acusmáticos,
eles eram os alunos que ainda não possuíam conhecimentos suficientes para
participarem de alguns estudos da escola, daí, eles ficavam atrás de uma
cortina branca apenas ouvindo o outro grupo chamado de matemáticos, que eram os
principais alunos já iniciados, e estes faziam um pacto de silêncio para não
revelarem certos segredos. Muitos conhecimentos que eram repassados tinham
características simbólicas e metafóricas, por isso, os aforismas carregavam
mensagens subliminares que apenas os já iniciados conseguiam assimilar. Os
conhecimentos morais da filosofia pitagórica mantinham forte relação com os
saberes matemáticos, nesse sentido, era necessário adquirir as bases de
compreensão para avançar em novos conhecimentos.
Na sua possível
descoberta a respeito dos números irracionais, ele teria demostrado que o
número raiz quadrada de dois não poderia ser escrito na forma de quociente de
dois números naturais. A descrita descoberta em questão sobre os números
irracionais abrangeria uma forte relação com o teorema de Pitágoras, pois a
teoria de Hipaso teria se iniciado ao se perceber que na aplicação do “teorema
de Pitágoras” em um quadrado de lado um, tendo como objetivo encontrar a medida
de uma diagonal (hipotenusa), esta não poderia ser expressa pela razão de
números inteiros, assim, então, iniciava-se uma série de estudos e descobertas
matemáticas sobre a representação desses problemas, e consequentemente, a
descoberta dos números irracionais. A filosofia dos pitagóricos era toda
baseada na matemática, por isso, eles firmavam sua doutrina na ideia de
que: “todas as coisas são números”.
Filosofia da
Natureza
Aristóteles em sua
obra metafísica explicou um pouco sobre a visão de Hipaso a respeito da “arché”
do universo. Ele descreveu os conceitos de “alma-fogo” e “alma-número”,
teorizando que esses conceitos faziam referência à ideia de que a “alma-fogo” seria
um “elemento-luz” oposto às trevas e que ele se originaria de algo
indeterminado dando surgimento a uma figura determinada chamada de
“alma-número”. Acreditava que o fogo seria uma entidade principiológica do
universo, dessa maneira, ele seria o construto das formas geométricas. Desse
modo, Hipaso observava o fogo como sendo uma singularidade originária do cosmos
e percebia o número apenas como um paradigma derivado dessa ideia de “uno”. Ele
descrevia que o “fogo” estaria sempre em movimento, por isso, o “universo”
estaria também em um contínuo movimento, mas ele seria limitado, pois seria
apenas um, e ao ser uno, ele se mostraria limitado, logo, o cosmos seria: uno,
móvel e limitado. Representado por uma unidade da eternidade do universo.
Defendia a ideia de que a Terra teria um formato esférico, e que os planetas se
moviam ao redor da Terra em várias órbitas distintas, com velocidades diferentes.
Filosofia
Ocultista
Existem vários
relatos a respeito da morte de Hipaso e entre os tantos fatos narrados,
conta-se que no momento da descoberta das razões incomensuráveis Hipaso estaria
navegando em alto mar juntamente com outros pitagóricos, daí os pitagóricos
decidiram lançá-lo ao mar com o objetivo de silenciá-lo, pois ele poderia
colocar a doutrina dos pitagóricos em xeque, visto que essa descoberta produzia
um elemento novo no universo matemático ao afirmar a existência dos números
irracionais. Para os pitagóricos, todos os fenômenos do universo poderiam ser
traduzidos em números racionais, desse modo, até aquele momento, eles
acreditavam que os números racionais traduziam a perfeição e a harmonia do
cosmos, por isso temiam que a descoberta de Hispaso sobre os números irracionais
pudesse levá-los ao descrédito na sociedade. Especula-se que após essa
descoberta alguns pitagóricos ficaram desvairados e isso proporcionou que
grupos políticos rivais perseguissem os pitagóricos. A filosofia pitagórica se
assemelhava a uma religião e exercia grande influência política, nesse sentido,
acredita-se que essa descoberta abalou as bases de fundamentação da irmandade
exercida pelos membros, gerando com isso, uma crise e muita desunião, tudo isso
teria se agravado por conta do vazamento do segredo de Hipaso para pessoas de
fora da escola.
Outra versão
relata que Hipaso teria quebrado a regra do silêncio imposta por Pitágoras e
revelado a existência dos novos números, então os pitagóricos o expulsaram da
escola e logo fizeram um túmulo simbólico com o seu nome, e nele escreveram um
epitáfio ao qual dizia que Hipaso estava morto. Essa representação da morte
realizada pelos pitagóricos significava o esquecimento vergonhoso pelo ato
desonroso praticado por algum membro traidor. Fala-se que Pitágoras teria
realizado pessoalmente essa condenação da morte simbólica e conduzido o
cerimonial emblemático. Narra-se também a hipótese de que Hipaso teria se
matado como forma de autocastigo, pois ele acreditava que poderia ter a
oportunidade de se purificar do seu erro em outro corpo e recomeçar novamente
em outra vida. Os pitagóricos também costumavam punir os membros com o silêncio
como forma de censurar certos deslizes e isso pode ter levado Hipaso a cometer
o suicídio.
Anedota:
Conta-se que em
uma assembleia popular alguns oradores teriam perguntado para Hipaso o que ele
teria feito de errado para receber o desprezo dos pitagóricos, e ele teria
respondido: “Ainda nada, ainda ninguém me inveja”.
Filosofia
Sapiencial
- “O tempo da
transmutação do mundo é determinado”.
- “O universo é
infinito e está em movimento perpétuo”.
- "Um número,
raiz quadrada de dois ou de cinco - não há certeza - não podia ser expresso
como um número racional”.
Fontes:
ARISTÓTELES. Metafísica.
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