segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Clístenes de Atenas

Clístenes de Atenas – (565 a 492) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo político que viveu na Grécia antiga. Desempenhou funções como estadista, legislador e reformador social. Relata-se que ele teria conseguido realizar uma reforma política e social em Atenas juntamente com outros legisladores. É considerado por muitos como sendo um dos pais da democracia grega. As reformas criadas por Clístenes teriam servido de base para a consolidação da democracia na Grécia. O vocábulo “democracia” vem do termo “demo”, isto é, povo e do radical “kratia”, ou seja, poder, dessa forma, significaria “poder do povo”. Ele desenvolveu técnicas de sistematização da cidadania. Historiadores apontam que ele liderou uma revolta popular em Atenas por volta do ano 510 a.C. Era filho de um arconte conhecido por Mégacles. Pertencia a uma família de influentes nobres chamados de “Os Alcmeônidas”. Essa família era conhecida por sua forte oposição e luta contra o sistema de tirania. Teria sido o introdutor do calendário pritaniano na Grécia antiga. Nasceu em 565 a.C. na cidade de Atenas e faleceu aproximadamente em 492 a.C.

Filosofia Política

A democracia grega dessa época era consolidada por uma elite aristocrática conhecida como “os eupátridas”, isto é, “os bem-nascidos”. Essa elite detinha o poder de grande parte das terras que eram consideras férteis. Nesse período, uma nova classe de pequenos comerciantes conhecidos como “demiurgos” e outra classe formada de escravos por dívidas começaram a reivindicar direitos. Após uma série de medidas criadas pelo legislador Drácon para promover mudanças e posteriormente pelo Sólon, houve então, uma boa oportunidade para que Clístenes pudesse implementar suas ideias reformistas. Ele passou a abolir a divisão de classes sociais por critério de sangue, e acabou por criar uma divisão de classe definida por critério de território. Nesse contexto, teria finalmente terminado o poder aristocrático baseado no sangue e nas posses para dar-se início a uma democracia fundamentada em tribos e conselhos formados por cidadãos que iriam participar das decisões políticas. As suas reformas modificaram algumas configurações sociais da época, alterando o sistema de tribos familiares para territoriais, e assim então, teria se dado a origem das "pólis", ou seja, as chamadas Cidades-Estados. 

Suas reformas fizeram com que a aristocracia perdesse poder, pois nessa época apenas uma parte pequena da população participava ativamente da vida política. A “pólis” ficou dividida em três partes: cidade, litoral e interior. Então com o desenvolvimento dessas tribos, o sentimento de família foi gradativamente sendo substituído por um sentimento social e de coletividade. Tudo isso foi aos poucos misturando as camadas sociais, surgiu enfim, uma nova classe social chamada de “demos”, essa classe que era desfavorecida foi paulatinamente consolidando a democracia. Essa divisão em “demos” urbanos seria uma forma diferente da tribal que era adotada em Atenas. Seu objetivo era criar um Estado baseado na igualdade política e na participação de todos os cidadãos da época, pois isso traria mais equilíbrio ao sistema político. Ele modificou a divisão por gene, que era à base da aristocracia local, e assim dividiu os cidadãos em tribos. As tribos passaram a ser formadas por cidadãos de várias regiões e classes sociais distintas, desse modo, tornaram-se a base de toda a atividade política e militar. 

Filosofia Jurídica

Clístenes utilizou seus conhecimentos em legislação para introduzir suas reformas que tinham como princípio a igualdade entre todos os cidadãos. Nesse contexto, ele reformulou a constituição da antiga Atenas. Essa nova constituição elaborada por Clístenes, dava direito a todo e qualquer cidadão, independente da renda, de ocupar indistintos cargos públicos, e com isso, o estado oligárquico sofreu um duro golpe. Clístenes também criou o ostracismo que era uma forma de proteger a segurança do estado, nesse sentido, quem atentasse contra essa ordem ou contra a democracia, poderia ser exilado por um período de até dez anos.  Logo depois, houve certa estabilidade no regime democrático de Atenas, tudo isso, teria impedido o surgimento de novos tiranos em Atenas. Ele Estabeleceu a pena de morte por envenenamento através da ingestão de cicuta. As principais instituições em seu tempo eram sistematizadas pela "Bulé", que era o conselho onde se formavam as leis, e a “Eclésia”, que era a assembleia onde eram tomadas as decisões. Supõe-se entre pesquisadores que Clístenes, ao ajustar suas ideias, teria sofrido influência dos pensamentos pitagóricos, pois suas enumerações eram formuladas de maneira orquestrada, dando preferência para alguns números.

O objetivo de Clístenes era combater o sentido de estratificação da democracia Grega, suas reformas tiveram como meta lutar contra os conflitos sociais gerados pela opressão dos tiranos e das oligarquias da Grécia antiga. No projeto que ele elaborou, criou-se um comitê de quinhentos cidadãos conhecido como “conselho dos quinhentos”, que eram eleitos anualmente e passavam a realizar os debates e utilizar a palavra como instrumento de participação social. Dessa forma, eles tinham poder de votação e tomavam decisões. Esses quinhentos cidadãos eram divididos em dez tribos de cinquenta homens que promoviam um sentimento de igualdade e cidadania na democracia Grega. Seus feitos políticos e jurídicos proporcionaram a Atenas se transformar na maior potência econômica e cultural da época, influenciando a participação isonômica dos cidadãos na vida pública. 

Fontes:

ARENDT, Hannah. O que é política? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Edipro, 2009.

DAHL, Robert. Sobre a Democracia. Brasília: UnB, 2001.

FINLEY, Moses. Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1970.

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Rio de Janeiro: Editora Difel, 1980.

GODOY, Arnaldo. Direito Grego e Historiografia Jurídica. Curitiba: Juruá, 2003.

HERÓDOTO. Histórias. São Paulo: Edipro, 2020.

SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto, 2010

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro. PUC. 1965.


domingo, 12 de janeiro de 2020

Timeu de Lócrida

Timeu de Lócrida – (Séc V a.C)

Autor: Alysomax Soares 

Introdução

Foi um filósofo pitagórico da Grécia antiga que estudou as áreas da Filosofia, Matemática, Física, Música e Astronomia. Além do destaque na área científica, também atuou de maneira louvável na política. Pouco se sabe sobre este filósofo, alguns historiadores afirmam que ele era amigo de Platão, outros que seria apenas um personagem de suas obras. Ele é citado em algumas obras de Platão, como no diálogo de "Timeu" e em "Crítias". Foi também orador, escritor, advogado e político. Pesquisadores relatam que Timeu exerceu algumas influências no pensamento platônico, como exemplo, o próprio filósofo Platão ao apresentar sua teoria rudimentar sobre a química dos corpos orgânicos e inorgânicos acabou por descrever pela primeira vez o conceito de “elemento”, esse conceito foi desenvolvido em um dos diálogos com Timeu, sendo essas ideias consideradas pontos basilares sobre algumas teorias da química antiga. A misteriosa ilha de Atlântida é citada na obra platônica denominada “Timeu” como um local que de fato existiu, e não apenas como sendo um mito.  

Filosofia Cosmológica

Entre os principais conhecimentos de Timeu, Platão aponta para a erudição que ele tinha sobre a natureza do universo. Na obra de Platão, o personagem Timeu descreve sua visão cosmológica do universo e faz explicações sobre o espaço e sobre o tempo. Ele afirmava que o tempo seria uma característica do universo, e que o movimento dos astros era o que fazia o tempo surgir. Nesse sentido, ele apontava uma fundamentação das ações realizadas por uma deidade e suas possíveis relações entre o campo material e a natureza humana. Platão traçou nesse diálogo um paralelo entre a existência de duas possíveis almas em um mesmo corpo humano com a visão dual entre a natureza do cosmos e a natureza humana. Nesse contexto, a primeira alma seria eterna, divinal e similar ao espírito cósmico, isto é, a alma teria sido gerada por uma entidade superior que utilizava uma espécie de essência para fundir essa alma no espírito cósmico. Já a segunda alma seria mortal e teria sido criada por entidades inferiores que misturavam disfunções necessárias. Essas disfunções poderiam ser emoções e sentimentos ligados ao estado de necessidade do corpo como os prazeres, desejos, medos, dores, paixões, esperança e outros sentimentos. Segundo sua visão, o mundo teria surgido da fusão entre os elementos terra e fogo. A Terra e os outros astros possuíam alma, essa alma poderia ser compreendida entre algo que permanece no tempo e algo que seria eterno. Estaria entre o ser das coisas e o devir, isto é, entre aquilo que “sempre é” e aquilo que “vem a ser”.

Filosofia Pitagórica

Segundo Platão, sobre a influência medicinal dos saberes pitagóricos, Timeu descreveu suas observações referentes às funções fisiológicas e psíquicas do corpo humano. Timeu também discursou sobre a metempsicose que significaria o conceito de transmigração da alma para outros corpos ou até mesmo outros animais. Em um de seus ensinamentos falava que as almas que praticavam algum vício acabavam retornando, em algum corpo frágil ou animal, para pagarem certa pena ou penitência. Timeu de Lócrida declarou certa vez  que: "as penas da outra vida eram castigos infindos aplicados às sombras dos réprobos, e que a tradição lhes perpetuara a ideia a fim de purificar o espírito de vícios".

Filosofia Sapiencial

- “A música, harmonia e ritmo, foi dada ao homem inteligente pelas musas para harmonizar o hino da discórdia na revolução de suas almas”.

"As penas da outra vida são castigos infindos aplicados às sombras dos réprobos, e que a tradição lhes perpetuara a ideia a fim de purificar o espírito de vícios".

- “Elogio muito o poeta jônico Homero de ter tornado os homens religiosos pelas fábulas antigas e úteis; porque, do mesmo modo que curamos os corpos por remédios insalubres, se não cedem aos mais salutares, do mesmo modo reprimimos as almas pelos falsos discursos, se elas não se deixam seduzir pelos verdadeiros”.

Fontes:

ABBAGNANO, Nicolas. Dicionário de Filosofia. 5º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Vol. 2. São Paulo: Companhia das letras. 2010.

CÍCERO, Marco Túlio. Da República. São Paulo: Edipro, 2020.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo. Nova Cultura LTDA. 1996.

HAMLYN. David. Uma história da filosofia ocidental. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1990.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas. Dissertatio Filosofia. 2014.

JÂMBLICO. Suma Pitagórica. Milão: Bompiani, 2006.

JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2 ed. Brasília. UnB. 2008.

LUCENA, Maria Gorette Bezerra. A alma Mortal e suas afecções: Uma Leitura do Timeu de Platão. Tese de doutorado. João Pessoa: UFPB, 2014.

PLATÃO. Timeu e Crítias. Trad. Carlos A. Nunes. Belém: UFPA, 1986.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª.ed. Vol.1. São Paulo: Paulus,1990.

RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental. São PauloCompanhia editora nacional. 1957.

SILVA, Ana Cecília. Filosofia da Física o contexto filosófico do atomismo. Dissertação. Rio de Janeiro: UERJ, 2018.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª.ed. Porto Alegre. EDIPUCRS. 2003.