quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Arquelau de Atenas

Arquelau de Atenas – (480 a 410) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pluralista do período pré-socrático da Grécia antiga. Considerado um dos últimos filósofos da “phísis” que antecederam o período clássico. Visto como um dos primeiros proeminentes filósofos da cidade de Atenas, ele era discípulo de Anaxágoras e possivelmente foi um dos mestres de Sócrates. Sofreu grande influência dos pensadores da escola jônica, pois sua filosofia relacionou ideias do pensamento de Anaxímenes com teorias do seu mestre Anaxágoras. Escreveu uma obra intitulada de “Sobre a Natureza” que foram perdidas no tempo, contudo parte de seus conhecimentos foram extraídos a partir de ensinamentos de outros filósofos como Simplício, Diógenes de Laércio e Plutarco. Desenvolveu um conceito em que afirmava que a matéria poderia ser dividida até o infinito, esse pensamento influenciou os filósofos atomistas. Alguns historiadores divergem sobre o local exato de seu nascimento, estando divididos entre a cidade de Atenas e a cidade de Mileto. Nasceu por volta do início do século V a.C e faleceu provavelmente no final do mesmo século. As datas exatas de seu nascimento e morte ainda são fatos imprecisos para a História da Filosofia. Todavia, especula-se que seu florescimento tenha se dado entre os anos de (480 a 410) a.C.

Filosofia da Natureza

Compreendia que a mente criadora de tudo seria uma mente material. Atribuiu a “arché” do universo como sendo o “ar-infinito”, pois entendia que este seria o princípio de todas as coisas. Explicava que esse processo de formação das coisas se dava através do "devir" entre o calor e o frio, ou seja, o princípio do movimento era causado pela separação entre o quente e o frio. Nesse sentido, a oposição entre o quente e o frio teria originado um movimento causado pela vontade da mente-material, dando surgimento a um fenômeno chamado de inteligência-cósmica. Para ele, à formação dos elementos da natureza e dos seres vivos, derivavam desse tipo de movimento. Também esclarecia que o processo da fala do homem teria conexão com o processo de movimento do “ar” pelo corpo humano.

O filósofo Platão, em uma de suas obras, cita alguns dos conhecimentos de Arquelau a respeito da geração da vida e sobre como os primeiros animais se alimentavam. Arquelau ensinava que os animais e o homem nasceram primeiro de uma substância parecida com uma névoa que se originava de um processo físico entre a terra e a água. Acreditava que os animais e os homens teriam vindo da parte mais baixa da Terra, onde o quente e o frio estavam misturados, extraíram inicialmente o seu sustento do limo – espécie de lodo - e viviam apenas por um curto período de tempo. Ele afirmava que a matéria primitiva seria o “ar” juntamente com o conceito da época de “infinito”, daí, devido a algum processo de rompimento, surgiram desse fenômeno, o frio e o calor, então, dessas substâncias, originaram-se os elementos “água” e “fogo”. Entre eles, a “água” seria uma substância passiva, enquanto que o “fogo” seria um princípio ativo. Argumentava que o calor se movimentava e que o frio permaneceria estático. A partir disso, teria surgido lama, e da lama surgiu a terra, e posteriormente da terra vieram os seres vivos, e desses seres surgiu o homem.

Filosofia Cosmológica

Sua teoria cosmogônica, estabelecia que através de uma névoa primordial, formada de “ar”, teria se dado o surgimento do “quente” e do “frio”, posteriormente, o quente e o frio teria dado origem ao “fogo” e a “água”. Em seguida, a “água” teria se condensado e produzido a “terra”, mas a “terra” estaria dependurada no “ar”, e ao mesmo tempo, esse “ar”, estaria circundado pelo “fogo” que orbitava ao seu redor. Nesse sentido, os astros teriam se formado a partir da queimação do “ar” pelo “fogo”. Segundo Arquelau, o “ar-infinito” sofreria um movimento contínuo entre os estados de condensação e rarefação. Desse modo, então, seria através de um processo de movimentação, chamados de rarefação e condensação da matéria, que o “ar-infinito” teria formado a Terra e também tudo que existe no universo. Em outras palavras, a substância cunhada de “ar-infinito” era o primeiro princípio, condensado e rarefeito.

Explicava que o universo era infinito e o que o formato dos mares estaria relacionado com a maneira da água se infiltrar pela terra. Para Arquelau, a Terra seria plana e o Sol era a maior de todas as estrelas. Acreditava que a superfície da Terra era pressionada para o centro dela, pois explicava que se a Terra fosse somente plana, o Sol iria nascer e se pôr em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele pensava que a Terra era imóvel e que ela não seria uma parte considerável da dimensão do universo.

Filosofia Moral

Negava a diferença essencial entre o bem e o mal, debatendo a respeito das leis, da justiça e sobre o belo. O referido filósofo embasou seus estudos, relacionando o campo da moral com a filosofia da natureza. Dizia que a lei não era natural ao homem, mas sim relacionada ao costume, por isso a moral, isto é, o certo e errado, seria desenvolvida de acordo com a vida em sociedade. Nesse ponto, Arquelau teria elaborado as bases para a criação da ética e da moral. Afirmava que a moral era criada não pela natureza, mas sim pelos costumes. Ao criar leis e viver em sociedade, o homem passaria a estabelecer o que é certo e o que é errado, ou ainda, melhor dizendo, o que seria justo ou injusto. Explicava que os animais possuíam uma inteligência inata, mas que alguns, com um tempo, utilizavam a mente de forma mais lenta, enquanto outros de maneira mais rápida, ou seja, todos os seres tinham mente, mas o homem com o passar do tempo, separou-se dos outros animais, adquirindo inteligência.

Filosofia Pluralista

O alicerce dessa escola estava apoiado na tese de que não havia um princípio único que explicasse todo o universo. Defendiam a ideia de que o universo foi originado pela composição de diversos princípios. Nesse sentido, eles combinavam vários elementos ou varias teorias de outras escolas de pensamento, afirmando ser a pluralidade, a causadora da origem das coisas no cosmos. Desse modo, eles apresentavam teorias embasadas em várias substâncias originais. Os principais filósofos pluralistas foram: Anaxágoras, Empédocles, Arquelau de Atenas e Diógenes de Apolônia. Alguns pensadores também incluem os filósofos atomistas como sendo pertencentes à escola pluralista. Os pensamentos desses filósofos possuem algumas semelhanças, pois eles desenvolveram e integraram as ideias de outras escolas filosóficas.

Filosofia Sapiencial

- “O sol é o maior dos astros e todo o universo é infinito”.

- “Nada é propriamente justo ou injusto, exceto pelo efeito do costume”.

- “O justo e o injusto, existem apenas por convenção e não por natureza”. 

- "Por isso cada corpo emprega uma mente, às vezes rapidamente, outras lentamente”. 

 - “O espírito - a inteligência - é inata a todos os animais, inclusive ao homem, mas alguns fazem uso dele mais rápido do que os outros”.

Fontes:

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