sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Antônio Vieira

Antônio Vieira - (1608 a 1697) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Padre Antônio Vieira foi um filósofo teologista luso-brasileiro do período colonial que pertenceu à ordem religiosa da companhia de Jesus. Realizou um trabalho missionário no Brasil e ficou conhecido pelos índios como o “Paiaçu” (Grande pai). Escreveu diversas obras em formato de sermões, cartas, textos proféticos, textos políticos, textos poéticos e teatro. Suas obras possuem destaque no estudo da arte barroca. Iniciou seus estudos no Brasil no colégio dos jesuítas de Salvador, na área de humanidades. Destacou-se nas artes, escrita e oratória. Lutou a favor dos povos indígenas do Brasil e também a favor dos judeus perseguidos em Portugal. Era contra a escravidão dos índios, pois defendia que a colonização portuguesa teria como missão a catequização dos índios para a fé católica. Mudou-se para o Brasil, em 1614 com apenas seis anos de idade, quando jovem chegou a trabalhar inicialmente como escrivão e posteriormente como professor. Estudou ás áreas de Filosofia, Teologia, Línguas, Dialética e Retórica. Foi considerado pelo poeta Fernando Pessoa como sendo o imperador da língua portuguesa no Brasil. O rei de Portugal Dom João IV se referia a sua admiração pelo padre com a expressão: “lábia de vieira”, esta afeição o levou a ser nomeado pelo rei para o cargo de “Pregador Régio” e também “Visitador-Geral”. Nasceu na cidade de Lisboa, em Portugal, no ano de 1608 e faleceu na Bahia, em 1697 com 89 anos.

Filosofia Política

Seguiu carreira diplomática em Portugal e posteriormente regressou ao Brasil para realizar missões em defesa dos índios. Exerceu papel importante como um hábil articulador político entre a metrópole e a colônia. Utilizou de maneira política a arte barroca como instrumento de catequização dos índios e como meio de influência religiosa entre: os negros, portugueses, judeus e demais atores sociais desse período. Nesse ínterim, passou a ser mal compreendido por determinados grupos. No Brasil também chegou a ser perseguido por senhores que eram proprietários dos engenhos e por donos de escravos que não aceitavam sua luta contra a escravidão, dessa feita, foi expulso do Maranhão, devido suas duras críticas ao sistema. Em Portugal, combateu o autoritarismo da inquisição, por isso chegou a ser preso por um curto período, mas obteve o perdão e foi anistiado.

Seus textos trabalhavam reflexões sociais e políticas que convidavam os atores sociais a participarem de debates políticos sobre os temas. Utilizava o argumento de que o pregador deveria usar o sermão não apenas para pregar aos ouvidos dos interlocutores, mas também deveriam pregar aos olhos deles, essa ideia tinha como objetivo procurar em “si mesmo” o exemplo que pudesse servir de referencial na vida dos ouvintes, isto é, um exemplo moral, material e espiritual. Tinha como inspiração para lutar contra a escravidão, um prógono missionário que ele adimirava, o conhecido padre Manuel de Nóbrega. Chegou a dissertar contra a invasão holandesa em Pernambuco e a favor da independência de Portugal em relação à Espanha. Sua veia patriota foi reconhecida pelos monarcas portugueses que lhe retribuíram com cargos de interventor e intermediador político.

Filosofia Literária

Foi definido por historiadores como sendo um “criticista colonial”, pois teria escrito aproximadamente 200 (duzentos) sermões contendo fortes críticas contra as desigualdades sociais e as injustiças de seu tempo. Esses textos eram escritos em prosa abrangendo um sentido moral e religioso. Sua obra é considerada de grande dicção, pois diligenciava no sentido de construir textos ricos tanto em vocabulário, como também em uma linguagem ornada. Além da influência barroca em sua obra, também comportou prestígios de elementos camonianos na sua compilação. Utilizava-se de várias figuras de linguagem que enriqueciam sua escrita como a antítese, a metáfora, o silogismo e a perífrase.

Misturava elementos complexos e simples que enalteciam sua argumentação de maneira lógica. Seu objetivo final era repassar a sua mensagem de maneira clara, mas sempre mantendo o equilíbrio entre a linguagem aprimorada e a compreensível. A estrutura dos sermões era dividida em três partes: exórdio, argumento e peroração, isto é, introdução, desenvolvimento e conclusão. Foi adepto de uma forma de escrever chamada de conceptismo em que o jogo de ideias era pontuado primeiramente fazendo referências a uma coisa, mas ao final do raciocínio dizia outra, com uma fundamentação bastante assertiva, isso consentia em responder antecipadamente as possíveis problematizações ou dúvidas dos leitores e críticos. Sua oratória se produzia de maneira imanente entre a retórica, a política e a teologia.

Filosofia teológica

Atuou como representante dos Jesuítas no Brasil exercendo o cargo de sacerdote. Após seu noviciado ele teria feito votos de obediência, pobreza e castidade. Praticou o ofício de missionário católico chegando a defender em seus sermões a implantação do império de Cristo na Terra, e que também ficou conhecido como o “quinto império no mundo”. Defendia a idealização do catolicismo universal, pois acreditava que um dia no futuro iria surgir uma nova religião que unificaria todas as religiões, povos e culturas. De acordo com ele, existiria um propósito divino para que Portugal seguisse por uma rota de paz com outros povos por um longo período de tempo até a chegada do “armagedon”. Segundo seu entendimento, a ideia de “nova terra” descrita nos textos sagrados estava relacionada com a descoberta das novas regiões da época chamada de “Novo Mundo”, desse modo, a expansão marítima seria um cumprimento das profecias. Combateu a ideologia protestante com a finalidade de transformar Portugal no império da fé. 

 Filosofia Sapiencial

+ "Instruir é construir"

+ “Os olhos são as frestas do coração.”

+ “Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência.”

+ “A maior gula da natureza racional é o desejo de saber.”

+ “Nenhum homem é tão sábio que não esteja sujeito ao erro”.

+ “A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.”

+ “Todas as guerras deste mundo se fazem para conseguir a paz”

+ “A mais doce de todas as companheiras da alma é a esperança”.

+ “Quem vê o corpo, vê um animal; quem vê a alma, vê ao homem”

+  “Quem não lê, não quer saber; quem não quer saber, quer errar.”

+ “Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem.”

+ "O ódio e o Amor são os dois mais poderosos afetos da vontade humana."

+ “Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba”

+ “No juízo dos males sempre conjeturou melhor quem presumiu os maiores.”

+ “De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo”.

+ “Para falar ao vento, bastam palavras; para falar no coração, são necessárias obras”.

+ “Há pessoas semelhantes à vela que se consomem para alumiar o caminho alheio”.

+ “A razão por que não achamos o descanso é porque procuramos onde ele não está”.

+ “O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.”

 + “Que coisa é a conversão de uma alma senão entrar um homem dentro em si, e ver-se a si mesmo?”.

+ “O melhor retrato de cada um é aquilo que se escreve. O corpo retrata-se com o pincel, a alma, com a pena”.

+ “Humildade essencialmente é o conhecimento da própria dependência, da própria imperfeição e da própria miséria”.

+ “Toda a desunião quanto há no mundo, e muito mais nas Cortes, ou nasce do vício vil da ambição, ou do vício vil da inveja, ou do Vício vil da vingança”.

+ “Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos”.

+ “Não basta que as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os ditos que alegamos se chamam autoridade, por que o autor é o que lhe dá o crédito e lhe concilia o respeito”.

+ “No juízo de Deus basta ser bom no último instante da vida para ser eternamente bom: No juízo dos homens basta ser mau em qualquer tempo da vida para ser eternamente mau. Se fostes bom, e sois mau, julgam-vos mal pelo que sois; se fostes mau, e sois bom, julgam-vos mau pelo que fostes; e se sois e fostes sempre bom, julgam-vos mal pelo que podeis vir a ser”.

+ “O pó que foi nosso princípio, esse mesmo e não outro é o nosso fim, e porque caminhamos circularmente deste pó para este pó, quanto mais parece que nos apartamos dele, tanto mais nos chegamos para ele: o passo que nos aparta, esse mesmo nos chega; o dia que faz a vida, esse mesmo a desfaz; e como esta roda que anda e desanda juntamente, sempre nos vai moendo, sempre somos pó”.

Curiosidades

Conforme o próprio Vieira relatou, seu ótimo desempenho nos estudos teria acontecido após uma espécie de “estalo” cerebral em que de forma inesperada tudo passou a ficar mais compreensível, ele definia isso como um fenômeno de iluminação ao qual teria lhe proporcionado assimilar melhor os conhecimentos. Esse fato milagroso passou a ser conhecido em casos análogos como o “estalo de vieira”.

Obras:

- Sermões (200 aprox.)

- Cartas (700 aprox.)

- Profecias (História do Futuro, Esperanças de Portugal e Chave dos Profetas).

Fontes:

AZEVEDO, Lúcio de. História de António Vieira. Lisboa: Livraria Clássica, 1931.

BARROS, Maria Betânia Arantes. Relato e realidade nas cartas brasileiras do Padre Antônio Vieira: uma visão cognitivista e cultural. Dissertação de Mestrado. Araraquara: UNESP, 2013.

BOSI, Alfredo. A História Concisa da Literatura brasileira. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 1976.

BULCÃO, Clóvis. Padre Antônio Vieira: um esboço biográfico. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.

CARLÔTO, Adelena Leitão Silva. Uma pesquisa bibliográfica sobre figuras de linguagem no Sermão da Sexagésima, do padre Antônio Vieira. Revista Educação Pública. Vol.20, n; 36. Rio De Janeiro: Capes, 2020.

FERNANDES, Márcio Luiz. O Padre Antônio Vieira e o método da pregação. Revista Pistis Prax. vol. 2, n. 1. Curitiba: Creative Commons, 2010.

JÚNIOR, Valdemar Valente. Padre Antônio Vieira: O político e o Profeta entre a Cruz e a Espada. Revista É – Scrita. vol.11. Nilópolis: UNIABEU, 2020.

PAIVA, José Pedro. Padre Antônio Vieira. bibliografia, Lisboa: Biblioteca Nacional,  1999.

SANTOS, Estela Pereira. Padre Antônio Vieira. Site: Todo Estudo. Maringá: Leia mulheres, 2021.

SARAIVA, António José. O discurso engenhoso: estudos sobre Vieira e outros autores barrocos. São Paulo: Perspectiva, 1980.

VIEIRA, Padre Antônio. Sermões. Org. Homero Vizeu Araújo. Porto Alegre: L&PM, 2012.


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