Antônio Vieira -
(1608 a 1697) d.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Padre Antônio
Vieira foi um filósofo teologista luso-brasileiro do
período colonial que pertenceu à ordem religiosa da companhia de Jesus.
Realizou um trabalho missionário no Brasil e ficou conhecido pelos índios como
o “Paiaçu” (Grande pai). Escreveu diversas obras em formato de
sermões, cartas, textos proféticos, textos políticos, textos poéticos e teatro.
Suas obras possuem destaque no estudo da arte barroca. Iniciou seus estudos no
Brasil no colégio dos jesuítas de Salvador, na área de humanidades. Destacou-se
nas artes, escrita e oratória. Lutou a favor dos povos indígenas do Brasil e
também a favor dos judeus perseguidos em Portugal. Era contra a escravidão dos
índios, pois defendia que a colonização portuguesa teria como missão a
catequização dos índios para a fé católica. Mudou-se para o Brasil, em 1614 com
apenas seis anos de idade, quando jovem chegou a trabalhar inicialmente como
escrivão e posteriormente como professor. Estudou ás áreas de Filosofia, Teologia,
Línguas, Dialética e Retórica. Foi considerado pelo poeta Fernando Pessoa como
sendo o imperador da língua portuguesa no Brasil. O rei de Portugal Dom João IV
se referia a sua admiração pelo padre com a expressão: “lábia de vieira”, esta
afeição o levou a ser nomeado pelo rei para o cargo de “Pregador Régio” e
também “Visitador-Geral”. Nasceu na cidade de Lisboa, em Portugal, no ano de
1608 e faleceu na Bahia, em 1697 com 89 anos.
Filosofia Política
Seguiu carreira
diplomática em Portugal e posteriormente regressou ao Brasil para realizar
missões em defesa dos índios. Exerceu papel importante como um hábil
articulador político entre a metrópole e a colônia. Utilizou de maneira
política a arte barroca como instrumento de catequização dos índios e como meio
de influência religiosa entre: os negros, portugueses, judeus e demais atores
sociais desse período. Nesse ínterim, passou a ser mal compreendido por determinados
grupos. No Brasil também chegou a ser perseguido por senhores que eram
proprietários dos engenhos e por donos de escravos que não aceitavam sua luta
contra a escravidão, dessa feita, foi expulso do Maranhão, devido suas duras
críticas ao sistema. Em Portugal, combateu o autoritarismo da inquisição, por
isso chegou a ser preso por um curto período, mas obteve o perdão e foi
anistiado.
Seus textos
trabalhavam reflexões sociais e políticas que convidavam os atores sociais a
participarem de debates políticos sobre os temas. Utilizava o argumento de que
o pregador deveria usar o sermão não apenas para pregar aos ouvidos dos
interlocutores, mas também deveriam pregar aos olhos deles, essa ideia tinha
como objetivo procurar em “si mesmo” o exemplo que pudesse servir de
referencial na vida dos ouvintes, isto é, um exemplo moral, material e
espiritual. Tinha como inspiração para lutar contra a escravidão, um prógono missionário que ele adimirava, o conhecido padre
Manuel de Nóbrega. Chegou a dissertar contra a invasão holandesa em Pernambuco
e a favor da independência de Portugal em relação à Espanha. Sua veia patriota
foi reconhecida pelos monarcas portugueses que lhe retribuíram com cargos de
interventor e intermediador político.
Filosofia
Literária
Foi definido por
historiadores como sendo um “criticista colonial”, pois teria escrito aproximadamente
200 (duzentos) sermões contendo fortes críticas contra as desigualdades sociais
e as injustiças de seu tempo. Esses textos eram escritos em prosa abrangendo um
sentido moral e religioso. Sua obra é considerada de grande dicção, pois
diligenciava no sentido de construir textos ricos tanto em vocabulário, como
também em uma linguagem ornada. Além da influência barroca em sua obra, também
comportou prestígios de elementos camonianos na sua compilação. Utilizava-se de
várias figuras de linguagem que enriqueciam sua escrita como a antítese, a
metáfora, o silogismo e a perífrase.
Misturava
elementos complexos e simples que enalteciam sua argumentação de maneira
lógica. Seu objetivo final era repassar a sua mensagem de maneira clara, mas
sempre mantendo o equilíbrio entre a linguagem aprimorada e a compreensível. A
estrutura dos sermões era dividida em três partes: exórdio, argumento e
peroração, isto é, introdução, desenvolvimento e conclusão. Foi adepto de uma
forma de escrever chamada de conceptismo em que o jogo de ideias era pontuado
primeiramente fazendo referências a uma coisa, mas ao final do raciocínio dizia
outra, com uma fundamentação bastante assertiva, isso consentia em responder
antecipadamente as possíveis problematizações ou dúvidas dos leitores e críticos.
Sua oratória se produzia de maneira imanente entre a retórica, a política e a
teologia.
Filosofia
teológica
Atuou como representante dos Jesuítas no Brasil exercendo o cargo de sacerdote. Após seu noviciado ele teria feito votos de obediência, pobreza e castidade. Praticou o ofício de missionário católico chegando a defender em seus sermões a implantação do império de Cristo na Terra, e que também ficou conhecido como o “quinto império no mundo”. Defendia a idealização do catolicismo universal, pois acreditava que um dia no futuro iria surgir uma nova religião que unificaria todas as religiões, povos e culturas. De acordo com ele, existiria um propósito divino para que Portugal seguisse por uma rota de paz com outros povos por um longo período de tempo até a chegada do “armagedon”. Segundo seu entendimento, a ideia de “nova terra” descrita nos textos sagrados estava relacionada com a descoberta das novas regiões da época chamada de “Novo Mundo”, desse modo, a expansão marítima seria um cumprimento das profecias. Combateu a ideologia protestante com a finalidade de transformar Portugal no império da fé.
Filosofia
Sapiencial
+ "Instruir é
construir"
+ “Os olhos são as
frestas do coração.”
+ “Muitos cuidam
da reputação, mas não da consciência.”
+ “A maior gula da
natureza racional é o desejo de saber.”
+ “Nenhum homem é
tão sábio que não esteja sujeito ao erro”.
+ “A boa educação
é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.”
+ “Todas as
guerras deste mundo se fazem para conseguir a paz”
+ “A mais doce de
todas as companheiras da alma é a esperança”.
+ “Quem vê o
corpo, vê um animal; quem vê a alma, vê ao homem”
+ “Quem não
lê, não quer saber; quem não quer saber, quer errar.”
+ “Quem quer mais
do que lhe convém, perde o que quer e o que tem.”
+ "O ódio e o
Amor são os dois mais poderosos afetos da vontade humana."
+ “Tudo cura o
tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba”
+
“No juízo dos males sempre conjeturou melhor quem presumiu os maiores.”
+
“De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo”.
+
“Para falar ao vento, bastam palavras; para falar no coração, são necessárias
obras”.
+ “Há pessoas
semelhantes à vela que se consomem para alumiar o caminho alheio”.
+ “A razão por que
não achamos o descanso é porque procuramos onde ele não está”.
+ “O livro é um
mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.”
+ “Que coisa é a conversão de uma alma senão
entrar um homem dentro em si, e ver-se a si mesmo?”.
+ “O melhor
retrato de cada um é aquilo que se escreve. O corpo retrata-se com o pincel, a
alma, com a pena”.
+ “Humildade
essencialmente é o conhecimento da própria dependência, da própria imperfeição
e da própria miséria”.
+ “Toda a desunião
quanto há no mundo, e muito mais nas Cortes, ou nasce do vício vil da ambição,
ou do vício vil da inveja, ou do Vício vil da vingança”.
+ “Nós somos o que
fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que
fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos”.
+ “Não basta que
as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os
ditos que alegamos se chamam autoridade, por que o autor é o que lhe dá o
crédito e lhe concilia o respeito”.
+ “No juízo de
Deus basta ser bom no último instante da vida para ser eternamente bom: No juízo
dos homens basta ser mau em qualquer tempo da vida para ser eternamente mau. Se
fostes bom, e sois mau, julgam-vos mal pelo que sois; se fostes mau, e sois
bom, julgam-vos mau pelo que fostes; e se sois e fostes sempre bom, julgam-vos
mal pelo que podeis vir a ser”.
+ “O pó que foi
nosso princípio, esse mesmo e não outro é o nosso fim, e porque caminhamos
circularmente deste pó para este pó, quanto mais parece que nos apartamos dele,
tanto mais nos chegamos para ele: o passo que nos aparta, esse mesmo nos chega;
o dia que faz a vida, esse mesmo a desfaz; e como esta roda que anda e desanda
juntamente, sempre nos vai moendo, sempre somos pó”.
Curiosidades
Conforme o próprio
Vieira relatou, seu ótimo desempenho nos estudos teria acontecido após uma
espécie de “estalo” cerebral em que de forma inesperada tudo passou a ficar
mais compreensível, ele definia isso como um fenômeno de iluminação ao qual
teria lhe proporcionado assimilar melhor os conhecimentos. Esse fato milagroso
passou a ser conhecido em casos análogos como o “estalo de vieira”.
Obras:
- Sermões (200
aprox.)
- Cartas (700
aprox.)
- Profecias (História do Futuro, Esperanças de Portugal e Chave dos Profetas).
Fontes:
AZEVEDO, Lúcio de.
História de António Vieira. Lisboa: Livraria Clássica, 1931.
BARROS, Maria
Betânia Arantes. Relato e realidade nas cartas brasileiras do Padre
Antônio Vieira: uma visão cognitivista e cultural. Dissertação de
Mestrado. Araraquara: UNESP, 2013.
BOSI,
Alfredo. A História Concisa da Literatura brasileira. 2ª ed. São
Paulo: Cultrix, 1976.
BULCÃO,
Clóvis. Padre Antônio Vieira: um esboço biográfico. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2008.
CARLÔTO, Adelena
Leitão Silva. Uma pesquisa bibliográfica sobre figuras de linguagem no
Sermão da Sexagésima, do padre Antônio Vieira. Revista Educação
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FERNANDES, Márcio
Luiz. O Padre Antônio Vieira e o método da pregação. Revista
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JÚNIOR, Valdemar
Valente. Padre Antônio Vieira: O político e o Profeta entre a Cruz e a
Espada. Revista É – Scrita. vol.11. Nilópolis: UNIABEU, 2020.
PAIVA, José
Pedro. Padre Antônio Vieira. bibliografia, Lisboa: Biblioteca
Nacional, 1999.
SANTOS, Estela
Pereira. Padre Antônio Vieira. Site: Todo Estudo. Maringá: Leia
mulheres, 2021.
SARAIVA, António
José. O discurso engenhoso: estudos sobre Vieira e outros autores
barrocos. São Paulo: Perspectiva, 1980.
VIEIRA, Padre
Antônio. Sermões. Org. Homero Vizeu Araújo. Porto Alegre: L&PM,
2012.
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