Farias Brito – (1862 a 1917) d.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Raimundo de Farias
Brito foi um filósofo cearense pertencente a
corrente de pensamento espiritualista. É considerado um dos primeiros filósofos
cearenses e também um dos grandes nomes do pensamento filosófico no Brasil.
Brito teve uma vida sofrida e atormentada com vários episódios dramáticos,
ainda em sua adolescência, tornou-se um retirante devido à seca que assolou o
Ceará. Sua primeira esposa faleceu muito cedo quando eles tinham completados apenas
quatro anos que estavam casados. Além da sua infância humilde, ele teve que
conviver com a incompreensão e o não reconhecimento devido de sua obra. Era
visto como um pensador demasiado ético para o seu tempo, e isso teria gerado
várias celeumas em sua vida. Iniciou seus estudos na cidade de Sobral, depois
já em Fortaleza teria complementado seus aprendizados no famoso Liceu do Ceará.
Posteriormente, concluiu um bacharelado em Direito na cidade de Recife no ano
de 1884, tendo como mestre e orientador o filósofo Tobias Barreto, por isso
teria sido influenciado pela Escola de Recife. Exerceu os trabalhos de
promotor, professor, advogado e filósofo. Também chegou a atuar na política
cearense como Secretário de Estado. Laborou em atividades jurídicas por alguns
anos no Estado do Pará, regressando novamente ao Ceará e logo após foi para o
Rio de Janeiro. Defendeu questões como a abolição da escravatura e o
republicanismo no Brasil. No campo teológico, foi inicialmente a favor da
criação de uma nova religião naturalista que se formaria a partir do
sincretismo entre o cristianismo e o budismo, dessa junção se desenvolveria uma
religião moral. Migrou posteriormente para uma visão mais espiritualista de
religião. É patrono da cadeira de número 31 da Academia Cearense de Letras.
Nasceu em 1862 no município de São Benedito no Ceará e veio a falecer em 1917
de tuberculose na cidade do Rio de Janeiro.
Filosofia
Espiritualista
A filosofia do
Farias Brito tentava buscar respostas a respeito do que seria a “coisa em si” e
também levantava reflexões sobre a fenomenologia. Ensaiou entendimentos entre a
teleologia e a teosofia. Descrevia em seus estudos a existência de dois tipos
principais de fenômenos: os de caráter objetivamente cinésico, isto é,
relacionados ao movimento e os de essência subjetivamente racional, ou seja,
ligados a consciência. Nesse sentido, ele fundamentou sua doutrina em conceitos
do “pampsiquismo”, isto é, a existência física e suas relações
com as vivências psíquicas. Suas ideias tratavam de questões direcionadas à
ética, a metafísica e ao humanismo. Seu pensamento filosófico combatia a visão
materialista do mundo. Dissertou dogmaticamente em busca de um ideal
centralizado na compreensão de Deus e na teoria da finalidade do mundo. Em
vista disso, ele buscava encontrar respostas para o seguinte questionamento:
para quê existe o mundo? Ademais, chegou a argumentar de maneira contrária as
ideias ligadas ao relativismo, ao positivismo e a teoria da evolução.
Na obra “o mundo
interior”, Brito estruturou as bases de sua filosofia do espírito. Sua noção de
espírito englobava vários sentidos etimológicos que se direcionavam para os
conceitos de mente, psique, intelecto, alma, entidade, substância, razão e
espectro. Na sua visão, a consciência e o espírito se comunicavam, dessa forma,
a filosofia seria uma ponte de elucidação entre ideias obscuras e a clareza do
pensamento. O homem não era capaz de encontrar todas as respostas para seus
questionamentos, pois essa busca deveria ser infinita e constante, porém era
obrigação do homem caminhar em direção dessa eterna busca de compreensão da
realidade. Brito utilizava um método chamado de “introspecção” em que buscava
na consciência a clarificação entre o entendimento humano e suas relações com a
natureza juntamente com a existência cósmica.
Ele pensava em
Deus como uma metáfora da luz, pois Deus teria duas formas de se revelar: uma
forma mais objetiva de se apresentar através da luz material exterior que
observamos de maneira sensitiva, ou seja, a luz propriamente dita, e outra
forma que não era muito clara, pois seria uma forma interior que era observada
através da consciência. Daí, a metafísica correspondia ao instrumento que o
homem teria para compreender a metáfora da luz de Deus em sua consciência.
Nesse sentido, sua filosofia transcorria para questões ligadas ao
existencialismo, ao naturalismo e ao espiritualismo. Deus, então, seria a fonte
da luz física e da luz da consciência. Dessa forma, ele pontuava que: “Há
pois a luz, há a natureza e há a consciência. A natureza é Deus representado, a
luz é Deus em sua essência e a consciência é Deus percebido”.
Na sua visão, Deus representava o fundamento da ordem moral na sociedade, pois era o princípio basilar de interpretação da natureza. Nesse contexto, Deus poderia ter sua existência comprovada pela consistência das leis da natureza. Deus, então, seria um ser infinito e eterno que era revelado através das ações permanentes das leis do universo. Dessa maneira, a filosofia servia como uma ferramenta para a busca do sentido moral da vida. Farias Brito entendia que os pensamentos influenciadores de sua época estavam incompletos para construir moralmente o homem, por isso, era necessário contrapor as ideologias políticas e as heresias religiosas. Portanto, a filosofia consistia no meio de modificação desse pensamento para auxiliar a construção da “moral interior” do homem. Sua obra dialoga entre correntes de pensamentos teológicos e os horizontes dos saberes filosóficos.
Filosofia da
Educação
Defendia a ideia
de que o Estado deveria proporcionar aos indivíduos a universalização do ensino
público. Criticou as correntes positivistas que influenciavam a educação
brasileira. Advogou a favor da implementação da filosofia nos currículos
educacionais. Possuía uma didática serena que lhe proporcionava um ensino sério
e paciente para com os alunos. Farias acreditava na existência de duas
necessidades básicas na vida do homem que fundamentavam todas as outras: uma
seria a necessidade de se alimentar e a outra se referia a necessidade de
aprender. A primeira fazia alusão a uma vida externa ligada ao “corpo” e a
segunda a uma vida interna ligada ao “espírito”. O corpo sofreria um processo
de reconstrução através da nutrição, já o espírito precisaria do trabalho e do
estudo como meios de desenvolvimento do conhecimento para o aperfeiçoamento da
alma. Nesse contexto, o homem necessitaria se esforçar para adquirir os
conhecimentos essenciais para o seu progresso. Brito enfatizava que:
O
destino do homem, como o destino do espírito em geral, é aperfeiçoar-se, e dar
maior extensão possível às suas energias, e alcançar em todas as manifestações
de sua atividade, o mais alto grau de desenvolvimento; numa palavra é dominar;
mas é preciso distinguir duas espécies de domínio: o domínio do homem sobre a
natureza e o domínio do homem sobre si mesmo. O primeiro alcança-se pelas
ciências da matéria, o segundo, pela ciência do espírito. Logo, podemos
seguramente conceber, à luz da razão, que a finalidade primordial do homem no
mundo é conhecer, e que, por conseguinte, a Finalidade do Mundo que o abriga é
existir para o conhecimento. (Brito, 1957).
Anedota
Historiadores
relatam que Farias Brito teria participado de um concurso no Rio de Janeiro
para ocupar o cargo de professor da cadeira de Lógica do colégio Dom Pedro II,
mas que mesmo obtendo o primeiro lugar, não teria assumido inicialmente esse
cargo, pois a função teria sido ocupada pelo renomado escritor
Euclides da Cunha, que teria obtido o segundo lugar na disputa desse
certame. Posteriormente, com a morte trágica de Euclides, Brito teria
assumido o cargo e foi nomeado como professor de Lógica do colégio Dom Pedro
II. Apesar disso, alguns historiadores descrevem que ele passou apenas três
anos no cargo, pois a função teria sido extinta devido a uma reforma na
educação que aboliu as disciplinas de Filosofia e Lógica dos currículos
educacionais. No entanto, outros pesquisadores acreditam que ele teria ocupado
o cargo até o final de sua vida.
Obras:
A finalidade do
mundo: O Mundo como atividade intelectual.
A finalidade do
mundo: A Filosofia Moderna.
A finalidade do
mundo: Evolução e Relatividade.
Ensaios sobre a
Filosofia do Espírito: A verdade como regra das ações
Ensaios sobre a
Filosofia do Espírito: A base física do espírito
Ensaios sobre a
Filosofia do Espírito: O mundo Interior.
Cantos Modernos
História Sobre
Fenícios e Hebreus
Inéditos e
Dispersos
Filosofia
Sapiencial
- “Se não sei o
que sou, nem para que vim ao mundo, não posso saber uma norma de conduta”.
- “A verdade não
pode ser triste nem má”.
- “Somente pela
filosofia que poderão ser resolvidas as dificuldades da civilização
contemporânea”.
- “Há pois a luz,
há a natureza e há a consciência. A natureza é Deus representado, a luz é Deus
em sua essência e a consciência é Deus percebido”.
- “O homem tem o direito e o dever de buscar uma solução para os embates da vida, percebendo que, se veio ao mundo desconhecido de si, é causa disso o estado de ignorância em que se encontra”.
- “Não basta indagar se o conhecimento das coisas depende da constituição de nosso espírito, é preciso verificar se o conhecimento do eu e da consciência, por sua vez, não sofre a influência das coisas.”
- “O infinito me
fascina e me penetra… Se uma voz me falasse do alto, dando-me a chave de toda a
verdade, tudo estaria resolvido… Mas essa voz não me fala. E a treva continua
impenetrável, não somente fora, como ainda dentro de mim mesmo”.
- “A Filosofia é a
fonte comum onde encontram sua justificação os princípios fundamentais de todas
as outras ciências, que nestas condições dependem dela. Ou mais precisamente
ainda: a filosofia é o conhecimento universal. É assim que o verdadeiro caráter
da filosofia em suas relações com as ciências só pode ser determinado por meio
de imagens como estas: A filosofia é uma árvore; as ciências são ramos mais ou
menos frondosos que brotam desta árvore, o fruto que ela produz. (...) Penso
assim: a ciência é o conhecimento já feito, o conhecimento organizado e
verificado; a filosofia é o conhecimento em vias de formação”.
- “Tudo passa,
tudo se aniquila. Pois bem: eu quero saber se do que passa e se aniquila,
alguma coisa fica e em virtude da qual se possa ter amor ao que já não existe
ou deixará de existir; se do que passa e se aniquila alguma coisa fica que não
há de passar, nem aniquilar-se: quero estudar esta ciência incomparável de que
falava Sócrates: quero ensinar aos que padecem como é que se pode esperar com
serenidade o desenlace da morte: quero dirigir aos pequenos e humildes,
palavras de conforto: quero levantar contra os tiranos a espada da justiça:
quero, em uma palavra, mostrar para todos que antes de tudo e acima de tudo
existe a lei moral, e que somente para quem se põe fora desta mesma lei, é que
a vida termina”.
Fontes:
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Brito e a Crise da Modernidade. Revista Perspectivas. Vol. 6 N; 01. UFT,
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