domingo, 25 de fevereiro de 2024

Filosofia Antiga

Filosofia Antiga – (600 a.C a 529 d.C.) Aprox.

Autor: Alysomax Soares

Introdução

A filosofia antiga é considerada um período da História da Filosofia que se iniciou por volta do século VII a.C, tendo passado pela era clássica e se estendido entre o chamado período helênico e o fim do Império Romano. Seu surgimento se deu através de uma visão eurocêntrica que atribuiu aos gregos a descoberta da filosofia, conceituando sua definição e sistematizando uma forma reflexiva e crítica de abordar a origem do cosmos. Embora a filosofia seja algo bem mais complexo do que apenas um pensamento crítico e reflexivo, os gregos desenvolveram uma forma de pensar mais elaborada, com novos critérios para se buscar a verdade, sobre os fenômenos. Os filósofos desse período buscavam encontrar respostas para a origem das coisas de forma mais racional. Desse modo, eles desenvolveram uma característica própria para descrever essa origem, ao qual eles definiam como “arché” do universo.

Os gregos passaram a explicar os fenômenos da natureza de maneira mais lógica, por isso, essa fase da filosofia ficou conhecida como a passagem do “mitos” para o “logos”. O pensamento mítico ligado às crenças foi dando lugar à argumentação racional, à capacidade de persuadir e dar explicações baseadas na razão, chamada pelos gregos de “logos”. Esse período se divide em três fases, chamadas de: Pré-socrático, Socrático e pós-socrático, porém outras fontes definem essas fases como sendo os períodos: cosmológico, clássico e helenístico. Por muito tempo, ou de forma didática, muitos pesquisadores atribuíram aos gregos à descoberta da filosofia, contudo, existem novas correntes de pensadores que delimitam os horizontes da filosofia para outras civilizações e culturas, pontuando características próprias de pensar a outros povos mais antigos.  

Desenvolvimento da Filosofia Antiga

O pensamento crítico dos gregos passou a questionar a visão mística da época, contrapondo as ideias supersticiosas que pairavam no imaginário popular, com isso a filosofia iniciou os primeiros passos para a sistematização da ciência. A filosofia se desenvolveu na mesma época em que se iniciou a formação das chamadas cidades-estados, também denominadas de “polis” gregas. A filosofia dessa época influenciou muitas áreas do conhecimento. Nesse período se iniciou os primeiros conceitos relacionados à ciência primitiva. Alguns fatores como o desenvolvimento cultural, político, urbano e social foram fundamentais para que os gregos desenvolvessem sua filosofia e como consequência, os primeiros passos do saber científico. Ainda sim, a filosofia e a ciência nesse tempo não estavam didaticamente separadas. Os gregos estabeleceram uma relação de causa e efeito, em que estipulavam uma causalidade e uma ordenação das coisas.

O chamado método grego de investigação dos fenômenos inaugurou um novo modo de pensar que caracterizou um estilo de filosofia denominado de “filosofia a la grega”, descrita também por alguns pesquisadores como o “milagre grego”. Além de explicar as questões relacionadas à natureza, eles também se preocuparam principalmente com os fatos ligados ao estudo do universo, fundamentos do conhecimento e leis lógicas sobre a ciência. Os gregos absorveram conhecimentos de várias outras civilizações, tendo desenvolvido não apenas a filosofia e a ciência natural, mas também muitas outras áreas, como a filosofia da linguagem e a matemática. Algumas inovações tecnológicas foram fundamentais para o aperfeiçoamento do saber grego, entre eles estão, a medição do tempo, com novos tipos de relógios solares e calendários, o comércio e a navegação, a troca simbólica com moedas e o aprimoramento do alfabeto.

Considerações Finais

O questionamento sobre as coisas ou sobre a verdade foi essencial para a produção de conhecimento na Grécia antiga, com isso, eles sistematizaram o saber humano dessa época. Muitos filósofos não se consideravam donos da verdade, mas apenas amigos do saber, por isso surgiu esse termo “filósofo”, ou seja, aquele que ama buscar o conhecimento. O filósofo Platão, por exemplo, dizia que: “é preciso amar buscar a verdade, mas jamais defendê-la, porque quem defende a verdade absoluta, muitas vezes julga possuí-la, e ninguém possuí a verdade do universo”. Nesse sentido, a função do filósofo seria a de compreender o mundo a sua volta através da observação e investigação da natureza. Buscando de forma autônoma analisar as questões, procurar as causas dos problemas e encontrar soluções. 

O saber filosófico fundamentava suas investigações e relacionava as diversas fontes de conhecimento. Alguns dos principais temas estudados pela filosofia são considerados temas universais, isto é, questões que afetam toda a humanidade. Acredita-se que houve uma espécie de relativização do saber que culminou com novas possibilidades de explicação dos fenômenos, aguçando a curiosidade e promovendo a necessidade de encontrar respostas mais elaboradas, sobre as coisas. Os gregos passaram a explicar melhor os fenômenos, buscando desmitificar antigos saberes e elaborar um conhecimento que estivesse em conformidade com seu grau de abstração. A forma de pensar dos gregos foi aos poucos se tornando mais concreta, deixando de lado as fantasias e os mundos encantados. A dúvida e a crítica reflexiva que já existiam, antes dos gregos, passaram a ser utilizadas por eles de forma mais constante, contribuindo com a sistematização das áreas do saber investigadas por eles.

Principais escolas dessa época:

Escola Jônica ou de Mileto; Pitagóricos; Mobilistas; Eleatas; Pluralistas; Atomistas; Sofistas; Escola de Megára; Platonismo; Aristotelismo ou Escola Peripatética; Estoicismo; Epicurismo; Ceticismo; Cinismo; Cirenaicos; Hedonismo; Eudemonismo; Pirronismo; Cosmopolitismo; Escola Esotérica.   

Fontes:

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

BURNET, John. A aurora da filosofia grega. 1ª ed. Rio de Janeiro: PUC RIO, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Vol. 2. São Paulo: Companhia das letras. 2010.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA, 1996.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: Dissertatio Filosofia, 2014.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2 ed. Brasília. UnB. 2008.

FINLEY, Moses Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1970.e-commerce

RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2015.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª.ed. Porto Alegre. EDIPUCRS. 2003.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: PUC, 1965.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Tobias Barreto

Tobias Barreto – (1839 a 1889) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Tobias Barreto de Meneses – Foi um filósofo brasileiro que liderou um movimento filosófico conhecido como “culturalismo” da Escola de Recife. Era visto também como sendo o fundador de uma escola literária chamada de condoreirismo brasileiro. Suas ideias influenciaram diversos pensadores brasileiros, bem como também, várias áreas do conhecimento. Começou a trabalhar logo cedo, aos 15 anos, como professor de latim. Iniciou seus estudos na Vila de Campos, localizada em Sergipe, posteriormente se deslocou para estudar no seminário de Salvador, na Bahia, nesse ínterim, não conseguiu se adaptar, decidiu então se dirigir para Recife, onde cursou Direito, bacharelando-se em ciências jurídicas. Também possuía o domínio de várias línguas, sendo considerado um pensador poliglota.    

Atuou principalmente como filósofo, jurista e escritor, tendo assumido um cargo de magistério na Faculdade de Direito do Recife. Bebeu de várias fontes do conhecimento, por isso foi considerado, por alguns, como sendo um filósofo materialista, por outros, um pensador espiritualista, chegou a ser definido como eclético, mas se dizia ser um relativista.  Entre suas principais influências estão os filósofos: Haeckel, Buckle, Comte, Darwin, Spencer, Hartmann, Shopenhauer e Kant. Estudou com grandes intelectuais de seu tempo, entre eles estavam Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Sílvio Romero e Castro Alves. Sofreu preconceitos e perseguições por conta de sua origem humilde e pela cor da sua pele que era mestiça. É patrono da cadeira de número 38 da Academia Brasileira de Letras, seu nome está inserido no livro dos Heróis da Pátria. Era filho do escrivão Pedro Barreto de Menezes com a senhora Emerenciana Barreto de Menezes. Nasceu no dia 7 de junho de 1839, em uma localidade conhecida como Vila de Campos, em Sergipe. Faleceu aos 50 anos de idade, em 27 de junho de 1889, na cidade de Recife. Tempos depois de sua morte, seus ossos foram levados para a cidade de Sergipe e colocados em uma urna de bronze, abaixo de uma estátua que foi construída em sua homenagem.

Filosofia do Culturalismo

Estabeleceu um sistema de pensamento que relacionava a antropologia e a filosofia moral com as ciências jurídicas. Posicionando-se como um pensador relativista que transitava entre teorias materialistas, evolucionistas, monistas, positivistas, deterministas e concepções espiritualistas. Nesse sentido, suas ideias investigavam os fenômenos sociais, a partir dos fatores culturais, históricos, políticos e jurídicos, desvinculando-se daquilo que fosse incompatível com a realidade cultural do país. Opondo-se ao sistema de pensamento jurídico que dominava e influenciava a classe dirigente da época. Compreendeu os aspectos de formação das instituições políticas brasileiras, pontuando e esclarecendo questões relacionadas à Filosofia do Direito e a Ciência Política.

Estudou com afinco o sistema de escravidão brasileira, sendo considerado um dos principais expoentes do abolicionismo. Nessa época, reinava entre a elite brasileira um conservadorismo eivado de pensamento escravocrata, legitimado pelo sistema político da monarquia. Nesse contexto, a finalidade da filosofia “culturalista” de Tobias era sistematizar uma identidade nacional e modernizar o país. Com isso, ele difundiu o positivismo científico na esfera jurídica e firmou o evolucionismo no campo social. Para Tobias, a área do Direito era produto de um meio social, sendo o Estado o regulador dessa esfera jurídica. Seu sistema de ideias, ao mesmo tempo, que articulava no campo da educação uma relação entre a cultura, à ciência e a técnica, também procurava constituir uma autonomia universalista, que se desprendesse dos antigos valores escravocratas e se emancipasse para uma visão mais moderna, abrindo espaço para a participação da mulher e das classes rurais.

Filosofia Política

Fez parte do partido liberal, atuando politicamente como deputado provincial. Visto por muitos como sendo um crítico polemista, ele defendia as causas abolicionistas. Embora tivesse uma excelente oratória, Tobias sofreu duras críticas, por conta de alguns posicionamentos políticos contrários a de seus adversários, chegou a declarar certa vez que: “não sou ovelha de rebanho”, em resposta as duras críticas que sofria. Nesse sentido, ele se dizia ser um antimonarquista que lutava em prol de um pensamento laico.  Segundo Tobias, o Brasil necessitava solucionar a problemática que existia em torno dos conflitos sociais e ideológicos suplantados no período imperial, direcionando a classe intelectual brasileira para um país mais atualizado, conduzidos por princípios iluministas como liberdade, igualdade e fraternidade. Barreto objetivou a construção de uma ciência política positiva com a finalidade de instruir a sociedade por meio da razão. Porém, tempos depois, migrou seu pensamento para uma visão mais original, utilizando seu “culturalismo” como ponto basilar de uma análise política, refutando o positivismo, e estabelecendo novos paradigmas para a filosofia social brasileira.  

Filosofia Sapiencial

+ “A gratidão é a virtude da posteridade”

+ "Nós, as estrelas, que no céu pensamos.”

+ “O socialismo é a luta contra a luta pela existência”

+ “A teoria é sempre franca e generosa, a prática sovina e mesquinha.”.

+ “Mais do que os nossos maiores, interessam-me os nossos melhores”.

+ "Cada guerreiro que por nós combate é a ira de Deus que se faz homem.”.

+ "Oh, minha estrela que de longe brilhas, nada te importa que eu soluce ou cante! "

+ “Só é grande a liberdade que sacode a majestade e arranca a juba dos reis!…”

+ "O direito é a disciplina das forças sociais ou o princípio da seleção legal na luta pela vida."

+ “O axioma democrático da igualdade perante a lei só tem sentido no pórtico dos cemitérios.”

+ “Não sei! Quem é que não sabe, numa lagrima sentida, aliviar-se da vida, que pesa no coração”!

+ “Um homem que tem a boca cheia de língua parece-me inadmissível que tenha uma cabeça cheia de ideias.”

+ "Passar como uma aura leve, ou como um sonho de amor; ter a morte de uma santa, tendo a vida de uma flor. "

+ “Amar é fazer o ninho, que a duas almas contém, ter medo de estar sozinho, dizer com lágrimas: vem, Flor, querida, noiva, esposa…vem”

+ " Não sei por que a língua humana os brutos não falam mais, quando hoje têm melhor vida, e há muita besta instruída nas ciências sociais. "

+ "No meu sepulcro não tereis as rosas, as doces preces que os felizes têm; pobres ervinhas brotarão viçosas e o esquecimento brotará também. "

+ "O poeta é, pois, aquele em quem se exprime e se encarna a natureza completa do povo a que ele pertence, e como o génio no qual a posteridade o encarna. "

+ "Faz medo vir ainda em horas doces sentar-se a sós à borda do oceano, e, ante o golfão azul ca imensidade, pensar no abismo do destino humano. Nos oceanos da noite, grandes naus de asas selvagens"

+ “É preciso pensar por nossa conta. Ninguém, mais do que eu, está sempre disposto a reformar, a abandonar mesmo, como imprestáveis, as opiniões mais queridas, quando recai sobre elas qualquer suspeita de erro. Mas, quero ver razões que me convençam.”

+ "Verdade é que a sociedade, na qualidade de um organismo de ordem superior, na qualidade, não de uma antítese, mas de uma continuação da natureza, deve ter a sua mecânica; mas essa mecânica, para dizer tudo em uma só palavra, ainda não encontrou o seu Kepler."

+ "A morte que se conquista pela Pátria não é uma dessas mortes lúgubres, choradas, misteriosas, comuns. Não. Morrer assim, ao fumegar das batalhas, é desembaraçar-se de um dos enigmas do nosso destino, é resolver o problema da grandeza humana. Morrer assim é engrandecer-se. "

+ “O único meio de salvar e engrandecer o Brasil é tratar de colocá-lo em condições de poder ele tirar de si mesmo, quero dizer, do seio da sua história, a direção que lhe convém. O destino de um povo, como o destino de um indivíduo, não se muda,  nem  se  deixa  acomodar  ao  capricho  e  ignorância  daqueles  que pretendem dirigi-lo”.

+ “A candidatura do Brasil aos foros de nação culta é um fenômeno mórbido: alguma coisa de semelhante ao disparate dos loucos, que se julgam reis. Que cultura se concebe para um povo cuja religião, cujas políticas são puramente mecânicas? E que religião, e que política pode haver em um país, onde a filosofia é nula, onde a arte é nula, onde a ciência é nula? –Eis aí tudo”.

+ "Vibrando as cordas de sua harpa douro, que meiga ecoa pelo céu sem fim, com voz que infiltra a eternidade nalma, o anjo fala suspirando assim: A morte é bela na manhã da vida, quando sentido já se tem a dor; é doce sonho que nos arrebata a uma morada só de paz e amor. A alma, virgem das paixões mundanas, ao céu se eleva sem sentir pavor; a terra chora, murmurando preces, e os anjos cantam com maior fervor. "

Obras:

Dias e Noites; O Gênio da Humanidade; A Escravidão; Polêmicas; Ensaios de Filosofia e Crítica; Ensaio de Pré-História da Literatura Alemã; Menores e Loucos em Direito Criminal; Discursos; Questões Vigentes de Filosofia e Direito; Estudos Alemães;      Glosa; Brasilien, wie es ist.

Fontes:

BARRETO, Luiz Antônio. Tobias Barreto. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1994.

BUARQUE, Sergio. História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2012.

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins, 1969.

CERQUEIRA, Luiz Alberto. Filosofia brasileira: ontogênese da consciência de si. Petrópoles: Editora Vozes, 2002.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001..

ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Tobias Barreto. São Paulo: Itaú Cultural, acesso em 2024.

GODOY, Arnaldo. Tobias Barreto: uma biografia intelectual do insurreto sergipano e sua biblioteca com livros alemães no Brasil do século XIX. Curitiba: Juruá Editora, 2018.

LIMA, Hermes. Pensamento vivo de Tobias Barreto. São Paulo:  Editora Martins, 1942.

MONT'ALEGRE, Omer. Vida admirável de Tobias Barreto. Rio de Janeiro: Editora Vecchi, 1939.

SEBRÃO de Carvalho. José Tobias Barreto: o desconhecido. Aracaju: Imprensa oficial, 1941.