Filosofia do Amor
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Filosofia do Amor é um campo da filosofia que tenta explicar a natureza
do amor. Segundo alguns pesquisadores, o amor pode ser compreendido como um
princípio que estabelece uma relação entre os seres humanos. A reflexão sobre
esse tema abarca diversos campos, como a religião, a família, a sociedade, a
pátria e a liberdade, sendo de grande importância seu estudo para compreensão
do desenvolvimento humano. O entendimento a esse respeito leva os indivíduos a
se compreenderem melhor, gerando equilíbrio mental necessário ao convívio
social. Esse fato pode auxiliar na prevenção de distúrbios psíquicos e
disfunções sociais, evitando dores ocasionadas pela desarmonia gerada pela
falta de autoconhecimento. Ademais, o amor com suas múltiplas definições ou
faces, pode ser definido como um sentimento belo, justo, digno ou esplendoroso.
As definições do amor assumem uma importância para várias áreas do
conhecimento, não se limitando apenas ao campo teológico, filosófico ou
científico. Acredita-se que existem várias formas de amar, por isso o verbo
amar é utilizado em várias ocasiões e de diferentes formas. Ele possui um mar
de definições e um vasto campo de possibilidades. O amor é vida e é visto como
a forma pura do bem.
Amor Ágape
Seria o amor sublime que era visto, dentre outros termos, como sendo
definido por amor ágape. Esse amor era descrito pelos gregos como uma espécie
de amor universal e incondicional que se relacionava com os aspectos da pureza.
Poderia ser descrito como um amor divinal ou que contém algo de puro. Era tido
como uma forma elevada de amor, ele é muitas vezes atribuído como sendo o amor
de Deus. Esse é o amor por todos os seres, por toda a humanidade. O verdadeiro
amor ágape era caracterizado por uma conexão com a natureza, a humanidade e o
universo. Também era descrito biblicamente como um amor ligado ao autossacrifício,
isto é, relacionado à doação ao próximo. Além disso, pode ser descrito como um amor
totalizante que preenche todos os espaços, o amor, ágape, era geralmente definido
como o "amor abnegado”. Transita entre o isolamento da contemplação, no
sentido de solitude e o entusiasmo puro da centelha divina, na direção do
sagrado.
Pode ser entendido como à forma pura e perfeita da ideia de bem. Lewis
(2017) reconhece este, como sendo o maior dos amores. Ele não encontra uma
definição exata que possa ser expressa na linguagem humana, sendo apenas
idealizada, para ser sentida. Entre suas principais características está a
ideia de compaixão. Por ser perfeito, esse amor nunca acaba, tem um viés
altruísta de servidão ligada à justiça e a verdade. É alimentado pela empatia e
condiciona a liberdade, pois dá sem esperar nada em troca, ou seja, não cria
expectativas e contém um quê de atitude. A Bíblia compreende a ideia de amor
como sendo a principal virtude entre as relações, isto é, o valor mais
importante entre os humanos e entre Deus e suas criaturas.
Amor Filos
Esse seria o amor sobre a forma de amizade, ligado ao amor entre amigos
e irmãos. Direcionava-se para ideia de parceria e companheirismo, tendo a
amizade, a sinceridade e a gentileza como pontos basilares. O termo também se
refere à ideia de partilhar algo entre amigos, isto é, algo em comum que exista
entre as partes. A intimidade entre colegas pode aos poucos construir grandes
laços de amizade que despertam o amor filos entre eles. A interação entre dois
amigos gera uma escolha que interfere no destino deles, por isso, nesse formato,
o amor cria certa afinidade e admiração que se traduz em um polo mental e cultural,
entre os atores envolvidos, desperta também espírito de lealdade e igualdade
neles. Tem forte ligação com a alma humana e pouca aproximação com o aspecto material
do indivíduo. É descrito também como o amor do “bom senso”, pois exige certa
reciprocidade entre as parte. Por estar inserido entre o foco espiritual e o
lado emocional, esse tipo de amor estaria em um nível intelectual, por isso foi
que dele se originou termo filosofia, que se traduz na ideia de um amigo do
saber ou alguém que ama o saber, isto é, uma espécie de “amor-amigo” do
conhecimento. O filósofo Aristóteles chegou a afirmar que a ideia de amor filos
tem grande relação com a noção de alegria e felicidade, criando laços de apego
entre dois amigos.
Amor Eros
Esse tipo de amor se direciona para as esferas sensuais e românticas. Eros está associado com a libido e a sexualidade. Ele é caracterizado pelo romance, pela paixão e pelo desejo, além disso, estaria conectado ao prazer, à atração física e ao sexo. O termo se refere aos conceitos eróticos que fazem relação com a atração entre casais. Ele se liga aos sentimentos existentes entre um homem e uma mulher. Está estruturado na beleza e na atração gerada por um estímulo que outro ser desperta em uma pessoa, podendo ocasionar paixão e obsessão pelo outro. A intimidade entre duas pessoas também alude à compreensão desse conceito de amor, por isso, possui forte ligação com a ideia de conquista. A ideia de amor platônico também se referia a esse tipo de amor, direcionada para a concepção de idealização e fantasia. O livro cânticos de Salomão, na bíblia, retrata um pouco essa visão do amor ardente ligado à sexualidade e ao romantismo, com uma conotação também se referindo à ideia de existência, reprodução e sobrevivência humana. O filósofo Jung utilizava o termo “eros” de forma um pouco diferente do usual, colocando o termo como atributo da psique feminina que contrastava com o logos masculino, ligado a razão.
Amor Storge
Esse seria o amor dos pais pelos filhos, que também estaria direcionada
para o conceito de confraternização entre familiares. Tem como principais
características a proteção, o apoio e cumplicidade dos pais para as questões
ligadas a família. Existe uma afetividade formada através dos laços de
parentesco. Esse amor surge de forma natural e gradual no seio da família, indo
aos poucos se formando e se estendendo entre os membros. Ele se forma através
da intimidade compartilhada no seio familiar. Por isso, pode ser sentido também
por pessoas próximas que vivem como se fosse membros de uma família. Pode ser
visto também como um tipo de amor que não se adquire, ou seja, ele é
pré-existente. Como exemplo, os pais que amam seus filhos antes mesmo deles
nascerem. Traz a ideia de aconchego e acolhimento, tendo relação com a ideia de
afeição, carinho, ternura e cuidado. É um tipo de amor genuinamente gratuito e
que assume a ideia de confiança. A família é um centro de apoio em várias
situações da vida, por isso esse amor tem um viés de dedicação, maturidade e
flexibilidade. Carrega um sentimento de nostalgia, interesse por lembranças e
recordações sobre o que já foi vivido.
Amor Pragma
O Pragma é o tipo de amor menos duradouro, que pode ser traduzido como
“amor prático”, referindo-se ao tipo de amor baseado no “dever, no compromisso
e na praticidade”. Sua tradução etimológica é definida como “Pragma” do grego,
"prática", "negócio" ou “coisa feita”. Desse modo, exige
certa ponderação em seus atos, sendo mais racional. Tem como características o
que é transitório e temporário, se ancorando no agora. É um amor baseado na
dedicação ao bem maior, em um amor pragmático. Relacionado ao altruísmo, a
responsabilidade e ao interesse momentâneo das coisas. Pressupõe um compromisso
entre as partes que legitima um vínculo promovido pela experiência e
maturidade, gerando um caráter de reciprocidade. Visto como um amor momentâneo
que se prende ao que é necessário e urgente. Procura se firmar na serenidade e
na lealdade, buscando a compatibilidade e o realismo. Na busca por uma relação
sólida, esse tipo de amor procura superar os desafios e obstáculos, para vencer
os conflitos que surgem, durante a jornada da vida.
Amor Ludus
O amor “ludus” é um amor lúdico está ligado à ideia de alegria,
diversão e felicidade. Flerta também com o feitiço gerado pelo clima de dança,
música e festa. É um amor verdadeiro, mas que não possui total comprometimento,
pois é desprendido do individual, estando mais ligado ao coletivo, ao todo. Tem
um caráter de amplitude globalizante que se estende, não se limitando as
fronteiras, visto como algo mais intenso e misterioso, contendo um viés
ecumênico. Aproxima-se da ideia de paixão, pois está inserido no contexto
inicial das relações, quando as pessoas se conhecem, por isso estão felizes e
rindo o tempo todo, em estado de êxtase ou encantamento. A palavra “ludus”
remete a ideia de jogo, por isso promove um jogo de sedução que provoca os
atores, em um envolvimento emocional, despertando euforia. Seria, portanto, um
estado de animação, em que se busca conquistar ou hipnotizar, utilizando certo
magnetismo ou charme.
Outros tipos de amor:
Philautia; Fátria; Mania; Caritas; Fati; Xênia.
Fontes:
BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos.
Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004.
BRANDEN, Nathaniel. A psicologia do amor . Rio de Janeiro: Editora Record,1998
CAPELÃO. André. Tratado do amor cortês. São Paulo: Editora
Martins Fontes, 2000.
FERREIRA, Nadiá Paulo. A
teoria do amor. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004
FROMM, Erich. A Arte de Amar. Belo Horizonte: Editora
Itatiaia,1964.
GIKOVATE, Flávio. Ensaios sobre o amor e a solidão. São Paulo: Editores
Associados, 1998.
KONDER, Leandro. Sobre o amor. São Paulo: Bom tempo, 2007.
LEE, John. As cores do amor. Toronto: New Press, 1973.
LEWIS, Clive. Os Quatro Amores. Brasil: Thomas Nelson, 2017.
NOGUEIRA, Renato. Por que amamos: o que os mitos e a filosofia têm a
dizer sobre o amor. Nova York: Harper Collins, 2020.
SIMMEL, Georg. Filosofia do Amor. São Paulo: Martins Fontes,
1993.