domingo, 19 de maio de 2024

David Hume

David Hume - (1711 a 1776) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo escocês do período moderno que seguiu uma linha de pensamento voltada para o empirismo. Seu sistema de ideias se relacionava com outras correntes de pensamento como o naturalismo e o ceticismo. Dissertou de maneira contrária aos pensamentos racionalistas. Estudou as áreas da Filosofia, História, Economia, Política, Ciências Naturais, Arte e Literatura. Escreveu sua Magnus Opus intitulada de “Ensaio sobre o Entendimento Humano”. Exerceu grande inspiração para os pensadores iluministas e sofreu grande influência dos pensamentos de John Lock, sendo considerado um radicalizador do empirismo e do ceticismo. Chegou a trabalhar como diplomata e estudar a área do Direito, migrando depois para a Filosofia. Também exerceu atividades laborais como comerciante, professor e bibliotecário. Sofreu perseguição da Igreja Católica, sendo acusado de heresia, por isso teve seus livros proibidos pela Igreja. Militava em prol do partido liberal, tendo defendido a união entre o reino da Escócia e o da Inglaterra. Embora pertencesse a uma família aristocrática, Hume era descrito como sendo um homem simples, amável e modesto. Era filho de um senhor chamado Joseph Hume com uma senhora de nome Catherine Falconer. Nasceu em Edimburgo, na Escócia em 1711 e faleceu em 1776, na sua cidade natal, com 65 anos de idade.

Filosofia do Conhecimento

Segundo Hume, o comportamento humano não seria governado pela razão humana, como afirmavam os racionalistas, mas sim pela paixão. Desse modo, em relação a moral, Hume afirmava que os julgamentos morais eram baseados nos sentimentos, e não na razão. Defendia o uso da razão e do método científico como um caminho para se chegar ao conhecimento. Utilizava a experiência e a observação como fundamentos sólidos para a ciência. Elencava três princípios básicos para a argumentação que seriam a demonstração, as provas e as probabilidades. Explicava que a questão essencial do homem seria encontrar respostas sobre a origem de suas crenças. Ele buscava, com isso, descobrir as origens e construções do conhecimento humano.

Para Hume, a experiência sensível do ser humano, estaria divida em duas partes: impressões e ideias. A primeira estaria associada aos sentidos do ser humano como visão, tato, audição, olfato e paladar, já a segunda estaria relacionada com as representações mentais resultantes dessas impressões, sendo as impressões, sensações consideradas mais fortes, mais vivas e mais recentes. Nesse sentido, o pensamento humano se iniciava com as impressões, ou seja, o pensamento estaria ligado às sensações, pois as nossas sensações são os únicos fatos comprováveis. A realidade humana só seria percebida verdadeiramente pelos órgãos dos sentidos que estimulam nos indivíduos os sinais físicos e nervosos. As ideias teriam origem na chamada experiência sensorial, por isso as impressões seriam as causas das ideias, não sendo possível desvincular o pensamento das sensações. As ideias seriam cópias mentais menos vívidas das impressões, os quais formam nossos pensamentos e conceitos. Segundo Hume, todas as ideias são derivadas de impressões, e não há conhecimento inato. Desse modo, ele explicava que as sensações seriam as únicas formas, de entendimento humano, possíveis de serem explicadas.  

Filosofia do Ceticismo

Seu sistema de pensamento ficou conhecido como “fenomenismo”, isto é, teoria filosófica que contraria as crenças naturais e do sentido comum. Para Hume, quando o homem não consegue encontrar respostas válidas para as grandes questões da vida, ele deve suspender o juízo. Nesse contexto, a filosofia não deveria buscar compreender a relação existente entre causa e efeito, pois essa “causalidade” era baseada no hábito e no costume, e não na razão lógica. Dessa maneira, ele negava a base material de explicação das coisas e da causalidade entre elas, esclarecendo que os princípios racionais, seriam associações de ideias que, o hábito e a repetição, vão sistematicamente, aos poucos, fortalecendo. O conceito de “eu” seria apenas uma coleção de estados da consciência. Nesse sentido, ele dizia que: “o fundamento de nossas expectativas não está na razão, mas, sim, no hábito, no costume, na repetição”.

Segundo ele, não seria possível ao homem comprovar a existência de Deus mediante argumentos baseados na lógica. Argumentava que faltavam bases racionais para a o homem, para que ele pudesse realizar algumas suposições e explicar determinados fenômenos. Definiu princípios sobre a “teoria da oscilação”, pontuando que não houve evolução linear do politeísmo para o monoteísmo, na história da humanidade, como julgavam alguns, pois o que teria acontecido de fato seria uma oscilação irracional.  Isso levava Hume a ser um cético, em relação à inferência indutiva, pois, para ele, não existia uma base racional para acreditar que o futuro poderá se assemelhar ao passado, ou seja, as leis científicas podem até explicar uma experiência passada, mas não garante nenhuma certeza que isso irá se repetir no futuro.

Filosofia Sapiencial

+ "A corrupção dos melhores é a pior".

+ "O homem é o maior inimigo do homem".

+ "Cada solução leva a uma nova pergunta”

+ “O hábito é o grande guia da vida humana”.

+ "A natureza é sempre muito forte para a teoria"

+ “Qualquer coisa pode produzir qualquer coisa”

+ "Seja filósofo, mas não se esqueça de ser homem".

+ “O costume é, portanto, o grande guia da vida humana.”

+ “As nossas sensações são os únicos fatos comprováveis”

+ “A beleza não está nas coisas, mas na mente que as contempla.”

+ "Afirmações extraordinárias necessitam de provas extraordinárias".

+ "O autocontrole da mente é limitado, assim como é o domínio do corpo".

+ “O caminho mais doce e inofensivo da vida passa pela estrada do saber".

+ "O coração do homem existe para reconciliar as contradições mais notórias."

+ "Nenhum homem jamais jogou fora a vida enquanto ela valia a pena ser mantida."

+ “Toda hipótese que não pode ser comprovada por meio da experiência deve ser descartada”.

+ "De um modo geral, os erros na religião são perigosos; enquanto os da filosofia apenas ridículos."

+ “O hábito de culpar o presente e admitir o passado, está profundamente arraigado na natureza humana”.

+ “É difícil para um homem falar longamente acerca de si próprio sem ser vaidoso, portanto devo ser breve…”

+ “Todas as nossas ideias ou percepções mais fracas são imitações de nossas mais vivas impressões ou percepções”.

+ "Onde as riquezas são absorvidas por poucos, estes devem contribuir mais para o provimento das necessidades públicas".

+ "A memória não tanto produz, mas revela a identidade pessoal, ao nos mostrar a relação de causa e efeito existente entre nossas diferentes percepções."

+ “Quando entro mais intimamente nisto que eu chamo de eu mesmo, sempre tropeço em uma ou outra percepção particular, de calor ou frio, luz ou sombra, amor ou ódio, dor ou prazer.”

Obras:

História da Minha Vida; As Cartas Inglesas; Tratado sobre a Natureza Humana; Ensaio sobre o Entendimento Humano; Investigação sobre os Princípios da Moral; Diálogos sobre a Religião Natural; Ensaios Morais e Políticos; A História da Inglaterra; História Natural da Religião.

Fontes:

ALBIERI, Sara. David Hume filósofo e historiador. Revista de Ciências Sociais: Mediações. Londrina: Dossiê, 2004.

BALIEIRO, Marcos Ribeiro. Essa mistura terrena grosseira: filosofia e vida comum em David Hume. Tese de Doutorado. São Paulo: USP, 2009.

BUCKLER, Stephen. O Tratado Iluminista de Hume. A unidade e o propósito de uma investigação sobre a compreensão humana. Oxford: Clarendom Press, 2001.

CABRAL, Álvaro. Filosofia Moral britânica. Campinas: Unicamp, 1996.

CONTE, Jaimir. A Natureza da Filosofia de Hume. Revista Princípios. Natal, UFRN, 2010.

DANOWSKI, Débora. David Hume, o começo e o fim. Revista de Filosofia: Kriterion. Belo Horizonte: UFMG, 2011.

HUME, David. Tratado da natureza humana. Trad. João Carlos Brandão. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009.

KIRALY, Cesar. Os Limites da Representação: um ensaio desde a filosofia de David Hume. São Paulo: Editora Giz, 2010.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dário. História da filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2004.

QUINTON, Anthony. David Hume. São Paulo: Editora UNESP. 1999.


sábado, 18 de maio de 2024

Cálicles de Egina

Cálicles de Egina – (483 a 405) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da Grécia antiga pertencente à escola de pensamento dos sofistas. Exerceu um importante papel na história do movimento sofista, sendo considerado um dos sofistas mais atuantes de seu tempo. Era tido como um dos principais discípulos de Górgias. Pertencia à aristocracia, e visto como sendo um hábil articulador político. Foi um dos principais opositores de alguns dos pensamentos socráticos. Segundo alguns pesquisadores, a filosofia de Cálicles teria influenciado consideravelmente as ideias de Nietzsche. Era natural de Atenas e pouco se sabe ao seu respeito, embora tenha a sua existência como sendo duvidosa, pois as informações ao seu respeito estão registradas em poucas fontes, ainda sim, a corrente majoritária dos historiadores acredita que de fato ele foi uma figura histórica. A principal fonte a seu respeito está descrita no diálogo platônico intitulado de Górgias. Nasceu por volta de 483 a.C, na ilha de Egina, região da Arcádia, na Atenas antiga, vindo a falecer aproximadamente, em 405 a.C.

Filosofia Moral

Desenvolveu uma teoria em que abordava a dicotomia existente entre a aristocracia e os escravos. Descrevendo um sistema que apresentava como antagônicos os modos de vida do nobre e do servo. Para Cálicles, os fracos buscam proteção na lei, por isso eles construíram a noção de lei, para que os fracos pudessem se proteger das ações dos fortes. Ele negava a existência de noção da igualdade entre homens, argumentando que essa ideia não estaria vinculada a natureza humana, por isso ele advertia que teria sido da revolta dos fracos contra os fortes que a lei teria surgido. Nesse sentido, a verdadeira justiça seria aquela que se originava das leis da natureza, ou seja, do mundo animal, isto é, a lei do mais forte. Desse modo, ele defendia que era justo que os mais fortes dominassem os mais fracos, e consequentemente, injusto que os fracos resistissem a tal dominação. Segundo Cálicles, a lei seria produto da união de homens fracos, ou seja, uma necessidade de proteção da maioria, ele acreditava que na natureza, seria justo que o mais forte ou o melhor tivesse prevalência sobre o mais o fraco. Para ele, como a lei teria surgido da revolta dos fracos contra os fortes, esse conceito, não seria algo natural do ponto de vista da justiça e do direito natural. Acreditava que “natureza e lei” teriam sentidos opostos, mas que ambos seriam conceituados sob o mesmo ponto de vista. Alegava ainda que as condutas morais e as instituições não teriam sido criações divinas, mas sim produto da concepção humana, que buscava apenas atender seus próprios interesses.

Sua teoria se ancorava nas teses hedonistas, baseando-se no conceito de que o homem forte deveria se guiar apenas pelo prazer, equilibrando força e prazer na direção da felicidade. Dessa maneira, sua filosofia fazia uma relação entre o prazer, à justiça e o bem. Para Sócrates, o filósofo Cálicles deveria escolher uma forma de pensar filosófica, entre a ideia de política e a de retórica, afirmando que a primeira teria certa subordinação aos princípios éticos, enquanto a segunda não teria um valor moral específico, podendo se moldar ao tempo e as circunstâncias dinâmicas, que pudessem surgir em um debate na pólis. Nesse contexto, Sócrates argumentava que, a maioria, quando decidia algo, tornava-se o mais forte, portanto teria a mesma legitimidade para fazer as leis, logo, também são por força da natureza, equivalentes aos homens que são individualmente fortes.

Filosofia do Conhecimento

Ensinava que a vida boa seria aquela, em que o homem dava explicação da sua própria consciência, da melhor forma possível, a si mesmo, ou seja, o homem deveria fazer um autoexame ou autoanálise de sua consciência. Defendia a ideia de que a filosofia só tinha alguma importância até certa idade, sendo inútil discutir temas filosóficos na velhice. Para Cálicles, a filosofia não era útil para a vida política local, pois ela não seria adequada para um homem livre que já tinha seu espírito de consciência formado, devendo ela ser ensinada apenas para os adolescentes que estavam em processo de formação. Desse modo, segundo ele, a filosofia teria uma finalidade apenas educacional, voltada para a formação cidadã. Seu pensamento se dividia entre a filosofia política e a filosofia retórica, nesse sentido, ele entendia que a filosofia política se mostrava dependente da ética. Dissertou a respeito do dualismo existente entre a ideia de “physis” e “nomos”, pontuando certa relação e contradição entre esses conceitos. Estudou os ramos da dialética, da oratória e da retórica, dissertando sobre questões racionais que existiam no discurso. Sofreu duras críticas de Sócrates que afirmava que seu sistema de pensamento ensinava apenas uma retórica simplista e não as virtudes necessárias para formar um bom cidadão da pólis.

Filosofia Sapiencial

+ “A imaginação é um poder mágico”

+ “É da revolta dos fracos contra os fortes que surgiu a lei”.

+ “Os indivíduos superiores deveriam ser os únicos a governar”

+ “Se Sócrates fosse acusado de algum crime, não saberia escapar da morte”.

+ “A democracia é a tirania de muitos medíocres sobre os indivíduos excelentes".

+ “A natureza mostra que o superior governa o inferior e tem uma participação maior do que eles”

+ “A vida boa consiste em que cada um dê satisfação a sua consciência da melhor maneira que consiga”.

+ “A simples superioridade numérica não faz o melhor, os melhores e os mais fortes são os superiores, ou seja, aqueles de melhor entendimento – por natureza, o de melhor entendimento prevalece sobre os inferiores”.

Fontes:

ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Editora Edipro, 2009.

CORDEIRO, Arthur Lopes Campos. A Filosofia, O Pós-Morte e o Mito do Górgias Revista Analysis 30. Minas Gerais: UFMG, 2021.

DINUCCI, Aldo. Górgias: Górgias de Leontinos. São Paulo: Oficina do Livro, 2017.

FILÓSTRATO. Vida dos Sofistas. Madrid: Editora Aguilar, 1973.

GUTHRIE, William. Os sofistas. São Paulo: Paulus, 2007.

 JUNIOR, Wilson Antônio Frezatti. O Valor de um caracol ou o nobre nietzschiano: um elogio a Cálicles?. São Paulo: Cadernos Nietzsche, 2006.

KERFERD. George. O movimento sofista. trad. Margarida Oliva. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

LACROIX, René. Sócrates ou Cálicles: Quem tem medo da justiça? São Paulo: Poliética, 2013.  

PLATÃO. Górgias. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1989.

SOBRINHO, Rubens Garcia. Kósmoa e inteligência: As potências da alma no Górgias. Belo Horizonte: UFMG, 2011.