sábado, 18 de maio de 2024

Cálicles de Egina

Cálicles de Egina – (483 a 405) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da Grécia antiga pertencente à escola de pensamento dos sofistas. Exerceu um importante papel na história do movimento sofista, sendo considerado um dos sofistas mais atuantes de seu tempo. Era tido como um dos principais discípulos de Górgias. Pertencia à aristocracia, e visto como sendo um hábil articulador político. Foi um dos principais opositores de alguns dos pensamentos socráticos. Segundo alguns pesquisadores, a filosofia de Cálicles teria influenciado consideravelmente as ideias de Nietzsche. Era natural de Atenas e pouco se sabe ao seu respeito, embora tenha a sua existência como sendo duvidosa, pois as informações ao seu respeito estão registradas em poucas fontes, ainda sim, a corrente majoritária dos historiadores acredita que de fato ele foi uma figura histórica. A principal fonte a seu respeito está descrita no diálogo platônico intitulado de Górgias. Nasceu por volta de 483 a.C, na ilha de Egina, região da Arcádia, na Atenas antiga, vindo a falecer aproximadamente, em 405 a.C.

Filosofia Moral

Desenvolveu uma teoria em que abordava a dicotomia existente entre a aristocracia e os escravos. Descrevendo um sistema que apresentava como antagônicos os modos de vida do nobre e do servo. Para Cálicles, os fracos buscam proteção na lei, por isso eles construíram a noção de lei, para que os fracos pudessem se proteger das ações dos fortes. Ele negava a existência de noção da igualdade entre homens, argumentando que essa ideia não estaria vinculada a natureza humana, por isso ele advertia que teria sido da revolta dos fracos contra os fortes que a lei teria surgido. Nesse sentido, a verdadeira justiça seria aquela que se originava das leis da natureza, ou seja, do mundo animal, isto é, a lei do mais forte. Desse modo, ele defendia que era justo que os mais fortes dominassem os mais fracos, e consequentemente, injusto que os fracos resistissem a tal dominação. Segundo Cálicles, a lei seria produto da união de homens fracos, ou seja, uma necessidade de proteção da maioria, ele acreditava que na natureza, seria justo que o mais forte ou o melhor tivesse prevalência sobre o mais o fraco. Para ele, como a lei teria surgido da revolta dos fracos contra os fortes, esse conceito, não seria algo natural do ponto de vista da justiça e do direito natural. Acreditava que “natureza e lei” teriam sentidos opostos, mas que ambos seriam conceituados sob o mesmo ponto de vista. Alegava ainda que as condutas morais e as instituições não teriam sido criações divinas, mas sim produto da concepção humana, que buscava apenas atender seus próprios interesses.

Sua teoria se ancorava nas teses hedonistas, baseando-se no conceito de que o homem forte deveria se guiar apenas pelo prazer, equilibrando força e prazer na direção da felicidade. Dessa maneira, sua filosofia fazia uma relação entre o prazer, à justiça e o bem. Para Sócrates, o filósofo Cálicles deveria escolher uma forma de pensar filosófica, entre a ideia de política e a de retórica, afirmando que a primeira teria certa subordinação aos princípios éticos, enquanto a segunda não teria um valor moral específico, podendo se moldar ao tempo e as circunstâncias dinâmicas, que pudessem surgir em um debate na pólis. Nesse contexto, Sócrates argumentava que, a maioria, quando decidia algo, tornava-se o mais forte, portanto teria a mesma legitimidade para fazer as leis, logo, também são por força da natureza, equivalentes aos homens que são individualmente fortes.

Filosofia do Conhecimento

Ensinava que a vida boa seria aquela, em que o homem dava explicação da sua própria consciência, da melhor forma possível, a si mesmo, ou seja, o homem deveria fazer um autoexame ou autoanálise de sua consciência. Defendia a ideia de que a filosofia só tinha alguma importância até certa idade, sendo inútil discutir temas filosóficos na velhice. Para Cálicles, a filosofia não era útil para a vida política local, pois ela não seria adequada para um homem livre que já tinha seu espírito de consciência formado, devendo ela ser ensinada apenas para os adolescentes que estavam em processo de formação. Desse modo, segundo ele, a filosofia teria uma finalidade apenas educacional, voltada para a formação cidadã. Seu pensamento se dividia entre a filosofia política e a filosofia retórica, nesse sentido, ele entendia que a filosofia política se mostrava dependente da ética. Dissertou a respeito do dualismo existente entre a ideia de “physis” e “nomos”, pontuando certa relação e contradição entre esses conceitos. Estudou os ramos da dialética, da oratória e da retórica, dissertando sobre questões racionais que existiam no discurso. Sofreu duras críticas de Sócrates que afirmava que seu sistema de pensamento ensinava apenas uma retórica simplista e não as virtudes necessárias para formar um bom cidadão da pólis.

Filosofia Sapiencial

+ “A imaginação é um poder mágico”

+ “É da revolta dos fracos contra os fortes que surgiu a lei”.

+ “Os indivíduos superiores deveriam ser os únicos a governar”

+ “Se Sócrates fosse acusado de algum crime, não saberia escapar da morte”.

+ “A democracia é a tirania de muitos medíocres sobre os indivíduos excelentes".

+ “A natureza mostra que o superior governa o inferior e tem uma participação maior do que eles”

+ “A vida boa consiste em que cada um dê satisfação a sua consciência da melhor maneira que consiga”.

+ “A simples superioridade numérica não faz o melhor, os melhores e os mais fortes são os superiores, ou seja, aqueles de melhor entendimento – por natureza, o de melhor entendimento prevalece sobre os inferiores”.

Fontes:

ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Editora Edipro, 2009.

CORDEIRO, Arthur Lopes Campos. A Filosofia, O Pós-Morte e o Mito do Górgias Revista Analysis 30. Minas Gerais: UFMG, 2021.

DINUCCI, Aldo. Górgias: Górgias de Leontinos. São Paulo: Oficina do Livro, 2017.

FILÓSTRATO. Vida dos Sofistas. Madrid: Editora Aguilar, 1973.

GUTHRIE, William. Os sofistas. São Paulo: Paulus, 2007.

 JUNIOR, Wilson Antônio Frezatti. O Valor de um caracol ou o nobre nietzschiano: um elogio a Cálicles?. São Paulo: Cadernos Nietzsche, 2006.

KERFERD. George. O movimento sofista. trad. Margarida Oliva. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

LACROIX, René. Sócrates ou Cálicles: Quem tem medo da justiça? São Paulo: Poliética, 2013.  

PLATÃO. Górgias. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1989.

SOBRINHO, Rubens Garcia. Kósmoa e inteligência: As potências da alma no Górgias. Belo Horizonte: UFMG, 2011. 

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