Cálicles de Egina – (483 a 405) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo da Grécia antiga pertencente à escola de pensamento dos
sofistas. Exerceu um importante papel na história do movimento sofista, sendo
considerado um dos sofistas mais atuantes de seu tempo. Era tido como um dos
principais discípulos de Górgias. Pertencia à aristocracia, e visto como sendo
um hábil articulador político. Foi um dos principais opositores de alguns dos
pensamentos socráticos. Segundo alguns pesquisadores, a filosofia de Cálicles
teria influenciado consideravelmente as ideias de Nietzsche. Era natural de
Atenas e pouco se sabe ao seu respeito, embora tenha a sua existência como
sendo duvidosa, pois as informações ao seu respeito estão registradas em poucas
fontes, ainda sim, a corrente majoritária dos historiadores acredita que de
fato ele foi uma figura histórica. A principal fonte a seu respeito está
descrita no diálogo platônico intitulado de Górgias. Nasceu por volta de 483
a.C, na ilha de Egina, região da Arcádia, na Atenas antiga, vindo a falecer
aproximadamente, em 405 a.C.
Filosofia Moral
Desenvolveu uma teoria em que abordava a dicotomia existente entre a
aristocracia e os escravos. Descrevendo um sistema que apresentava como
antagônicos os modos de vida do nobre e do servo. Para Cálicles, os fracos
buscam proteção na lei, por isso eles construíram a noção de lei, para que os
fracos pudessem se proteger das ações dos fortes. Ele negava a existência de
noção da igualdade entre homens, argumentando que essa ideia não estaria
vinculada a natureza humana, por isso ele advertia que teria sido da revolta
dos fracos contra os fortes que a lei teria surgido. Nesse sentido, a
verdadeira justiça seria aquela que se originava das leis da natureza, ou seja,
do mundo animal, isto é, a lei do mais forte. Desse modo, ele defendia que era
justo que os mais fortes dominassem os mais fracos, e consequentemente, injusto
que os fracos resistissem a tal dominação. Segundo Cálicles, a lei seria
produto da união de homens fracos, ou seja, uma necessidade de proteção da
maioria, ele acreditava que na natureza, seria justo que o mais forte ou o
melhor tivesse prevalência sobre o mais o fraco. Para ele, como a lei teria
surgido da revolta dos fracos contra os fortes, esse conceito, não seria algo
natural do ponto de vista da justiça e do direito natural. Acreditava que “natureza
e lei” teriam sentidos opostos, mas que ambos seriam conceituados sob o mesmo
ponto de vista. Alegava ainda que as condutas morais e as instituições não
teriam sido criações divinas, mas sim produto da concepção humana, que buscava
apenas atender seus próprios interesses.
Sua teoria se ancorava nas teses hedonistas, baseando-se no conceito de
que o homem forte deveria se guiar apenas pelo prazer, equilibrando força e
prazer na direção da felicidade. Dessa maneira, sua filosofia fazia uma relação
entre o prazer, à justiça e o bem. Para Sócrates, o filósofo Cálicles deveria
escolher uma forma de pensar filosófica, entre a ideia de política e a de
retórica, afirmando que a primeira teria certa subordinação aos princípios
éticos, enquanto a segunda não teria um valor moral específico, podendo se
moldar ao tempo e as circunstâncias dinâmicas, que pudessem surgir em um debate na pólis.
Nesse contexto, Sócrates argumentava que, a maioria, quando decidia algo, tornava-se
o mais forte, portanto teria a mesma legitimidade para fazer as leis, logo,
também são por força da natureza, equivalentes aos homens que são
individualmente fortes.
Filosofia do Conhecimento
Ensinava que a vida boa seria aquela, em que o homem dava explicação da
sua própria consciência, da melhor forma possível, a si mesmo, ou seja, o homem
deveria fazer um autoexame ou autoanálise de sua consciência. Defendia a ideia
de que a filosofia só tinha alguma importância até certa idade, sendo inútil
discutir temas filosóficos na velhice. Para Cálicles, a filosofia não era útil
para a vida política local, pois ela não seria adequada para um homem livre que
já tinha seu espírito de consciência formado, devendo ela ser ensinada apenas
para os adolescentes que estavam em processo de formação. Desse modo, segundo
ele, a filosofia teria uma finalidade apenas educacional, voltada para a
formação cidadã. Seu pensamento se dividia entre a filosofia política e a
filosofia retórica, nesse sentido, ele entendia que a filosofia política se
mostrava dependente da ética. Dissertou a respeito do dualismo existente entre
a ideia de “physis” e “nomos”, pontuando certa relação e
contradição entre esses conceitos. Estudou os ramos da dialética, da oratória e
da retórica, dissertando sobre questões racionais que existiam no discurso. Sofreu
duras críticas de Sócrates que afirmava que seu sistema de pensamento ensinava
apenas uma retórica simplista e não as virtudes necessárias para formar um bom
cidadão da pólis.
Filosofia Sapiencial
+ “A imaginação é um poder mágico”
+ “É da revolta dos fracos contra os fortes que surgiu a lei”.
+ “Os indivíduos superiores deveriam ser os únicos a governar”
+ “Se Sócrates fosse acusado de algum crime, não saberia escapar da
morte”.
+ “A democracia é a tirania de muitos medíocres sobre os indivíduos
excelentes".
+ “A natureza mostra que o superior governa o inferior e tem uma
participação maior do que eles”
+ “A vida boa consiste em que cada um dê satisfação a sua consciência da
melhor maneira que consiga”.
+ “A simples superioridade numérica não faz o melhor, os melhores e os
mais fortes são os superiores, ou seja, aqueles de melhor entendimento – por
natureza, o de melhor entendimento prevalece sobre os inferiores”.
Fontes:
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Editora Edipro, 2009.
CORDEIRO, Arthur Lopes Campos. A Filosofia, O Pós-Morte e o Mito do
Górgias Revista Analysis 30. Minas Gerais: UFMG, 2021.
DINUCCI, Aldo. Górgias: Górgias de Leontinos. São Paulo: Oficina
do Livro, 2017.
FILÓSTRATO. Vida dos Sofistas. Madrid: Editora Aguilar, 1973.
GUTHRIE, William. Os sofistas. São Paulo: Paulus, 2007.
JUNIOR, Wilson Antônio Frezatti. O
Valor de um caracol ou o nobre nietzschiano: um elogio a Cálicles?. São
Paulo: Cadernos Nietzsche, 2006.
KERFERD. George. O movimento sofista. trad. Margarida Oliva. São
Paulo: Edições Loyola, 2003.
LACROIX, René. Sócrates ou Cálicles: Quem tem medo da justiça? São
Paulo: Poliética, 2013.
PLATÃO. Górgias. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1989.
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