sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Juvenal Galeno

Juvenal Galeno – (1836 a 1931) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Juvenal Galeno da Costa e Silva - Foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento da Filosofia Folclorista. Utilizou-se da literatura para comunicar sua obra, tendo seguido por uma veia artística e poética. Iniciou seus primeiros estudos na cidade de Pacatuba, deslocando-se de maneira nômade, por várias regiões alencarinas, peregrinando entre as cidades de Aracati, Fortaleza e a Serra da Aratanha, adquirindo, durante essas andanças, saberes linguísticos, agrícolas e filosóficos. Nesse decurso, estudou no Liceu do Ceará, apresentando-se no curso de humanidades. Migrou para o Rio de Janeiro com a finalidade de aprimorar seus conhecimentos sobre agronomia e a cultura do café, mas acabou conhecendo grandes pensadores, como Gonçalves Dias e Machado de Assis, momento que lançou seus primeiros trabalhos literários. Retornou ao Ceará e assumiu o cargo de alferes da Guarda Nacional, passando, então, a dedicar-se ainda mais, ao universo cultural. Laborou como Inspetor Escolar, Deputado Estadual, Teatrólogo e Diretor da Biblioteca Pública do Ceará. É considerado patrono da cadeira 23 da Academia Cearense de Letras. Participou como um dos membros-fundadores do Instituto Histórico do Ceará.

Sofreu de um severo glaucoma que dificultou suas atividades laborativas, mesmo assim, contornou esses impasses, seguindo firme em seus trabalhos. Seu pai era o senhor José Antônio da Costa e Silva e sua mãe a senhora Maria do Carmo Teófilo e Silva. Também era primo pelo lado paterno de Capistrano de Abreu e Clóvis Beviláqua e pelo lado materno de Rodolfo Teófilo. Nasceu em Fortaleza, em 27 de setembro de 1836, tendo falecido no dia 7 de março de 1931, na sua cidade natal, vitimado por uma Uremia. Atualmente, a casa de Juvenal Galeno é uma instituição cultural mantida pelo governo local. Recebeu, em sua homenagem, o nome de ruas, praças, escolas e centros culturais.

Filosofia Popular

Sua primeira obra, “Prelúdios Poéticos”, é tida, por alguns estudiosos, como o marco inicial do romantismo no Ceará. Visto como um dos primeiros poetas cearenses, ele também foi considerado um dos iniciadores do uso do folclore no Nordeste. Principiou-se por uma veia do romantismo, tendo também sofrido influência do parnasianismo, contudo desprendeu-se dessas ascendências, transmutando-se de forma mais autêntica, por uma linha popular. Cantou o regionalismo de sua gente, trovando sentimentos puros das pessoas simples, expressando a inocência e o heroísmo, transitando entre uma veia sensitiva e outra realista. Comunicou, em seus textos, boa parte da cultura nordestina, descrevendo lendas, costumes, crendices, folguedos, vivências, bem como também, a bravura do povo. Sistematizou um sincretismo cultural entre os habitantes das serras, do sertão e do litoral, enaltecendo, em sua poesia, as alegrias e tristezas, da população humilde que vivia em situações sociais desfavoráveis, como o sertanejo da área rural e o pescador do litoral, ambos trabalhadores que labutavam seu sustento, lutando contra as intempéries da natureza. Nesse contexto, ele reverberou certa vez:

“Escrevi minha obra acompanhando o povo no trabalho, no lar, na política, na vida particular e pública, na praia, na montanha e no sertão, onde ouvi os seus cantos e os reproduzi, ampliei sem desprezar a frase singela, a palavra de seu dialeto, a sua metrificação e até o seu próprio verso”. (JUVENAL GALENO).

 

Filosofia Política

Fez da literatura uma árdua missão educadora, sendo um dos promotores do projeto civilizatório brasileiro que ambicionava elevar o país, ao posto de nação, buscando formar um capital humano e intelectual que pudesse impulsionar a independência do Brasil. Apropriou-se da literatura, da cultura e da educação como ferramentas de apoio para a formação desse ideário. Utilizou o universo da palavra como arma de combate contra as injustiças sociais, denunciando os abusos autoritários que eram praticados. Alguns de seus versos possuem um tom irônico, que objetivava desvelar as contradições sociais, econômicas e morais, de seu tempo. Criticava a desigualdade que existia na sociedade, pontuando que, ao mesmo tempo, em que os vaqueiros sertanejos, os pescadores jangadeiros e os escravos eram explorados na sua força de trabalho, grande parte da elite urbana e rural, deleitava-se no luxo, esbanjando seu capital, não pelo trabalho, mas sim através de vícios morais, como a corrupção e as injustiças.

Participou do movimento abolicionista, empregando sua poesia como instrumento político e social. Colaborando ativamente, em vários periódicos da época, como na revista a “Quinzena” e o “Libertador”, ambos periódicos ligados ao movimento abolicionista do Ceará. Como Deputado, tomou posse pelo partido Liberal, chegando a defender um projeto que tratava sobre a criação de uma “Escola Prática de Agricultura”.

Filosofia Sapiencial

+ “Homens das leis...brasileiros, salvai do opróbrio a nação!”

+ “Quereis a felicidade? pois não custa consegui-la: Sede bom e caridoso, que tereis vida tranquila”.

+ “Seja a vida má ou boa, cada qual cumpre seu fado, os ares para quem voa, o sertão pra criar gado”.

+ “Jangadeiro, jangadeiro, que fazes cantando assim, embalado pelas vagas no seio do mar sem fim?”

+ ‘‘Ai amor, por ti eu parto, por ti, amor, voltarei...Quanto amor levo pros mares, nas praias quanto deixei!’’

+ “Eia, as lidas! Que o estudo nos ilustra e dá vigor! Eia, avante, a luz divina, que nas trevas geme a dor”.

+ “O lar é sempre mansão, que o Céu garante e ilumina, dentro da qual toda mãe, é um anjo da Luz Divina”.

+ “Quando a paixão toma vulto, em qualquer causa do mundo, o juízo das pessoas, sai pela porta do fundo”.

+ “Poeta nasci, foi sorte cantando a vida passar, como a cigarra da serra, que canta até rebentar, por isso até na velhice, nunca deixei de trovar”.

+ “Após as dores me vias, brincando ledo e feliz o ‘tempo será’, e outros, brinquedos que eu tanto quis. Depois, cismando a teu lado, em muito verso que fiz, cajueiro pequenino, me vias brincar feliz”.

Fatos e Curiosidades:

Relata-se que, em certa ocasião, teria chegado a Fortaleza, uma comissão científica de exploração, tendo como membro o poeta Gonçalves Dias. Após manter contato com Juvenal, todos decidem sair para uma confraternização. Porém Galeno deixou de se apresentar ao batalhão do exército, ao qual pertencia, para uma revista que ele teria sido convocado. Então, um comandante da Guarda Nacional de sobrenome “Machado”, teria ficado insatisfeito, solicitando o recolhimento de Juvenal a prisão, pelo descrito incidente. Posteriormente, Galeno publicou um poema, satirizando seu superior e narrando ironicamente o fato apresentado, dando o título de “A Machadada”, ao episódio, fazendo referência e contestação, ao drama sofrido.

Conta-se que, após ficar com sua visão comprometida, Galeno continuou a produzir sua obra, recitando suas poesias, que eram anotadas pela sua filha e por sua esposa. Ainda em vida, Juvenal teria recebido, em sua residência, a visita de vários intelectuais, que realizavam eventos literários e culturais, utilizando os salões, de sua casa, como palco para as apresentações.

Obras:

Prelúdios Poéticos; A Machadada; Quem com ferro fere, com ferro será ferido; Porangaba; Lendas e Canções Populares; Canções de Escola; Lira Cearense; Folhetins de Silvanus; Cenas populares; Medicina Caseira; Senhor das Caças; O cearense.

Fontes:

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1957.

ANDRADE FILHO, João Batista. Juvenal Galeno e suas canções populares: reflexo do propósito educacional romântico sob os auspícios do espiritualismo eclético (1836 – 1889). Tese de Doutorado. Fortaleza: UFC, 2016.

BOSI, Alfredo. A História Concisa da Literatura brasileira. 2ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1976.

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Martins, 1969.

COELHO, Milena Marques. Ao modo de paris: percepção do Folhetins de Silvanus sobre as modificações urbanas e sociais da cidade de Fortaleza. (1860-1890). XXVII Simpósio Nacional de História. Natal: ANPUH, 2013.

GALENO, Juvenal. Cenas Populares. Fortaleza: Secretaria da Cultura, 2010.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

MONTENEGRO, Braga. Evolução e Natureza do Conto Cearense: Uma Antologia do conto cearense. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1965.

NETTO, Raymundo. Cronologia comentada de Juvenal Galeno. Col. Nossa Cultura. Fortaleza: Comercial, 2010.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.