Juvenal Galeno – (1836 a 1931) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Juvenal Galeno da Costa e Silva - Foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento da
Filosofia Folclorista. Utilizou-se da literatura para comunicar sua obra, tendo
seguido por uma veia artística e poética. Iniciou seus primeiros estudos na
cidade de Pacatuba, deslocando-se de maneira nômade, por várias regiões
alencarinas, peregrinando entre as cidades de Aracati, Fortaleza e a Serra da
Aratanha, adquirindo, durante essas andanças, saberes linguísticos, agrícolas e
filosóficos. Nesse decurso, estudou no Liceu do Ceará, apresentando-se no curso
de humanidades. Migrou para o Rio de Janeiro com a finalidade de aprimorar seus
conhecimentos sobre agronomia e a cultura do café, mas acabou conhecendo
grandes pensadores, como Gonçalves Dias e Machado de Assis, momento que lançou
seus primeiros trabalhos literários. Retornou ao Ceará e assumiu o cargo de
alferes da Guarda Nacional, passando, então, a dedicar-se ainda mais, ao
universo cultural. Laborou como Inspetor Escolar, Deputado Estadual, Teatrólogo
e Diretor da Biblioteca Pública do Ceará. É considerado patrono da cadeira 23
da Academia Cearense de Letras. Participou como um dos membros-fundadores do
Instituto Histórico do Ceará.
Sofreu de um severo glaucoma que dificultou suas atividades laborativas,
mesmo assim, contornou esses impasses, seguindo firme em seus trabalhos. Seu
pai era o senhor José Antônio da Costa e Silva e sua mãe a senhora Maria do
Carmo Teófilo e Silva. Também era primo pelo lado paterno de Capistrano de
Abreu e Clóvis Beviláqua e pelo lado materno de Rodolfo Teófilo. Nasceu em
Fortaleza, em 27 de setembro de 1836, tendo falecido no dia 7 de março de 1931,
na sua cidade natal, vitimado por uma Uremia. Atualmente, a casa de Juvenal
Galeno é uma instituição cultural mantida pelo governo local. Recebeu, em sua
homenagem, o nome de ruas, praças, escolas e centros culturais.
Filosofia Popular
Sua primeira obra, “Prelúdios Poéticos”, é tida, por alguns estudiosos,
como o marco inicial do romantismo no Ceará. Visto como um dos primeiros poetas
cearenses, ele também foi considerado um dos iniciadores do uso do folclore no Nordeste.
Principiou-se por uma veia do romantismo, tendo também sofrido influência do
parnasianismo, contudo desprendeu-se dessas ascendências, transmutando-se de
forma mais autêntica, por uma linha popular. Cantou o regionalismo de sua
gente, trovando sentimentos puros das pessoas simples, expressando a inocência
e o heroísmo, transitando entre uma veia sensitiva e outra realista. Comunicou,
em seus textos, boa parte da cultura nordestina, descrevendo lendas, costumes,
crendices, folguedos, vivências, bem como também, a bravura do povo. Sistematizou
um sincretismo cultural entre os habitantes das serras, do sertão e do litoral,
enaltecendo, em sua poesia, as alegrias e tristezas, da população humilde que
vivia em situações sociais desfavoráveis, como o sertanejo da área rural e o
pescador do litoral, ambos trabalhadores que labutavam seu sustento, lutando
contra as intempéries da natureza. Nesse contexto, ele reverberou certa vez:
“Escrevi minha obra acompanhando o povo no
trabalho, no lar, na política, na vida particular e pública, na praia, na
montanha e no sertão, onde ouvi os seus cantos e os reproduzi, ampliei sem
desprezar a frase singela, a palavra de seu dialeto, a sua metrificação e até o
seu próprio verso”. (JUVENAL GALENO).
Filosofia Política
Fez da literatura uma árdua missão educadora, sendo um dos promotores do
projeto civilizatório brasileiro que ambicionava elevar o país, ao posto de
nação, buscando formar um capital humano e intelectual que pudesse impulsionar
a independência do Brasil. Apropriou-se da literatura, da cultura e da educação
como ferramentas de apoio para a formação desse ideário. Utilizou o universo da
palavra como arma de combate contra as injustiças sociais, denunciando os
abusos autoritários que eram praticados. Alguns de seus versos possuem um tom
irônico, que objetivava desvelar as contradições sociais, econômicas e morais,
de seu tempo. Criticava a desigualdade que existia na sociedade, pontuando que,
ao mesmo tempo, em que os vaqueiros sertanejos, os pescadores jangadeiros e os
escravos eram explorados na sua força de trabalho, grande parte da elite urbana
e rural, deleitava-se no luxo, esbanjando seu capital, não pelo trabalho, mas
sim através de vícios morais, como a corrupção e as injustiças.
Participou do movimento abolicionista, empregando sua poesia como
instrumento político e social. Colaborando ativamente, em vários periódicos da
época, como na revista a “Quinzena” e o “Libertador”, ambos periódicos ligados
ao movimento abolicionista do Ceará. Como Deputado, tomou posse pelo partido
Liberal, chegando a defender um projeto que tratava sobre a criação de uma “Escola
Prática de Agricultura”.
Filosofia Sapiencial
+ “Homens das leis...brasileiros, salvai do opróbrio a nação!”
+ “Quereis a felicidade? pois não custa consegui-la: Sede bom e
caridoso, que tereis vida tranquila”.
+ “Seja a vida má ou boa, cada qual cumpre seu fado, os ares para quem
voa, o sertão pra criar gado”.
+ “Jangadeiro, jangadeiro, que fazes cantando assim, embalado pelas
vagas no seio do mar sem fim?”
+ ‘‘Ai amor, por ti eu parto, por ti, amor,
voltarei...Quanto amor levo pros mares, nas praias quanto deixei!’’
+ “Eia, as lidas! Que o estudo nos ilustra e dá vigor! Eia, avante, a
luz divina, que nas trevas geme a dor”.
+ “O lar é sempre mansão, que o Céu garante e ilumina, dentro da qual
toda mãe, é um anjo da Luz Divina”.
+ “Quando a paixão toma vulto, em qualquer causa do mundo, o juízo das
pessoas, sai pela porta do fundo”.
+ “Poeta nasci, foi sorte cantando a vida passar, como a cigarra da
serra, que canta até rebentar, por isso até na velhice, nunca deixei de trovar”.
+ “Após as dores me vias, brincando ledo e feliz o ‘tempo será’, e outros, brinquedos que eu tanto quis. Depois, cismando a teu lado, em muito verso que fiz, cajueiro pequenino, me vias brincar feliz”.
Fatos e Curiosidades:
Relata-se que, em certa ocasião, teria chegado a Fortaleza, uma comissão
científica de exploração, tendo como membro o poeta Gonçalves Dias. Após manter
contato com Juvenal, todos decidem sair para uma confraternização. Porém Galeno
deixou de se apresentar ao batalhão do exército, ao qual pertencia, para uma
revista que ele teria sido convocado. Então, um comandante da Guarda Nacional
de sobrenome “Machado”, teria ficado insatisfeito, solicitando o recolhimento
de Juvenal a prisão, pelo descrito incidente. Posteriormente, Galeno publicou
um poema, satirizando seu superior e narrando ironicamente o fato apresentado,
dando o título de “A Machadada”, ao episódio, fazendo referência e contestação,
ao drama sofrido.
Conta-se que, após ficar com sua visão comprometida, Galeno continuou a produzir sua obra, recitando suas poesias, que eram anotadas pela sua filha e por sua esposa. Ainda em vida, Juvenal teria recebido, em sua residência, a visita de vários intelectuais, que realizavam eventos literários e culturais, utilizando os salões, de sua casa, como palco para as apresentações.
Obras:
Prelúdios Poéticos; A Machadada; Quem com ferro fere, com ferro será
ferido; Porangaba; Lendas e Canções Populares; Canções de Escola; Lira Cearense;
Folhetins de Silvanus; Cenas populares; Medicina Caseira; Senhor das Caças; O
cearense.
Fontes:
AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica.
Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do
Ceará,1957.
ANDRADE FILHO, João Batista. Juvenal Galeno e suas canções populares:
reflexo do propósito educacional romântico sob os auspícios do espiritualismo
eclético (1836 – 1889). Tese de Doutorado. Fortaleza: UFC, 2016.
BOSI, Alfredo. A História Concisa da Literatura brasileira. 2ª
ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1976.
CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo:
Editora Martins, 1969.
COELHO, Milena Marques. Ao modo de paris: percepção do Folhetins de
Silvanus sobre as modificações urbanas e sociais da cidade de Fortaleza.
(1860-1890). XXVII Simpósio Nacional de História. Natal: ANPUH, 2013.
GALENO, Juvenal. Cenas Populares. Fortaleza: Secretaria da
Cultura, 2010.
GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.
MONTENEGRO, Braga. Evolução e Natureza do Conto Cearense: Uma Antologia
do conto cearense. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1965.
NETTO, Raymundo. Cronologia comentada de Juvenal Galeno. Col.
Nossa Cultura. Fortaleza: Comercial, 2010.
STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense.
Fortaleza: Tipografia, 1910.
Nenhum comentário:
Postar um comentário