Gregório de Matos – (1636 a 1695) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Gregório de Matos Guerra - Foi um filósofo luso-brasileiro ligado as correntes de pensamento da
Filosofia da Arte. Pode ser descrito como um pensador que trilhou sua obra
entre as linhas do asteísmo e do esteticismo. Utilizou-se da literatura para
representar sua obra, tendo seguido pelos caminhos do barroco e da poesia
lírico-filosófica. É considerado patrono da cadeira de número 16 da Academia
Brasileira de Letras. Floresceu no período da História do Brasil compreendido
como período colonial. A princípio ele teria cursado Humanidades no colégio dos
jesuítas de Salvador, tendo migrado depois para Coimbra, em Portugal, onde
concluiu o curso de Ciências Jurídicas. Atuou inicialmente como escritor e
magistrado, laborando nas funções de curador de órfãos e juiz criminal, em
Portugal, tendo posteriormente regressado ao Brasil e assumido as atividades de
vigário-geral e tesoureiro-mor. Recebeu o apelido de “boca do inferno”, devido
aos comentários sarcásticos que ele fazia para a sociedade dirigente da época. Era
filho do senhor Gregório de Matos com a senhora Maria de Guerra. Nasceu na
cidade de Salvador, em 23 de dezembro de 1636. Faleceu em Recife, por volta do
dia 26 de novembro de 1695, vitimado por uma forte febre.
Filosofia Literária
Recebeu o título de primeiro grande poeta brasileiro, tendo sua poesia sido
representada como a maior expressão do Barroco literário brasileiro. Outros
pesquisadores o configuram como o verdadeiro “iniciador da literatura
brasileira”. Recorria a poesia para realizar duras críticas aos alvos de seus
versos satíricos. Empregou outros formatos literários como a trova e os sonetos,
valendo-se de antíteses e paradoxos. Sua marca ficou caracterizada por um humor
ácido, porém ele também escreveu versos que possuíam um tom amoroso e
religioso. Nessa visão, sua obra compreende os aspectos da poesia lírica,
sacra, satírica, elogiosa e erótica. Além disso, teria retratado fatos
culturais da sociedade baiana. Misturou elementos humanistas com conceitos
classicistas na sua veia lírico-filosófica. Dessa forma, utilizou a razão para
trabalhar conteúdos e formas. Na vertente sacra, ele teria falado a respeito da
fragilidade humana e das transgressões religiosas, pontuando um certo temor em
relação a morte e ao castigo eterno. Ademais, é possível identificar, em sua
obra, tipificações relacionadas ao cultismo, fusionismo e conceptismos.
Filosofia Política
Embora não tenha participado ativamente no campo político, foi apontado como um criticista político-social, tendo contestado quase todos que faziam parte do sistema dominante de seu tempo. Segundo os pesquisadores, devido sua língua virulenta, ele teria feito muitos inimigos. Desse modo, por conta dessas duras críticas às autoridades da Bahia, foi deportado para Angola, na África. Entre os alvos de suas reprimendas estavam o clero, a nobreza, o governo, os colonizadores e os colonizados. Atacava principalmente as corrupções políticas e os vícios morais. Enquanto esteve exilado, ajudou o governo de Luanda a combater uma conspiração política local. Sua obra foi considerada subversiva por se utilizar do discurso humorístico para dissimular suas contestações e agravos, contra os seus adversários. Fez de suas habilidades discursivas um forte instrumento de poder. Na sua poesia erótica, vislumbrava combater o conservadorismo brasileiro que estaria, na sua visão, eivado de um falso puritanismo. Nessa perspectiva, sua obra buscou revelar e denunciar as contradições da sociedade de seu tempo. Apontando os vícios dos poderosos, ridicularizando os falsos moralistas, atacando os dogmas e os “bons costumes”.
Filosofia Sapiencial
+ “Para os bons sou inferno e para os maus paraíso”
+ "Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz,
por que não dura?"
+ “No Brasil, o honesto é pobre, o ocioso triunfa, e o incompetente é
quem manda”.
+ “Aqui eles se justificam mentindo com pretextos enganosos, e com
rodeios fingidos.”
+ “Parti, coração, parti, navegai sem vos deter, ide-vos, minhas
saudades, a meu amor socorrer”.
+ “Eu sou aquele, que passados anos cantei na minha lira maldizente
torpezas do Brasil, vícios, e enganos”
+ “A vós, lado patente, quero unir-me, a vós, cravos preciosos, quero
atar-me, para ficar unido, atado e firme”.
+ “Todos somos ruins, todos perversos, só os distingue o vício e a
virtude, de que uns são comensais, outros adversos.”
+ “Não cantes mais que a morte lisonjeias; esconde a voz e esconderás a
vida, que em ti não se vê mais que a voz que canta”.
+ “O todo sem a parte não é todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se
a parte o faz todo sendo parte, Não se diga que é parte, sendo todo”.
+ “Ícaro foste, que atrevidamente, te remontaste à esfera da Luz pura, de
onde te arrojou teu voo ardente. Fiar no sol é irracional loucura; porque nesse
brandão dos céus luzente, falta a razão, se sobra a formosura”.
+ "O Fidalgo de solar se dá por envergonhado de um tostão pedir
prestado para o ventre sustentar: diz, que antes o quer furtar por manter a
negra honra, que passar pela desonra, de que lhe neguem talvez; mas se o virdes
nas galés com honras de Vice-Rei, esta é a justiça, que manda El-Rei."
+ "Os letrados peralvilhos citando o mesmo doutor. a fazer de Réu,
o Autor, comem de ambos os carrilhos: se se diz pelos carrilhos sua
prevaricação, a desculpa, que lhe dão, é a honra de seus parentes e entonces os
requerentes, fogem desta infame grei: esta é a justiça, que manda El-Rei."
+ "Que falta nesta cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha Vergonha. (…) E que justiça a resguarda? Bastarda. É grátis distribuída? Vendida! Quem tem, que a todos assusta? Injusta. Valha-nos Deus, o que custa, O que El-Rei nos dá de graça, Que anda a justiça na praça Bastarda, Vendida, Injusta."
Obras:
Conquanto exista uma série de compilações que revelam sua obra, seus textos eram manuscritos e distribuídos de maneira furtiva, apenas entre seus leitores. Não houve publicações oficiais durante sua vida, tendo sido realizada a primeira publicação de sua obra no século XX, pela Academia Brasileira de Letras. Acredita-se que ele tenha produzido mais de setecentos textos sobre os mais variados temas.
Fontes:
BANDEIRA, Manuel. Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial.
Rio de Janeiro: MEC/INL, 1951.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São
Paulo: Editora Cultrix, 2015.
CALMON, Pedro. A vida Espantosa de Gregório de Mattos. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1983.
CAMPOS, Haroldo de. O sequestro do Barroco na formação da literatura
brasileira: o caso Gregório de Matos. Salvador: FCJA, 2011.
GONZAGA, Sergius. Manual de Literatura Brasileira. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1993.
JÚNIOR, Araripe. Gregório de Matos. Rio de Janeiro: s/ed., 1894.
MATOS, Gregório de. Seleção de Obras Poéticas. São Paulo:
Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro. Bibvirt/ USP, acesso em 2025.
MOISÉS Massau. A Literatura Brasileira através dos textos. São
Paulo: Editora Cultrix, 2012.
REALE, Miguel. Figuras da Inteligência Brasileira. São Paulo:
Siciliano, 1994.
ROCHA Peres, Fernando da. Gregório de Matos. Nova Iorque: Editora
Macmillan, 1989.
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