quinta-feira, 24 de julho de 2025

Padre Ibiapina

Padre Ibiapina - (1806 a 1883) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

José Antônio de Maria Ibiapina Foi um filósofo cearense pertencente as correntes de pensamentos teopolíticas. Antecipou as concepções filosóficas que mais tarde influenciaram o surgimento da chamada “teologia da libertação”. Atuou como professor, político, jurista, sacerdote, missionário e filósofo. Começou seus primeiros estudos na cidade de Icó, posteriormente migrou para o Crato e depois para a localidade de Jardim, onde estudou latim com o mestre Joaquim Teotônio Sobreira de Melo. Ingressou inicialmente no seminário de Olinda, mas logo teve que abandonar o curso, pois sua mãe teria falecido prematuramente e seu pai foi executado, após participar de um movimento político. Diante das dificuldades, resolveu ingressar na faculdade de Direito de Olinda, onde deu início as suas carreiras jurídicas. Exerceu diversas profissões antes de se firmar sacerdote, abandonando as carreiras jurídicas e políticas para se tornar um missionário. Recusou diversos títulos e cargos para se dedicar ao sacerdócio.

Considerado o “Apóstolo do Nordeste”, ele ficou conhecido como o “Padre Mestre Ibiapina”. Recebeu esse cognome Ibiapina de seu pai, em homenagem ao local de casamento do seu genitor. Chegou também a mudar um de seus sobrenomes, que antes era Pereira, trocando para o sobrenome de Maria. Contudo, algumas fontes históricas preferem transcrever seu nome anexando os dois adnomes, ficando, então, “José Antônio Maria de Pereira Ibiapina”. Era filho do senhor Francisco Miguel Pereira com a senhora Teresa Maria. O Padre Ibiapina nasceu em 5 de agosto de 1806, em Sobral e faleceu em 19 de fevereiro de 1883, na cidade de Solânea, na Paraíba. Vitimado por um derrame, fruto de uma paralisia progressiva dos membros inferiores. Recebeu o título de venerável pela igreja católica, bem como também, foi homenageado com o nome de várias ruas, bairros, escolas e fundações, por várias regiões do Brasil.

Filosofia Teopolítica

Utilizou sua veia política e sacerdotal para atuar como missionário. A Igreja Católica o nomeou para o cargo de Visitador Diocesano, com a missão de supervisionar algumas atividades da Igreja. Foi eleito Deputado Geral e após abandonar a carreira política, passou a peregrinar pelos estados do Nordeste com a missão de realizar a caridade. Dedicou-se a rezar, meditar, estudar teologia e filosofia. Realizou inúmeras atividade sociais em prol das comunidades rurais, fundando diversas casas de caridade que eram utilizadas por pessoas em situação de vulnerabilidade. Organizou missões, construiu capelas, igrejas, açudes, cacimbas, poços, reservatórios, cemitérios e hospitais pelos sertões do Nordeste. Percorria o sertão inóspito de forma itinerante, pregando seus sermões e aconselhando o público sofrido, tendo ficado afamado pelo povo com o título de o “peregrino da caridade”. As obras de caridade não visavam apenas levar a fé para as pessoas, mas também, criar através do espírito da caridade, ações políticas de cooperação, que transformasse significativamente a vida dessas pessoas, como por exemplo, os mutirões para construções, que formavam os núcleos habitacionais. Buscava levar aos desvalidos, o conforto espiritual e material, promovendo a dignidade humana e a transformação social, através da fé e da caridade. Detentor de uma eloquente oratória, ele conseguia seduzir as massas e mobilizar o povo para a realização dos trabalhos. Além das obras sociais, também lhe é creditado ter realizado curas e milagres.

Filosofia da Educação

Diante da violência impulsionada por uma cultura selvagem que assombrava o agreste nordestino, o padre-mestre ambicionou mudar o sertão, não por fora, mas por dentro. Instituiu uma forma de educação social, em que organizava junto com a população local, meios de resolução dos problemas, com isso, educava o povo, através da disciplina ética do trabalho. Absorveu como lema: pacificar, educar e profissionalizar, desenvolvendo um estilo de educação cívica e humanizante, que fomentava através da fé, da caridade e do trabalho, uma formação de capital humano, econômico, moral e social.  

Exerceu o trabalho de professor, chegando a lecionar para várias personalidades políticas e jurídicas. Também foi nomeado professor de eloquência sacra no seminário de Olinda. Alguns espaços de acolhimento construídos pelo chamado “Padre-Mestre” promoviam atividades escolares, onde se aprendia a ler e escrever, bem como a prática de algum ofício. Fundou orfanatos para atender crianças humildes e mulheres em condição de desamparo. Nesses locais eram fornecidos educação moral e religiosa. As mulheres, por exemplo, além da assistência à saúde, realizavam atividades profissionalizantes e laborativas. Realizou oficinas onde ensinava atividades de artesanato, tecelagem e costura. Promoveu o ensino de técnicas agrícolas e canais de irrigação, com a finalidade de ajudar os sertanejos a sobreviverem.

Filosofia Jurídica

Figurou entre os primeiros alunos matriculados na Faculdade de Direito de Olinda, formando-se na primeira turma de Bacharéis em Ciências Jurídicas. Lecionou as disciplinas de Direito Natural e Direito Criminal, tendo inclusive assumido a presidência da Comissão de Justiça Criminal. Foi nomeado juiz de direito da Vila de Campo Maio e Delegado de Polícia da Prefeitura de Quixeramobim. Criou um projeto de lei para impedir o desembarque de escravos vindos da África em território brasileiro. Exerceu a advocacia em defesa dos mais pobres e agiu como conselheiro resolvendo conflitos. Deu início aos processos de demarcações de terras por várias regiões, defendendo os direitos dos trabalhadores rurais, colaborando com a formação e fundação de alguns municípios. Lutou pelas causas nacionalistas com ênfase nas questões sociais, tornando-se uma figura mítica na cultura popular nordestina.

Filosofia Sapiencial

+ "É preciso edificar uma casa"

+ "A oração é o alimento da alma."

+ "A caridade é o maior dos dons."

+  “Caminhar é o nome da felicidade”

+ "A paciência é a virtude dos fortes."

+ "A esperança é a âncora do espírito."

+ "A perseverança é a mãe do sucesso."

+ "A virtude é o caminho para a felicidade."

+ "A humildade é a chave para a salvação."

+ "A nossa caridade deve ser ativa, operosa e constante."

+ “O presente e os sucessos ordinários da vida não me impressionam”.

+ "O homem sem Deus é como o choco sem o pinto; sem ele, o homem é um ovo podre".

+ "Muita humildade. Falar pouco e só o necessário, para que pela língua não escape a vida espiritual."

+ “Confie em Deus, que a soberba fugirá de nossa casa e triunfará sobre as maquinações do inimigo.”

+ "Enviai, Senhor, operários para a vossa messe, pois a messe é grande e poucos são os operários".

+ “Enquanto tivermos água, haverá para todos. Quando não houver mais, morreremos de sede com eles todos”.

+ "Um coração angélico, puro, simples, casto, humilde, desinteressado, benfazejo e tão dedicado ao amor de Deus e do próximo..."

+ “A evangelização não se faz somente pela administração dos sacramentos, mas também pelo exercício concreto e prático do amor ao próximo”.

+ "Depois do temor a Deus, o meio mais poderoso que tem o pai e a mãe de família para conservar a família em boa moral, na obediência e ordem regular, é o trabalho constante e forte".

Fatos e Curiosidades

Segundo constatam alguns biógrafos, o Padre-Mestre teria, a princípio, abandonado a carreira jurídica, após um incidente, em que presidia um júri, tendo possivelmente se sentido traído e perseguido, em seu ideal de justiça. Ele pediu exoneração do cargo e passou a atuar na esfera política, exercendo o cargo de Deputado Geral, porém, ainda de maneira polida, tentou combater os casos de corrupção, momento que novamente se frustrou, resolveu, diante disso, deixar a arena política. Decidiu se retirar e viver mais recluso e reflexivo, experenciando a solitude, meditando seu apogeu espiritual, estudando filosofia e teologia. Logo depois, recupera-se, torna-se, então, o “Apóstolo do Sertão”, cruzando o Nordeste árido na promoção da paz e da justiça social. 

 

Fontes:

ALVES, Guarino. Claras figuras do passado. Fortaleza, Revista do Instituto do Ceará, 1980.

ARAÚJO, Francisco Sadoc de. Padre Ibiapina: peregrino da caridade. Fortaleza: Editora Paulinas, 1996.

BEVILAQUA, Clovis. História da Faculdade de Direito do Recife. Brasília: INL, Conselho Federal de Cultura, 1977.

CARVALHO, Cláudio Sousa de. Padre Ibiapina e o Imaginário Popular. ANPUH – XXII Simpósio Nacional de História. João Pessoa: UFCG, 2003.

COMBLIN, José. Instruções espirituais do Padre Ibiapina. São Paulo: Paulus, 1984.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos. Rio de Janeiro: Record, 2000.

HOORNAERT, Eduardo. Crônica das casas de caridade: fundadas pelo Padre Ibiapina. Fortaleza: Museu do Ceará, Secretaria da Cultura do Estado do Ceará,2006.

LEAL, Vinícios Barros. Ibiapina: um profeta em sua terra. Fortaleza: Revista do Instituto do Ceará, 1983.

MACIEL, Célia Magalhães. Padre Ibiapina: máximas, casas de caridade e o seu pensamento evangelizador. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2015.

MARIZ, Celso. Ibiapina: Um Apóstolo do Nordeste. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 1997.

SILVA, Benedito. Padre Ibiapina. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002.

VICTOR, Plínio Araújo. Ibiapina e os Donos da Memória. Dissertação de Mestrado. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 1995.

 

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