Michel de Montaigne – (1533 a 1592) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Michel Eyquem de Montaigne - Foi um filósofo francês
do período moderno que viveu na fase renascentista. Transitou seu sistema de
pensamento entre as concepções do moralismo e do ceticismo. Sendo descrito como
um cético humanista. Inaugurou um estilo de escrita denominado de ensaios
pessoais, publicando por volta de 1580, sua “Magnum opus” intitulada de
“ensaios”. Iniciou seus estudos no colégio de Guyene, em Bordeaux. Estudou
Direito na Universidade de Toulouse, tendo atuado como magistrado e político. Considerado
um grande pensador erudito, foi influenciado por múltiplos filósofos. Publicou
uma variedade de textos sobre filosofia, literatura e história, em que
dissertava a respeito da condição humana. Tinha grande relação de amizade com o
filósofo Étienne de La Boétie. Seu pai era um senhor conhecido como Pierre
Eyquem e sua mãe a senhora Antoinette de Loupes de Villeneuve. Nasceu em 28 de
fevereiro de 1533, no Castelo de Montaigne, localizado em Dordonha, próximo a
região de Bordeaux, na França. Faleceu em 13 de setembro de 1592, em sua cidade
natal, vitimado por uma inflamação nas amígdalas.
Filosofia Humanista
Refletiu sobre o humanismo de maneira diversificada, pontuando suas individualidades e características. Sua obra resultou de observações, meditações e reflexões contextualizadas, que foram adquiridas através da leitura de um vasto saber humanístico. Defendia a ideia de que o problema da existência humana seria algo que não poderia propriamente ser respondido, acreditando que o homem seria um milagre em si mesmo. Utilizava-se da introspecção como ferramenta para compreensão do homem. Problematizou a questão da ética de forma original, sem se prender a um sistema específico de pensamento. Cultuava meditações pacifistas, desenvolvendo argumentos e teses, que ajudassem no entendimento das conciliações de conflitos, promovendo a cultura da tolerância. Para ele, o diálogo deveria ser utilizado no sentido de se evitar a violência, ou seja, a ordem deveria ser estabelecida, não propriamente pelo uso da força física, mas sim pela força da palavra e das ideias. Embora acreditasse, dentro de certo contexto, que toda ideia nova pode ser perigosa, defendia que todo homem deve ser respeitado. Aconselhava o hábito da moderação para que a noção de liberdade estivesse atrelada ao autocontrole. Na sua atuação como político ele promoveu algumas reformas para melhorar a vida de crianças, mulheres e demais pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Filosofia da educação
Acreditava que a educação deveria ser experenciada com
vivências práticas, por isso tinha uma visão empirista da educação, defendendo
uma educação analítica e crítica, através do ponto de vista observacional,
desse modo atacava a cultura livresca renascentista, que apoiava o aprendizado
baseado apenas na memorização. A criança deveria ser ensinada a observar e a
julgar por si mesma, construindo certa autonomia. Aferindo que toda criança, na
esfera educacional, deve ter sua personalidade respeitada, em face de suas individualidades.
Posicionava-se a favor da articulação dos saberes, que deveriam relacionar
teorias investigativas com práticas conclusivas. Nesse sentido, ele advertia: “Cuidamos
apenas de encher a memória, e deixamos vazios o entendimento e a consciência.”
Apesar de sua obra ser um estudo que partia de si mesmo, para assim entender o ser humano, segundo Montaigne, o homem não poderia conhecer completamente o mundo, a partir de si mesmo, pois conhecer a si mesmo refletiria apenas uma singularidade e não um saber totalizante do indivíduo. Seu estilo de escrita era permanente e contínuo, por isso passou quase toda a vida acrescentando trechos originais e revisando a sua grande obra. Seus textos continham desde reflexões entre mente e matéria, até questões criativas e irônicas.
Fatos e Curiosidades
Relata-se que Montaigne teve uma educação excêntrica e
diversificada, quando criança, passou boa parte de sua vida estudando e
convivendo, com camponeses em uma cabana isolada. Seu pai teria o enviado para
uma aldeia com o objetivo de ensiná-lo a viver em situação de dificuldade,
aprendendo valores como respeito, proteção, honestidade e coragem.
Filosofia Sapiencial
+ “A covardia é a mãe da
crueldade”.
+ “A morte: nossa eterna
companheira”
+ “O lucro de um é o
prejuízo de outro”
+ “Do medo é que eu tenho
mais medo”.
+ “Quem não tem boa memória
não deve mentir”.
+ “Quem tem medo do
sofrimento já está sofrendo”.
+ “A mais sutil loucura é feita da mais sutil sabedoria”
+ “A melhor coisa do mundo é saber ser você mesmo.”
+ “A palavra é metade quem fala e metade quem ouve”.
+ “O verdadeiro espelho dos
nossos discursos é nossa vida”.
+ “Cada homem tem em si a
condição inteira da humanidade”
+ “É melhor uma cabeça bem-feita
do que uma cabeça cheia”.
+ “As mais belas almas são
as que têm mais variedade e flexibilidade”.
+ “Quem ensinar os homens a morrerem
vai também ensinar a viverem”.
+ “O melhor casamento seria
entre uma mulher cega e um marido surdo”.
+ “Mesmo no mais alto trono
continuaremos sentados sobre nosso traseiro”.
+ “Não estamos nunca junto
de nós, mas sempre para além de nós mesmos”
+ “Não morremos porque
estamos doentes, morremos porque estamos vivos”.
+ “Abandonar a vida por um sonho é estimá-la exatamente
por quanto ela vale.”
+ “Pode-se ter saudades dos
tempos bons, mas não se deve fugir ao presente.”
+ “O homem não tem nenhum outro animal a temer no mundo
tanto quanto ao homem.”
+ “A mais honrosa das ocupações é servir o público e
ser útil ao maior número de pessoas.”
+ “O homem não é tão ferido pelo que acontece, e sim
por sua opinião sobre o que acontece.”
+ “Cuidamos apenas de encher a memória, e deixamos
vazios o entendimento e a consciência”.
+ “A sabedoria é uma construção sólida e única, na qual
cada parte tem seu lugar e deixa sua marca.”
+ “O casamento é uma gaiola
em que os pássaros que estão fora querem entrar e os que estão dentro querem
sair”.
+ “Fica estabelecida a possibilidade de sonhar coisas
impossíveis e de caminhar livremente em direção aos sonhos.”
+ “Apenas pelas palavras o ser humano alcança a
compreensão mútua. Por isso, aquele que quebra sua palavra atraiçoa toda a
sociedade humana.”
+ “Exprimo livremente minha opinião acerca de tudo,
mesmo daquilo que, por ultrapassar meus conhecimentos intelectuais, considero
fora de minha alçada. O meu comentário tem por fim revelar meu ponto de vista,
e não julgar o mérito das coisas”.
+ “Não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem
daqueles povos (Tupinambás); e, na verdade, cada qual considera bárbaro o que
não se pratica em sua terra. (…) Não me parece excessivo julgar bárbaros tais
atos de crueldade [o canibalismo], mas que o fato de condenar tais defeitos não
nos leve à cegueira acerca dos nossos. Estimo que é mais bárbaro comer um homem
vivo do que o comer depois de morto; e é pior esquartejar um homem entre
suplícios e tormentos e o queimar aos poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a
pretexto de devoção e fé, como não somente o lemos, mas vimos ocorrer entre
vizinhos nossos conterrâneos; e isso em verdade é bem mais grave do que assar e
comer um homem previamente executado. (…) Podemos, portanto, qualificar esses
povos como bárbaros em dando apenas ouvidos à inteligência, mas nunca se
compararmos a nós mesmos, que os excedemos em toda sorte de barbaridades”.
Fontes:
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e
no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Editora
Hucitec, 1999.
BORNHEIM, Gerd. Montaigne: o ceticismo e a condição
humana. Rio de Janeiro: editora Jorge Zahar, 2007.
CARDOSO, Sérgio. Montaigne filósofo. São Paulo:
Cult, 2017.
CHAUÍ, Marilena. Introdução aos Ensaios de Montaigne.
São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2004.
FIGUEIREDO, Vinicius de. O ceticismo nos Ensaios de
Montaigne. Curitiba: Editora UFPR, 2003.
FRAME, Donald Murdoch. A Descoberta do Homem por
Montaigne: A Humanização de um Humanista. Nova Iorque: Columbia University
Press, 1955.
HOFFMANN, George. A Carreira de Montaigne. Nova
York: Oxford, 1998.
MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. trad. Sérgio
Milliet. São Paulo: Edição Cultural e Industrial, 1972.
STAROBINSKI, Jean. Montaigne em movimento. São
Paulo: Companhia das Letras, 1992.
VASCONCELOS, José Carlos de Araújo. Montaigne e a
arte do ensaio. Lisboa: Editora Relógio d’Água, 1998.
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