domingo, 24 de agosto de 2025

Bárbara de Alencar

Bárbara de Alencar – (1760 a 1832) d.C

Autor: Alysomax Soares

Bárbara Pereira de Alencar – Foi uma filósofa política ligada as correntes de pensamento do progressismo. Recebeu o título de cidadã cearense em memória pela sua grande influência na história do estado. Herdou o seu primeiro nome em homenagem a santa Bárbara. Ficou conhecida como “Dona Bárbara do Crato” e figura na lista dos chamados heróis da pátria. Destacou-se como uma mulher letrada em uma época que as mulheres tinham poucos direitos a educação. Possuidora de uma personalidade forte e uma cultura admirável, desde jovem já lia os grandes clássicos da literatura universal. Estimada como uma das primeiras revolucionárias do Brasil, ela desempenhou a função de fazendeira, comerciante e ativista. Estudou botânica com o padre naturalista Manuel de Arruda Câmara, tendo sido influenciada espiritualmente e politicamente pelos pensamentos do clérigo. Detentora de um vasto saber político, também foi inspirada pelas doutrinas iluministas dos filósofos Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Era filha do senhor Joaquim Pereira de Alencar com a dona Teodósia Rodrigues da Conceição. Nasceu no sertão de Pernambuco, na cidade de Exu, em 11 de fevereiro de 1760. Faleceu na localidade de Fronteiras, município do Piauí, por volta de 18 de agosto de 1832. Seu corpo foi sepultado na cidade de Campos Sales, no Ceará. Teve, a seu pedido, um enterro simples, enrolada numa rede. Seu túmulo encontra-se em processo de tombamento. Recebeu, ao logo do tempo, várias homenagens e reconhecimentos por todo o país.  

Filosofia Política

Considerada uma protomártir da independência do Brasil, ela contribuiu, substancialmente, na construção dos ideais republicanos, participando das discussões e reuniões relacionadas com os movimentos políticos da época. Desafiou os poderes sociais e políticos vigentes em seu tempo. Ficou consagrada historicamente como uma heroína que defendia as concepções libertárias, tendo participado da revolução pernambucana e da confederação do Equador. Desempenhou forte papel de articulação entre políticos, clérigos e intelectuais, lutando por um nacionalismo liberal que tornasse o estado brasileiro livre e forte. Tinha um posicionamento contrário as idealizações absolutistas, advogando em prol do separatismo e da identidade brasileira. Mulheres como Bárbara, quando se tornavam viúvas, tinham que se virar para criar os filhos e administrar grandes fazendas. Nesse cenário, elas eram muitas vezes chamadas de “Mulher-Macho” ou “Matriarcas do Sertão”. Títulos herdados pela influência local que representavam, exercendo grande liderança e poder nos chamados feudos regionais do sertão. A revolucionária do Crato, rompeu com o papel tradicional de mulher do lar, atuando como guerreira, intelectual e articuladora. Vista por muitos como uma mulher de fibra e coragem, ela é, atualmente, referência da luta feminina pelos direitos da mulher. Parafraseando o poeta: “Bárbara...essa mulher foi Bárbara”!

Filosofia Progressista

Segundo descrevem os historiadores, em uma bela manhã de domingo, na igreja local da vila do Crato, estavam reunidos a plebe e os poderosos, quando um dos filhos de Bárbara, José Martiniano se dirigiu ao púlpito, e leu um dos textos simbólicos da revolução, chamado de “o preciso”. Conclamando por liberdade, ele declarou ali a república de Jasmim. Acredita-se que, boa parte da inter-relação política, nas sedições, tenha sido arquitetado e planejado pela mãe. Porém, por ser mulher, e dada a sua condição de senhora matriarca, ela preferiu atuar mais discretamente, assumindo o papel de conselheira, não se manifestando, em certas ocasiões, visivelmente, evitando ficar em evidência, pois era o cérebro pensante do movimento. Mesmo assim, sofreu grande perseguição política, sendo presa em calabouços por quase quatro anos. Foi acorrentada e conduzida para os fortes de Fortaleza, Recife e Salvador. Teve todos os seus bens confiscados pela coroa portuguesa. Foi vítima de várias difamações e boatos contra sua honra, os quais teriam sido perpetuadas por inimigos políticos. Segundo algumas correntes feministas, sua atuação pública, na condição de mulher, contribuiu para que ela sofresse certas humilhações caracterizadas como violência de gênero. Para elas, as falsas acusações tinham como objetivo, difamar as mulheres, para macular sua imagem e apagar sua memória, frente aos grandes acontecimentos históricos. Admirada como uma mulher à frente de seu tempo, ela é tida como uma das pioneiras da liberdade, que lutaram por justiça e igualdade. 

Fatos e Curiosidades:

Relata-se que, na Fortaleza de Assunção, local em que Dona Bárbara ficou aprisionada, ainda existe o calabouço, onde as pessoas visitam. Narra-se entre a tradição popular, uma lenda de que, até esse tempo, é possível ouvir pelas madrugadas, sons de gritos e gemidos ecoando pelo porão. Nesse espaço, foi anexada uma placa com a seguinte frase: “aqui gemeu Bárbara Pereira de Alencar”. Bárbara era avó do escritor cearense José de Alencar. Também foi mãe de José Martiniano Pereira de Alencar e de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe.  

Filosofia Sapiencial

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Fontes:

ARAÚJO, Ariadne. Bárbara de Alencar. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002.

ARAGÃO, Caetano Ximenes de. Romanceiro de Bárbara. Série Luz do Ceará. Fortaleza, Secretaria de Cultura do Ceará, 2010.

CARVALHO, José. Heroína Nacional: Bárbara de Alencar. Fortaleza: Revista do Instituto do Ceará. 1920.

GASPAR, Roberto. Bárbara de Alencar: a guerreira do Brasil. Fortaleza: Gráfica Tiprogresso, 2001.

MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa. Bárbara de Alencar. Fortaleza: Revista do Instituto do Ceará, 1995.

NOBRE, Luciana Barbosa. O romance de Bárbara. Rio de Janeiro: Editora Revista da Academia de Letras, 1982.

PELLEGRINO, Antônia. Bárbara de Alencar e as Raízes Brasileiras da Violência Política de Gênero. Revista do Centro de Pesquisa e Formação. N: 15. São Paulo: SESC/RCPF, 2022.

QUEIROZ, Rachel de; HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Matriarcas do Ceará: Dona Federalina de Lavras. Rio de Janeiro: Papéis avulsos, 1990.

SOUZA, Duda. Porto; CARARO, Aryane. Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Editora Seguinte, 2017.

SOUSA, Kelyane Silva de. Bárbara de Alencar: relações de gênero e poder no Cariri Cearense. Dissertação de Mestrado. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, 2015.

 

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