segunda-feira, 25 de maio de 2020

Melisso de Samos

Melisso de Samos – (470 a 430) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo antigo do período pré-socrático que pertenceu à escola eleática. Era considerado um dos discípulos de Parmênides. Atuou como estadista e militar naval. Estudou as áreas da Filosofia, Política e Poesia. Suas ideias também são consideradas uma sistematização da ontologia clássica. Alguns fragmentos de sua obra foram preservados. Segundo o filósofo e historiador Diógenes Laértios, Melisso escreveu uma obra em prosa que se chamava “Sobre a natureza ou sobre o ser”, a obra teria esse título porque visava igualar a ideia de natureza ao conceito de ser. Sua filosofia exerceu grande influência no pensamento dos atomistas antigos, tendo também se contraposto às ideias de alguns filósofos pluralistas. Historiadores relatam que Melisso comandou uma esquadra que teria derrotado os navios atenienses do estadista Péricles quando estes tentaram bloquear, invadir e passar pela ilha de Samos.  Melisso nasceu na ilha de Samos, localizado próximo ao Mar Egeu na Grécia antiga, por volta de 470 a.C e faleceu aproximadamente, no ano de 430 a.C, em um lugar ainda não descoberto pela história da filosofia.       

Filosofia Eleática

Contribuiu de forma significativa para a sistematização da filosofia eleática, desenvolvendo novos horizontes sobre os atributos do ser. Ele explicou e corrigiu alguns dos conceitos filosóficos dessa escola, tendo organizado com maestria as crenças desse sistema de pensamento. Realizou uma comparação entre os valores do pensamento sensitivo com o pensamento racional. Sua originalidade estava ancorada na ideia de que todos os sentidos seriam corrompidos de ilusão, por isso o conceito de “ser” só seria acessível através da razão. Melisso desenvolveu uma teoria que ficou conhecida como “a natureza infinita e inalterável do ser”. Sobre a imutabilidade do “ser”, ele afirmava que o "ser" não se transformava e não se alterava. Nesse sentido, à sua natureza seria inalterável, ele exemplificava isso através da teoria do cabelo: “Se o ser fosse modificado em dez mil anos em apenas um fio de cabelo, ele teria se autodestruído, pois assim ele teria se tornado outro ser na eternidade, mesmo que seja em uma pequena medida”. 

Filosofia da Natureza

O filósofo eleata explicava que o “ser” era infinito e assim da mesma forma que o tempo, ele também era eterno.  Ao contrário do que dizia seu mestre Parmênides, Melisso afirmava que o “ser” era infinito porque ele não poderia ter limites no tempo e nem no espaço, pois se o “ser” fosse finito, ele teria que fazer limite com o vazio, e o vazio seria um “não-ser”, por isso era impossível que o “ser” fosse limitado pelo “não-ser”. Segundo ele, o “ser” além de ser infinito era “uno” porque se fossem “dois” ou se fossem “múltiplos”, então, um deveria fazer limite com o outro, e fazer limite, na sua visão, significaria limitar, porém o “ser” não poderia ser limitado por outra coisa, mesmo que essa coisa fosse outro “ser”. Para ele, o “ser” sempre: “foi”, “é” e sempre “será”. Não teria início e nem fim. Seria, dessa forma, algo além do tempo, isto é, atemporal. Esse “ser”, não teria forma, desse modo ele explicava que o que teria forma seria algo limitado e o “ser” era ilimitado, ou seja, não poderia ter limites. O filósofo Simplício, na obra Física, descreve um trecho dos fragmentos de Melisso sobre esse pensamento:

Uma vez, portanto, que não veio a ser, é, sempre era e sempre será e não tem princípio, nem termo, mas é infinito. Pois, se tivesse vindo a ser, teria princípio (pois, vindo a ser, teria principiado) e termo (pois teria terminado, se tivesse vindo a ser); mas, uma vez que nem principiou, nem terminou, sempre era, sempre será e não tem princípio, nem termo; pois não é exequível ser sempre o que não totalmente é. (Simplício, 2009).

Enquanto seu mestre dava a forma de esfera ao “ser”, Melisso dizia que o “ser” não poderia ter aparência, pois essa aparência traria limites ao “ser”. Dizia que o “ser” era pleno.  Segundo ele, a ilusão do mundo sensível provocava a ideia de movimento, mas o “ser” não poderia ter forma, não era composto de partes, se apresentaria de maneira infinita no espaço e no tempo, e seria sempre idêntico a si mesmo. Também acreditava na indestrutibilidade do “ser”, pois seria impossível para o “ser” se transformar no “não-ser”. Desse modo, os atributos fundamentais do “ser” seriam, portanto: a unidade, a completude e a imobilidade. Nesse sentido, essa ideia de unicidade do ser era imutável, homogênea, indivisível, eterna, insurgida, indestrutível, incorpórea, e imóvel.

Ele explicava que a única realidade que poderia existir seria a do “ser-uno-infinito”, pois o “múltiplo-finito” só poderia existir se fosse igual ao “ser-uno-infinito”. Dessa maneira, seria contraditório existir a ideia de “dois” ou do “múltiplo”, pois um não poderia fazer limite com o outro. Já em relação ao “não-ser”, Melisso o caracterizava como sendo uma forma de vazio ou sinônimo do nada. Explicava que o vácuo não poderia existir, pois o universo seria preenchido em si mesmo. O vazio ou o nada seriam, então, apenas a negação da existência, ou seja, o vazio não existiria em essência. Como o vazio não existiria, ele também não poderia se mover, dado que não existiria um lugar para onde se mover, visto que ele era incompleto. Para ele, o “ser” também não poderia nascer, pois teria que surgir do nada, mas isso seria impossível, dado que algo não poderia surgir do que “não-existe”, logo ele concluía que o “ser” seria insurgido. Sendo assim, nada poderia delimitá-lo.

Obra:

- Sobre a natureza ou sobre o ser

Filosofia Sapiencial

- “O Ser é infinito”

- "Se as coisas mudam, não são reais" 

- “Aliás, o limite confinaria com o vazio”.

- “Sempre era o que era, sempre foi e sempre será”.

- “O ser não sente dor e nem possui força igual ao do sadio”

- “Se nada é, o que podia ser dito dele, como se fosse algo?”.

- “Se o ser se divide, move-se; e, movendo-se, não poderia ser”.

- “O ser é pleno e qualquer forma de vazio e nada não existem.”

- “Aquilo que teve princípio e fim não é nem eterno e nem infinito”.

 - “Se os muitos existissem cada qual deles deveria ser como é o Uno”.

- “Sobre os deuses, não se deve falar; pois não há conhecimento disso."

- “Mas enquanto é sempre, consequentemente deve também que seja sempre infinito em tamanho.”

- “Mas como não teve começo nem fim, sempre foi e sempre há de ser; pois o que não é todo não pode ser sempre”.

- “Se, pois, o ‘ser’ é, deve ser uno; e, sendo uno, não deve possuir corpo. Mas, se tivesse espessura, teria partes e já não seria uno”.

- “O ser sempre foi o que foi e sempre será, porque se tivesse sido gerado, antes de ser gerado não seria nada. Mas se nada era, nada poderia ser gerado a partir do nada”.

- “Se de fato são seres que a terra, o ar, o fogo, se isto está vivo, aquele morto, este branco, aquele negro, se todas as outras coisas que os homens dizem são verdadeiras são, se vamos ver e se estamos ouvindo bem , tudo deve permanecer como primeiro nos apareceu, sem mudar ou se deteriorar, e sempre sendo o que é. [...] Tudo o que vemos em todos os lugares parece estar alterado e transformado. Portanto, é claro que não vemos o certo, mas também que é errado que todas essas coisas nos pareçam ser. "

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson BINI. São Paulo: Edipro, 2012.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Citrix, 1967.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Vol. 2. São Paulo: Companhia das letras, 2010.

DUMONT, Jean Paul. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005.

FELIPE, Luís Bellintani Ribeiro. História da filosofia I. Florianópolis: Filosofia/Ead/UFSC, 2008.

GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Rio de Janeiro: Editora Difel, 1980.

HADOT, Pierre. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Lisboa, 1999.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

KENNY, Anthony. Uma Nova História da Filosofia Ocidental. Vol. I. Filosofia Antiga. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

KIRK, Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos. Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

MCKIRAHAN, Richard. A filosofia antes de Sócrates: uma introdução aos textos. São Paulo: Paulus, 2013.

PLUTARCO. Vidas Paralelas. Trad. Carlos Alcade Martín e Marta González González. Madrid: Gregos, 2010.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª ed. Vol.1. São Paulo: Paulus. 1990.

SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto, 2010.

SIMPLICÍO. Física.  Trad. Alexandre Costa. Anais de filosofia clássica. Vol. 3. N; 06. UFRJ. 2009.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. 2003.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: PUC, 1965.































segunda-feira, 18 de maio de 2020

Ferécides de Siro

Ferécides de Siro – (600 a 520) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga pertencente à classe dos filósofos hiperbóreos. O filósofo Aristóteles afirmava que ele misturava conceitos teológicos, mitológicos e filosóficos em suas obras. Foi discípulo de Pítaco um general militar considerado sábio e é juntamente com ele visto como um dos sete sábios da Grécia antiga. Nasceu aproximadamente em 600 a.C na ilha de Siros e veio a falecer por volta de 520 a.C. Provavelmente tenha criado um relógio de sol chamado de “heliotropion”. Escreveu uma obra nomeada de “as cinco cavernas” que também é intitulada de "Pentemychos". A obra também pode ter recebido o título de as sete cavernas ou "Heptamychos". As chamadas “grutas” descritas por ele eram princípios de formação do cosmos. Nas suas obras ele descreve conceitos sobre a origem do mundo e do universo, elas transcorrem sobre questões ligadas a natureza e a origem dos deuses. Sua obra é interpretada como sendo de caráter teocosmogônico, alguns historiadores atribuem a ele o fato de ter sido o primeiro pensador teogosmogônico da Grécia a escrever suas ideias em formato de prosa. Ferécides costumava lecionar em uma gruta onde é atualmente um ponto turístico local, ela é denominada de “A Caverna de Ferécides”. Os aprendizados de Ferécides foram conquistados através de livros secretos que ele possivelmente teria adquirido com os fenícios. Ele também teve contato com os pensadores da escola de Mileto, tendo inclusive escrito uma carta para o Tales de Mileto, descrevendo sobre sua doença e explicando que seus ensinamentos eram realizados através de enigmas. Esse método de ensino por enigmas também foi bastante utilizado pelos pitagóricos. Alguns pensadores afirmam que ele foi um dos mestres de Pitágoras e que possivelmente foi o criador da doutrina da metempsicose, influenciando assim os pitagóricos nos conhecimentos sobre a transmigração da alma.

Filosofia Mitológica

Seus pensamentos foram influenciados pelo saber mitológico da Grécia antiga, dessa forma, sua Teogonia é vista por muitos pensadores como uma espécie de transição do pensamento mítico da época de Hesíodo para um pensamento um pouco mais racional relacionado com sua época, pois ele teria vivido próximo ao período de surgimento da filosofia grega. Ferécides também escreveu um mito sobre Ofíon, onde ele revela, nessa ficção, que Ofíon governou o mundo juntamente como sua esposa Eurínome e que eles foram lançados ao mar depois de serem derrotados por “Cronos e Reia”. Segundo suas ideias, “Cronos” simbolizava as forças organizadoras do universo, dessa forma, “Cronos” precisaria vencer as forças do “Caos” para estabelecer a ordem no universo.

Em relação à alma, Ferécides acreditava que ela seria eterna, dessa forma, ele possivelmente tenha sido um dos primeiros gregos a teorizar sobre a imortalidade da alma. Dizia que o ser humano possuía uma parte divina e outra terrena. Como o próprio Ferécides teria provavelmente relatado em uma carta ao Tales, alguns de seus pensamentos eram simbolizados por enigmas, daí algumas terminologias usadas por ele teriam relação com sentidos obscuros ou simbólicos. Nesse contexto, por exemplo, a palavra “gruta” poderia ser descrita simbolicamente como sendo a representação da entrada e saída da alma do mundo dos vivos. Ele também afirmava que seria na alma que estaria o atributo do conhecimento. A palavra “gruta” em sua obra também pode ser compreendida como sendo: “recessos, cavernas, mundos, esconderijos, recantos, fendas, abismos, esferas, portais, reinos ou santuários”. Nesse sentido, acredita-se que essa palavra era usada de forma metafórica, pois se supõe que Ferécides ensinava sua filosofia por meio de representações míticas.

Filosofia Cosmológica

Em sua obra ele descreve que existiam cinco elementos principais que deram origem ao mundo, esses princípios eram chamados por ele de “grutas”, isto é, o mesmo que a materialização do cosmos. Esses elementos seriam: “Cronos, Ctónia, Fogo, Ar e Água”. Outras fontes apontam para a possibilidade de serem sete princípios ao invés de cinco: (Cronos, Ctónia, Ar, Água, Sol, Estrelas e Lua). Porém ele acreditava que apenas “Zeus (pai dos deuses e do Céu), Ctónia (pai da terra e da natureza) e Cronos (pai do tempo espaço)” eram os três princípios com características divinais, dessa forma, ele afirmava que “Cronos (o que governa o tempo)” teve pequenas sementes que foram originando outros elementos ao qual chamou de “descendentes”. Para ele, esses três primeiros princípios divinos seriam as forças criadoras do universo, daí esses princípios seriam: “Zeus” que também era definido como princípio ativo, depois “Ctónia” que seria um princípio passivo, e por fim “Cronos” que seria o tempo, nesse sentido, ele descrevia que este último regulava a atuação do princípio ativo (Zeus) sobre o passivo (Ctónia), e assim então, originavam-se os outros princípios. Na sua visão, haveria uma coexistência de princípios contrários. Ele definia que “Zeus e Ctónia” possuíam características imutáveis, por isso seriam eternos, já os outros eram princípios transitórios, daí poderiam ser limitados. Cronos seria uma espécie de “tempo e espaço” que poderia ser traduzido como a “dimensão” onde tudo foi criado. Alguns mitólogos apontam o conceito de Ctónia para a ideia de “Caos primordial”.

Anedotas:

Alguns relatos sobre adivinhações são atribuídos a ele, conta-se que certa vez ao caminhar pela praia ele viu um navio indo em direção contrária aos ventos e previu que em pouco tempo o navio iria afundar, pouco tempo depois, antes ainda de terminar sua caminhada pela praia, o navio teria realmente afundado diante dos olhos das pessoas que caminhavam com ele. Em outra situação de acordo com alguns historiadores antigos, ao beber água de um poço ele teve uma premonição que após três dias aconteceria um terremoto naquele local, o que de fato realmente ocorreu.

Sua morte é descrita de várias formas, relata-se que estando ele em uma estrada de terra numa época de guerra entre a cidade de Éfeso e Magnésia, ele teria encontrado um viajante e perguntado de onde ele estava vindo, e que após o mesmo responder que vinha da cidade de Éfeso, Ferécides então solicitou ao viajante que o fizesse de prisioneiro e o arrastasse amarrado até a cidade de Magnésia, e em seguida informasse aos cidadãos de Éfeso que depois da vitória na guerra eles procurassem seu corpo para ser sepultado. Este relato descrito objetivava narrar sua previsão sobre quem ganharia a guerra.  

Já em outra versão os historiadores narram que ele teria morrido de uma infecção causada por um tipo de verminose, e que antes de morrer ele teria recebido a visita do filósofo Pitágoras o qual teria lhe perguntado como ele estava, e Ferécides teria colocado o dedo por uma fresta da porta e dito a seguinte frase “Meu dedo mostra”, essa frase ficou famosa na época e passou a ser utilizada posteriormente como sinônimo de: “Estou piorando”. Alguns relatos antigos falam que Pitágoras chegou a cuidar de Ferécides até a sua morte, tendo inclusive realizado o seu sepultamento.

Comentários de Filósofos:

- “Um filósofo misto, aquele que faz filosofia através de uma linguagem mítica, um misto de filósofo, mitógrafo e teólogo. Que nomeiam o primeiro gerador como o supremo bem”. (Aristóteles).

- “O primeiro a escrever aos helenos a respeito da natureza e da origem dos deuses” (Teopompo).

- “Eu sei que você, Ferécides, primeiro dos íons, fará publicamente seus tratados sobre coisas divinas entre os gregos”. (Tales de Mileto).

 

Fontes:

ARISTÓTELES, Metafísica. Trad.: Marcelo Perine. 1° Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

BARNES, Jonathan. Filósofos pré-socráticos. Tradução: Júlio, Fischer. São Paulo: Martins Fontes. 1997.

BASTOS, Fernando. A Teogonia de Ferécides de Siros. 1ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional Casa Da Moeda, 2003.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo. Nova Cultura LTDA, 1996.

FELIPE, Luís Bellintani Ribeiro. História da filosofia I. Florianópolis. Filosofia/Ead/UFSC. 2008.

FINLEY, Moses Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1970.

GOMES, Pinharanda. Filosofia Grega Pré-Socrática. 4ª Ed. Lisboa: Guimarães Editora, 1994.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: Dissertatio Filosofia, 2014.

KIRK, Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos. Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MUTSCHLER, Hans Dieter. Introdução à filosofia da natureza. Tradução de Enio Paulo Giachini. São Paulo: Loyola, 2008.

RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental. São PauloCompanhia editora nacional, 1957.

SUDA. Enciclopédia online. Ferécides. Internet: Acesso, 2019.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: PUC, 1965.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Zenão de Eleia

Zenão de Eleia – (490 a 430) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da Grécia antiga que pertenceu à escola eleática. Era considerado discípulo do filósofo Parmênides e também seu grande amigo. Conta-se que ele teria sido muito fiel aos ensinamentos de seu mestre, tendo inclusive radicalizado algumas de suas ideias. Seu nome seria uma derivação da palavra “Zenon” que no grego antigo significava brilhar. Platão em sua obra o “diálogo de Parmênides” descreveu que Zenão era inteligente, alto e elegante. Já o filósofo Aristóteles o apresenta como sendo o criador da dialética. Seus pensamentos exerceram grande influência nas ideias dos filósofos sofistas e dos filósofos cínicos. Os atomistas Leucipo e Demócrito de Abdera também foram bastante influenciados pelas ideias de Zenão. Ele atuou na política e na educação local de sua cidade, elaborando leis e também lecionando. Ficou conhecido por desenvolver vários paradoxos em que demonstrava que os argumentos de outros filósofos eram falsos ou ilógicos. Seu método de contra-argumentação era baseado no uso de paradoxos, aporias e na dialética. Muitos de seus paradoxos se perderam com o tempo, mas acredita-se que ele tenha formulado aproximadamente quarenta tipos de paradoxos. Nasceu no ano aproximado de 490 a.C na cidade de Eleia que ficava localizada na Grécia antiga e a doxografia da época aponta que a sua morte ocorreu por volta de 430 a.C. 

Filosofia Eleática

Defendeu conceitos monistas que explicavam a existência de uma realidade única. Dessa forma, argumentava que o “ser” teria um conceito de unicidade, indivisibilidade e eternidade. Também chegou a realizar algumas demonstrações a respeito da impossibilidade do movimento. Na sua obra, ele atacava as ideias de multiplicidade, movimento, temporalidade e divisão dos elementos, afirmando que essas ideias eram falsas ou ilusórias. Os paradoxos elaborados por ele visavam combater os pensamentos dos filósofos que acreditavam na ideia de movimento e transformações das coisas. Para Zenão, esses conceitos sobre o movimento eram equivocados.

Seu método utilizava técnicas de argumentação que ficaram conhecidas como a “redução ao absurdo”. Nessa teoria, ele partia da posição do adversário para assim demonstrar que o raciocínio do seu opositor o levaria sempre a um pensamento absurdo. Ele entabulava a ideia de que o argumento do adversário seria verdadeiro e depois demonstrava ao final da interlocução, uma possível contradição. Por isso ele advertia que era necessário confiar apenas na razão, pois os sentidos seriam enganosos. Alguns filósofos atribuem a Zenão um título de filósofo da lógica devido os seus paradoxos e questionamentos terem ajudado a desenvolver conceitos científicos em várias áreas do conhecimento. Essas ideias também exerceram grande influência no desenvolvimento de teorias da física quântica.

Filosofia Imobilista

Platão ao explicar os pensamentos de Zenão, afirmava que Zenão não provou que o “ser” era “um”, mas sim que o múltiplo seria impensável. A dialética de Zenão refutava um argumento a partir de princípios admitidos pelo seu interlocutor. A partir de paradoxos, ele passava a demonstrar como as opiniões ou contradições poderiam levar seus interlocutores a pensamentos errôneos sobre determinados assuntos. Ao contrário do que muitos pensadores acreditam, os paradoxos de Zenão, não tinham como objetivo apresentar-se como uma verdade, mas sim, refutar um argumento de um oponente, reduzindo a ideia dele a um absurdo. Por isso, ele explicava que o movimento e o tempo seriam uma ilusão dos sentidos, defendia que para o movimento existir era necessário haver uma divisão, e essa divisão seria um ponto entre os dois pontos do movimento, assim, o movimento entre o primeiro movimento e o último, teria novamente outra divisão ainda menor, e a constante movimentação levaria a outra constante divisão, e a constante divisão da divisão, levaria a um eterno movimento, logo, nada poderia alcançar nada, já que tudo estaria em constante movimento. Desse modo, isso seria um absurdo, já que é possível observar um corpo ultrapassar outro em uma corrida. Daí pode-se deduzir que Zenão não queria utilizar a aporia como verdade, mas sim, demonstrar que não seria possível ficar reduzindo as coisas até o infinito, pois em um dado momento, algo iria ser indivisível, portanto, imóvel.

Filosofia Teocosmológica

Zenão fazia referências à divindade como sendo um conceito de eternidade, unidade e esfericidade. Em relação à questão do conceito de unidade, ele explicava que se Deus fosse o ser mais poderoso que existia no universo, então ele só poderia ser “único”, pois se fosse mais de “um”, um desses deuses poderia ter um poder maior sobre o outro, o que não seria possível, dado que o conceito de Deus era de um ser absoluto, então, logicamente, não poderiam existir “dois” deuses, como também não seria possível coexistir o poder de “um” sobre “um”. Logo, se existissem dois deuses ou mais, e eles fossem deuses maus, uns teriam poder sobre outros, logo, então, não seriam deuses, dado que o conceito de Deus seria de um ser supremo com poder absoluto. Portanto, só poderia existir um único Deus.

A respeito da esfericidade, Zenão explicava que Deus possuía uma imagem esférica, pois se era “um” então seria igual em todas as suas partes. Para ele, Deus ouve, vê e possui todas as partes do todo ao mesmo tempo. Para compreender que uma parte dele não poderia dominar outra parte, então, entende-se, desse modo, que ele deveria ser igual em toda sua simetria, sendo assim, seu formato só poderia ser esférico. Não poderia ser de um jeito em uma determinada parte e em outra parte de outro modo, mas sim, seria de maneira igual em toda a sua parte.

Sobre o conceito de Deus e a eternidade, ele transcorreu que Deus não surgiu do nada, pois ele teria que ter surgido ou de algo igual ou de algo desigual, e ambas as coisas citadas anteriormente são impossíveis. Pois do igual se produz apenas a quantidade igual e nada a mais, desse modo, devem ter as mesmas qualificações. Também não poderia o desigual surgir de algo desigual. Pois se algo mais fraco originasse algo mais forte, ou o contrário, algo maior originasse algo menor, então, poderíamos ter o “não-ser” surgido do “ser”, o que também seria improvável. Logo, consequentemente, pode-se deduzir que Deus é eterno. Para Zenão Deus não poderia ser nem limitado e nem ilimitado, nesse sentido ele afirmava que:

“O ilimitado e o imóvel são características do Não-Ser; e, que o limitado e o móvel são características do Múltiplo, então o "Um", portanto, não está nem em repouso nem se movimenta; pois não se parece nem com o "Não-Ser" nem com o "Múltiplo". Em tudo isso, Deus se comporta assim; pois ele é eterno e uno; idêntico a si mesmo e esférico, nem ilimitado nem limitado, nem em repouso nem em movimento”. (Zenão de Eleia).

Em relação à pluralidade, Zenão explicava que se elas existissem, as coisas teriam de ser exatamente iguais em quantidade, ou seja, nem mais e nem menos. Nesse contexto, elas seriam limitadas, pois seriam exatas. Mas se era uma pluralidade, então deveria existir também uma variável contrária, ou seja, ilimitada. Desse modo, existiriam sempre outras coisas, consequentemente, entre essas coisas, deveria haver outra coisa e assim sucessivamente. Conclui-se, então, a existência do limitado e do ilimitado ao mesmo tempo, o que tornaria a pluralidade das coisas uma contradição. Veja o que ele diz:

“Se a pluralidade existe, as coisas serão ao mesmo tempo limitadas e infinitas em número. Se a pluralidade existe, as coisas, ao mesmo tempo, serão infinitas em tamanho e não terão tamanho algum. Se a pluralidade existe, as coisas serão igualmente grandes e pequenas; tão grandes que serão ilimitadas em tamanho, tão pequenas que não terão qualquer tamanho”. (Zenão de Eleia).

Ele utilizava o “argumento da densidade” e o argumento do “tamanho finito” para explicar essa contradição. Nesse sentido, ele definia que se a pluralidade existisse ela teria que “ser” e “não-ser” ao mesmo tempo. O filósofo Simplício escreveu em sua obra intitulada “sobre a física” acerca de um argumento do Zenão que fazia relação com a variedade do ilimitado, assim ele descrevia que:

“O que é muitas vezes necessário argumentar, encontra-se no próprio escrito de Zenão; pois demonstra de novo e de novo que se múltiplas são as coisas, são essas mesmas coisas simultaneamente limitadas e ilimitadas. Isto escreve Zenão literalmente: “Se múltiplas são as coisas, necessariamente são decerto tantas quantas são, nem mais, nem menos”. Mas se são tantas quantas são, seriam limitadas. Se múltiplas são as coisas, ilimitados são os entes; pois há sempre outros entre eles, e novamente outros entre aqueles. E, assim, ilimitados são os entes”. E desse modo demonstrou a partir da dicotomia a variedade do ilimitado”. (Simplício).

 

Filosofia dos Paradoxos

Paradoxo da dicotomia – Imagine um móvel que está no ponto A e quer atingir um ponto B. Este movimento seria impossível, pois antes de atingir o ponto B, o móvel teria que atingir o meio do caminho entre A e B, isto é, um ponto C. Mas para atingir o ponto C, teria que primeiro atingir o meio do caminho entre A e C, ou seja, um ponto D. E assim, seguiria até o infinito. Aqui Zenão afirmava que entre dois números haveria sempre um terceiro, se isso for verdade, então, entre o primeiro e o terceiro haverá sempre um quarto, e assim continuadamente até ao infinito. Nesse sentido, existiria uma infinidade de metades que nunca seriam propriamente atingidas.

Paradoxo de Aquiles – Imagine uma corrida entre um atleta velocista (Aquiles) e uma tartaruga. Suponhamos que é dada para a tartaruga uma vantagem inicial em distância. Aquiles jamais a alcançará, porque quando ele chegar ao ponto de onde a tartaruga partiu, ela já terá percorrido uma nova distância, e quando ele atingir essa nova distância, a tartaruga já terá percorrido outra nova distância, e assim se segue até o infinito. Da mesma forma, aqui ele deduzia que, se duas coisas possuem cada qual sua espessura, e entre essas duas espessuras, exista uma terceira espessura, há que se concluir que entre a primeira espessura e essa terceira espessura, haverá também uma quarta espessura; e assim, segue até ao infinito. Seguindo essa ideia, existiria uma divisão infinita do espaço.

Paradoxo da flecha imóvel – Uma flecha em voo está a qualquer instante em repouso. Ora, se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões e se, a flecha em voo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, logo a flecha em voo está em repouso. Assim, ele deduzia que as distâncias são infinitamente divisíveis.

Paradoxo do estádio - Assim como o paradoxo da flecha, ele argumentava que era impossível que as partes da divisibilidade do tempo e do espaço terminassem em indivisibilidades. Esse era o argumento mais discutido e com a descrição mais difícil de explicar. Pois ao trabalhar os conceitos de tempo e espaço nesse paradoxo, ele chegou à conclusão de que a metade do tempo é igual ao seu dobro.

Paradoxo do grão de Millet - Se um saco de cereal faz barulho ao cair, cada grão também deveria fazer barulho e cada partícula desse grão também deveria fazer barulho ao cair, e a partícula da partícula também, o que não acontece, pois só seria possível ouvir o saco todo, depois de ouvir cada parte. Este paradoxo tinha o objetivo de demonstrar a imprecisão dos sentidos para a compreensão da realidade.

Paradoxo do lugar - Neste paradoxo, Zenão teria afirmado que tudo que existia estaria localizado em um lugar. Por sua vez, o lugar ocupado estaria ocupando outro lugar, e o lugar do lugar também estaria em outro lugar e assim prosseguia infinitamente. Desse modo, não seria possível que nada pudesse ocupar um local vazio, pois o vazio necessitaria de outro vazio, que necessitaria de outro até o infinito. Nesse sentido, como um lugar sempre contém outro lugar, nenhum deles pode estar vazio. Infere-se disso que o vazio não existe. Ele negava a existência do vazio e explicava que para algo existir, esse algo deveria estar ocupando um “lugar”, daí, esse “lugar”, por sua vez, também teria que estar ocupando outro lugar, e assim se seguiria sucessivamente até ao infinito. Então, se um lugar sempre contém outro lugar, logo, não existiria lugar vazio. Conclui-se, então, que o vazio não existe. Desse modo, ele definia o seguinte argumento acerca do lugar: “se tudo que existe está em um lugar, em que lugar está o próprio lugar? Se há um “lugar do lugar”, logo, em que lugar ele se encontra?”.

Paradoxo do tamanho finito - Nessa definição, Zenão argumentava que a extensão de um objeto seria sempre infinita, pois os objetos são numericamente determináveis. Ele partia da ideia de que todos os objetos que ocupam lugar em algum espaço possuem duas partes: a parte da frente e a parte de trás. Estas partes também possuem partes e, assim, se segue infinitamente. Consequentemente, haveria uma contradição entre a condição finita e infinita das coisas.

Anedota:

Conta-se que após realizar uma conjuração contra os desmandos de um tirano, Zenão foi preso, torturado e condenado a morte. Os opositores políticos teriam lhe torturado para que ele revelasse o nome de seus companheiros, mas ele teria cortado a própria língua com os dentes para não delatar os seus colegas. Já em outro relato se afirma que ele havia denunciado os próprios fiéis do tirano como sendo seus cúmplices na intentona, por conta disso, o tirano teria mandado matar seus próprios aliados e acabou posteriormente sendo derrotado. Relata-se que durante a sessão de tortura, Zenão teria dito que revelaria os nomes dos culpados somente em segredo, solicitando que o torturador se aproximasse para dizer o segredo ao seu ouvido, quando o carrasco se aproximou ele teria dado uma mordida que arrancou seu ouvido fora. Depois disso o tirano ordenou de imediato sua execução.

Principais Obras:

- Discussões

- Contra os físicos

- Sobre a natureza

- Explicação crítica de Empédocles 

- Erides

 

Filosofia Sapiencial

- Quem é um amigo? "Um outro eu".

- "O que se move sempre está no mesmo lugar agora". 

- “Se o lugar é alguma coisa, ele está em alguma coisa”

- "O verdadeiro é apenas o um, todo o resto é não-verdadeiro".

- “O que se move deve sempre alcançar o ponto médio antes do ponto final”.

- “Uma coisa que não tem grandeza e espessura, nem massa, não poderia existir”.

- "Afirmai vossa mudança: nela enquanto mudança, é o nada para ela, ou ela não é nada".

- “O que é móvel nem no espaço em que está se move, nem naquele em que não está”.

- “Se múltiplas são as coisas, necessariamente são pequenas e grandes; pequenas a tal ponto que não têm grandeza, grandes a tal ponto que são infinitas.”

- “Se o lugar é alguma coisa, ele está em alguma coisa, se tudo que existe está em um lugar, em que lugar está o próprio lugar? Se há um “lugar do lugar”, logo, em que lugar ele se encontra?”.

 

Fontes:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ABRÃO, Bernadette Siqueira. A História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2004.

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução do português, textos adicionais e notas de Edson BINI. São Paulo: Edipro, 2012.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA, 1996.

DUMONT, Jean. Paul. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005.

FRANCA, Leonel. Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro: Livraria agir editora: 1954.

HADOT, Pierre. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Lisboa, 1999.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: Dissertatio Filosofia, 2014.

JUNIOR, Auterives Maciel. Pré-socráticos: a invenção da razão. São Paulo: Odysseus, 2003.

KIRK, Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos. Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2 ed. Brasília: UnB, 2008.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3.ed. Vol.1. São Paulo: Paulus.1990.

RODRIGUES, Osvaldino Marra. Zenão de Eleia discípulo de Parmênides: Um esboço. Piauí: UFPI, Vol. I, n° 02, out. 2009.

RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental. São Paulo: Companhia editora nacional, 1957.

SIMPLICIO. Física.  Tradução: Alexandre Costa. ANFIC. Vol. 3. n; 06. Rio de Janeiro: UFRJ: 2009.

SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto, 2010.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

VERGEZ, André; HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos. Rio de Janeiro: 4.ª ed. Freitas Bastos, 1980.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: PUC, 1965.