segunda-feira, 18 de maio de 2020

Ferécides de Siro

Ferécides de Siro – (600 a 520) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga pertencente à classe dos filósofos hiperbóreos. O filósofo Aristóteles afirmava que ele misturava conceitos teológicos, mitológicos e filosóficos em suas obras. Foi discípulo de Pítaco um general militar considerado sábio e é juntamente com ele visto como um dos sete sábios da Grécia antiga. Nasceu aproximadamente em 600 a.C na ilha de Siros e veio a falecer por volta de 520 a.C. Provavelmente tenha criado um relógio de sol chamado de “heliotropion”. Escreveu uma obra nomeada de “as cinco cavernas” que também é intitulada de "Pentemychos". A obra também pode ter recebido o título de as sete cavernas ou "Heptamychos". As chamadas “grutas” descritas por ele eram princípios de formação do cosmos. Nas suas obras ele descreve conceitos sobre a origem do mundo e do universo, elas transcorrem sobre questões ligadas a natureza e a origem dos deuses. Sua obra é interpretada como sendo de caráter teocosmogônico, alguns historiadores atribuem a ele o fato de ter sido o primeiro pensador teogosmogônico da Grécia a escrever suas ideias em formato de prosa. Ferécides costumava lecionar em uma gruta onde é atualmente um ponto turístico local, ela é denominada de “A Caverna de Ferécides”. Os aprendizados de Ferécides foram conquistados através de livros secretos que ele possivelmente teria adquirido com os fenícios. Ele também teve contato com os pensadores da escola de Mileto, tendo inclusive escrito uma carta para o Tales de Mileto, descrevendo sobre sua doença e explicando que seus ensinamentos eram realizados através de enigmas. Esse método de ensino por enigmas também foi bastante utilizado pelos pitagóricos. Alguns pensadores afirmam que ele foi um dos mestres de Pitágoras e que possivelmente foi o criador da doutrina da metempsicose, influenciando assim os pitagóricos nos conhecimentos sobre a transmigração da alma.

Filosofia Mitológica

Seus pensamentos foram influenciados pelo saber mitológico da Grécia antiga, dessa forma, sua Teogonia é vista por muitos pensadores como uma espécie de transição do pensamento mítico da época de Hesíodo para um pensamento um pouco mais racional relacionado com sua época, pois ele teria vivido próximo ao período de surgimento da filosofia grega. Ferécides também escreveu um mito sobre Ofíon, onde ele revela, nessa ficção, que Ofíon governou o mundo juntamente como sua esposa Eurínome e que eles foram lançados ao mar depois de serem derrotados por “Cronos e Reia”. Segundo suas ideias, “Cronos” simbolizava as forças organizadoras do universo, dessa forma, “Cronos” precisaria vencer as forças do “Caos” para estabelecer a ordem no universo.

Em relação à alma, Ferécides acreditava que ela seria eterna, dessa forma, ele possivelmente tenha sido um dos primeiros gregos a teorizar sobre a imortalidade da alma. Dizia que o ser humano possuía uma parte divina e outra terrena. Como o próprio Ferécides teria provavelmente relatado em uma carta ao Tales, alguns de seus pensamentos eram simbolizados por enigmas, daí algumas terminologias usadas por ele teriam relação com sentidos obscuros ou simbólicos. Nesse contexto, por exemplo, a palavra “gruta” poderia ser descrita simbolicamente como sendo a representação da entrada e saída da alma do mundo dos vivos. Ele também afirmava que seria na alma que estaria o atributo do conhecimento. A palavra “gruta” em sua obra também pode ser compreendida como sendo: “recessos, cavernas, mundos, esconderijos, recantos, fendas, abismos, esferas, portais, reinos ou santuários”. Nesse sentido, acredita-se que essa palavra era usada de forma metafórica, pois se supõe que Ferécides ensinava sua filosofia por meio de representações míticas.

Filosofia Cosmológica

Em sua obra ele descreve que existiam cinco elementos principais que deram origem ao mundo, esses princípios eram chamados por ele de “grutas”, isto é, o mesmo que a materialização do cosmos. Esses elementos seriam: “Cronos, Ctónia, Fogo, Ar e Água”. Outras fontes apontam para a possibilidade de serem sete princípios ao invés de cinco: (Cronos, Ctónia, Ar, Água, Sol, Estrelas e Lua). Porém ele acreditava que apenas “Zeus (pai dos deuses e do Céu), Ctónia (pai da terra e da natureza) e Cronos (pai do tempo espaço)” eram os três princípios com características divinais, dessa forma, ele afirmava que “Cronos (o que governa o tempo)” teve pequenas sementes que foram originando outros elementos ao qual chamou de “descendentes”. Para ele, esses três primeiros princípios divinos seriam as forças criadoras do universo, daí esses princípios seriam: “Zeus” que também era definido como princípio ativo, depois “Ctónia” que seria um princípio passivo, e por fim “Cronos” que seria o tempo, nesse sentido, ele descrevia que este último regulava a atuação do princípio ativo (Zeus) sobre o passivo (Ctónia), e assim então, originavam-se os outros princípios. Na sua visão, haveria uma coexistência de princípios contrários. Ele definia que “Zeus e Ctónia” possuíam características imutáveis, por isso seriam eternos, já os outros eram princípios transitórios, daí poderiam ser limitados. Cronos seria uma espécie de “tempo e espaço” que poderia ser traduzido como a “dimensão” onde tudo foi criado. Alguns mitólogos apontam o conceito de Ctónia para a ideia de “Caos primordial”.

Anedotas:

Alguns relatos sobre adivinhações são atribuídos a ele, conta-se que certa vez ao caminhar pela praia ele viu um navio indo em direção contrária aos ventos e previu que em pouco tempo o navio iria afundar, pouco tempo depois, antes ainda de terminar sua caminhada pela praia, o navio teria realmente afundado diante dos olhos das pessoas que caminhavam com ele. Em outra situação de acordo com alguns historiadores antigos, ao beber água de um poço ele teve uma premonição que após três dias aconteceria um terremoto naquele local, o que de fato realmente ocorreu.

Sua morte é descrita de várias formas, relata-se que estando ele em uma estrada de terra numa época de guerra entre a cidade de Éfeso e Magnésia, ele teria encontrado um viajante e perguntado de onde ele estava vindo, e que após o mesmo responder que vinha da cidade de Éfeso, Ferécides então solicitou ao viajante que o fizesse de prisioneiro e o arrastasse amarrado até a cidade de Magnésia, e em seguida informasse aos cidadãos de Éfeso que depois da vitória na guerra eles procurassem seu corpo para ser sepultado. Este relato descrito objetivava narrar sua previsão sobre quem ganharia a guerra.  

Já em outra versão os historiadores narram que ele teria morrido de uma infecção causada por um tipo de verminose, e que antes de morrer ele teria recebido a visita do filósofo Pitágoras o qual teria lhe perguntado como ele estava, e Ferécides teria colocado o dedo por uma fresta da porta e dito a seguinte frase “Meu dedo mostra”, essa frase ficou famosa na época e passou a ser utilizada posteriormente como sinônimo de: “Estou piorando”. Alguns relatos antigos falam que Pitágoras chegou a cuidar de Ferécides até a sua morte, tendo inclusive realizado o seu sepultamento.

Comentários de Filósofos:

- “Um filósofo misto, aquele que faz filosofia através de uma linguagem mítica, um misto de filósofo, mitógrafo e teólogo. Que nomeiam o primeiro gerador como o supremo bem”. (Aristóteles).

- “O primeiro a escrever aos helenos a respeito da natureza e da origem dos deuses” (Teopompo).

- “Eu sei que você, Ferécides, primeiro dos íons, fará publicamente seus tratados sobre coisas divinas entre os gregos”. (Tales de Mileto).

 

Fontes:

ARISTÓTELES, Metafísica. Trad.: Marcelo Perine. 1° Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

BARNES, Jonathan. Filósofos pré-socráticos. Tradução: Júlio, Fischer. São Paulo: Martins Fontes. 1997.

BASTOS, Fernando. A Teogonia de Ferécides de Siros. 1ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional Casa Da Moeda, 2003.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo. Nova Cultura LTDA, 1996.

FELIPE, Luís Bellintani Ribeiro. História da filosofia I. Florianópolis. Filosofia/Ead/UFSC. 2008.

FINLEY, Moses Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1970.

GOMES, Pinharanda. Filosofia Grega Pré-Socrática. 4ª Ed. Lisboa: Guimarães Editora, 1994.

HOBUSS, João. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: Dissertatio Filosofia, 2014.

KIRK, Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos. Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MUTSCHLER, Hans Dieter. Introdução à filosofia da natureza. Tradução de Enio Paulo Giachini. São Paulo: Loyola, 2008.

RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental. São PauloCompanhia editora nacional, 1957.

SUDA. Enciclopédia online. Ferécides. Internet: Acesso, 2019.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: PUC, 1965.

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