quinta-feira, 7 de maio de 2020

Zenão de Eleia

Zenão de Eleia – (490 a 430) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da Grécia antiga que pertenceu à escola eleática. Era considerado discípulo do filósofo Parmênides e também seu grande amigo. Conta-se que ele teria sido muito fiel aos ensinamentos de seu mestre, tendo inclusive radicalizado algumas de suas ideias. Seu nome seria uma derivação da palavra “Zenon” que no grego antigo significava brilhar. Platão em sua obra o “diálogo de Parmênides” descreveu que Zenão era inteligente, alto e elegante. Já o filósofo Aristóteles o apresenta como sendo o criador da dialética. Seus pensamentos exerceram grande influência nas ideias dos filósofos sofistas e dos filósofos cínicos. Os atomistas Leucipo e Demócrito de Abdera também foram bastante influenciados pelas ideias de Zenão. Ele atuou na política e na educação local de sua cidade, elaborando leis e também lecionando. Ficou conhecido por desenvolver vários paradoxos em que demonstrava que os argumentos de outros filósofos eram falsos ou ilógicos. Seu método de contra-argumentação era baseado no uso de paradoxos, aporias e na dialética. Muitos de seus paradoxos se perderam com o tempo, mas acredita-se que ele tenha formulado aproximadamente quarenta tipos de paradoxos. Nasceu no ano aproximado de 490 a.C na cidade de Eleia que ficava localizada na Grécia antiga e a doxografia da época aponta que a sua morte ocorreu por volta de 430 a.C. 

Filosofia Eleática

Defendeu conceitos monistas que explicavam a existência de uma realidade única. Dessa forma, argumentava que o “ser” teria um conceito de unicidade, indivisibilidade e eternidade. Também chegou a realizar algumas demonstrações a respeito da impossibilidade do movimento. Na sua obra, ele atacava as ideias de multiplicidade, movimento, temporalidade e divisão dos elementos, afirmando que essas ideias eram falsas ou ilusórias. Os paradoxos elaborados por ele visavam combater os pensamentos dos filósofos que acreditavam na ideia de movimento e transformações das coisas. Para Zenão, esses conceitos sobre o movimento eram equivocados.

Seu método utilizava técnicas de argumentação que ficaram conhecidas como a “redução ao absurdo”. Nessa teoria, ele partia da posição do adversário para assim demonstrar que o raciocínio do seu opositor o levaria sempre a um pensamento absurdo. Ele entabulava a ideia de que o argumento do adversário seria verdadeiro e depois demonstrava ao final da interlocução, uma possível contradição. Por isso ele advertia que era necessário confiar apenas na razão, pois os sentidos seriam enganosos. Alguns filósofos atribuem a Zenão um título de filósofo da lógica devido os seus paradoxos e questionamentos terem ajudado a desenvolver conceitos científicos em várias áreas do conhecimento. Essas ideias também exerceram grande influência no desenvolvimento de teorias da física quântica.

Filosofia Imobilista

Platão ao explicar os pensamentos de Zenão, afirmava que Zenão não provou que o “ser” era “um”, mas sim que o múltiplo seria impensável. A dialética de Zenão refutava um argumento a partir de princípios admitidos pelo seu interlocutor. A partir de paradoxos, ele passava a demonstrar como as opiniões ou contradições poderiam levar seus interlocutores a pensamentos errôneos sobre determinados assuntos. Ao contrário do que muitos pensadores acreditam, os paradoxos de Zenão, não tinham como objetivo apresentar-se como uma verdade, mas sim, refutar um argumento de um oponente, reduzindo a ideia dele a um absurdo. Por isso, ele explicava que o movimento e o tempo seriam uma ilusão dos sentidos, defendia que para o movimento existir era necessário haver uma divisão, e essa divisão seria um ponto entre os dois pontos do movimento, assim, o movimento entre o primeiro movimento e o último, teria novamente outra divisão ainda menor, e a constante movimentação levaria a outra constante divisão, e a constante divisão da divisão, levaria a um eterno movimento, logo, nada poderia alcançar nada, já que tudo estaria em constante movimento. Desse modo, isso seria um absurdo, já que é possível observar um corpo ultrapassar outro em uma corrida. Daí pode-se deduzir que Zenão não queria utilizar a aporia como verdade, mas sim, demonstrar que não seria possível ficar reduzindo as coisas até o infinito, pois em um dado momento, algo iria ser indivisível, portanto, imóvel.

Filosofia Teocosmológica

Zenão fazia referências à divindade como sendo um conceito de eternidade, unidade e esfericidade. Em relação à questão do conceito de unidade, ele explicava que se Deus fosse o ser mais poderoso que existia no universo, então ele só poderia ser “único”, pois se fosse mais de “um”, um desses deuses poderia ter um poder maior sobre o outro, o que não seria possível, dado que o conceito de Deus era de um ser absoluto, então, logicamente, não poderiam existir “dois” deuses, como também não seria possível coexistir o poder de “um” sobre “um”. Logo, se existissem dois deuses ou mais, e eles fossem deuses maus, uns teriam poder sobre outros, logo, então, não seriam deuses, dado que o conceito de Deus seria de um ser supremo com poder absoluto. Portanto, só poderia existir um único Deus.

A respeito da esfericidade, Zenão explicava que Deus possuía uma imagem esférica, pois se era “um” então seria igual em todas as suas partes. Para ele, Deus ouve, vê e possui todas as partes do todo ao mesmo tempo. Para compreender que uma parte dele não poderia dominar outra parte, então, entende-se, desse modo, que ele deveria ser igual em toda sua simetria, sendo assim, seu formato só poderia ser esférico. Não poderia ser de um jeito em uma determinada parte e em outra parte de outro modo, mas sim, seria de maneira igual em toda a sua parte.

Sobre o conceito de Deus e a eternidade, ele transcorreu que Deus não surgiu do nada, pois ele teria que ter surgido ou de algo igual ou de algo desigual, e ambas as coisas citadas anteriormente são impossíveis. Pois do igual se produz apenas a quantidade igual e nada a mais, desse modo, devem ter as mesmas qualificações. Também não poderia o desigual surgir de algo desigual. Pois se algo mais fraco originasse algo mais forte, ou o contrário, algo maior originasse algo menor, então, poderíamos ter o “não-ser” surgido do “ser”, o que também seria improvável. Logo, consequentemente, pode-se deduzir que Deus é eterno. Para Zenão Deus não poderia ser nem limitado e nem ilimitado, nesse sentido ele afirmava que:

“O ilimitado e o imóvel são características do Não-Ser; e, que o limitado e o móvel são características do Múltiplo, então o "Um", portanto, não está nem em repouso nem se movimenta; pois não se parece nem com o "Não-Ser" nem com o "Múltiplo". Em tudo isso, Deus se comporta assim; pois ele é eterno e uno; idêntico a si mesmo e esférico, nem ilimitado nem limitado, nem em repouso nem em movimento”. (Zenão de Eleia).

Em relação à pluralidade, Zenão explicava que se elas existissem, as coisas teriam de ser exatamente iguais em quantidade, ou seja, nem mais e nem menos. Nesse contexto, elas seriam limitadas, pois seriam exatas. Mas se era uma pluralidade, então deveria existir também uma variável contrária, ou seja, ilimitada. Desse modo, existiriam sempre outras coisas, consequentemente, entre essas coisas, deveria haver outra coisa e assim sucessivamente. Conclui-se, então, a existência do limitado e do ilimitado ao mesmo tempo, o que tornaria a pluralidade das coisas uma contradição. Veja o que ele diz:

“Se a pluralidade existe, as coisas serão ao mesmo tempo limitadas e infinitas em número. Se a pluralidade existe, as coisas, ao mesmo tempo, serão infinitas em tamanho e não terão tamanho algum. Se a pluralidade existe, as coisas serão igualmente grandes e pequenas; tão grandes que serão ilimitadas em tamanho, tão pequenas que não terão qualquer tamanho”. (Zenão de Eleia).

Ele utilizava o “argumento da densidade” e o argumento do “tamanho finito” para explicar essa contradição. Nesse sentido, ele definia que se a pluralidade existisse ela teria que “ser” e “não-ser” ao mesmo tempo. O filósofo Simplício escreveu em sua obra intitulada “sobre a física” acerca de um argumento do Zenão que fazia relação com a variedade do ilimitado, assim ele descrevia que:

“O que é muitas vezes necessário argumentar, encontra-se no próprio escrito de Zenão; pois demonstra de novo e de novo que se múltiplas são as coisas, são essas mesmas coisas simultaneamente limitadas e ilimitadas. Isto escreve Zenão literalmente: “Se múltiplas são as coisas, necessariamente são decerto tantas quantas são, nem mais, nem menos”. Mas se são tantas quantas são, seriam limitadas. Se múltiplas são as coisas, ilimitados são os entes; pois há sempre outros entre eles, e novamente outros entre aqueles. E, assim, ilimitados são os entes”. E desse modo demonstrou a partir da dicotomia a variedade do ilimitado”. (Simplício).

 

Filosofia dos Paradoxos

Paradoxo da dicotomia – Imagine um móvel que está no ponto A e quer atingir um ponto B. Este movimento seria impossível, pois antes de atingir o ponto B, o móvel teria que atingir o meio do caminho entre A e B, isto é, um ponto C. Mas para atingir o ponto C, teria que primeiro atingir o meio do caminho entre A e C, ou seja, um ponto D. E assim, seguiria até o infinito. Aqui Zenão afirmava que entre dois números haveria sempre um terceiro, se isso for verdade, então, entre o primeiro e o terceiro haverá sempre um quarto, e assim continuadamente até ao infinito. Nesse sentido, existiria uma infinidade de metades que nunca seriam propriamente atingidas.

Paradoxo de Aquiles – Imagine uma corrida entre um atleta velocista (Aquiles) e uma tartaruga. Suponhamos que é dada para a tartaruga uma vantagem inicial em distância. Aquiles jamais a alcançará, porque quando ele chegar ao ponto de onde a tartaruga partiu, ela já terá percorrido uma nova distância, e quando ele atingir essa nova distância, a tartaruga já terá percorrido outra nova distância, e assim se segue até o infinito. Da mesma forma, aqui ele deduzia que, se duas coisas possuem cada qual sua espessura, e entre essas duas espessuras, exista uma terceira espessura, há que se concluir que entre a primeira espessura e essa terceira espessura, haverá também uma quarta espessura; e assim, segue até ao infinito. Seguindo essa ideia, existiria uma divisão infinita do espaço.

Paradoxo da flecha imóvel – Uma flecha em voo está a qualquer instante em repouso. Ora, se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões e se, a flecha em voo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, logo a flecha em voo está em repouso. Assim, ele deduzia que as distâncias são infinitamente divisíveis.

Paradoxo do estádio - Assim como o paradoxo da flecha, ele argumentava que era impossível que as partes da divisibilidade do tempo e do espaço terminassem em indivisibilidades. Esse era o argumento mais discutido e com a descrição mais difícil de explicar. Pois ao trabalhar os conceitos de tempo e espaço nesse paradoxo, ele chegou à conclusão de que a metade do tempo é igual ao seu dobro.

Paradoxo do grão de Millet - Se um saco de cereal faz barulho ao cair, cada grão também deveria fazer barulho e cada partícula desse grão também deveria fazer barulho ao cair, e a partícula da partícula também, o que não acontece, pois só seria possível ouvir o saco todo, depois de ouvir cada parte. Este paradoxo tinha o objetivo de demonstrar a imprecisão dos sentidos para a compreensão da realidade.

Paradoxo do lugar - Neste paradoxo, Zenão teria afirmado que tudo que existia estaria localizado em um lugar. Por sua vez, o lugar ocupado estaria ocupando outro lugar, e o lugar do lugar também estaria em outro lugar e assim prosseguia infinitamente. Desse modo, não seria possível que nada pudesse ocupar um local vazio, pois o vazio necessitaria de outro vazio, que necessitaria de outro até o infinito. Nesse sentido, como um lugar sempre contém outro lugar, nenhum deles pode estar vazio. Infere-se disso que o vazio não existe. Ele negava a existência do vazio e explicava que para algo existir, esse algo deveria estar ocupando um “lugar”, daí, esse “lugar”, por sua vez, também teria que estar ocupando outro lugar, e assim se seguiria sucessivamente até ao infinito. Então, se um lugar sempre contém outro lugar, logo, não existiria lugar vazio. Conclui-se, então, que o vazio não existe. Desse modo, ele definia o seguinte argumento acerca do lugar: “se tudo que existe está em um lugar, em que lugar está o próprio lugar? Se há um “lugar do lugar”, logo, em que lugar ele se encontra?”.

Paradoxo do tamanho finito - Nessa definição, Zenão argumentava que a extensão de um objeto seria sempre infinita, pois os objetos são numericamente determináveis. Ele partia da ideia de que todos os objetos que ocupam lugar em algum espaço possuem duas partes: a parte da frente e a parte de trás. Estas partes também possuem partes e, assim, se segue infinitamente. Consequentemente, haveria uma contradição entre a condição finita e infinita das coisas.

Anedota:

Conta-se que após realizar uma conjuração contra os desmandos de um tirano, Zenão foi preso, torturado e condenado a morte. Os opositores políticos teriam lhe torturado para que ele revelasse o nome de seus companheiros, mas ele teria cortado a própria língua com os dentes para não delatar os seus colegas. Já em outro relato se afirma que ele havia denunciado os próprios fiéis do tirano como sendo seus cúmplices na intentona, por conta disso, o tirano teria mandado matar seus próprios aliados e acabou posteriormente sendo derrotado. Relata-se que durante a sessão de tortura, Zenão teria dito que revelaria os nomes dos culpados somente em segredo, solicitando que o torturador se aproximasse para dizer o segredo ao seu ouvido, quando o carrasco se aproximou ele teria dado uma mordida que arrancou seu ouvido fora. Depois disso o tirano ordenou de imediato sua execução.

Principais Obras:

- Discussões

- Contra os físicos

- Sobre a natureza

- Explicação crítica de Empédocles 

- Erides

 

Filosofia Sapiencial

- Quem é um amigo? "Um outro eu".

- "O que se move sempre está no mesmo lugar agora". 

- “Se o lugar é alguma coisa, ele está em alguma coisa”

- "O verdadeiro é apenas o um, todo o resto é não-verdadeiro".

- “O que se move deve sempre alcançar o ponto médio antes do ponto final”.

- “Uma coisa que não tem grandeza e espessura, nem massa, não poderia existir”.

- "Afirmai vossa mudança: nela enquanto mudança, é o nada para ela, ou ela não é nada".

- “O que é móvel nem no espaço em que está se move, nem naquele em que não está”.

- “Se múltiplas são as coisas, necessariamente são pequenas e grandes; pequenas a tal ponto que não têm grandeza, grandes a tal ponto que são infinitas.”

- “Se o lugar é alguma coisa, ele está em alguma coisa, se tudo que existe está em um lugar, em que lugar está o próprio lugar? Se há um “lugar do lugar”, logo, em que lugar ele se encontra?”.

 

Fontes:

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LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2 ed. Brasília: UnB, 2008.

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